I
s.f. Disposição daquele que não
tem o menor cuidado com as coisas.
Qualidade ou particularidade
daquilo que está ou permanece displicente; aborrecimento, desgosto.
(Etm. do latim: displicentia)
dis·pli·cên·ci·a
(latim displicentia, -ae,
desgosto, descontentamento)
substantivo feminino
1. Qualidade ou estado do que é
displicente.
2. Desgosto, desprazer, dissabor.
3. Qualidade do que é insípido ou
sensabor. = INSIPIDEZ, SENSABORIA
4. Negligência, desleixo,
desinteresse. ≠ DEDICAÇÃO, EMPENHO,
INTERESSE
"displicência",
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
http://www.priberam.pt/dlpo/displic%C3%AAncia [consultado em 07-10-2015].~~
II
O
nosso concelho, o meu concelho chegou a isto: hoje quando saí, pensando no
assunto, cheguei à fonte da Pipa e… voltei para trás de propósito, para
fotografar esta imagem.
O cartaz tinha sido colocado no sentido de quem desce
de Marvão, ou seja, de quem já vem da festa que está a anunciar. O erro
grosseiro começa logo por aí. Mas não encobre o maior: anuncia a festa a 2, 3 e
4 de Outubro. Hoje estivemos a 7.
3
dias depois do fim. E a minha cabeça só pensava, naqueles breves quilómetros de
Marvão até ali, na quantidade enorme de funcionários da câmara, de pessoas
ligadas à autarquia que passaram pelo cartaz e assobiaram para o lado. Muitos destes
com razão, pensando que isto seria o trabalho de outros. Outro pensariam que
seria o trabalho de ainda outros e… a pensar, a pensar, foi ficando. A imagem
de desnorte que este episódio dá, é perfeitamente sintomática e reveladora de
tudo quanto está para trás e nós não vemos.
Conto
um episódio da minha vida particular. A minha filha Leonor está a atravessar a
adolescência com toda a rebeldia e trejeitos da fase. Por vezes, ao ter que colocar
a mesa em casa, faz o que tem de ser feito com um desleixo… que se nota. E eu
digo-lhe: “Leonor, o amor com que se faz as coisas passa para os outros. É o
amor que nos distingue dos outros. A mesa colocada assim, dá um ar que foi
posta à pressa, sem ordem, com os talheres para um lado e os guardanapos para o
outro. Se isto fosse um restaurante, não me surpreenderia se os clientes saíssem
e temessem pelo que se passa na cozinha, a ser este o aspeto da sala...”
Eu
sei que a comparação pode ser excessiva, mas por certo que resulta. Consegue
transmitir tudo o que quero dizer.
Se
numa simples targa que toda a gente vê ao passar, transparece este “deixa andar”,
o que dizer de tudo aquilo que vai no convento, que só sabe e bem conhece quem
está lá dentro?
É
importante que quem está hoje em funções, aos comandos do navio, perceba que há
gente livre, que não tem medo, que não depende de um empregozinho que merece o
seu amén, que tem o cadastro limpo, os impostos pagos, e liberdade para agir e
pensar e dizer, olhos nos olhos se for caso disso, que há outra maneira de
fazer as coisas. Diferente, mas certamente melhor.
No
meu tempo, no tempo em que o pelouro da Cultura dependia de mim, raios ma
partam se eu deixava que isto acontecesse. Aquele cartaz, colocado num sentido
contrário, a cada dia que passa depois da festa é um sufoco e um garrote a
apertar o pescoço de quem manda. Desde que se rale.
Só
podem ter outras preocupações, outras coisas em que meditar, tantas, muitas outras
coisas porque a imagem que passa, a mensagem é de desleixo, de displicência.
Daí
a definição que abre este desabafo.
A
propósito, lembrei-me da alegoria da caverna do Platão cujo resumo encontrei e
alinhavei aqui.
III
O Mito da Caverna,
também conhecido como “Alegoria da Caverna” é uma passagem do livro “A
República” do filósofo grego Platão. É mais uma alegoria do que propriamente um
mito. É considerada uma das mais importantes alegorias da história da
Filosofia. Através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria
platônica: como, através do conhecimento, é possível captar a existência do
mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível
(conhecido somente através da razão).
O Mito da Caverna
O mito fala sobre
prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e
que passam todo tempo a olhar para a parede do fundo que é iluminada pela luz
gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando
pessoas, animais, plantas e objetos; mostrando cenas e situações do dia-a-dia.
Os prisioneiros dão nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as
situações.
Vamos imaginar que
um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o
interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e
perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens
projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo
real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais.
Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna
para os seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o
que viu e sentiu, pois os seus colegas só conseguem acreditar na realidade que
vêm na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros lhe chamarão louco,
ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas ideias absurdas.
O que Platão quis
dizer com o mito
Os seres humanos
tem uma visão distorcida da realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que
vemos e acreditamos apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e
informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza o mundo, pois
apresenta-nos imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a
realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou
seja, quando saímos da caverna.
Para terminar…
Se
querem, conseguem e ficam bem apenas a ver as sombras…
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