A
redação por Pedro Sabi, 42 anos.
O
25 de Abril é isto que vou fazer a seguir. O 25 de Abril é poder falar livremente
e não ter medo. É não ofender, não vilipendiar mas ser livre de expressar
democraticamente a minha opinião. É certo que me sinto e sei que sou um ser que
tem tido a benção de Deus para conseguir o meu lugar ao sol. Tenho consciência
disso. Mas também sei que nunca assumi nada por garantido e tudo o que tenho neste
mundo, tem sido fruto do meu trabalho, da minha força e perseverança.
Quem
decidiu encostar o sonho de uma carreira no jornalismo, para assim poder voltar
para a sua terra, para o pé dos seus e do amor da sua vida, que há distância
percebeu que assim o era, para trabalhar naquilo que nunca imaginou; tem propriedade
para falar assim.
Eu
estou aqui e sou feliz. Não concordo, de todo, com quem está à frente do
executivo camarário e isso é mais que público. Foi por essa discordância que
decidi sair, pelo meu pé, por não querer mais do mesmo e estar farto. Desejoso
de cumprir o mandato até ao fim mas contar os dias até que isso acabasse.
Pensei
nesse então e muitas vezes depois disso, que o meu envolvimento político tinha
acabado, mas este impulso é mais forte que eu. O amor a esta terra que sempre
pulsou dentro de mim, fala mais alto e o “Marvão para Todos”, este movimento
cívico que une homens e mulheres de bem que pensam mais na sua terra que no seu
interesse próprio, tem sido um porto seguro, um miradouro e uma guarita.
Decidimos
entre todos, como sempre, trabalharmos em equipa e apresentarmo-nos na
cerimónia do hastear da bandeira para comemorar os 42 anos da revolução do
país, e para simbolicamente. darmos o sinal a quem lá está a mandar e pensa que
em 2017 vai ter a barra livre para mais uma maioria absoluta.
Vive-se
um fim de ciclo do atual presidente e, como é seu hábito, não preparou as
coisas para uma sucessão natural. O vice-presidente, que bem conheço desde a
escola primária é… o seu vice-presidente. E o outro vereador é… o outro
vereador.
Equipa
nunca houve. Planeamento, estratégica, espírito de grupo… zero!
E
foi por isso que nós, capitães e capitãs de Abril, quisemos aparecer, quanto
mais não seja à sua frente, para saber que estamos lá. Para saber que estamos
cá.
Para
isso e para os senhores compreendam que o nosso Luís Barradas, tem as costas
quentes e quem o proteja. Desde que seja um profissional, à prova de bala, como
sempre foi; e consiga desempenhar toda e qualquer tarefa que lhe seja proposta,
como sempre fez; de forma humilde e abnegada, como é sua tarimba, não há quem
lhe possa tocar.
Que
graça me dá ouvir falar este senhor que manda agora, a dizer que antes do 25 de
Abril quem não tinha as ideias iguais às de quem mandava, era perseguido. Caso lhe
pudessem se feitas questões, perguntar-lhe-ia, que de tão estranho se passou
para o Luís Barradas ter deixado de ser um polivalente todo o terreno, como o
deixei quando estava sob a alçada dos meus pelouros, responsável por uma
carrinha com a qual percorria o todo o concelho a ajudar quem precisasse; para passar
a ser encostado e quase não ter serviços adstritos? Ao ponto de ter que
utilizar os transportes que partilha com todos os seus colegas que não tinham
funções desse género?
Mistério…
O
que ele tem de saber é que vivemos numa sociedade justa, livre, igualitária,
onde funciona a meritocracia, e onde todos, todos fazemos falta.
Foi
pois com enorme alegria e espírito aberto que todos estivemos ali reunidos.
Para ouvir os discursos neste dia tão importante para a nossa sociedade e para
dizermos, como o olhar, em silêncio, que estamos aqui e vamos a jogo. Ainda não
sabemos bem quem e com quem mas… os caminhos fazem-se caminhando e há que ter
muita calma, sensatez, muita firmeza e inteligência.
A
banda chegou, os eleitos chegaram e os discursos começaram. Não sem antes terem
havido diversos contratempos embaraçosos de pequenas falhas, graves para quem
estava atento, bem reveladoras do desnorte que vai naquela casa.
“Coisa
pouca”, dirão alguns. “Coisa feia”, digo eu e não me considero mais esperto que
ninguém. Tenho o meu quê.
Tocou
o hino primeiro e falou-se depois. Certo. Bem.
Não
me consigo recordar já bem qual a ordem mas sei que falou um representante do
PSD, que anteriormente creio que esteve ligado ao CDS e faz sempre uns
discursos de alto gabarito. Muito terra a terra, muito “Correio da Manhã”, por
vezes muito eloquente, fazendo diversas citações mas sempre muito assertivo.
Recordou o 25 de Abril e o tempo da peseta. Leu. Esteve bem.
O
representante do Partido Socialista, o meu bom amigo Jaime Miranda, creio que
marcou a sua estreia nestas andanças e elevou o nível qualitativo dos discursos
neste âmbito municipal para um patamar nunca antes atingido. Leu um discurso
muito bem redigido, ele que foi sempre um exímio escritor e homem de artes que
se perdeu para ramo das economias, mas quanto a mim, eu que sempre fui um admirador
da sua obra e trabalhos, porque deveria ter começado pelo final, onde terminou.
Quando disse que “este discurso poderia ter começado por aqui…”, era
precisamente por aí que deveria ter começado. E esse aí, eram as críticas que
teriam de ser feitas a um executivo que não trabalha em equipa, nunca trabalhou
dessa forma (nos quatro anos em que estive junto a eles não me lembro de ter preparado
em conjunto sob a batuta do presidente, uma única reunião de câmara) e do pouco
que fez, do muito que poderia ter feito, deixou muito por fazer. Tanta coisa….
Como
lhe disse a ele, eu que digo sempre tudo aquilo que penso às pessoas, o seu
discurso pela forma e pela análise que fez à sociedade portuguesa, algo puxada
para a realidade do nosso concelho, poderia ter sido publicada num Expresso ou
em qualquer outro órgão de comunicação de gabarito em Portugal. Mas para
discurso do representante do maior partido da oposição…
Ele
diz que a altura era desadequada por ser de festa e eu… faço por tentar
compreender. Mas não compreendo.
Falou
também o presidente a Assembleia Municipal, José Luís Catarino e a minha alma
ficou algo espantada, confesso. Em primeiro lugar porque nunca tinha visto o
homem numa destas comemorações da revolução de Abril e porque, segundo dizem as
más línguas, ele é contra a coisa.
Antes
de entrar no discurso em si, dizer que acho absolutamente fantástico que o
senhor o tenha feito de boina e óculos escuros o que é uma coisa a todos os
títulos, notável. Muito campestre e adequada.
A
retórica foi livre e sem um guião para as palavras mas tendo nexo e sentido. Um
sentido talvez um pouco citadino, muito centrado numa certa exposição patente
na Assembleia da República, muito pouco centrado no nosso concelho, do qual
preside um órgão importante, mas como é vulgo comum que circula pouco pela sua área,
compreende-se.
Muita
atenção também à parte histórica dos meses que se seguiram à revolução, até
Novembro de 1975, mas com poucos putos da escola entre os presentes para
aprenderem algo que a wikipédia lhes dá de borla. Onde há distância e aborrecimento,
há algum tédio e desconforto mas nada que nos preparasse para o que se seguiu.
Depois
de alguns discursos com momentos altos para o nível a que estas coisas nos habituaram,
o presidente do município surgiu de peito para falar sem qualquer suporte que o
norteasse. Foi um discurso… que se inscreve na linha do que o senhor já nos
habituou. Longo demais, disperso, vago e eu dei por mim a pensar no
interessante que seria se tivéssemos um escriba a teclar cada palavra para que
depois pudéssemos dissecar, frase por frase. Seria uma catarse! Hipnótica.
Foi
de uma abrangência astronómica e com uma crispação latente verdadeiramente notável. Viu-se zangado, viu-se austero,
viu-se crepitante. Ele bateu nas grandes cidades e no poder central que nos
deixa condenados ao nosso infortúnio no interior; ele elogiou todo o seu vasto
legado na câmara que encontrou como se tivesse sido um campo de batalha e agora
é um autêntico jardim repleto de fabulosos regulamentos para tudo e para nada…
olhe! E se pudéssemos fazer perguntas, eu só gostaria de fazer algumas muito
simples porque estão perto da minha casinha.
Senhor
Presidente, menino Pedro Sobreiro da Beirã, agora a viver em Santo António, no
Bairro Manuel Pedro da Paz. Gostaria de lhe fazer perguntinhas. Posso?
Então com a sua licença...
Ó
Senhor Presidente, eu já contruí a minha casinha há 12 anos e na altura, havia
um prazo e regras para o fazer. Isto antes de o senhor chegar, atenção! Nós
construímos as nossas casinhas, gostamos que esteja tudo bonito, arranjadinho e
como é que o senhor que diz que há regras para tudo, deixa que existam lá lotes
que ainda estejam com os alicerces de pé e de fora, desde então? Acha que é
legítimo? Não acha que é um pouco… estranho? Muros ainda em tijolo a céu aberto…
As entranhas do bairro a verem-se?
E
já agora, como é que deixa que venha lá para o bairro uma Associação Portuguesa
de Pais e Amigos do Deficiente Mental de Portalegre, que eu votei a favor para
que viesse porque traz desenvolvimento, emprego e tenha lá mesmo em frente uma
estufa de plantas com um aspeto algo… estranho? É que eu tive de deixar uma
distância para o terreno de trás… Aquilo pode estar ali? É que uns não podem
ser filhos da mãe e nós, os outros, filhos da outra senhora… não é verdade?
Olhe,
Senhor Presidente, e porque é que não cria lá algumas coisas que fazem falta às
pessoas que vêem visitar os utentes ou trabalham lá? Do tipo zonas verdes e um
estacionamento maior? E já ouviu falar em contentores do lixo e de reciclagem incrustados no chão? Limpos com maior regularidade? Eina pá... bestial!
Mas
aquilo também não era para fazer perguntas.
Um tédio…
Uma
pessoa que tem dois dedos na testa sabe que quando está a falar em público e a
malta começa a desviar o olhar, ou a deixar tremer e baixar os instrumentos
(coitadinhos, os cachopos da banda...), ou a falarem entre si… se calhar, é porque
está a a ser demais.
Quando
fui vice-presidente dele, tive de mamar grandes estuchas e fazer o ar de quem
está a gostar. Agora, cansei-me e fui fumar um cigarrinho para a muralha, onde
tirei diversas fotografias. Eina pá! Que bom. Mesmo mal criado. Mesmo
desalinhado.
Encostei-me a uma porcaria de um carro e aquela porra começou a tocar o alarme! Mas eu não fiz da prepósito! E estava lá a GNR... Que bonito seria se a minha senhora tivesse de ir buscar-me à prisa...
Mas nem assim acabou...
No
beberete bebi dois copinhos de sumo de maçã (uma categoria!), fui tirar a foto
com os meus camaradas de bem que queremos chegar a todos e de todos precisamos para
que possam perceber que ele não dão nada deles! Dão o que é nosso! De todos!
Bem público! E nós queremos o bem para a nossa terra!
E
eu digo o viva que não deram:
Viva
a liberdade!
Viva
a revolução!
Viva
quem quer o bem estar de todos!
Viva
Marvão!
Sem comentários:
Enviar um comentário