sábado, 16 de abril de 2016

Trágico-comédia eletrónica em 2 actos (só porque sim e foi assim)



Aaaahhhhh...! De volta à vida e à vossa companhia também.

Ainda bem porque eu também vivo e sou feliz aqui, na internet.

A internet, para mim, não é uma feira de vaidades onde venho mostrar o que tenho de novo, do tanto que, graças a Deus, tenho. A internet antes é uma extensão da minha existência. O Pedro cibernético é o velho Sabi de sempre, mas que ultimamente não tem podido respirar. Por nenhum castigo em concreto, nem qualquer privação derivada da minha forma de ver Cristo e o mundo. Aconteceu porque… me aconteceram coisas que só a mim.

Azar 1: Numa das minhas corridas de manutenção semanais, que tanta falta me fazem para me poder sentir eu, para me sentir capaz (quanto mais não seja de enfrentar e encarar novos desafios, até profissionais), na ultimíssima foto que estava a tirar de Marvão para o meu vasto espólio do Google fotos (o melhor disco rígido com que poderia sonhar, com milhares de instantes que são alimentados todos os dias) deixei cair o meu smartphone, um Samsung Galaxy SIII Grand Neo de bruços na valeta e esta tinha um calhau que deu um beijo de morte ao ecrã que o fez estilhaçar em 1000 pedaços. Isto da queda já tinha acontecido uma vez ou duas mas eu, tão zeloso do que é meu, tinha sempre conseguido meter-lhe o pé por baixo para amortecer, ou lhe conseguir dar um toque para não cair desamparado, que o salvou. O que aconteceu agora nunca antes tinha acontecido e foi o peido mestre. Pim! Até doeu!

Perceba-se que não é assim um grande telemóvel, um todo XPTO, caríssimo, mas sempre custou 100 e poucos euros e ainda só tem 1 ano.

Após a desgraça, tentei não entrar em histeria e começar aos gritos feita puta tresloucada, embora a vontade para tal ser… enorme.

Tentei sobreviver alguns dias com esta mazela, mais que 15 dias, procurando nos meus assessores da área informática, uma mezinha que me salvasse, até porque a ida para a fábrica iria privar-me dele tempo a mais e não seria propriamente barata. “Para isso, mais valia um novo”, ouvi, cético dessa alternativa porque os euros são contados ao euro. “Havia um gajo que fazia isso por…”, “ah… eu conheço um amigo de um amigo”… e o Sabi à espera e sempre a mesma resposta ao final: “olha, parece que já não”. Lá segui então cabisbaixo, cada vez mais remediado com a falta, até que as palavras do meu chefe se fizeram realidade: a quem por Deus anda, Deus ajuda”.

Estava eu a fazer uma cobrança no serviço e tinha o gajo poisado a meu lado, creio que à espera de uma mensagem da mulher. E o rapaz que estava a atender, muito simpático, disse-me: “Epá, você tem o telemóvel assim? Olhe, eu conheço casas em Lisboa que abriram apenas para reparar iphones e ipads e agora já substituem vidros em todos esses aparelhos. O contato é http://www.iclinica.pt/. E eu contatei info@iclinica.pt para saber preços e prazos de entrega. Orçaram-me o amanho em 70 €. “Ora para um que custou mais do dobro, e é tão jovem”, pensei, “é capaz de valer a pena”.

Correu tudo 5 estrelas. Recorri ao próprio serviço de entregas desta empresa, em vez dos CTT, e fizeram todo o percurso. O cachopo que o apanhou em Marvão, estando eu no serviço, ligou-me a dizer que o camião não entrava na porta de ródão.

“Não há problema que eu vou-lho aí levar”, o bom samaritano dixit.

Lá chegado, sai-me um alentejanorro com vinte e poucos, todo marialva.

Vendo a cena, confrontei-o: “Atão ó patrão? Disse-me que a furgoneta não passava na entrada da vila mas desconfio que ela é tão pequena que até sobe as escadas para a torre de menagem do castelo!”

Ele, “Vá, despache-se lá que eu tenho mais que fazer. (Boa resposta! A melhor defesa é o ataque!)”

“Tome lá o telemóvel”, disse-lhe.

“Assim?!?!”

“Já está limpinho! Já lhe tirei o cartão de memória e o cartão da MEO”, pode levar, avancei.

“Atão mas não há uma caixa?!?!? Olhe qu’isso vai para ali aos trambolhões e escavaca-se todo. Se já está tremido… vai acabar de se dar. Olhe que eu posso cá vir amanhã e levo-o como deve de seri”.

“Não leva nada! Isto vai mas é já hoje. Já ando com este catano enguiçado há tanto tempo que não posso aguentar mais floreados. Vai já assim! Espere aí só um minutinho que a minha mulher trabalha ali no Turismo e vai-me emprestar uma caixa.”

E assim foi. Com um embrulho que servia mas estava muita mal esgalhado onde nem sequer meti o meu nome e o que ia lá dentro, mas foi. E a lida que me deu nesse dia se perdia a encomenda???? Liguei para lá no outro dia de manhã e cachopinha tranquilizou-me: “Chegou bem”.

Enviei num dia, repararam e paguei por transferência bancária no outro, devolveram no seguinte.

Coisa pouca mas para o Drocas, um azar nunca vem só. Como a memória do telemóvel é pouca, tinha comprado um cartão micro sd daqueles de 8 euros para guardar muita imagem, músicas e para ser necessário fazer apenas duas transfegas anuais para o portátil de casa. Esse cartão, ficou muito bem guardadinho, colado com fita cola à capa de silicone.

Então e o cartão da TMN??????? Do MEO?????????? Voltas e mais voltas e mais voltas e nada. Mas onde é que eu meti aquela porra?!?!? Onde é que enfiei o bom do cartão que me faz tanta falta? Procurei na minha gaveta dos acessórios móveis (tudo muito bem guardadinho), nas minhas gavetas no serviço e nada. A história da minha vida: guardar tudo tão bem que quando queres… não acho.

Solução? Dar o cartão do cidadão à minha Cris na sexta, que não trabalhava por estar de serviço ao fim de semana e pedir-lhe para ir ela à loja do MEO no CTT porque ali davam logo o cartão de imediato e por correio demoraria dentre 3 a 5 dias, como me explicou a menina ao telefone.

A minha Fernanda Cristina foi lá e disse que não lho davam a ela, teria de ser ao próprio.

Ao próprio?!?!? Mas se levas o meu cartão do cidadão que comprova tudo, que mais querem esses gajos?

Que não e se não… lá teve o Pedro Alexandre de ir à loja, sábado de manhã.
- Uma segunda via?
- Sim.
- 8 euros que serão debitados na fatura do mês seguinte.
- Correto e afirmativo, filhinha. Se assim tem de ser. Assim será.

Chegado a casa, meto as chaves na minha gaveta das chaves / tabaco / relógios / carteira normal e das moedas e que encontro eu, fora do sítio? A primeiríssima coisa? O dito, malfadado e mais que procurado cartão. Ele a olhar para mim, a rir de solslaio, com um balão a dizer : P A L E R M A.

Culpa? Minha! Toda minha! Impensável poder ser a de uma das 3 gaijas que vive comigo, que usam e abusam do meu material didático (canetas, cola, fita cola, lápis, esferográficas, pioneses, agrafos e clipes) e NUNCA METEM AS COISAS NO SÌTIO CERTO!!!!!!!!! A porra do meu mau feitio. :P

Resolvido o problema do telemóvel, que voltou a respirar quando viu a superfície da terra, qual o seguinte? Resolver o do computador. Estamos pois perante o AZAR 2: O PC. Não é bem o pc, mas a fonte de alimentação que lhe dá vida.

O meu pc não é um imac, como eu sonhava, como tem a minha querida Leone Holzaus, a maior pintora viva em Marvão. É apenas um Sony Vaio que comprei quando ainda era vereador, portanto, antes de 2009. Já leva 7 nas mãozinhas do xará. Nunca foi um grande maquinão, e foi comprado nuns saldos do Belmiro na “Worten sempre”, quando fez uma campanha que era mesmo de aproveitar. 500 + 99 euros por um pc? Levo!

Claro que do que eu comprei, resta apenas na íntegra, o teclado e o esqueleto. Meu amigo e grande artista das matérias Márcio Almeida, tem feito dele o maquinão Frankenstein que ele é hoje. Já lhe mudou as entranhas todas e está farto de o trabalhar e recauchutar. Tem feito um extraordinário trabalho. O cabo transformador de alimentação tem sido um elemento que tem dado algum especial trabalho. Já é o 2º que lhe proporciono e tem sido fundamental porque estas porras dos gadgets eletrónicos, se não têm bateria, não funceminam.

Acontece que o meu berrou e quando deu o grito último, fiquei sem pc. O meu companheiro, meu amigo, meu televisor (via Meo Go), meu confessor, meu muro das lamentações, a minha janela para o mundo, fechada.

Procurei, achei a garantia na pasta onde as arquivo todas e a minha parceira foi lá pedir auxílio ao Leclerco, onde o adquiri, ao abrigo dessa fatura de aquisição.

E que disseram lá? Que têm que mandar para a casa mãe.
- E quanto tempo isso demora? Perguntou a piquena.
- Ai, aí 1 mês, 1 mês e meio.

Relatório da cara metade: Pedro Alexandre, ou vais lá tu, meter forças motorizadas, ou nada feito.

E eu fui lá no sábado. Feliz porque encontrei o Nuno, um rapaz bem simpático que já tinha trabalhado na Conservatória de Marvão e portanto sido colega da casa do brasão.

Disse-me que tem de se fazer um relatório, e tem de se mandar para a fábrica. Sempre é o tal mês de espera.

- E eu fico tanto tempo sem ir ao computador? Não dá. Ainda ontem eu queria escrever e a minha filha não me emprestou o dela. Passa a vida agarrada ao tablet e ontem, que eu precisava dele, não me deu o pc.

Fui para o quarto ver as notícias e enrolar cigarros. Foi o que foi.

Ora eu para viver em pleno tenho de ter o smartphone a bombar e o pc em pena disposição, em velocidade cruzeiro. Nestes últimos dias, nestes 10 / 15 dias tenho-me sentido mais só, mais afastado do mundo, sem a minha cambada toda a “conversar e interagir” comigo.

Tenho andado longe das redes, do blogspot e da grande facebookaldeia global. Sem telemóvel, que de vez em quando também uso para conversar, não tenho visto as páginas da imprensa ao abrir do dia, não tenho interagido com os meus compinchas, não tenho podido saber deles e os comentários ao que escrevo.

Não há picanços futebolísticos, nem políticos que me fazem falta.

Acho que um homem assim é mais sozinho e se sente mais triste.

Sábado, por exemplo, ainda tinha o meu Samsungzinho com a maladine e ele não me pôde acompanhar no running. Acordei com fantástica boa disposição e uma força interior tremenda. Quis fazer algo muito esforçado na minha corrida de manutenção semanal e decidi subir Marvão. Escalar a serra de Ibn. Mais difícil ainda, pensei fazê-lo pela calçada medieval até à Abegoa, e dali pela Fonte de Concelho até lá a riba. Digo-vos uma coisa, os medievais eram rijos comá puta que os pariu, coitinha da senhora que não teve culpa nenhuma. Que difícil isto é, que isto foi. Aquilo não é bem correr. Para já é correr. Ponto assente. Isto porque um dos pés está sempre no ar e não é marcha olímpica onde os atletas têm aquele ar empanascado de quem tem sempre de ter um pé no chão.

Mas também não foi bem correr. Foi mais andar a trote, como fazem os cavalinhos de Alter. Na verdade foi a mexer. Mas mexer muito. Tenho de começar a ter cabecinha, pensar que já estou na casa dos 40 e o corpo já não vai estando disponível para estar alarvidades.

Eu, a trote, a escalar paredes na Fonte de concelho e a máquina a bater de forma brutal, sincopada mas sem sequer abrir o turbo.

Tudo a ser uma experiência verdadeiramente deslumbrante. O percurso é lindíssimo, cheio de manifestações de Deus e de uma beleza de tirar o fôlego.

A minha cabeça só pensava, “sendo isto gratuito e à mão de qualquer um, como é que há gente que não se mexe, gente que começa o dia a empanturrar-se de comida, ou a beber bagaços de pénalte?”.

Subi Marvão, que Deus já me tinha dado a benesse de conseguir, acreditando mais em mim que eu próprio, mas desta vez pelo lado mais difícil.

Ainda hoje, à noite, cá em baixo, quando olho as luzes da Abegoa por onde trepei, até me arrepio… “eu subi por ali!”

Saí de casa para a corrida quando alguns minutos passavam das 8h. Quando subi o último pedaço de rua para o castelo, que obviamente não pude fotografar e registar para todo o sempre no caleidoscópio Googlephotos, batiam as 9 badaladas no relógio da igreja de Marvão.

Toda uma façanha. Coisa pouca, dirão alguns. O nunca sequer sonhado como possível, diz o homem que caiu por terra após o acidente e agradece à força que aqui me meteu, por tudo isto que já não pensava poder voltar a ter, me ter dado. Há 5 anos atrás nem sequer conseguia andar, catano! E o João Bugalhão sabe-o bem, quando me quis meter a caminhar no corredor do bloco do hospital… e… nem para a frente, nem para trás.

Voltei, para alegria dos meus amigos, que me querem bem, e para azar dos detratores a que dava um jeito do caraças se tivesse levado caminho.

Descer de Marvão já foi pela estrada, em modo rolar e durou 40 minutos.

Quando assim começa assim o dia, começa-se bem e um gajo sente-se vivo. E isso. impagável.

E assim termina esta novela tecnológica que, até ver, terminou bem. Tudo funciona… por enquanto…

A ver vamos.

Há dias, um companheiro de outras andanças comentou… “porra, tu dás cá cada seca.”

Justifiquei: “só vai lá ler quem quer, amigo. Se vão e regressam… é porque gostam de ler. Aquilo é gratuito. Não é obrigatório.”

“Mas tu tens alguma coisa a ver com o blogue que agora apareceu de Marvão… que é só dureza e má língua?”

“Não, bebé. Tudo o que faço e escrevo na internet ou é no meu blogue, algo conhecido; ou no meu mural do facebook. Tudo às claras e assinado, por Pedro Sobreiro. Sem medos.”

Podem achar chato e que maça mas a mim, faz-me um bem… muito bom.

É catarse.

Medicina alternativa.

Expiação sem pagamento.

Psicoterapia do teclado.

Consulta terminada.

Fechem a porta. (que está frio)

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