quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Crónica: O meu mundo é este, mas este mundo já não é o meu

 

Estava a tomar o pequeno almoço, dentro do horário perfeitamente definido, on Schedule, como dizem os ingleses, e D. Sizzle sai-me destrambelhado para o quintal, a ladrar de grande.
- “Vem lá alguém”, pensei.
Toca a campainha.

- Disseram lá de cima: “PEDRO! Tocaram à campainha!!
-  “Já vou!”, meio acabrunhado, por ter de deixar o pão de leite quentinho, acabado de ter saído da torradeira, e de ter sido barrado de manteiguinha de vaca, dentro do qual ficou a dormir uma fatia de fiambre da perna.
- “Mas se ainda não te mexeste!”
- (Entre dentes) Já estou a mexer… Como é que sabes, se estás noutro piso…
Prendo a fera, e saio à porta. Não vá o gajo passar-se.
Pensei que seria um pedido para fazer um favor, lá nas finanças. Alguém que tinha uma dúvida, alguém que não tinha transporte, o habitual. Afinal eram senhores num camião branco.

- “Bom dia?”, meio à espera de uma resposta.

- “B. dia! Vimos da Decathlon.” Vimos entregar uma encomenda para a D. Alice.

- Ah… Afinal é para aqui.

- Alice, chegaram as tuas botas e o chapéu, para montares a cavalo.


- E quanto custou, terem cá vindo trazer isso?, conferenciei cá dentro. (Pensando que os homens devem ter vindo de cascos de rolha, cedíssimo, para aqui estarem por volta das 8h.30m)
- Encomendas de mais que 10€, a entrega ao domicílio, e grátis. Estas passaram um pouco. Foram as mais em conta que encontrei.

(Pensando:) Realmente, isto as compras na net, é mesmo o que está a dar. Não há centro comercial mais próximo (à distância do sofá), e com maior gama de oferta.

No meu tempo, eu ia com os meus pais a Portalegre, ao fim de semana, mais no sábado, que no domingo (era dia de missa); e corríamos a rua do comércio, acima e abaixo. Nessa altura, tudo mais longe que isso, era muito mais longe, e de vez em quando, lá íamos a Castelo Branco, e dali a Idanha a Nova, ver os meus avós maternos. Duas ou três vezes por ano, talvez.

Hoje em dia, as crianças já se habituam a comprar assim.






Sempre gostei de ver notícias. As notícias costumam dar à hora das refeições. Dantes, deixava que as desgraças (são quase só isso), se intrometessem na única hora quase do dia, em que estamos os quatro juntos. Fosse na televisão antes do acidente, por antena, na cozinha; fosse no MEO GO, já recentemente, éramos interrompidos, quase que sem nos apercebermos disso.

Hoje, depois de pensar nisso, de jantarmos, de arrumarmos a cozinha, quando nos sentamos na sala, posso tranquilamente ver as notícias pelo tablet, com o auricular, enquanto vamos fazendo outras coisas.

A televisão como eu me habituei a conhecer, é passado. Uma estação, a transmitir, num horário, estipulado por si, acabou. O espetador passou a ser o centro de projeção. Aquele que define, quem, como, onde e quando quer ver. A invenção das gravações automáticas revolucionou por completo as televisões, e a forma como as concebemos.

Na minha visualização, salto sempre as publicidades. Ocupam tempo a mais. Às vezes, mais de 20 minutos. Para quê?, se não me faz falta comprar nada?

Enquanto eu vejo as novidades do país, e do dia; elas, depois de terem feito os trabalhos da escola, e caso não tenham de estudar, divertem-se a jogar na WII na televisão, ou nos tablets. A mãe tem trabalhos manuais dos seus, ou da casa, e elas recriam-se, cada um em seu ecrã pequenino, no colo.

No meu tempo, quando nos juntávamos na sala, víamos todos (a mesma) televisão, depois da mãe ter arrumado a cozinha. Todos juntos, a ver o mesmo. Depois, o pai ia para a cama, ouvir a rádio clube de Monsanto, e a ler livros de guerra.



Na web summit, a conferência de tecnologia que acontece desde 2009, inicialmente em Dublin, agora, mais de há 2 anos a esta parte, em Lisboa: os olhos do mundo convergem para a nossa capital. E essa atenção não se confina ao nicho de mercado que a criou (amantes e utilizadores da tecnologia em geral), mas sim todo o planeta.


Não a sigo com a atenção que gostaria, por manifesta falta do bem mais precioso que todos temos, para além da saúde; mas, daquilo que tenho visto, tenho-me apercebido que este tempo, não é o meu, porque está claramente muito à frente.

Vi, pasmo-me, uma entrevista a uma mulher robot, que deixa a pensar sobre se a inteligência artificial, poderá mesmo ser uma realidade no futuro.



Uma entrevista a um físico brilhante, em que o homem, incapaz de falar, porque sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa incurável, que paralisa os músculos do corpo; sem atingir as funções cerebrais; fala fluentemente, através de uma aplicação com portugueses na génese. 






Um serviço aéreo da Uber, para serviços de curta distância. (COMOÉQUEÉÉÉÉÉÉ?!?!?!?!?!?!?)
VAI HAVER NAVES POR TODO O ESPAÇO?!?I?I?

Vou-me deitar, que amanhã há escola, a pensar que qualquer dia, que certamente já não irá tardar muito, estas fantasias que amo, são capazes de ser verdades, daqui a amanhã.




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