sexta-feira, 20 de março de 2015

O dia do Pai em 2015


Quem me conhece bem sabe que não sou nada de entrar nestas modas que considero pieguices, mas nadando fundo na “minha piscina” ao final ao da tarde, dei pela cabeça a pensar que seria importante para mim, e amanhã para elas, que deixasse o meu testemunho nesta data, o meu sentir neste dia. Em 2015 o pai estava assim.

Não tendo a bênção de muitos que gozam a plenitude do dia, tendo os seus pais vivos e sendo eles pais de filhos, vivo este dia em cheio como sendo o meu dia, há já 13 anos. Se desaparecesse hoje deste mundo, as minhas duas filhas seriam o meu maior património, a minha maior obra nesta vida. Nada de material tem comparação possível com este feito de ter gerado duas criaturas lindas que vou moldando a cada dia, como cantava o bom do Lou Reed em que um filho é o começo de uma grande aventura onde depositamos o melhor de nós e lhe tentamos tirar todo o mal que temos dentro. A cada dia que passa me vou apercebendo melhor que temos, eu e a co-piloto Cristina, feito um bom trabalho.



A Leonor está a atravessar uma fase difícil, própria da idade, mas é um ser muito doce, inteligente e sensível. Acho-a muito parecida comigo na forma de ver o mundo e se relacionar com os outros. Escreve bem mas pouco e contraída, sabe-se lá porquê. Numa composição que fez no outro dia a Português, disse que o dia mais difícil da sua vida foi quando a GNR a acordou de noite para avisar que o pai tinha tido um acidente de mota. Disse que teve muito medo de me perder, o que mexe.



A Alice é ainda muito pequenina e aterrou neste mundo tarde demais, com diversos anos de atraso para a minha vontade, mas já se revela desde bem cedo como dona de uma personalidade muito forte e cheia de pelo na venta. Muito pragmática e direta ao assunto, é toda mãe.

São lindas como a mãe e só no feitio me dão toques. Ainda bem. A mãe também é muito mais bonita que eu, que não me considero nada bonito.


Não vivendo eu de saudade, porque só consome e nada alimenta, este dia também é o do meu pai, que já me deixou há 21 anos. Quase tantos quantos o tive junto a mim. Ainda continua a ser difícil viver sem uma pessoa tão absorvente que foi o ser que mais me marcou a vida e a maneira de ser. Dono de um sentido de humor como nunca conheci igual, sempre capaz de encontrar uma piada de fino recorte e inteligência no mais banal dos acontecimentos, marcou todos os que com ele contactaram e passaram, por certo, a ficar amigos. Era capaz disso mas era também um homem sensível muito próximo que não se abria com facilidade. Ainda bem me lembro quando após a morte da minha avó, sua mãe, que foi o primeiro grande pontapé que a vida me deu, se chegou junto a mim com uma caixinha de plástico de ourivesaria com alguns cabelos brancos dela que tinha apanhado do banco de trás do carro, numa das últimas idas ao hospital, e guardado só para mim. Foi traído por uma vida rápida demais que o levou de uma rajada porque a sua forma de estar não era compatível com a garantia de chegar até hoje. Os excessos de tabaco, de álcool, da vida sedentária sem qualquer exercício físico, da total ausência e até muita resistência a uma vigilância médica que certamente lhe limitaria o modus vivendi que tanto defendia, faziam antever este desfecho que nos deixou tão mais pobres para sempre. Infelizmente não foi caso único e há bem pouco tempo, outros amigos nos deixaram na mesma faixa etária e pelas mesmas razões que isto é uma questão de somar 2+2.

Voltando à vida, hoje dou graças a Deus porque tinha a casa cheia de prendinhas feitas por elas, fiz os meus grelhadinhos para o jantar e fomos felizes com pouco, mas com tanto. Tanto, tanto.

Desejo a todos que sejam felizes e façam a vossa caminhada pela vida em paz porque se é bem verdade que quem semeia ventos, colhe tempestades; quem semeia sorrisos só pode colher amor e abraços.


Ingénuo? Talvez. Mas mais feliz assim. J


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