Quem
me conhece bem sabe que não sou nada de entrar nestas modas que considero pieguices,
mas nadando fundo na “minha piscina” ao final ao da tarde, dei pela cabeça a
pensar que seria importante para mim, e amanhã para elas, que deixasse o meu
testemunho nesta data, o meu sentir neste dia. Em 2015 o pai estava assim.
Não
tendo a bênção de muitos que gozam a plenitude do dia, tendo os seus pais vivos
e sendo eles pais de filhos, vivo este dia em cheio como sendo o meu dia, há já
13 anos. Se desaparecesse hoje deste mundo, as minhas duas filhas seriam o meu maior
património, a minha maior obra nesta vida. Nada de material tem comparação
possível com este feito de ter gerado duas criaturas lindas que vou moldando a cada
dia, como cantava o bom do Lou Reed em que um filho é o começo de uma grande
aventura onde depositamos o melhor de nós e lhe tentamos tirar todo o mal que
temos dentro. A cada dia que passa me vou apercebendo melhor que temos, eu e a
co-piloto Cristina, feito um bom trabalho.
A
Leonor está a atravessar uma fase difícil, própria da idade, mas é um ser muito
doce, inteligente e sensível. Acho-a muito parecida comigo na forma de ver o
mundo e se relacionar com os outros. Escreve bem mas pouco e contraída, sabe-se
lá porquê. Numa composição que fez no outro dia a Português, disse que o dia
mais difícil da sua vida foi quando a GNR a acordou de noite para avisar que o
pai tinha tido um acidente de mota. Disse que teve muito medo de me perder, o
que mexe.
São
lindas como a mãe e só no feitio me dão toques. Ainda bem. A mãe também é muito
mais bonita que eu, que não me considero nada bonito.
Não
vivendo eu de saudade, porque só consome e nada alimenta, este dia também é o
do meu pai, que já me deixou há 21 anos. Quase tantos quantos o tive junto a
mim. Ainda continua a ser difícil viver sem uma pessoa tão absorvente que foi o
ser que mais me marcou a vida e a maneira de ser. Dono de um sentido de humor
como nunca conheci igual, sempre capaz de encontrar uma piada de fino recorte e
inteligência no mais banal dos acontecimentos, marcou todos os que com ele
contactaram e passaram, por certo, a ficar amigos. Era capaz disso mas era
também um homem sensível muito próximo que não se abria com facilidade. Ainda
bem me lembro quando após a morte da minha avó, sua mãe, que foi o primeiro
grande pontapé que a vida me deu, se chegou junto a mim com uma caixinha de
plástico de ourivesaria com alguns cabelos brancos dela que tinha apanhado do
banco de trás do carro, numa das últimas idas ao hospital, e guardado só para
mim. Foi traído por uma vida rápida demais que o levou de uma rajada porque a
sua forma de estar não era compatível com a garantia de chegar até hoje. Os
excessos de tabaco, de álcool, da vida sedentária sem qualquer exercício físico,
da total ausência e até muita resistência a uma vigilância médica que
certamente lhe limitaria o modus vivendi que tanto defendia, faziam antever
este desfecho que nos deixou tão mais pobres para sempre. Infelizmente não foi
caso único e há bem pouco tempo, outros amigos nos deixaram na mesma faixa
etária e pelas mesmas razões que isto é uma questão de somar 2+2.
Voltando
à vida, hoje dou graças a Deus porque tinha a casa cheia de prendinhas feitas
por elas, fiz os meus grelhadinhos para o jantar e fomos felizes com pouco, mas
com tanto. Tanto, tanto.
Desejo
a todos que sejam felizes e façam a vossa caminhada pela vida em paz porque se
é bem verdade que quem semeia ventos, colhe tempestades; quem semeia sorrisos só
pode colher amor e abraços.
Ingénuo?
Talvez. Mas mais feliz assim. J
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