Toda
a gente me diz quando sabe que vivo com 3 mulheres, que sou um sortudo. Mas ninguém
sonha como é viver com 3 mulheres. Apenas digo que não é fácil. Não é nada
fácil e mais não digo porque como avisa a polícia nos States quando prende um
meliante: “tem direito a ficar calado porque tudo o que disser, pode ser usado
contra si no tribunal”.
Toda
a vida vivi numa casa onde os machos éramos 3, e imagino hoje o difícil que
pode ter sido para quem estava do outro lado. Solidariedade, mamacita.
Estar
em minoria, nestes ambientes (o nosso!), não é fácil, garanto.
As
pessoas sorriem para mim e dizem entre dentes, “sortudo! Um menino entre as
mulheres…”
Eu
rio, agradecido e murmuro, “nem imaginam o quanto…”
Todos
já sabem e é do domínio público a minha devoção pelo género feminino, que acho
de longe, mais evoluído que o masculino. Qualquer homem, seja ele qual for, e o
extrato social a que pertencer, inclina inatamente a cabeça quando vê um decote
que o deixa ver demais sem querer, ou mete a cabeça de lado para poder ver as
pernas qua a saia distraída à frente deixa à sua mercê. Podem dizer que não,
mas eu sei que mentem porque a natureza é mais forte que nós. Quando muito
podem ser fortes, dizer que nunca, mas será sempre um reforço contranatura.
Depois,
as mulheres podem dar à luz, podem gerar vida dentro delas, têm o sexto sentido,
parece que nos despem a cabeça e nos leem cá dentro e ainda por cima, poderiam
assegurar a continuidade da espécie humana com o apoio da medicina.
O
que nos vai valendo é a anatomia que lhes dá prazer e este gosto que têm de ter
um animal de estimação.
Isto
tudo para vos dizer que quem manda em mim é o triunvirato que pinta os lábios
cá em casa. Manda em mim, e manda no Sizzle, o meu bebé, o macho companheiro.
Não quero, porque sei que perco, ir contra este muro de amazonas.
Elas
por força, que lhe queriam mandar cortar os tintins, os apêndices, a
masculinidade, vá!, chamemos-lhe assim. Isso era uma coisa que me revoltava e
me deixava mesmo muito em baixo. Era uma ideia que me assustava e derrotava.
Não sei muito bem como e como não, mas a coisa foi passando. Foram deixando,
deixando, fez 1 ano, um ano e meses e eu andava desertinho de o levar às gajas,
cotadinho. Solidariedade masculina, pode-se mesmo dizer.
Olhava
para ele e pensava, “cãozinho, cãozinho… tão lindo e sem saberes o bom que a vida
dá. Vão-te tirar o KIT sem sequer lhe dares uso”.
Queria
levá-lo ao bem bom mas não queria que fosse com uma cadela de vida qualquer,
que o meu menino é d’oiro. Uma vizinha aqui do bairro comprou, creio que perto
de Santarém, uma cadelinha de luxo, labradora também, de uma tonalidade de pêlo
mesmo idêntica ao Sizzle, chamada Quica. Com garota nova no pedaço, não havia
vez nenhuma que o meu Suíço passasse nas redondezas e não se eriçasse todo.
Muito macho, sempre que avistava alguma dama, dava sinal de si. Com esta…
sobremaneira.
Eu
e a dona, boa menina que conheço desde miúda, apalavramos o encontro romântico
entre as mascotes, que já estava apalavrado há muito.
-
Quando é que pode ser?, perguntei.
-
Ah… quando ela se sair.
-
E quando é isso? (do estar saída, que eu não parçebo nadinha)
-
Depende da altura… Umas duas vezes por ano.
Mas
a boneca nunca mais se saía e o meu castanhinho… aguardando.
Até
que há dias, recebi uma mensagem pelo facebook, uma cena assim muito high tech,
muito queca de cão à século XXI: “Hoje à tarde está em casa?”
“Estou.”
Mas que seria? Fiquei na mesma e a aguardar um contacto prévio para alguma confirmação.
Estava
eu a lavar os meus carrinhos, numa tarde bem passada de limpezas ao sol, quando
mãe e filha me aparecem no portão da frente com a menina.
Eu…
a bem dizer… fiquei sem jeito.
-
“Está aqui”, disseram elas.
-
“Sim, já vi e…”, deixei no ar à espera de uma deixa para se saber o que fazer a
seguir. “O meu está aqui, mas…”
-
“Pois…”
-
“Pois…”, respondi. “é que eu não faço a ideia como é que isto se processa”, disse.
Não sabia se havia um cortejo antes, preliminares, se se mete um drink, ou se se fecham os dois
na garagem para terem alguma privacidade. Não sabia, prontos.
-
“Não sei se quer aqui ou no nosso quintal”…, disseram.
-“É…
na vossa casa é capaz dela estar mais à vontade. Não sei. É que aqui… (com a
Cris a ajudar nas limpezas de casa, a Leonor a estudar e sobretudo a Alice a
poder aparecer a qualquer momento e a apanhar uma imagem de choque daquelas que
não desaparecem assim tão depressa…) é capaz de não ser assim lá muito boa
ideia.”
Assim
saímos. O meu animal entrou num estado de desvario tal que não tem explicação. Parecia
que a dita cadelinha tinha um íman gigante entre as pernas e o gajo parecia que
bebeu 30 RedBulls de empreitada. Deu-me um esticão na trela que parecia que me
ia desconjuntar o braço que fiquei de recordação do acidente como se fosse um
osso único. Que coisa, pá!
Na
realidade, eu não sabia, ou já me tinha esquecido porque é que o povo diz que uma
cadela está saída. Está saída porque o amojo literalmente parece que lhe salta
para fora do corpo. No sítio da crica, fica com uma bolsa… saída. Daí o nome.
Lá
fomos então todos 3: as duas senhoras, mãe e filha, com a cadelinha; e eu com o
Alexandre Frota canino doido por fazer o gosto ao “dedo”. Que o gajo estava com
um poder, e fazia uma força… brutal. Os 100 metros que distam entre as duas
casas, pareceram quilómetros. Nunca mais lá chegávamos.
Lá
chegados, nem uma zona mais recolhida, nem uma sombra, nem um sonzinho ambiente…
nada! O gajo saltou-lhe para a arreata e… prontos.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh.
A
carinha dele… tão satisfeito, o meu amor… Que regalo.
Depois
ficaram os dois engatados. Parece que a natureza é mesmo assim. Têm de ficar
ali a assegurar que a conceção é bem sucedida.
Eu
recordo-me de em puto os ver assim, pela minha Beirã fora. Mas não fazia a mais
menor ideia porque é que os cães ficavam colados de costas e muito menos
reparava que era um cão e uma cadela. Apenas lhe atirava água para cima porque
era engraçado ver a aflição dos dois a correrem cada um para seu lado sem
conseguirem ir para lado algum.
Não
ouve cigarros after game, nem um biscoito canino. Não houve um tchau, uma troca
de telefones, uma carícia no leito.
Vamos
lá ver ao fim de dois meses no que dá.
-
Então quantos quer?
-
Ó minha querida, eu sei que o dono do macho tem direito a alguns mas não faço
ideia de quantos estaremos a falar. De qualquer das formas, agora não preciso
de nenhum e tu, que tiveste de pagar pela tua, aproveita para conseguires fazer
algum. O meu foi dado e por isso. Está tudo bem. Não tenho assim nenhum amigo
que me tenha pedido um. Pode ser que um dia… dás-me então.
-
Ah, mas eu não quero fazer muitas ninhadas, sabe? Quero 2 ou 3, porque faz
falta às cadelas para estarem bem. Depois começam a desenvolver doenças e é
melhor não.
-
Tu é que sabes. Nós cá estaremos. E como se dá a casualidade de terem a mesma
cor de pêlo.
Enquanto
vinha com ele, pisquei-lhe o olho e fiz-lhe uma festa na cabeçorra tão larga
que tem:
“-
Elas dão muito mimo, muito mimo… mas quem é que te traz às maganas, ó parceiro?”
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