- Nível!
Não se compra. Não se aprende. Ou se nasce com ele... ou não!
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Quando a data é importante para mim, o meu telemóvel está ensinado a apitar. E aquele dia, era uma dessas datas. Porque ele mo disse. Tanta vez. Tanta que eu acho que já a sabia de ginjeira.
9
de Março = anos do meu amigo Marco da APPACDM (Associação de Pais e Amigos do
Cidadão Deficiente Mental de Portalegre. Os meus vizinhos de bairro.)
O
maior performer e entertainer chegado a esta terra. Eu acho que era capaz de
estar um dia inteiro, só a vê—lo dançar. A curtir o som. Amo.
Segundo
aquilo que sei, o Marco tem um passado algo complicado, com um pai que, sem o
saber muito bem, explorava (não sei se com real consciência disso) o seu
entendimento das coisas. Passava o dia a guardar rebanhos, ou gado e por
companhia... a inseparável Rádio Contestável, a sua favorita.
Sempre
a ouvir som, como eu, nas finanças. Temos isso tanto em comum, de não
conseguirmos imaginar a nossa vida sem música.
—
Dia 9... de Março... FAÇO OS ANOS!
—
Ai sim, meu amor? E que queres tu de prenda de anos, que o teu Tio Sabi
compra—te?
—
UNS ÓCULOS ESCUROS!
—
ESSES SERÃO!
De
vez em quando, via—o, e dizia—lhe:
—
Marquinho, campeão, JÁ LÁ ESTÃO EM CASA!
— Eh
Nina... dás um abraço ao Marco?
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E
ele: EEEEEEEEEHHHHHHHH!
Claro
que já cá estavam. Não que os tivesse comprado de propósito na Multióticas, mas
seriam uns dos mais de 10 óculos baratos que tenho comprado por aí na
retambana, em dias/noites/tardes de folia.
Expliquei
a situação à minha Alice, e no bem que nos sentimos quando temos demais, sem
darmos real valor, e damos a quem nada tem.
—
Estes óculos, Alice, estão guardados numa caixa no sótão, e nós nem nos
lembramos que os temos. Mas para o Marco, podem ser uma prenda especial, que
lhe poder tornar o dia tão melhor.
Marco e
a "Nina"
|
Escolhemos os que haveriam de ser e optámos por uns Raybantes vermelhos, do Benfica, porque também acho que ele grita pelo Benfica quando passa por mim.
—
Pai: eu também quero ir lá contigo, oferecer—lhos.
Chegámos
às 9h em ponto, quando já os iam deitar. A alegria quando me viu:
—
Amigo! É os óculos!
—
É sim, Marco.
—
Eu faço os 37! E... São liiiiiindos. Obrigadinho ... Obrigado... Obrigadinho...
No
caminho para casa, perguntei—lhe: não é tão bom, Alice?
“Sai um
fixe para o Marco?
Fixxxxxxxxeeeeee!"
Foto de
Alice Sobreiro.
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Nota do após: contaram-me algumas auxiliares que conheço, e são minhas contribuintezinhas do serviço onde trabalho, que passa os serões de óculos escuros, a curtir. Como sabem que todos me adoram, brincaram: "qualquer dia és a mascote deles todos, e ainda te nomeiam o padroeiro da instituição."
Respondi que eu também os adoro a eles. São puros. Quanto ao que me dizem... não poderia ter maior elogio.
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