terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O meu pequeno mundo



Na passada quinta-feira assisti à estreia no jornal da noite da SIC da grande reportagem “O meu pequeno mundo”. Situada algures entre a reportagem e o documentário, este novo programa da estação de Carnaxide prometia dar “espaço a esses pequenos mundos e às suas intimidades”, desvendando “segredos de realidades que julgamos conhecer e também histórias de realidades que nem imaginamos”. Segundo o comunicado da estação, este novo formato é “um olhar diferente sobre os nossos mundos. Um programa onde os lugares têm voz. Porque cada mundo é uma história“. Esta foi da autoria de Ana Sofia Fonseca, chamou-se “Hospital”, debruçou-se sobre o Centro de Reabilitação de Alcoitão e trouxe histórias de pessoas que chegaram àquela unidade para “reaprender a viver”.


O meu primeiro ímpeto foi assistir, assim que ouvi o anúncio no ar pela primeira vez. Tendo estado e tendo sido mais um residente hospitalizado em Alcoitão, não queria perder por nada esta visão sobre aquele mundo que foi também o meu, agora visto por outros olhos quando eu inclusivamente assisti sem querer à filmagem fortuita de algumas cenas sem ainda saber muito bem para o que eram. Aquela impulsão que me “empurrava” para ver refreou-se por vezes, intimidou-me, questionou-me se eu estaria mesmo preparado para assistir a tudo aquilo. Mas ainda assim, não perdi a oportunidade de estar “na linha da frente” e ver tudo.


Do ponto de vista jornalístico, a peça recebe aquele louvor a que a SIC já nos habituou, como melhor canal do género em Portugal. Não há outra televisão assim, capaz de produzir e colocar peças deste calibre no nosso país.


Quanto ao resto, a peça em si… foi aquilo que eu já esperava. Eu vivi ali, eu estive lá no meio deles, eu conhecia e conheço por dentro aquele lugar como ninguém porque o conheço à minha maneira. Aquilo que lá vivi, lá ficou mas eu não esqueço! Conheci os doentes da reportagem com os quais me cruzei muitas vezes em corredores, no refeitório, na sala de convívio e em elevadores sempre em cadeira de rodas porque as normas de segurança não nos permitiam (de todo!) circular de outra forma que não fosse essa. Reconheci os enfermeiros, os auxiliares, os médicos… reconheci-os todos!


Rever tudo aquilo fez-me regressar e apesar de já estar a salvo, em casa, junto às minha três princesas, a sensação com que fiquei não foi de alívio, não foi de ter ultrapassado tudo aquilo. Estranhamente fez-me só regressar… aos corredores, aos quartos, àquele mundo. Revivia a história do protagonista que era muito popular por lá apesar de não conseguir dizer um só palavra. Revivi tudo.


Agora pensei que para defesa minha, habituei-me a pensar que era diferente deles. O pessoal de apoio também sem querer, ajudou nisso pela forma como me tratavam. Quando entravam no quarto, por exemplo, perguntavam quem era ali “o independente”? Ora com tanta gente acamada que era incapaz de se levantar por si, sem apoio, eu até tinha todo o gosto em ser positivamente discriminado e colocava-me em pé na cama de um salto. Como tinha toda a mobilidade e era capaz de fazer tudo a nível de arrumações no armário, sacos de viagem, como não precisava de chatear ninguém… fui-me convencendo que estava melhor do que realmente estava, fui-me convencendo que estava melhor do que quase todos eles, fui-me convencendo que seria tudo mais fácil, mais acessível… o que não estou, de todo, a ver no meu regresso à realidade. É tudo muito difícil. Muito, muito difícil. Este tempo em que eu tenho estado doente, em que eu estou a recuperar da coma, é terrivelmente difícil.. Tenho que fazer todos os dias um esforço enorme para não me “ir abaixo” porque o mais fácil é desistir, é entregar-me, “deitar-me às feras” e “entregar o jogo”. Quando eu tenho de pacientemente assumir o meu estado de convalescente, sempre que eu me tenho assumir que estou em recuperação, que estou a tentar melhorar, fazendo os exercícios que me mandam fazer ou as coisas que me solicitam… tenho de me saber posicionar, tenho saber ser “pequenino”, tenho de me saber colocar “no meu lugar”. Não é fácil, não é fácil, não é mesmo nada fácil e isto digo-vos eu, podem acreditar. Se eu era uma pessoa que sempre tive olhos para os outros, se sempre quis e amei os mais necessitados, os que passavam mal, se sempre fui consciencioso, se sempre fui humilde, se sempre fui amigo do meu amigo, porquê esta lição tão grande e tão dura? Não me canso de perguntar! Porquê?


A minha recuperação é a prova mais difícil que tenho de fazer na minha vida. De longe! Quer a nível psicológico, quer a nível físico. Nunca houve nada que eu tivesse feito tão difícil em 38 anos! Nem o curso superior de comunicação social, nem o curso de fiscalidade para entrar nas finanças, nem as meias-maratonas, nada! Isto é, de longe, a coisa mais difícil e que me está a custar mais fazer por uma razão muito simples: em todas as outras coisas eu nunca duvidei que chegaria ao fim e nunca questionei que chegaria ao sucesso. Eu sabia que custasse o que custasse, acabaria por triunfar. Eu tinha a certeza do meu trabalho, do que era capaz, do que me esforçava e dos resultados que acabariam por vir. Agora… nem noto os avanços do meu trabalhos, nem sei realmente o que tenho e o que quero fazer, nem tenho a certeza de nada. Limito-me a seguir as instruções de quem me é próximo ou de quem me ajuda. É muito bom ter apoio e auxílio sem o qual não seria nada mas limito-me a caminhar em frente sem perguntar para onde ou como. Pela primeira vez na vida em muito tempo eu limito-me a seguir em frente o que não deixa de ser seguro mas redutor. Olhando, sonhando mas apenas caminhando, esperando que melhores (e mais esclarecidos…) dias venham.


Como ele diz logo no início da reportagem e muito bem: "É como se tivesse nascido de novo".


A reportagem na íntegra está clicando aqui: http://videos.sapo.pt/4RcB6zRQYq96a6CQc3VL , com o título "O Hospital". Vá lá... Façam isso. É meia horinha que não se esquece. Vale mesmo a pena!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A minha musa


Eu sou um verdadeiro fã da minha mulher! Sempre fui, toda a vida!, mas agora, mais do que nunca, o que eu estou mesmo é capaz de fundar um clube de fãs da Cris(tina). É mais do que merecido. Fundava, mas reservava logo para mim o número 1 e garantia um estatuto especial, claro está! Ninguém se acredita em tudo naquilo que esta mulher é capaz! Eu sempre soube mas agora assim lesionado reparo mesmo em tudo o que ela faz e é capaz de fazer em casa. É impressionante! Ter um acidente destes, destas dimensões, é sempre coisa má e muito, muito ruim mas agora, com duas filhas pequeninas a nosso cargo e cuidado não podia vir na pior altura! A Alice ainda só agora vai fazer dois anos e quer toda a atenção, mexe em todo o lado, não pára por um segundo, é toda bébézinha. A Leonor com pouco mais de 10 anos já só pensa em ser grande e em ser mulher mas continua a comportar-se em casa como uma criança que é. Difícil! É uma dupla imparável! Quando a partir da 6 horas da tarde se juntam as duas em casa, fica tudo por conta delas. Eu sempre ajudei, nunca quis ser um pai ausente mas agora apercebo-me muito melhor e estou muito mais próximo de todo o trabalho que é desempenhado pela Cristina. Ela ajuda a fazer os trabalhos de casa, ajuda-as a comportarem-se, ajuda-as a comer na alimentação que ela faz maravilhosamente, ajuda-as em tudo! Excelente dona de casa, excelente cozinheira, excelente nas limpezas, nas arrumações, excelente em tudo! Enculturadora, formadora, educadora… Que sorte eu tive em tê-la sempre comigo do meu lado e elas, em terem uma mãe assim! É a estrela da família, não devem haver quaisquer dúvidas quanto a isso! Nós, secretamente sempre alimentamos aquele ego que nos permite querer ser, aquele ímpeto que não nos deixa ficar para trás… mas eu agora estou rendido. Desta vez fiquei completamente rendido. Eu nunca mais quero ser apresentado como o marido da Cristina. Eu sou um admirador que por acaso até tem a sorte de estar casado com ela!

Sempre soube que ela era muito forte, que ela é baixinha em tamanho mas gigante lá dentro mas agora, quanto mais sei dela e do que ela fez e foi capaz por mim, sinto um enorme orgulho e admiração. Quanto tive este estúpido e trágico acidente, ela foi para junto de mim para Lisboa. Deixou tudo, deixou as filhotas, deixou a casa, deixou a vida dela, o emprego… e foi por mim, foi a ver de mim, a lutar por mim em silêncio, a viver num mundo estranho, num hospital estranho e distante por amor, por acreditar no amor de um homem que nessa altura só estava em presença corporal, em coma, que não respondia a nada. Mas ainda assim ela nunca me deixou, ela continuou a incentivar-me a estar presente. De mão dada, fazia-me festas no peito e na cara, acariciava-me o cabelo… nunca deixou a vida abalar de mim. Esteve sempre vigia e de vigília, sempre atenta a tudo. Foi e é o meu anjo da guarda. Um dia comprou-me o meu perfume preferido e quando mo deu a cheirar, reagi de imediato e as máquinas começaram a entrar em frenesim. Aflita, porque não compreendia o que se estava a passar, pediu auxilio ao pessoal especializado que a tranquilizou e lhe disseram que tinha sido muito bom eu ter tido essa reacção porque o olfacto me trouxe recordações e tinha “mexido” comigo. Nunca me deixou… Longe, em Lisboa, num hospital estranho, a falar e a ouvir estranhos, nunca desistiu de mim. Isso é uma coisa preciosa que se guarda e fica connosco para toda a vida!

Quem é que me havia de dizer que haveria de ser assim? A nossa história de amor começou há muitos, muitos anos quando estudávamos no ciclo em Castelo de Vide. Ainda me lembro como se fosse hoje e eu, naquele intervalo entre duas aulas, reparei que aquela carinha linda que era irmã mais nova de uma colega minha de turma, tinha qualquer ”coisa” de especial. Sem eu lhe ter perguntado nada ela disse-me que ia pensar e ficou assim… Nunca mais despegou. É certo que a vida ainda havia de dar muitas voltas, nós teríamos ainda muita coisa por dizer e por fazer mas ficou sempre aquela sensação que aquele era o nosso porto de abrigo, o nosso local certo.

Juntámo-nos de vez quando eu estava na faculdade. Casámos (pelo civil primeiro e pela igreja depois), temos duas filhas e o Pedro Sobreiro só faz sentido se estiver junto da Cristina Lança que agora, para além de tudo, é a minha voz da consciência, é a minha médica em casa, a minha tutora. Eu tenho sempre de lhe perguntar antes porque só assim é que eu sei não só a sua opinião, como se a coisa está bem e é correcta.

A ultima que me fez (com muito espírito!) foi fotocopiar e colar no espelho da casa-de-banho, uma frase que a médica de São José me escreveu e à qual eu achei desde logo muita piada. Colou-a lá porque assim posso vê-la todos os dias e porque dali não há como fugir dela! Posso lê-la de manhã, de tarde, de noite, quando por ali passo e nela me fito. Estando escrita nunca mais me esqueço dela e tampouco a posso evitar. Diz: "Estou a recuperar bem mas a evolução é progressiva, lenta e isso chateia mas é bom sinal porque estou a recuperar e esta é mais uma fase transitória que estou a passar".

Cristina… Sou muito feliz por estar junto a ela, por a ter do meu lado, por a amar, por ter estas filhas maravilhosas.

Como ela diz muita vez (ao ponto de me deixar calado, embargado, sem ser capaz de dizer uma palavra), olhando para mim, sorrindo: “é muito bom ter-te”.

E eu? Que lhe posso dizer se lhe respondo sempre e me parece que o amor aqui não chega para o que quero dizer? Ela para mim é muito mais que isso, que tudo aquilo que posso dizer.

Sou fã!






(P.S. Ainda bem que pude escrever isto às escondidas e sem a autorização dela senão o mais provável é que não quisesse que o fizesse. Assim fica público e do conhecimento de todos!)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um erro



Eu não sei nem consigo imaginar o que se passou ao certo naquela noite do meu acidente mas tudo só pode ter sido um erro de casting tremendo. Não tenho a mais menor ideia nem do acidente nem do que se passou depois mas… ou não era para ter sido assim, ou não era para ter sido eu. O que eu posso dizer, se me é permitido ser juiz em causa própria, é e eu tivesse “levado caminho”, como se diz por aqui pelas minhas bandas, tinha sido muito injusto e tudo muito prematuro. Um gajo quando tem assim um acidente destes que coloca tudo em questão e o volta a colocar nas mãos do criador, ajuda sempre a compreender como foi, porque foi, como se passou até para poder repensar e colocar as coisas de novo na balança. Ajuda… Pois eu não tive direito a essa ajuda. Só sei que tive a maior das ajudas por poder cá estar de novo e nada mais pergunto porque não vale a pena. O resto são tudo perguntas que vão ficar sem resposta. Eu sei que vinha de um jantar onde tinha ido ensaiar para uma actuação musical que ia ter no dia seguinte com a minha Grupa ou por esses dias, sei também que ia ter uma prova de natação de duatlo, sei que estava metido nessas andanças que eram as minhas, quando tudo se deu. Sei que o acidente aconteceu tarde, já de madrugada e metendo uma mesa e amigos, o mais certo é eu pensar que tinha havido abusos mas acho que nem por isso. Para já, tinha imenso respeito à estrada, tinha medo que algo me pudesse suceder, tinha responsabilidades nesses dias e mais em que pensar. Partindo deste ponto não sei… Dormir não me deixava, de maneira que ou deixei meter uma roda na valeta e já não a consegui tirar ou foi um animal que se me passou na frente. Para ter estes resultados, alguma coisa de extraordinária se passou.


Fosse o que fosse, o que é verdade é que eu acho que teria sido uma pena porque atendendo à minha pessoa, a tudo aquilo que eu consegui nestes 38 anos, terminar assim era coisa injusta, que não se faz. Ainda bem que Deus assim o pensou e me decidiu dar mais esta oportunidade. Eu sou um homem de bem, sempre fui. Acho que todos os papéis que eu desempenhava, me esforçava por os fazer da melhor maneira. Amante da família, amigo dos amigos, homem bom da sociedade, eu estava em todas e sempre para ficar bem com os outros e comigo mesmo. É claro que eu também tenho inimigos, mal de quem não os tem. Mas mesmo com essas pessoas que não gostam de mim, se eu tivesse oportunidade de trocarmos dois dedos de conversa, eu estou certo que compreenderiam que ou tinham a perspectiva errada ou estavam mesmo enganados porque eu acho que não deve ser difícil, aliás, até deve se bastante fácil e bom estar comigo e gostar de mim. Eu olho à minha volta e é com enorme prazer que vejo que a minha família e os meus amigos são gente do melhor que há. Ora sendo eles pessoas que estão de bem, de livre vontade, que estão comigo sem nenhuma contrapartida senão o meu gosto e a minha amizade… isto quer dizer muita coisa!


Foi um episódio da vida que me sucedeu e eu não vou perguntar porquê. Aconteceu e há que passar por ele, por tudo isto e tentar fazer como eu sempre fiz na minha vida: tentar aprender sempre mesmo das coisas mais difíceis porque até na coisas ruins há sempre algo de bom que aprender. Não era preciso era sofrer tanto e passar por tanto, mas que fazer? Nada acontece por acaso. Eu acredito nisso!


Há então que erguer a cabeça e olhar em frente porque melhores dias virão e com a ajuda de todos, havemos de vivê-los da melhor maneira. Ter força e alegria são fundamentais, agora mais do que nunca!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Vão vir charters!





Eu adoro o Paulo Futre… mesmo! Tudo aquilo que o homem faz para mim é o máximo. É aquele tipo de amigo que eu gostava mesmo de ter naquela de lhe ligar para nos sentarmos numa esplanada a bater um papo ou nos juntarmos para comermos um petisco. Bestial! Adoro tudo o que faz e sempre que o vejo fico todo derretido. Mesmo agora, em casa acompanhado das minhas duas pequenas, o vi cantar e dançar no novo vídeo dos Gato Fedorento, anunciando o Meo Go, ali acompanhado dos meus amigos Raimundo e bonés dos Poppers! E não é que faz tudo bem? Grande máquina! Foi grande futebolista, o melhor que eu vi mesmo jogar ainda no antigo estádio da Luz defendendo as quinas da selecção e continua a ser um grande homem. Eu se o vir um dia vou abraçá-lo e dar-lhe um beijo. É o maior! Mas ainda alguém tem dúvidas disso? Impossível!



Se eu fosse Presidente da República havia de arranjar maneira de lhe dar um título ou uma ordem qualquer porque o tipo merece. Um gajo deste gabarito que conheceu as pessoas e os meandros que ele conheceu deveria ter o apoio de todos os portugueses para levar uma vida condigna e à sua maneira. Devíamos nos unir todos em relação a este homem do Montijo porque ele deve de ser unânime: sem dúvidas nem espinhas! Grande Paulinho! Grande em Espanha (Atlético de Madrid), grande em França (Marselha), grande em Itália (Reggiana, Milão), em Inglaterra (West Ham), no Japão (Yokohama Flügels)… Porra!


O meu querido João Escarameia teve a cortesia de me dar o livro de memórias do Paulinho pelo natal só que eu já tinha um exemplar… autografado pelo mestre que me tinha sido oferecido pelo meu irmão como prenda de aniversário. Os dois que me conhecem mesmo muito, muito bem, tiveram a mesma ideia e eu tenho de vos ser sincero quando vos digo que não vejo mal nenhum se tivesse ficado com os dois exemplares. Homem que é bom chefe de família tem de guardar em casa duas cópias desta obra que deveria ser estudada nas aulas de português e nas aulas de futebol. Não interessa se o português está muito bem escrito e se ensina muito sobre o desporto… O que interessa é que o homem é único e nós temos o dever de passar a palavra e o homenagear em vida, enquanto é tempo.


O Paulinho Futre vai a todas! Recentemente brilhou na comunicação social quando apoiou a candidatura do Dias Ferreira ao Sporting com aquela história dos jogadores chineses que trariam aviões repletos de pessoal para os verem, está em grande explorando a sua faceta de cómico e entertainer, está bem em tudo! Seja a vender as máquinas de exercícios da marca Vibroplate, seja a fazer o papel de “padrinho” da máfia no novo vídeo do filho do Tony Carreira… faça o que fizer, o Paulo está sempre na maior. Essa do vídeo para mim está o cúmulo e aqui, os Gato Federonto levaram mesmo uma “banhada” do Tony que foi super-inteligente a aproveitar a figura, o papel, o background, a imagem, tudo!


Eu adoro-o e acho que pelo menos merece não só um documentário mas um filme mesmo! Adivinhem quem o vai comprar ou estar na linha da frente?




Brilhando na conferência...


Brilhando no Vibroplate...


Brilhando em video musical


Uma pérola a ser vista! (entrevista no Alta Definição)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Em espera...


Esta parte da fisioterapia é… para mim, particularmente difícil e dolorosa. Não em termos físicos, entenda-se bem, mas em termos mentais e psicológicos. O retorno, o retrocesso ao que nós queremos parece tão difícil que por vezes mais parece impossível. Eu explico… calma! Na quinta-feira, à tarde, dei uma caminhada de 9 quilómetros. Na sexta, seguiu-se outra caminhada de 9 quilómetros que por sua vez foi repetida ao sábado com mais 9 quilómetros. Estamos a falar de uma distância que não é coisa despicienda e que custa muito a fazer, sobretudo a mim, neste estado que sinto e me apercebo de cada passo que dou. Mas bem, como parado nunca fui e não quero ficar, lá fui a ver de forças para levar a água ao moinho, pensando que estava a fazer bem. Não foi isso que eu ouvi hoje da boca de quem me treina o físico e me disse que por aquilo que lhe era dado hoje a ver, o fim-de-semana me tinha feito mal porque eu vinha num estado em que “trancava” muito as pernas cá atrás para me dar segurança a nível de equilíbrio. Difícil de ouvir, não é? Um gajo esforça-se, faz tudo aquilo que é capaz para ficar melhor mas é levado a concluir que nem sempre a vontade e a força de querer se compreendem e se explicam. Ou seja, nem sempre o que se investe e aposta tem tradução no papel. Duro… Eu acredito piamente no que me foi dito e compreendo mas lá que custa a quem tanto fez… custa! Eu vou continuar na minha, continuando a fazer a minha recuperação e caminhadas, tentando voltar a sentir-me fisicamente como estava, nunca baixando os braços nem deitando as coisas a perder. Ficar em casa a ver programas do Baião não faz (nem nunca fez!) parte dos meus planos, de forma que não me resta outra alternativa que mexer-me e aplicar tudo aquilo que me ensinam. Com muita dedicação e muito esforço eu tenho mesmo de lá chegar. Tem de ser!

(Faz parte da mesma crónica mas não tem nada a ver. Não comecem a pensar e a teorizar coisas. Faz parte porque sim, porque aconteceu assim).

A minha mãe, Alzira Sobreiro, regressou hoje ao hospital de Montemor para voltar a ser operada à perna pelo último médico que tinha operado. Esta que é a sua ladainha, parece ser uma caminhada difícil demais para uma pessoa só. Caiu num domingo de manhã quando se encaminhava para a missa na igreja da Beirã e desde então tem sido um suplício ao ponto de nunca mais ter ficado com a perna como a tinha, apesar das muitas operações. Foi operada logo aqui em Portalegre quando se pensava que a cirurgia resolveria logo tudo mas voltou a ser operada diversas vezes (já nem sei precisar quantas…) depois disso. O resultado é que a perna continua a não funcionar, a prótese continua a não estar bem, continua a coxear, continua a sentir-se mal, continua a ter dificuldades. Espero que desta vez fique com o problema resolvido e consiga retomar a sua vida que bem merece. Por muito já passou ela.

Eu sou católico mesmo. Eu acredito em Cristo, nas suas palavras e ensinamentos. Já não acredito tanto na igreja católica e muito menos nas atrocidades que se têm cometido à sua luz ao longo dos tempos. Mas como católico que sou, há uma série de perguntas que gostaria de formular a quem de direito e ver respondidas. Oxalá que ainda falte muito tempo porque a minha ideia é só vê-las respondidas no dia final, mas ainda assim gostaria de lhas fazer porque me parecem da mais elementar justiça. Eu sei que temos de dar graças pela nossa vida e existência (eu faço-o todos os dias), mas parece que há vezes em que tanto azar é demais, tanta coisa má também chateia e deixa tudo por compreender. Não concordam? Gratos por estar vivos (é um facto inquestionável do qual ninguém duvida), mas com tanto azar porquê? Já merecíamos outra sorte…

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

You only live twice...


Hoje de manhã, a fisioterapia em Portalegre levou-me para a rua, no largo de entrada do hospital onde fiz alguns exercícios relacionados com a marcha e o equilíbrio. Subi e desci a rampa e as escadas, andei para trás, caminhei para cada um dos lados, fiz uma série de trabalhos que para mim são de todo pertinentes (e difíceis!) mas que podem parecer estranhos para quem observa. Só de pensar…


Imaginem que eu estava do outro lado, detrás de um daqueles vidros altos do edifício a observar a situação e o que não me passaria pela cabeça a ver tudo aquilo… “Coitado do rapaz… O que era e o que é…”. Caminhando lentamente, sem equilíbrio, receando falhar ou dar passos em falso… lá fui avançando, a pouco e pouco. A dado momento, numa das muitas manobras, vislumbrei a minha silhueta no vidro de um dos carros que por ali estava estacionado e pude mesmo constatar o meu aspecto. Apesar de me aprimorar bastante e sinceramente, me arranjar sempre muito bem tendo em atenção as vestimentas e os pormenores, pareci-me mais velho, muito parado, pareci-me algo abatido até. Foi um choque até para mim ter oportunidade de me poder ver, poder ter um soslaio da aparência. Foi importante porque eu ali não tinha um espelho, uma vista narcisista só para mim. Tive uma visão do Pedro “de fora”, de como é que alguém de fora me pode ver, se é que me consigo explicar. É estranho mas ali no reflexo, na rua, no meio de tudo e de nada, eu consegui-me colocar “no exterior de mim” e ver-me como se fosse apenas mais um. Pareci-me uma versão limitada de mim, redutora, uma visão aproximada daquilo que eu sou efectivamente hoje, em recuperação, como eu gosto de me ver, como alguém que luta e caminha para o seu regresso em força.


Na entrada principal do hospital, um segurança do meu tempo, brincou comigo e perguntou-me quando é que “jogamos à bola outra vez?”.


“Bola? Pedro", perguntou-me a fisioterapeuta. “Mas também jogava à bola?”.


Eu respondi que sim, que tudo o que fosse desporto, eu estava lá! Para além de ser muito bom fisicamente, era também mentalmente estimulante e sendo assim, não perdia uma! O que é que eu fazia? Tudo! Fazia muito atletismo (incluindo meias maratonas), muita natação, muito ciclismo (em btt), tudo!, de forma a ocupar sempre os dias e ter uma actividade física constante e exigente comigo mesmo que eu não dava descanso!


É claro que esse meu tipo de postura foi fundamental até nestes dias tão difíceis, quando estava muito longe de pensar “cobrar” ao corpo aquilo que apostava nele. Não tivesse sido toda essa mais-valia, todo esse investimento… teria sido muito mais complicado e as consequências do acidente poderiam ter sido muito mais gravosas, como se temeu a princípio.


“Ele?”, comentou o segurança com outros amigos que chegaram entretanto, estavam próximos e com os quais comecei então a trocar impressões. “Vocês nem imaginam como ele aqui chegou… Eu estava aqui no hospital de serviço e foi um rebuliço. Ficou toda a gente (da parte médica) aflita a pensar no que fazer e em como fazê-lo. Até no transporte para Lisboa se pensou muito bem…”.


Eu depois fui juntando esta às histórias que me tinham dado a conhecer durante os últimos tempos e percebi… a dificuldade do transporte para a capital, o receio se resistiria à pressão craniana depois do traumatismo, o medo de ser transportado em helicóptero… enfim… tudo!


Às vezes, por melhor e mais científica que seja uma explicação, é assim, nestes pequenos momentos e instantâneos que se compreende realmente a profundidade das coisas. Foi assim, neste acto inusitado e nesta conversa inesperada e breve que eu fiquei realmente a compreender a extensão e a densidade de tudo. Foi grave, foi mesmo muito mau e eu tenho de dar muitas graças a Deus por ter sido tudo assim e ter tido tudo um desfecho tão bom e tão favorável para mim. De que me vale a mim se a imagem que o vidro do carro me reflecte está abatida, ou envelhecida, ou chateada, vá? O que importa, o que vale realmente a pena, o que tenho mesmo de guardar e agradecer é que o gajo está cá, está vivo, está na luta e a dar cartas. O homem está a jogo e em vez de queixumes e lamentações tem é de dar mais valor e olhar muito mais para o que tem, enaltecer tudo muito bem e agradecer. Agradecer tem de ser o que o que tem de prevalecer na minha mente. Saber viver, não lamentando mas alimentando o sentimento de agradecimento. Como disse o bom do Ian Fleming na sua maior criação James Bond: “You only live twice: once when you ‘re born, and once when you look death in the face” Realmente “só se vive duas vezes: uma quando se nasce, e a outra, quando se olha a morte de frente, na cara”. Que certo estava o homem!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Por Lisboas...



Ontem foi dia de consultas em Lisboa.


Um duro dia de consultas em Lisboa. Dependendo da hora de entrada que geralmente até é bem cedo, o mais certo e o mais natural é ter que se passar por lá a noite anterior e aqui dá sempre jeito que se tenha onde pernoitar nas redondezas. É que Lisboa não é bem ali ao lado e sendo que se tem de percorrer mesmo muita distância, uma guarita ajuda sempre. As consultas em Lisboa, na capital do país, complicam-me sempre o sistema nervoso, ainda por cima quando são tantas como eram nesse dia. Logo 3! Comecei bem de manhã em São José com uma fotografia ao “corta-palha” que me fazia falta para a consulta ao maxilar. Depois de verificado por quem de direito, tive assinatura na guia de marcha e um “visto”na caderneta de formatura com marcação de dia para o regresso. Dali fiquei aviado! Avancei depois para uma consulta da médica que me analisou a “cremalheira” e se fartou de me dizer coisas que para mim são importantes e fundamentais. Nem sequer faltou um recadinho escrito com uma mensagem que eu hei-de sempre recordar e guardar: dizia que a evolução verifica-se mas é muito lenta e não há que desanimar com isso porque há-de haver um dia em que se olha para trás e se vê que tudo passou. Oxalá esse dia chegue mesmo e eu possa ver as coisas assim! Nem acredito que seja possível!


O dia não ficou completo sem uma visita ao hospital dos Lusíadas, bem próximo da catedral da Luz, para de tarde ter uma consulta em oftalmologia. Eu conheço bem o hospital onde fiz duas operações às hérnias discais que me resolveram o problema, mas desta vez, entrei a ver bem e saí “pitosga” com a dilatação que me tiveram de fazer às pupilas. Todo o caminho naquilo… Regressar de Lisboa já não é só por si fácil, agora… quando um mano se sente sem equilíbrio e ainda por cima “vesgo”, a ver os carros a passarem logo ali ao nosso lado e a vislumbrar a estrada e a paisagem como se fossem um borrão… piora! É uma jornada que é toda uma experiência à nossa integridade e resistência. Livra!


O que vale é que qualquer um dos 3 doutores me “traçaram” um quadro animador dizendo que a coisa está bem encaminhada ou a recuperar, que os retrocessos são pouco notórios mas resolúveis, enfim… disseram-me que estou bem encaminhado na minha perspectiva de regressar à minha vida que é o que eu mais quero e percebe-se!


Eu lá vim, todo contente e animado com o que ouvia, “agarrando-me” a tudo como se fossem verdade insofismáveis, tomando tudo como garantia, nem sequer questionando ou colocando em causa o que me diziam.


Eu até compreendo que a minha fisioterapeuta me tenha dito hoje de manhã que eu estava mais cabisbaixo, mais acabrunhado, sem tanta alegria. Eu compreendo mas não concordo com ela porque para mim eu estou sempre igual, bem disposto e animado com as coisas. Compreendo porque voltar a Lisboa não é fácil: regressar aos sítios onde tanto lutei com a morte, onde puxei tanto pela vida, voltar àqueles “campos de batalha” deixa-me sempre pensativo, a “olhar para dentro” e reflexivo. Veja eu os médicos que me salvaram, os outros doentes, ou até as paredes antigas daquele velho edifício centenário… fico sempre a meditar. Há coisas para mim que de agora em diante nunca mudam, ir a Lisboa… é sempre ir onde eu fui salvo. Aquela cidade que sempre teve tanta magia para mim, agora tem mais essa! E eu não esqueço!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pé ante pé



Com esta idade ando a aprender a andar. Mesmo! Não se extasiem, não gozem com o gajo, levem mesmo a coisa a sério porque é de levar. Com quase quarenta anos… não esperava por uma destas! Ainda hoje de manhã, na fisioterapia no hospital de Portalegre, ia ouvindo e aprendendo a forma correcta de colocar os pés com a minha técnica e ela chamava-me a atenção para pormenores que passam despercebidos ao mais comum dos mortais na sua caminhada mas que para mim são agora estratégicos na recolocação do equilíbrio no meu corpo. Ter o cuidado de não esticar as pernas não iludindo assim a recolocação do tronco, ter a noção da transferência do peso do calcanhar para os dedos da frente, enfim… coisas que parecem pequeninas (e inatas…) aos demais mas que para mim são fundamentais porque é com o somatório de todas elas que eu volto a ganhar a minha autonomia, a minha independência, é com todas elas que eu volto a ser eu. A falta de equilíbrio é o que mais me custa agora. Braço que não dobra? Eu quero lá saber do braço que não dobra embora seja o primeiro a reconhecer que ter um braço assim não ajuda em nada. Não ajuda a fazer a barba que geralmente era cortada com esta mão; não ajuda nas refeições por causa de segurar nos talheres; não ajuda a vestir; não ajuda no banho; não ajuda sequer na posição em estar deitado para o lado… mas com ele posso eu bem! Hei-de adaptar-me ao gajo, embora a questão do equilíbrio seja a que custa mesmo mais a tragar. Como é que se volta a ganhar o equilíbrio? “Com o tempo… só deixando passar o tempo”, diz-me quem sabe. “Mas quanto tempo?”, pergunto eu. “Que posso eu fazer para que faça tudo mais rápido? Há alguma coisa?”.


Nada! Não há nada! Só gramar e deixar indo passar a coisa, o que constitui uma verdadeira guerra de nervos connosco próprios. Uma guerra invisível, mas ainda assim, uma guerra. Aparentemente quem olha para mim não consegue notar nada à vista desarmada. “Este Pedro é o Pedro de sempre!”, dirão. “Até está com óptimo aspecto” e “não faz nada pensar que esteve tanto tempo acamado, tanto tempo no hospital. Já está mais gordinho de cara e tudo”. Pois, eu compreendo e agradeço imenso que me digam tal coisa. Para mim é reconfortante mas faz com que a minha luta seja desigual. Eu explico: quando as lesões são óbvias e visíveis, ninguém se mete ao caminho porque o respeito fala mais alto. Se o gajo tem uma ferida que se vê logo à partida, se tem uma cicatriz, se o gajo tem uma fractura, se há algo que não engane o mal que ele está…. percebe-se logo. Avance-se! Agora… no meu caso que fisicamente passo despercebido, que tive um gravíssimo caso interno, que me falta o equilíbrio que tinha… é mais complicado! O mal está cá e nós sentimo-lo (e de que maneira!) mas é muito difícil de passar para os outros. Têm que fazer um grande esforço para se meter no nosso papel, para tentar compreender o que estamos a sentir. Por vezes é muito difícil conseguir explicar isto mas eu sinto que sou uma casa que foi toda desmantelada e reconstruída de novo. As peças estão cá mas nem eu as reconheço enquanto tal. Deixaram o sótão mas tudo o resto foi remodelado, mudado de sítio e eu agora estou a voltar a meter tudo no lugar. Fizeram-me um “reset” e a mim agora cabe-me o papel de voltar a meter tudo no sítio.


Imaginemos que, como sucedeu ontem, eu reencontro um indivíduo amigo de fora mais velho que não estava há muito tempo comigo e me perguntou, levado pelas conversas que eu ia mantendo, “que me tinha sucedido?”. Eu lá lhe respondi que tinha tido um acidente muito grave de vespa que me deixou em coma, e ele, olhando para mim, há-de com certeza ter pensado que “a coisa há-de recompor-se e voltar a ir ao lugar!”. Dito assim eu compreendo e até parece que foi… (não digo fácil porque parece mal) simples. Mas não foi nada. Fisicamente estive muito mal, estive mesmo do lado de lá (embora de nada me recorde). Os internamentos foram mais que muitos e todos eles pesados porque eu não acredito que haja quem goste de estar numa cama dum hospital onde o tempo custa mesmo muito a passar. Mas isso são histórias que eu guardo só para mim… Agora o que interessa é que eu estou na luta, estou de regresso, tudo faço para recuperar mas isso não depende só do quanto eu queira e do quanto faça força para ser. Depende de muito mais... Depende de muito mais porque é uma questão neurológica e por vezes, a força e o quanto se quer não é tudo…


Hoje na fisioterapia estava um cachopinho que era muito pequenino e estava a aprender a andar. Estava encantado comigo. Um homem tão grande a fazer exercícios tão simples como subir para uma lista telefónica e andar num só pé. Estava admirado. Eu compreendo-o. Na boca das crianças e no espanto deles está a verdade… “Mas que raio fará um homem a fazer isto?”. Não percebeu… E eu comentei com quem de direito: “Está assim e percebe-se… Eu sou muito maior mas a andar levo-lhe muito pouco e estando eu num estádio tão pouco à frente… tenho de aceitar, ser humilde, trabalhar e aguardar. Pode ser que um dia possamos dar uma caminhada os dois”.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Always look on the bright side of life




Feliz ano novo para todos! Mesmo!



Eu passei para este ano… a dormir! C-a-r-e-t-a! Dirão todos vocês em coro e eu compreendo. Eu também o faria! Não posso por isso recriminar. Se me tivessem dito há um ano atrás que eu passaria este a dormir, eu nem me acreditava, mas é assim e é verdade! Eu e a patroa deitadinhos no quarto com a mais pequena, que a mais velha queria era discoteca e os avós levaram-na. As voltas que a vida dá, meus bons amigos… O que parece ser verdade hoje e é-nos intocável, muda num instante, rápido! Eu passei o ano como nunca pensei que o passaria! Se me tivessem dito, eu não acreditava mas estava-se lá mesmo bem. Tãããão bem, no quentinho. Nem champanhe, nem gritos e urros, nem festas, nem cumprimentos, apenas passou. Também é verdade que nós tínhamos a pequenita para olhar, é verdade que a minha patroa não é dada assim muito a ajuntamentos e a festas, mas também é verdade que sendo eu um folião, nada fazia prever que tal pudesse acontecer. Mas aconteceu e eu não me arrependo nada de ter sido assim. Quanto ao ano que passou… eu não tenho nada contra, por incrível que isso possa parecer. Foi um ano duro sim, difícil, o mais terrível para mim e para a minha saúde, mas foi um ano que, ainda assim, me deixou cá, com vida, capaz de espernear e dizer das minhas. Apesar do azar todo, apesar do terrível acidente que me poderia ter levado… não me levou e eu tenho de dar graças a Deus por isso. Podia ter sido fatal, poderia ter sido de vez, poderia ter-me deixado a falar sozinho, num estado sorumbático, colado a uma cama, poderia ter-me feito tanto mal (muito, todo), poderia ter dado cabo de mim de vez… mas não deu e eu tenho de dar graças por isso!


Quando os Monty Python cantaram o “Always look on the bright side of life” no fabuloso filme “Life of Bryan” sobre a vida de Cristo, fizeram muito mais que uma canção, conseguiram corporizar a forma de se ser feliz porque deram o mote para uma existência… feliz: por muito má que seja, por mal que corra a coisa, há-de haver sempre uma maneira positiva de a ver. Esse é o grande segredo da felicidade! Já que não se pode ter tudo, vamos minorar aquilo que é menos agradável e nos faz mal, vamos deitá-lo para trás das costas e dar valor aquilo que realmente merece e vale a pena. A vida é muito curta, é apenas um “abrir e fechar de olhos”, é um repente, de forma que não vale (mesmo!) a pena dar valor ao que não merece e deixar-nos embalar. E vejam bem que isto não é a minha conversa de agora de alguém que está a recuperar e passou os últimos meses no hospital! Isto é a minha conversa de sempre que agora ganhou uma força interpretativa e uma lucidez extraordinária graças aos últimos acontecimentos. Não há nada de novo aqui, apenas a confirmação e o reforço de algo que foi sempre uma convicção minha: “vê a vida do lado correcto: o lado luminoso, o lado brilhante, o lado que deve e merece ser visto porque esse é o lado certo”!


Apenas para vos dar um exemplo das coisas, para terem uma noção de como este conceito pode ser aplicado na nossa vida das momentos mais importantes aos mais simples: ainda ontem me chamaram do hospital de Portalegre para uma terapia ocupacional, o que para mim, seria suposto de pensar que era algo que não se adequava. Eu sou um homem com a vida montada. Tenho emprego, tenho ocupação. Tenho um lugar de trabalho que me custou tanto estudo e tanto esforço e tanto, mesmo tanto a conseguir, para quê a coisa agora esta da terapia vocacional? Para descobrirem que eu afinal deveria de ter seguido as pisadas de pintor que não tenho? Para perceberem que afinal posso ser um mágico de renome? Que posso tentar algo de novo? Que errei na vocação? Que deveria tentar uma diferente? Tanta pergunta, tanta questão, tanta dúvida que o mais fácil mesmo era dizer que não ia e resolvia logo assim a questão. Mas o enorme respeito que tenho pela médica e pela fisioterapeuta que são profissionais exemplares e me trataram sempre da melhor forma, não me permitiu virar as costas ao que me propunham. Assim que da forma que me marcaram e tal qual era combinado lá compareci, bem comportadinho como sempre, para o que fosse. E que sucedeu sem eu ter dito nada? Sucedeu aquilo que eu queria, naturalmente, da melhor maneira possível. A fisioterapeuta percebeu logo que aquilo não era para mim, que o tipo de actividades não eram adequadas, que ali não ia melhorar em nada a minha situação, que o melhor era dar-me “alta” daquelas actividades e deixar-me seguir o meu caminho, a minha recuperação face ao que eu era. E decidiu bem, extraordinariamente na minha forma de ver porque eu subscrevo inteiramente tudo aquilo que opinou. Novas fisioterapias se seguirão. Era tempo de deixar para trás as minhas duas companheiras de trabalho naquela hora, duas senhoras com idade para serem minhas avós que trabalhavam na sua recuperação depois de quedas ou acidentes que as limitaram. Uma até era daqui do concelho… “O senhor é o Pedro Sobreiro? Lá da finanças de Marvão? Ai o meu filho e os meus netos conhecem-no muito bem e eu também o conhecia… da última vez até me ajudou muito a fazer o meu IRS… não sabia que era você! Olha… mas diziam que tinha a boca toda partida e sem dentes mas afinal até está muito bem… tem os dentes todos metidos no lugar e está normal como estava. Olhe, prazer!”. E eu, sorrindo e rindo e dizendo a “sim” que tudo, lá fui concordando, anuindo, respondendo com a cabeça, percebendo que até ali, no sítio onde menos esperava, era reconhecido da melhor forma e pelos melhores motivos porque eu sempre achei que nestes pontos rurais, do interior, o melhor papel das finanças é “esmiuçar” os assuntos para que possam ser compreendidos por estas pessoas, é “traduzir” o que é tantas vezes difícil à primeira vista, é tornar os assuntos inteligíveis. Aproximar o fisco dos contribuintes cumpridores e bem intencionados era uma das missões que me impunha moralmente que corria em paralelo com ser acutilante com os prevaricadores porque assim tinha de ser. Longe estava eu de ser reconhecido ali, desta forma. Afinal, fiz mesmo bem em ter ido porque tudo correu como eu queria com este bónus de extra. E que bónus!