quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Out of Time




O último post levou-me a uma viagem maior, a mergulhar nos álbums de fotografias e a rever tudo o que ficou para trás.

Para último tema, lembrei-me do belíssimo “Out of Time” do novo dos Oasis, dos quais tenho sido contemporâneo e fiel admirador. Como a música não tem vídeo e o post era sobre momentos, pensei pegar em pedaços do meu percurso e musicá-los desta forma.

Como deu tanto trabalho, como foi um processo que mexeu tanto e envolveu tanto… decidi deixá-lo respirar antes do rever.

E vale por isso, por ser uma janela aberta para o que passou… tão depressa.

domingo, 26 de outubro de 2008

My Way (musicando uma vida)

Há dias, no blogue da Marisa, soube do desafio que um amiga lhe fez para encontrar as 7 músicas da sua vida e isto não me tem saído da cabeça, como os jingles dos filmes publicitários que nos hipnotizam, se colam aos nossos ouvidos e nos perseguem de noite e dia.

Quase sem perceber, fiz o desafio como se fosse meu e tenho pensado que músicas, que bandas, que sons são esses que têm marcado a minha vida e… cheguei a um consenso interno, quase impossível de tão difícil. Há tantas músicas, tantas recordações que ficaram de lado que é quase doloroso repensar o alinhamento.

É importante clarificar o conceito e dizer que esta não é a lista das minhas bandas, canções ou vídeos favoritos. Esta é antes a lista das músicas que me remetem de imediato para um determinado momento da minha vida. São verdadeiras máquinas do tempo que aos primeiros acordes despertam automaticamente uma parte da minha memória.

Sendo 7 (e que bom que era se pudessem ser 10 ou 20 ou 30), dividi a minha própria existência nesses períodos e deles saquei a banda sonora chave.

Eu sei que isto pode não servir de nada a muita gente ou se calhar a ninguém, mas a mim deu-me um gozo do caraças. E assim sendo, cá vai:

Infância (0-10 anos)

Banda - The Beatles
Disco - Let It Be (1970)
Música – Get Back

Os meus pais tinham um Renault 5 branco com um leitor de cassetes junto do qual me habitei a ver uma caixa preta com a cara de 4 gadelhudos bem dispostos que pareciam gostar muito do que faziam. Recordo-me que ainda não andava na escola e adorava ficar ali a ouvir aquelas melodias, aquele casamento perfeito entre vozes, ritmos e guitarras. De tanto rodar, até quase à exaustão, acabei por memorizar as letras que desfiava no meu inglês macarrónico, feito só de sons que imitava. Depois deles, nada seria igual.

Os Beatles eram e são definitivamente, os maiores.

Adoro o vídeo, a ideia do concerto final no telhado da editora Apple, a pose, o look, os casacos de peles, o amplificador que não funciona, os dedos gelados do Lennon, o impermeável do Ringo Starr, o fim de tudo. Mal sabia eu que este “Get Back”, também o último tema do último disco de estúdio, haveria de ser premonitório do meu percurso… “getting back to where I once belonged”.




Ciclo (11-15 anos)

Banda - Guns’n’Roses
Disco – Appetite for Destruction (1987)
Música – Sweet Child O’ Mine


No final dos anos do ciclo, com catorzes e quinzes, a malta começou a ter pêlos na fronha, a esbajear umas cigarradas, a olhar para as miúdas com outros olhos e a curtir outro tipo de sons. Eu, o meu amigo Bananitas e o Bitche da Póvoa andávamos numa de hard rock e consumíamos muito AC/DC, muito Xutos e Pontapés (na altura do 88) e os Guns saíram-nos em cheio. Bebendo de uma linhagem dourada do rock e de nomes como Led Zeppelin ou Black Sabbath, os Guns souberam fazer a leitura dos seus tempos e abrir um capítulo à parte. O disco de estreia é todo maravilhoso e está cheio de hinos intemporais como “Welcome to the Jungle”, “It’s so Easy” (when everybody is tryin’ to please me), “Mr. Browstone”, “Paradise City” e este fabuloso “Sweet Child O’ Mine”.

Adoro o vídeo e adoro a pandilha original que nesta altura ainda estava toda reunida: o indomável Axel Rose, o virtuoso Slash, o estiloso Izzy Stradlyn, o Duff Mckagan e o Steven Adler, ainda antes de ser empurrado borda fora pelos seus consumos excessivos de tudo o que era droga. Lembro-me de ver o clip na MTV e ficar fascinado, a sonhar que podia entrar por ali adentro e ficar a curtir com eles. O máximo!




Liceu (16-18 anos)

Banda – The Smiths
Disco – The Smiths (1984)
Música – This Charming Man

O Liceu faz-me lembrar os Smiths, muito Smiths, sempre os Smiths. Poderiam ser tantos outros mas esta é definitivamente a Minha banda. Nunca a pop foi tão perfeita e genial. Nessa altura, todos os que usávamos óculos de massa e passávamos mais tempo a armar a poupa de manhã com laca do que a vestir-nos, andávamos com esta Manchester, esta Inglaterra, esta paixão no coração. A poesia sublime de Morrisey e a minha guitarra favorita de sempre, pela mão do genial Johnny Marr, embalaram os meus melhores sonhos de adolescente. Tenho todos os discos religiosamente guardados e considero-os um dos tesouros da minha vida. Sei que estarão sempre lá por mim quando eu quiser, quando eu precisar deles.

Os Smiths fazem-me lembrar o meu primo Quim, o meu grande companheiro e melhor amigo nesses anos fantásticos. Os Smiths ajudaram-me a conquistar a minha primeira namorada do Liceu e o Quim também deu a sua forcinha: esteve um dia inteiro a copiar os discos para as cassetes TDK que serviram de declaração de amor. Quando olho para os avanços tecnológicos desde então, parece que foi há séculos. Os Smiths, esses, continuam tão actuais como sempre.

Escolhi o segundo single do primeiro disco porque este dedilhar na Rickenbacker ainda hoje me maravilha e está tudo lá: a pose, a atitude, a ambiguidade das palavras, a vida transposta para uma rodela de vinil. Mágicos!




Faculdade (19-22 anos)

Banda – Suede
Disco – Suede (1993)
Música – Animal Nitrate

O “So Young” poderia ser a escolha mais poética mas esta guitarra que corta traz-me tantas recordações… Lisboa, princípios dos 90 e muita, muita solidão. Muito trabalho, muita pergunta e sobretudo mesmo muita solidão.
Comboios e autocarros.
Estradas e carris.
Milhares de quilómetros…
Longe da família, longe dos amigos, longe da terra, longe de uma cidade que nunca soube compreender, refugiei-me na música, nesta música que ainda hoje me comove.
Os Suede são pura filigrana.
A capa do disco revela-nos um beijo entre duas figuras andróginas como o próprio Brett Anderson e abre as portas para um amor incondicional desde que seja sinónimo de entrega.
É um disco genial, belíssimo e poético, com uma musicalidade que me enche as medidas. Um dos meus favoritos de sempre.

O video está aqui.


Regresso. 1ºs Empregos (23-27 anos)

Banda – The Verve
Disco – Urban Hymns (1997)
Música – Sonnet

Aos primeiros acordes desta música, fecho os olhos e estou sentado no chão da minha casa de Marvão numa sexta-feira qualquer em que estávamos os dois de folga, de janela aberta, a olhar o céu por entre os telhados e as palmeiras. Os primeiros tempos de casamento. A primeira casa a que chamámos nossa. As primeiras compras e as primeiras refeições feitas por nós, brincando às famílias. A paisagem a perder de vista. As noites na muralha. O nascer do sol na janela da cozinha. Os medos e as vitórias. As descobertas. Os empregos como professor de Inglês na GNR, no Programa Agir, na Opel, e depois nas Finanças. A chegada da Leonor e a vida que ganhou outro sentido. Para sempre.




Nisa (28-31)

Banda – The Strokes
Disco – Room on Fire (2003)
Música – Reptilia

Em Nisa tive a sorte de encontrar camaradas da minha estirpe e ainda hoje, quando recordo esses tempos, me pergunto como era possível o trabalho aparecer feito e nós passarmos os dias a rir. Cada um de nós, cada colega era uma personagem de banda desenhada. O Serviço local parecia um estúdio onde era gravada uma sitcom, com a água a fazer cascata no quadro da luz quando chovia muito e o chão armadilhado com baldes para apanhar o que o velho telhado não conseguia conter. Tive dias em que pensei que era mesmo actor numa série marada.

Ali vivi tempos de felicidade e cumplicidade. Foram anos que passaram como se fossem dias.

No final das tardes de sexta-feira, preparávamos a entrada em grande no fim-de-semana, rumando ao bar Ka-lips que o nosso velhinho Ti João Fazendas baptizou de Kaisbeques porque o inglês nunca foi o seu forte. Ali dávamos dois dedos de conversa, batíamos umas cigarradas, arrematávamos umas fresquinhas e saíamos de regresso a casa. No meu corsinha TD preto, pela estrada da Póvoa, abria os vidros e respirava o ar puro dos campos, com os Strokes a bombarem nas colunas…

“I said, please don’t slow me down, if I’m going too fast…”

O video está aqui.


Finanças de Marvão. Câmara Municipal (32-35)

Banda – Artic Monkeys
Disco – Favourite Worst Nightmare (2007)
Música – Fluorescent Adolescent

Os Artic Monkeys são para mim um mistério. Continuo a perguntar-me, de cada vez que os ouço, como é que um grupo de miúdos de um subúrbio de Sheffield, com mais acne que barba na cara, consegue fazer música assim, com esta densidade lírica e este brilhantismo instrumental. Simplesmente arrebatadores.

Os Arctic fazem-me sempre lembrar a casa com que tanto sonhámos que se fez de verdade, fazem-me lembrar a entrada para a Câmara, fazem-me lembrar a minha vida em Santo António e as muitas, mesmo tantas vezes em que corri já noite fora, com eles a fazerem-me companhia no ipod, por essas veredas e caminhos de terra batida.

Como ainda rodam com frequência, a par da nova reencarnação do génio Alex Turner nos Last Shadow Puppets, são a banda sonora destes dias.

Do brilhante “Fluorescent Adolescent”, a minha tradução não literal, que fecha da melhor maneira este post,

“O melhor que tiveste,
É apenas uma memória e esses sonhos,
Não são tão vagos quanto parecem,
Quando os sonhas outras vez.”



A caça pela nova banda favorita tem uma lista de candidatos recém-chegados que nunca mais acaba e está em constante renovação…

Não é isto da música uma cena tão mágica?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Berlim (ainda não foi desta que quebramos o enguiço!)





A função multidisparo do telemóvel funciona mesmo...
E é sempre bom ver que a vacina deu resultado. Esta já não muda!
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Hertha - 1
Benfica - 1

Com a patroa fora de casa, preparei com a pequena o cenário para mais uma grande noite europeia do nosso glorioso. Equipados a rigor, com a bandeira hasteada no 1º andar, o tridente na varanda para afugentar os lagartos e os dragões (coitaditos!) e as luzes do estádio acesas, a coisa prometia.
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"Ó pai, eu vou para a sala e fecho a porta para tu gritares à vontade, ok?".

Ainda por cima Berlim… essa enigmática cidade pela qual me apaixonei na tarde em que despertei para o cinema, voando com os anjos naqueles céus tristes e cinzentos, pelas mãos do mago Wenders.

Entrámos bem, quase marcámos, entregámos o ouro ao bandido e saímos para o intervalo a suplicar um interregno ao sufoco.

Depois Suazo trouxe outra garra, o argentino trapalhão marcou, não interessa como, mas marcou e após, recuámos demais. Sofremos a bom sofrer naquela perspectiva actual de que Benfiquismo rima sempre com dor. O óbvio golo alemão aconteceu e mais não se seguiram por milagre. Katsouranis enganou-se e quando saiu levou a chave do galinheiro.

Dei por mim, a dada altura, a pensar que o Bynia é futebolista mas podia ter outra profissão qualquer.

Martins entrou mal, Urreta ainda pior.

Lá nos fomos arrastando até depois do 90 e pena que não soubéssemos aproveitar uma ou outra oportunidade menos flagrante.

No final, eu e muitos outros benfiquistas suspirámos certamente: “do mal o menos!”.

Estava então capaz de me deitar com este pequeno reconforto dentro de mim quando vejo o que resta do segunda parte do Braga, que imponente, espetou 3 secas nos ingleses arrogantes do Portsmouth. Bela lição, sim senhor, e sem espinhas!

Muito e bom futebol de belíssima qualidade com o nosso Cruyff da Reboleira, o inimitável Jorge Jesus, a provar porque é indiscutivelmente um dos grandes treinadores portugueses. Gostei de o ouvir na “flash interview”, quando respondeu à fanfarronice do treinador Redknapp que alegou que não conhecia o Braga, dizendo que “ele, como todos os treinadores ingleses, não conhecem as outras equipas porque não conhecem o futebol moderno. È por isso que a ilha está cheia de técnicos estrangeiros”. Lindo! Ao seu melhor nível! Ainda por cima, andou enrolado com os suplentes do time inglês no túnel de acesso ao balneário. Jorge, sabes o que te digo? És grande, pá! Viva tu!

Quanto aos meus, recebemos agora a 6 de Novembro os turcos loucos do Galatasaray que lideram neste momento o grupo. Por falar nisso… para os meus companheiros de luta nestas viagens de devoção: não será uma bela oportunidade para mais uma das nossas romarias?

Eu cá ando deserto de rachar a cabeça a um bandido daqueles…

Nota do tasqueiro: e agora para finalizar, um bombomzinho… li na Visão uma reportagem sobre o nosso treinador. Meteram lá a bucha para este video e eu não resisti a dar uma vista de olhos. De facto, diz muito sobre ele e merece a atenção. Estamos servidos…


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Fazes um?

(carrega na página que fica enoooorme e dá para ler. Obrigado e vai para dentro!)


Andava eu nestas andanças sherloquianas de descoberta da Crise quando leio num insuspeito diário que um filho do nosso Durão Barroso foi caçado pela PSP a fazer um “cacete bravo” na zona das docas, no final de uma destas tardes.

O jovem Guilherme, de 22 anos, não fez a coisa por menos e para além do canhão que estava a enrolar, ainda tinha pedra para mais 10 doses o que significa que o rapaz sabia bem ao que ia e que herdou a fama de garganeiro do papá.

Ora sabendo nós do valor da nossa justiça e de um acórdão do Supremo que diz taxativamente que quem anda com estas quantidades na algibeira se arrisca a um ano de prisão, o mais certo é que o nosso ilustre Presidente da Comissão Europeia tenha, nos próximos meses, que ir matar saudades do catraio aos condomínios fechados do Linhó, Alcoentre ou Caxias.

Quando convidado pelos jornalistas, o nosso “cherne” favorito alegou que tinha mais que fazer, sobretudo agora que anda entretido a brincar aos presidentes e às crises com o franciú marido da rocker e o americano Bush.
Anda um gajo nas filas das matrículas no Colégio Alemão para isto...

Depois da barrela a que foi sujeito o filho da Leonor Beleza, o percursor desta rebelde geração de descendentes laranjas, arrisco-me a dizer que se Sócrates tivesse humoristas à altura nas fileiras do partido, haveria aqui matéria-prima para algumas boas granadas de humor socialista até porque o mais certo a partir de agora, é alterarem a filiação piscatória do nosso mais nobre representante em Bruxelas para “salmão fumado”…

Eles lembram-se de cada uma…

Banca rota

Eina meu, o Moreira defendeu...
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Eu ando há semanas a tentar perceber esta suposta “crise”. Por mais que leia, por mais programas a que assista, por mais reportagens… não há volta a dar… só me apetece gritar, “não há quem perceba esta cena!”. Vai na volta e estive para escrever sobre isto, qualquer coisa como esta… a dizer que prontos, não atinjo, não chego lá.

Eis que senão quando, barbeando as páginas da minha primeira grande alegria de fim-de-semana, o Público de sexta-feira com os suplementos “Inimigo Público” e o “Y”, encontro uma crónica do genial Pulido Valente, dizendo precisamente aquilo que eu tinha vergonha de admitir.

Ora se um indivíduo que considero um verdadeiro intelectual, um gajo de nível que passa as tardes na varanda de um apartamento de Benfica a beber uísquies de roupão e a ver os carros na segunda circular, pode dizer isto da crise, eu também posso.

Escusando-me a mais citações, remeto então para o documento aqui transposto na íntegra que me parece, de resto, bastante explícito e elucidativo.


(Se carregares, isto cresce...)

Na versão do Tio Sabi, esta é de facto uma crise cujas causas ninguém consegue muito bem especificar mas cujas consequências irão deixar quase tudo diferente, mais instável, mais frágil e inseguro.

Escusado será dizer que não lamento nada o emagrecimento para metade das fortunas milionárias, até porque o mais certo é ainda receberem uma indemnização sabe-se lá de onde, mas que sinto imensa pena de todos aqueles que arrastados pela corrente, vêem os seus sonhos de prosperidade esmagarem-se contra o areal.

Eu concordo com o Vasco.

PS: Agradeço a elucidativa explicação e a paciência, Bonito, mas eu ouvi ou li em qualquer lado que dos homens da alta finança, de agora em diante, não podemos confiar nem na família… Grande abraço!

Barbie de Cera

Manter longe do fogo. Material inflamável...


Quem, como eu, teve o azar de ter dado um salto ao noticiário da noite da TVI na sexta-feira passada, só por sorte não morreu de susto. Há muito que eu não via um show de freaks em directo e não fosse o videogravador estar engasgado, tinha ali documento sério para memória futura: de um lado, o Professor Medina Carreira, zarolho e com o seu habitual mau feitio, na qualidade de especialista de coisa qualquer; do outro, a senhora anteriormente conhecida como Manuela Moura Guedes, como suposta entrevistadora. Mas será que lá para os lados de Queluz não há espelhos?!?!?

É que aquilo é um desfile, no mínimo degradante. Bem sei que a moral e os bons costumes nos mandam não criticar o aspecto dos outros mas a rapariga e quem ali a sentou, não devem de estar a bater bem. “Aquilo” é um manual ambulante do que as más plásticas podem fazer, digno de ser colocado num museu de cera ao lado do próprio Michael Jackson. Ali, só o cabelo e os olhos são naturais porque tudo o resto… maçãs do rosto atrofiadas de botox, lábios de sapo sobre-injectados e pálpebras de boneca de porcelana, são requintados desastres modernos.

E isto para já não falar no ar aparvalhado, na falta de ritmo de entrevista, na absoluta ausência de preparação e na ignorância dos timings actuais. Um desastre que só se pode explicar por ser a esposa do Sr. Moniz porque de resto…

Até eu, que não tenho nada a ver com aquilo, fiquei envergonhado.

Ó Manelita, filha, tu não vês que já foste “chão que deu uvas” e que é tão bonito saber envelhecer? Olha-me para um Ruy de Carvalho, uma Eunice Muñoz, um Raul Solnado… não é uma classe quando a idade passa bem por nós?

Deixa-te de invenções e de andares armada em clone do Castelo Branco porque assim, ainda te convidam para apresentar mas é a Arca de Noé…

Foram cardos, foram rosas…

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Skyrider - a jaleca de sonho!

Fiquei bem, não fiquei? Asi me gusta!


Tenho de confessar que sou um gajo um bocadinho materialista.

Não sou propriamente um metrossexual mas prontos, gosto de ter as minhas coisinhas: umas roupinhas boas, bom sapato, gosto muito de relógios, uns perfumes, tudo o que seja últimos gadgets tecnológicos da moda (pcs / áudio e video) e que nunca nos falte a trilogia sagrada livros / cds / dvds, mesmo que sejam do cigano.

É! Nem só de pão vive o homem até porque agora geralmente as carcaças só duram dois dias e depois nem para fazer umas sopinhas de tomate prestam.

Maneiras que prontos. Não sou assim louco por carros, não sonho com um Mercedes ou um BMW, mas já curtia bem ter um motão ou uma vespa antiga ou um dois cavalos. Não peço muito, mas era bem capaz de aceitar um iphone dos novinhos, sobretudo agora que o meu irmão e o meu amigo Joaquim do design não param de me meter ferro com as potencialidades da coisa. Aquilo faz quase tudo menos torradas e bicos. Mas enfim…

Nos tempos da faculdade, quando me orientaram o guito para comprar o traje académico que vesti apenas duas vezes, o meu pai aconselhou-me a derreter mas é o dinheiro num blusão de cabedal. Bem dito, bem feito. Ainda hoje o tenho e uso. Uma classe. Mas há mais…

Compro sempre o Correio da Manhã de sexta-feira porque traz o melhor suplemento da programação televisiva que existe no mercado editorial. Não falha nada. E sempre aproveito para ver quantos morreram por esse país fora vítimas de crimes passionais, passo os olhos pela página dos que deixaram de fumar e ainda vejo os anúncios eróticos que é onde se vai lendo algum bom português: Gatinha gostosa pronta para horas de delírio. 24 sobre 24. Vale tudo. Descrição e sobriedade. Faço domicílios. Vem perder a cabeça comigo!

Por falar no dito suplemento, quando menos esperava, cai-me um folheto no colo e eu, que tenho a mania de ler tudo o que me aparece à frente, de rótulos de lixívia a normas de utilização do papel higiénico comecei a desfiar aquilo.

Dizia: “o lendário casaco dos pilotos da marinha norte-americana”.

E eu disse: “F***-**! Eu amo esta cena!”. E vai daí, começo a ir por ali fora, sempre de olhos postos na nota a cores no cantinho que dizia “Pela primeira vez em Portugal!”. Lindo! O facto de ter o selo da Art Gallery também ajuda.

Costumo dizer que às vezes sou assim meio ingénuo, até a atirar para o pacóvio e tendo a acreditar em quase tudo. A saber, só descobri que os Village People eram uma banda gay quando fiz 18 anos. Antes, pensava que era só uma rapaziada amiga que gostava de brincar ao Carnaval. Eu com uma fezada destas e eles, o índio, o polícia e o marinheiro, a fazerem altos comboios pela noite dentro. Ai eu!

A brochura, com uma qualidade editorial ao nível das revistas dos Jeovás, prendeu-me desde o primeiro momento.



Atentem na qualidade do texto e da imagem. Como é que eu não hei-de estar com ar satisfeito? Casaco lendário? Materiais de primeira qualidade? Todinho em pele de cabra de qualidade superior (quase ao nível do cabrão)? Mantém-se impecável de ano para ano? Cor cada vez mais bonita? Usado pelo Presidente Kennedy, pelo Bruce Willis, Sean Penn ou Will Smith? Faz-nos sentir um herói do ar? Com um estampado com a oração dos pilotos americanos no interior? Dassssssss! Até dá vontade de o vestir ao contrário!



Particular atenção na qualidade dos detalhes: As costuras debaixo das mangas, o remate cannelé, os punhos que não deixam passar o frio, o bolso em colchete que tanto dá para guardar a carteira como um maço de Marlboro bem americano ou uma caixa de camisas de Vénus, o fecho de cremalheira e o remate com gola de lã que dá para subir nos dias em que não se pode andar com ele de fora. MEUS AMIGOS: ISTO É SIMPLESMENTE PERFEITO! A minha alma está parva!


Nesta outra imagem, voltam à carga com as referências históricas e fica difícil resistir: falam no Top Gun e no Pearl Harbour, que aguenta até 51 graus negativos e outros pormenores de um produto destinado ao homem que vive intensamente cada minuto da sua vida e esse sou eu. Ainda bem que a Art Gallery quer tornar este sonho realidade!



Aqui levo a estocada final, com a notícia de que se correr já para o telefone, ainda posso ganhar um relógio Cruz do Sul, indicado para embelezar e até dá horas. Já repararam que o bom do casaco até com gravata fica bem? Capaz de transmitir uma imagem jovem, aventureira e cheia de vitalidade. Estás certo!



700 euros?!?!?!? Ainda pensei que o avião a jacto da capa estivesse incluído mas a senhora do telefone disse-me que não. E eu a dizer que sim e ela a retorquir que não. Foge! Era chata a velha! E ainda me encheu de maluco! Bem, vai na volta e não é caro. Não sei.

Ainda me lembrei de fazer um peditório a todos os leitores do blogue. Como eu nunca pedi nada a ninguém e isto não tem bilheteira… um euro daqui, sessenta cêntimos dali e às tantas a festa compunha-se, mas não…

De verdade, se eu tivesse assim os 700 euros para esturrar, antes alinhava num lcd de 107 centímetros já com o sistema HD Ready que havia de ficar tão bem na minha sala para eu poder desfrutar do cinema em casa e dos grandes jogos do glorioso.

Ou comprava uma gargantilha em ouro e um cachucho com a pedra do meu curso para usar no dedo mindinho. Depois sentava-me numa esplanada qualquer a malhar umas fresquinhas e a comer tremoço de perna trocada.

Ou então…

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Manicures VIP


Quem, como eu, gosta muito de televisão e cresceu muito com a televisão antes de se tornar neste caldo morno de mediocridade e novelas de pacotilha que é hoje, já merecia uma série assim.

A “Vip Manicure” da SIC traz-nos de volta a grande Ana Bola no seu melhor nível (como protagonista e autora) e uma Rueff desintoxicada das peneiras gay do Herman actual pela via dos contemporâneos.

Finalmente, uma produção portuguesa que dá mesmo vontade de rir com tudo o que faz falta: timings perfeitos, diálogos em cima da actualidade, bonecos de fino recorte, buchas hilariantes e um ar kitsh que a torna irresistível.

O “corner de nails” das “escultoras” Denise de Magalhães e da Maria Delfina Caroço tem tudo para fazer história na televisão em Portugal. Oxalá as audiências ajudem porque é um trabalho que de facto merece.

Já fiz marcação para a próxima segunda à noite. Mais uma descoberta que tenho de agradecer à minha Leonor. Já sou fã!

A aparição


Assisto no jornal da tarde a um directo a partir do Santuário de Fátima, por motivo da data da última aparição. Para além da repórter e do agente da autoridade que chama a atenção para os carteiristas, brilha em segundo plano o inevitável Emplastro com o seu habitual ar, misto de espanto e concentração, desta vez acompanhado por uma imagem da virgem, daquelas que brilham no escuro.

Com tanto malandro que há para aí a receber subsídios do Estado para não fazer nada… será que ainda ninguém no Governo pensou em atribuir uma renda vitalícia a este homem?!?!? Só o dinheiro que deve gastar em autocarros…

Para mim, acho que já faz parte do imaginário nacional, a par de uma Amália ou e um Eusébio.

Pelo sim pelo não, eu reservava já um espacinho no Panteão Nacional.

Celebrando a idade




Domingo na Beirã, participando na Festa do Idoso.

Agora já não se diz velhos. Diz-se que é politicamente incorrecto e eu discordo em absoluto. Para mim, a palavra velho não tem nenhum sentido pejorativo, antes pelo contrário, até pode ser dita com carinho. Derrete-me ouvir um “o meu velho…”. Mal das sociedades que chamam escurinhos aos pretos quando está à vista de toda a gente a cor que têm. Por acaso tratam-nos por clarinhos quando se referem a nós? Não percebo que se chame racismo ao óbvio, mas enfim. Eu, se fosse preto, muito provavelmente diria-o a todo o mundo e de boca cheia, como o grande James Brown: “say it loud! I’m black and I’m proud!”. Paz à sua alma. Grande maluco!

Quanto à festa do… idoso. Foi bonita. Foi digna, foi bem organizada e teve muita, muita gente. Desfrutei sobretudo de alguns sorrisos, se algumas cumplicidades, de alguns excessos nesta trégua de um dia à normalidade do dia-a-dia, de ver as pessoas felizes.

Nas sociedades primitivas, os velhos, os anciãos, eram os guardiães dos códigos, dos valores, dos saberes que regulavam os mecanismos da comunidade. Os serões à volta do fogo onde eram recordados episódios de bravura e as lendas de gerações aos mais novos, esfumaram-se em noites de céu estrelado

A escrita e as novas tecnologias mataram o velho como pilar fundamental da vida colectiva.

Hoje em dia, não produzem, só consomem.

Hoje em dia não estimulam, só complicam.

Hoje em dia não desenrascam, só estorvam e são assim empurrados para fora das vidas dos mais novos.

O que muitos se esquecem é que quem com ferros mata, com ferros morre e quem cospe na mão que lhe deu de comer e lhe apaziguou o choro de menino, para além de ingrato, não pode ser outra coisa que não estúpido e limitado.

O que eu gostava mesmo era que aqueles sorrisos lindos, de olhitos brilhantes por entre um mar de rugas esculpidas pela vida, durassem o ano inteiro.

Sendo por um dia, já é bem melhor que nada.

Parabéns a quem lhes proporcionou a jornada.

Valeu!

Páginas mágicas




Nas leituras partilhadas, iniciativa integrada na Feira do Livro de Marvão, diversos leitores do concelho e não só, são, tal como o nome indica, convidados a partilhar um texto ou um excerto de um livro com a assistência.

Embora seja na sua essência um conceito simples, resulta sempre de forma emocionante e causa em mim enorme impacto.

Agora que as tardes são menores, as noites maiores e a temperatura arrefece, é preciso algum esforço e uma certa tenacidade para fugir ao conforto do lar. Quem alinhou não se sentiu certamente defraudado.

Há em todo este processo, uma vibração, um espírito à “Clube dos Poetas Mortos” que torna tudo tão especial.

A sala estava bastante composta, o que convém e estimula, e pode assistir a de tudo um pouco: houve testemunhos corajosos, sinceros e muito dignos; homenagens sentidas a quem já partiu; textos de carácter humorístico; filosofia de ponta; pensamentos diversos e até composições e episódios da nossa terra lidos pelos próprios autores.

É claro que estando ali, qualquer um se rói por fazer uma perninha (e há tanto sempre para partilhar, de facto…) mas sendo já um participante repetente que na perspectiva de coordenador insiste sempre em sangue novo, tive de me resignar como modesto espectador. E que bom que foi só mesmo assim…

Sendo filho de leitores apologistas de uma visão romântica da literatura, já me considero mais filho do audiovisual e franco defensor das plataformas multimédia. Ainda para mais hoje em dia, com o tempo que tenho disponível, os livros são para mim um luxo que raramente se encontra acessível. Quem é que não gosta de num recanto sossegado e confortável, com algumas horas disponíveis, abrir as páginas, cheirar o papel e mergulhar de cabeça no imaginário de alguém? Na certeza de que não se pode chegar a tudo o que se quer, há que fazer opções e podendo estas não ser as melhores, serão certamente as possíveis.

A psicanalista com quem trabalhei impressionou-me ao dizer que a palavra é o que nos salva. Pela palavra libertamo-nos, quebramos barreiras, limpamos o que vai por dentro, exorcizamos e crescemos. Há palavras que apaixonam e palavras que nos emocionam.

As leituras partilhadas são feitas disso também e ao assim serem, fazem mais pelo prazer da leitura do que muita propaganda de terceira linha que anda por aí. Cara, mal concebida e inócua.

Será que da próxima vez teremos novos públicos e mais leitores?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Al Mossassa 2008 - De regresso aos tempos da fundação

A lindíssima repórter Cristina da RTP com o meu amigo Mounir, antigo defesa central da Académica nos tempos áureos da briosa, e uma das grandes contratações do festival neste ano. Ficaste cá dentro...

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Já tinha saudades…

Afinal, tirando o recado para o mister, desde 5ª feira passada que não varria a taberna como gosto de fazer.

Ah, so good to be back!

Este fim-de-semana foi de tal maneira desgastante que só hoje, passados 3 dias, me sinto a regressar à energia habitual. Dando razão à teoria da relatividade, embora sabendo que tudo passou depressa demais, parece que estes sete últimos dias tiveram a intensidade de meses.

Quis o destino que tivesse agora de enfrentar duas duras provas: o derradeiro exame para as Finanças, para a mudança de nível na categoria; e a organização do Al Mossassa. Embora me tivesse resguardado para estudar (afinal eram 12 códigos!), trabalhar nestas duas empreitadas não foi tarefa mesmo nada fácil.

As últimas semanas foram assim vividas entre diplomas tributários e a planificação deste festival islâmico, desdobrada em e-mails, telefonemas e diligências várias. Com a concentração dividida nas duas frentes, igualmente importantes, absorventes e geradoras de normal ansiedade, fui-lhe dando como podia, tentando sempre fazer o melhor que podia.

E tanta coisa aconteceu desde então…

Quinta-feira foi o dia da chegada da maior parte dos artesãos e de montagem do mercado das 3 culturas. Foi dia de azáfama e aceleramento, coroado já durante a noite com a saborosa vitória do glorioso frente a máfia napolitana, numa partida a fazer lembrar as grandes noites europeias e que nos escancarou as portas da fase de grupos. Bom auspício!

Sexta foi tempo de últimos preparativos e retoques e correu quase tudo conforme o programado: inauguração oficial, conferência e abertura do mercado acompanhada por orgãos de comunicação social e já muitos visitantes. Destaque para os directos da RTP1 para o “Portugal no Coração” que nos colocaram no ar para todo o país (Obrigado Gé, querida. Eu sei ver quem está por detrás de tudo isto…), e para o espectáculo “Demónios na escuridão”, com todos os grupos de animação a darem as mãos num performance colectiva que resultou em cheio.

Dali foi correr para descansar e às 6 da manhã a pé, caminho de Lisboa, para juntamente com centenas de colegas, tentar obter o que faltava para poder dar mais um passo em frente na carreira. Tempo também para lamentavelmente ter oportunidade de ser submetido à prova mais mal intencionada que alguma vez vi na vida. Um documento absolutamente tenebroso e digno de ser rotulado de “abaixo de cão”, minado de rasteiras e duplos significados, maleficamente concebido para induzir em erro, para complicar, para dificultar. Como se fosse possível em 2 horas e meia responder a 40 questões, muitas delas com enunciados extensos e mal redigidos, que ocupavam meia página A4. De loucos!

Tive oportunidade de comentar com os colegas que vigiavam a prova que estando liberado, posso à distância ter outro discernimento para constatar a extensão desta crueldade. Estou mais do que seguro que não há em nenhuma outra profissão de função pública em Portugal, o grau de exigência com que temos sido confrontados desde a primeira hora. Nem tribunais, nem conservatórias, nem forças de segurança, nem saúde, nem nenhuma outra tem de passar pelo verdadeiro calvário de testes que temos atravessado para poder aspirar a avançar no nosso percurso profissional. Desde 1998, já fomos submetidos a 8 provas, 8!, quando colegas que conheço e entraram para outras profissões do Estado, continuam cantando a caninha verde sem que ninguém se lhes meta ao caminho.

E se contarmos que os códigos desactualizam todos os anos pelo menos à luz do orçamento de estado e legislação diversa… tanto pior.

Desta vez os senhores esmeraram-se e decidiram não avaliar quem sabe, quem se actualiza, quem se interessa, mas antes quem gosta de charadas e palavras cruzadas. Devem ter um gosto…

De resto, para quem se interessa pela polémica, remeto para os diversos comunicados de revolta que já circulam pela net, assinados por colegas que subscrevo quase sempre na íntegra. Mas como dizem quase todos eles no final dos seus testemunhos, apesar de tudo e mais uma vez, vamos provar quem somos e o que valemos. Mai nada!

Liberto desde peso imenso, para o que desse e viesse, regressei já de alma e coração ao Al Mossassa. Tenho um enorme respeito por todos os eventos que tenho ajudado a criar e a valorizar, sempre para dignificar Marvão e as suas gentes mas tenho de confessar que esta é a menina dos meus olhos desde que lhe assisti ao parto.

Os dias da Mossassa são sempre tão felizes, com tão boa onda, cheios de tanta gente linda e amiga e com tanta coisa bonita e interessante a acontecer que acho que nem consigo descrever a minha satisfação e realização. Remeto então para as fotos que creio que espelham bem o sentimento que reinou em Marvão nestes dias.

Sendo o rosto da iniciativa, para o que der e vier, gostava publicamente de agradecer a todos os homens e mulheres que comigo sonham este projecto e o ajudam a concretizar, transformando a nossa vila (tão linda!), como se fosse por magia: a todo o pessoal da animação (Cabalburr, músicos, cómicos, bailarinas, malta das aves e serpentes, performers), aos artesãos e vendedores que chegam de vários pontos do globo (muitos deles apenas para carregar as baterias cósmicas com a força de Marvão e aqui cito directamente), à GNR e Bombeiros e Junta, aos meus meninos do design, a todos os trabalhadores da autarquia envolvidos, a todos, todos eles e sobretudo aos meus braços direitos, os colaboradores directos dos meus pelouros, sempre inexcedíveis e incansáveis, sem os quais sei que nada faria.

Agora que já avisto a meta destes 4 duros anos da minha vida, é nestes momentos que a nostalgia se vai apoderando de mim…

Bem hajam!

Aquele abraço apertado do vosso amigo.


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