sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Hala Ronaldo?

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- Aí, baixinho: o cara ganhou issu djo novo, né?

- Me cago en la leche, majo! Hoy, para olvidarlo, mi nariz se va acostar en la blanca...
Y mi Messi, nada! A por culo!

À vossa!

E dice El Pibe: Uiui... ganó Ro-na-l-duuuu
Cada hiperigação (sublinhado) leva a um caminho de conhecimento.

Toda a gente anda esfuziante com a eleição do Ronaldo, como melhor jogador do mundo de futebol pela… 5ªa vez!!!!!, igualando Lionel Messi, o argentino quase anão (para quem quer fazer vida a joga à bola), que ingressou no Barcelona por ter dado nas vistas pelo seu génio artístico, mas para ver se crescia a troco de injeções de hormonas

Percebo a alegria, a comoção, e até a felicidade exacerbada do portuga, que passa a vida assombrado por calamidades diversas, e desgraças várias, que vão de uma classe política e económica manchada por pormenores execráveis: um primeiro ministro durante 6 anos, acusado de 31 crimes e de roubar 24 milhões; um banqueiro de uma das famílias mais prestigiadasda área financeira, acusado de 21 crimes; e por aí fora, até ao mas profundo abismo; levando no rol, presidentes do maior banco público nacional, acusados de 5 crimes (aka Varucha dos robalos).




Eu percebo e acho justo mas, não só não sou fã do Ronaldo, como acho que o homem tem defeitos que lhe ofuscam a luz brilhante do seu mérito.


Analisemos pois as origens, tudo o que está para trás, para que possamos julgar bem o que temos pela frente. Um direito cívico que nos assiste, aliás, por ser ele, uma figura pública, e nós, não só não o ofendermos, como estarmos no nosso direito.



Eu adorava e gramava mesmo bués o Ronaldo do Sporting, quando apareceu, em 2003, há já 14 (!!!) anos atrás. Adorava, por exemplo, aquele que, recordando a inauguração da casadebanháxia 21, ajudou a encavar o Manchester United por 3-1, numa exibição apoteótica do puto (nasceu em 85, tem 32. Eu já tinha 12 quando ele nasceu. Eu já tinha apanhado muito gambuzino…), ao ponto de ter feito com que os red devils, tivessem implorado ao Sr. Ferguson no avião de regresso, a contratação da fera. Assim foi.
Mr. Royal Giggs, como capitão, pedinchou, e o artista lá foi.




Largou o nosso país uma pérola de talento, garra, e esforço, que a todos impressionava pela sua extraordinária capacidade de trabalho, que o levava continuara treinar na maior academia de futebol de Portugal, quando os seus colegas já dormiam/treinavam/curtiam a vida e ele… ficava a treinar livres, penálties, corridas em esforço, alongamentos, musculação. Foi o Sporting que o descobriu, que lhe deu a mão, e é natural que lá queira terminar, porque apesar dos muitos defeitos que lhe aponto, sabe agradecer e conhece quem o ajudou. Nisso aí, é humilde

O Sporting libertou-o das suas raízes pobres e infelizes, porque uma coisa levava a outra. Nascido numa família numerosa, pobre, e com o fantasma do álcool a assombrar-lhe o pai, até que o levou, o miúdo viu no futebol a sua saída. E ainda bem.


Tinhas carinha de quem gostava tanto de um tintinho, meu amor...
Não os devias poder ver cheios...

Tenho um menino da lágrima daqueles na minha sala!
E acho que no meu quarto, também.
Só que... como está quase sempre às escuras, para se dormir... Não se vê.

O rebanho todo junto. In a galaxy far, far away
Muitos milhões atrás...

- Felhe... atã nã se bebe nadae? Tu che de sede...


Em Inglaterra cresceu e impressionou. Esse Ronaldo era para mim, um mustang rebelde disposto a impressionar tudo e todos. A ele inclusive. Tanto deu nas vistas nos 6 anos que por lá esteve, que foi campeão, ganhou taças, super taças, prémios individuais, ligas dos campeões,  campeonatos mundiais de clubes, coisas diversas e afins. 



Tanto deu nas vistas que os espanhóis do Madrid disseram assim em 2009: QUERO! Toma lá 94 milhões, e viene ya, joder! 



Em Madrid tem sido… o mesmo de sempre: campeonatos, super taças, bolas de ouro, ligas dos campeões, mundial de clubes, bolas de ouro, e no ano passado, conquistou um daqueles sonhos que permaneciam distantes, ao ter conseguido sagrar-se campeão da europa por Portugal.


Na humilde opinião do vosso tio Sabi, o orgulho em, o maior ser português, não poderia ser maior. Mas… mas. O Ronaldo é para mim, e sobretudo, a prova mais que provada que com trabalho e muito querer, tudo se consegue na vida. É certo que para isto poder ter acontecido, teria obviamente de existir muito talento inato, mas este craque saltou dos Andorinhas para o centro do mundo do futebol, é um produto mais do seu trabalho, que do seu talento.


Eu, que amante do futebol me confesso, amo mais outro tipo de futebolistas. Futebolistas repentistas, geniais, outsiders, rebeldes, efervescentes. Eu vou mais pelo Cantona, pelo francês em fogo que incendiou as terras de sua majestade; ou vou pelo maior de todos de sempre, que venceu a copa do mundo de 86, roubando um golo com a mão à Inglaterra, como paga pelas Falklands. Nunca mais houve outros assim.












Esse gigante Ronaldo (1,87m), que se firma em pose de estátua todo poderosa para gritar um SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!, de cada vez que faz um golo, de braços abertos, como se não houvesse mais nenhum outro tão bom à face da terra, perde para o metro de 70 do pequenino Messi, que deslumbra por desafiar as leis da gravidade e da lógica, num metro quadrado de verde de relva onde cria maravilhas, por depois do golo, apenas levantar as mãos ao céu e agradecer, por saber que o verdadeiro artista é o que está acima dele, que tudo ordena e conduz, e não ele, que é um mero instrumento.


O Ronaldo perde porque, como homem, lhe faltam as bases que nem o seu afilhado, vestido de padrinho, Jorge Mendes, lhe podem ensinar. Por lhe terem faltado essas bases, falta-lhe tudo o resto.


EHEHEH... Este Sabi... cabrão!

- Em vez de poder criar uma fundação que possa ajudar crianças que vivam hoje, numa situação de talento oprimido pela falta de oportunidades, para uma saída sempre baseada na meritocracia; perde-se em ações de misericórdia vã, mais para satisfazerem os mais de 115 milhões de seguidores no facebook (um pouco mais que eu…), do que em mudar vidas a sério.


- Em vez de procurar ter filhos como toda a gente no mundo, encontrando uma mulher que personifique o seu ideal de companheira, com quem passar o resto da sua vida; opta por gerar crianças que apenas terão e conhecerão um pai, e nunca uma mãe. Crianças órfãs de mãe à nascença, desprovidas de um pilar fundamental na formação da sua personalidade. Ricos mas… pobres demais. Os filhos são para ele, mais um Ferrari, um Rolex, uma mansão na Sardenha. As vidas são um objeto.




- Em vez de ter e usufruir dos óbvios e mais que merecidos luxos de vida de quem pode, cria uma personagem quase de banda desenhada, à qual não só não falta nada, como se recria a esbanjar de uma forma quase obscena nos dias que correm, onde há tanta miséria e gente a viver num limiar infra-humano.








Tu és só um jogador de futebol, rapaz. Apenas dás chutos numa bola. E esta tua forma de estar, faz com que despertes, mesmo em quem não o quer, uma certa distância. Afastamento esse que, em última instância, leva inclusive, a querer que chegue esse dia em que não vais conseguir ganhar mais, em percebas que apesar de toda essa opulência, também vais cair, envelhecer, acabar, morrer.

Tu podes ser o melhor do mundo em muita coisa, dear Ronald. Mas para mim, cá pró teu tio Sabi, falta-te muita coisa para eu, na realidade, te poder admirar.  

Fico contente por teres nacido no meu país. Mas… não mais que isso.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Celebrando o século (de Fátima)

A cara dela diz tudo...




Porque há quem pense que pensa, e por isso ousa pensar que imagina, que o mistério de Fátima, é muito maior do que o que os outros pensam que é, o dia de hoje foi vivido em plenitude, ao comemorar-se em Marvão, o encerramento do centenário das aparições. Para isso, o nosso (extraordinário) dinamizador padre Marcelino, conseguiu reunir padroeiros de 14 comunidades, do nosso concelho (Alvarrões, Barretos, Beirã, Cabeçudos, Escusa, Galegos, Marvão, Portagem, Porto da Espada, Santo António das Areias, São Salvador da Aramenha), e ainda de Castelo de Vide, Póvoa e Meadas, e São Julião; numa ambiência, verdadeiramente singular, presidida pelo Sr. Bispo da diocese, D. Antonino Dias.


Há quem pense que Fátima não foi (só, e apenas) uma invenção de Salazar, para animar o espírito dos portugueses analfabetos, subnutridos, sequiosos de algo a que se agarrar. A ideia de que a religião… é o ópio do povo, nascida de um filósofo (Karl Marx) que sempre se movimentou, numa área diametralmente oposta à do velho ditador, foi comum aos dois.


Pois eu acho que Fátima… é um mistério. Como a vida, como a religião, como a lógica de tudo isto. Tanto pode tudo ter sido inventado, como tudo pode ter sido mesmo assim. Será que Fátima teria acontecido num mundo, como o nosso de hoje em dia? Será que a virgem estaria disposta a ser sujeita, vista, revista e aumentada, ao ser captada por um dos milhares de smartphones que por lá estariam? Daria Youtube instantâneo? Publicação em quantos murais de facebook? Instagram para os mais outsiders/gráficos?


Provavelmente… todos sabem a resposta que eu imagino. Mas se calhar, até é por isso que nunca mais houve manifestações tão óbvias.


A palavra no meu vocabulário é… respeito. Silêncio, respeito, e fé. Acreditar que possível. E respeitar.


Também já eu fui até Fátima, a pé. Fui, como eu acho que essa caminhada deve ser feita: como o nascimento, como a morte… a sós. Fui cumprindo a promessa do regresso do ultramar com vida, a quem nunca me pediu para o fazer, e já cá não estava a entre nós, já nesse então, para me agradecer. Fui. Sem estar à espera de nada. Sem aparelhos tecnológicos, sem telemóveis, sem gadgets para minorarem o passar do tempo, fui sempre a pensar. Já não sei explicar o quê, mas a verdade é que nunca me senti só.

Não quero com isto tratar com desdém, a moda das peregrinações até Fátima, que se tornou tão popular entre nós, com a rapaziada toda a aderir. Nada disso! É um convívio saudável, tem a benesse da nossa estrutura clerical, e enquanto estão ali, as pessoas não andam afastadas umas das ouras, ou em más vidas. (Dizem que) Dançam, cantam, batem palmas, são felizes, e ao serem assim, louvam Cristo, nosso irmão, que espalhou a mensagem do pai.


O mistério de Fátima, para mim, é o mistério da vida. Tal e qual. Ou se pensa que somos assim, apenas porque sim, apenas porque um espermatozoide mais cabeçudo, tanta marrada deu naquele óvulo tão fofinho, que as estava mesmo a pedir, que cresceu até ser gente; ou se acredita que isto é um quadro muito mais amplo, muito maior, e nesta praia da vida, onde somos apenas um grão de areia; há muitas variáveis que nós não vemos/dominamos.


Mas há duas Fátimas, que são dissociáveis, A interior, de que falo aqui, a que é a minha, também; e a outra, que é a que se afasta da essência da fé, e por conseguinte, de mim. Essa Fátima onde se queimam velas e dinheiro, onde as pessoas se sacrificam e sofrem, autoinfligindo-se penas duras, de joelhos; a fim de terem aquilo que não pode ser obtido assim, por troca direta; afasta-me.


Essa fé, a que é levada ao osso, a que fica em carne viva, é a que me faz pensar no mandamento  “Não farás para ti Ídolo de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”. Porque não vale a pena. Não é por aí.


Ter fé não é fácil. Tem que se ser inteligente. Precisamente o inverso daquilo que pensam, os que pensam que são inteligentes. Há que haver observação, constatação, recolhimento, muito pensar, humildade, boa fé, comunhão. Nunca mais se está só. Deixa de se dançar sem rede no circo da vida. Passa-se a compreender e sobretudo, aceitar.



Cheios de fé estiveram os que hoje encheram o largo do Terreiro de Marvão, com todas as imagens, engalanadas por populares devotos, para brilharem neste efeito; e depois a romaria em procissão, até à igreja mãe, de Nossa Senhora da Estrela.


A fotogenia da minha mais pequena assombra-me. Vira a carinha de propósito.
Olha o Tiago... tão bom! ;)





Ali, numa cerimónia plena de simbolismo e ilusão, as crianças da catequese do concelho, enviaram para os céus, terços de balões, com cruzes onde escreveram os seus desejos para o mundo.


Bonito!

Atenção Alice que: "peÇo", não se escreve "pesso"

-TÁ BEM! Pai, eu sei!

Vai no volta, escreveu TOLDOS, em vez de Todos.

Já deve de estar a pensar na praia.

Será que Deus não descobre que estar artista era a filha do catequista?




- É para chegar a Deus, Alice… Estas cruzes têm inscritos os vossos desejos para chegarem aos céus…

- Aonde?!?!?

- A Deus…”

-(Fazendo uma grande careta) –XXXXXXXXXXXxxxxxxiiiiiii… é tão longe…



  
Hoje, quando se lançaram os balões e ficaram presos, nos fios frente à Santa Casa, disse-me: “Eu não te disse que não chegavam lá?!?!?”



Enfim, foram...


Seguiu-se a celebração eucarística ministrada pelo senhor bispo e… que homem. Que calma, que clareza, que clarividência, que simplicidade e que riqueza. Como explicou os evangelhos, como traduziu e tornou tão inteligível, aqueles textos ancestrais.



Foi mágico.


Para terminar, com a melhor chave de ouro, um concerto com o grupo Vox Angelis, alusivo a este mesmo assunto, dos avistamentos perto de Ourém, há 100 anos atrás. Pedro Miguel Nunes, o barítono diretor do coletivo Vox Angelis (2 vozes, 2 violinos, uma guitarra clássica e um violoncelo) apresentou um reportório riquíssimo, que se estendeu por cerca de hora e meia; onde interpretou excertos de obras clássicas, e diversos cânticos sacros.





Em silêncio, por vezes,  de olhos fechados, interiorizei, senti, e… envergonhei-me com o enorme ruído das conversas que ecoavam na nave central.  A coisa chegou ao ponte de, o próprio artista, ter pedido silêncio aos presentes, o que é absolutamente inenarrável.
COMÉQUÉIMPOSSÍVEL?!?!?!? Perguntava-me eu.

É que para além de brutos(as) e estúpidos(as), os(as) fazedores de barulho, foram completamente insensíveis. Por acaso não perceberam que ali estava a ocorrer uma manifestação de arte?!?!? Aquilo, para além de ter custado dinheiro (fosse a quem fosse), exigia esforço, concentração, dedicação, entrega, por parte dos artistas.

Sinceramente…

Certamente, nenhum dos prevaricadores será meu leitor, mas se for, tem o  correio institucional na barra de lado, para poder teclar-me, e dizer de sua justiça. Mas, se me permite, creio que não a tem.


Uma frase não parava de me martelar a cabeça: isto é pérolas a porcos. Salvo seja.



  
Ah! E outra nota: não fui criado em meios eruditos. Os meus pais sempre pertenceram à classe média… média. Nunca fui um cliente habitual da ópera com eles a levarem-me pela mão, mas já aprendi, na vida; que nestas manifestações culturais de nível mais erudito, não se bate palmas no final de cada trecho. Aquilo não é um baile pimba!
Bate-se no final, de tudo… tudo, ou… quando eles se meterem a jeito. A gente vê logo.


De resto, em jeito de balanço, foi uma tarde/princípio de noite muito bem passado. Adorei tudo e muito obrigado à Filipa Bicho, mãe do meu catequizando Tiago, que foi tomando conta dele, e da indomável fera Alice , enquanto eu fui ajudar no andor.


Se tudo correr como espero (e se assim não for, garanto-vos que estarei certamente contrariado), daqui a 100 anos cá estaremos, outra vez, para a comemoração dos 200 anos de Fátima!

Até lá!