quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O meu amigo Tó Gordo, o crooner da Beirã

Definição de crooner (nome) – Um cantor, normalmente masculino, que canta numa voz doce, suave e baixa.


O Serviço estava cheio de contribuintes, habituados a subir a Marvão e verem ali esclarecidas todas as suas dúvidas, fossem elas relacionadas com rendimento, património, justiça tributária ou qualquer outra cobrança. Ali têm pela frente dois homens que têm de ser médicos de clínica geral, que têm de saber um pouco de todos os impostos e ali, de imediato, ao balcão, terem de ter uma resposta cabal, capaz de os satisfazer.

Só estou na casa há 16 anos, mas ainda me lembro bem do tempo em que em Marvão, éramos bem mais de 6 para conseguir chegar a todos os que se nos visitavam, mas agora os computadores… bem, mas isso é uma velha, profunda e longa questão que não a que me trouxe aqui hoje.

Dizia eu que a sala estava cheia de gente para atender, cobrar e o telefone não se calava. Até que numa dessas muitas chamadas, o meu chefe se virou para mim e disse: “Pedro, é para ti. É o Tó” (que já é por ele conhecido, por ser um cá dos meus).

“Vou já!, disse baixinho e algo aborrecido porque já lhe tinha explicado que ali era o meu lugar de trabalho e…”.

Depois de atender quem estava em mãos, aproximei-me já com a estratégia montada na cabeça que passaria por lhe explicar isso, que temos muito serviço, que somos poucos, mas antes que tivesse tempo para fosse o que fosse, do outro lado ouvi um…

- MAAAAAAAAAAANNNNNNNNNNNNNNNN! Estás fixe ? Ouve, tenho uma cena para te contar. Estou muuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiittttttaaaaaa bem. A vida corre-me 5 estrelas! O meu pai e a minha mãe estão a recuperar bem. (Ele de um AVC e ela de um problema qualquer também grande de saúde). Ele já vai a Santo António a conduzir, a comprar ao Rui Boto, o jornal desportivo para ler as notícias do Sporting e têm ido à fisioterapia. Estão aqui na Anta a receber apoio. Eu também como de lá. Sou muita bem servido e estou muita bem. Só como dieta.
(…)
- Caminho Muito. Todos os dias vou aos Barretos a beber café (1,5 km para cada lado).
(…)
- Não me falta tabaco. Tenho muito tabaco. O meu o pai compra-me uns pacotes no Rui Boto e tenho sempre que fumar.
(Tudo isto de uma assentada só, sem eu conseguir dizer fosse o que fosse e já mostrando algum comprometimento por não poder dar mais atenção às pessoas. 3 ou 4 minutos que pareciam horas.)
 - Ouve man, crooner, sabes porque é que te estou a ligar? Peciso que me arranjes uns cds. Não tenho música nova. E tu, de certeza que tens muita música.

- Ó Tó… essa cena dos cds já foi chão que deu uvas. Agora a malta não compra fisicamente os cds e ouve-os em aplicações da net ou em podcast. Eu tenho umas largas centenas de cds que comprei ao longo dos anos, mas estão no sótão, arquivados/encaixotados…

 - ERA ESSES! PARA EU OUVIR QUANDO ESTOU A ESTUDAR CIÊNCIA MODERNA!

- Ciência moderna?!?!?

- Ouve man! Tenho que te introduzir à ciência moderna. A ciência moderna tem um pouco de tudo: filosofia, psicologia, epistesmologia, estudo da razão pura.

- Mas…

- Eu sei que tu nunca tens tempo de ler. Nem para os filmes que tanto adoras tens tempo. É só família, as tuas cenas da internet, mas tens de ler isto! Ouve-me bem, estou nas 7 quintas. Acordo bem cedo, começo a estudar, vou andar aos Barretos e beber café e… vou lendo, tirano apontamentos e… só me falta a música! Quando é que me arranjas? Preciso mesmo!

- Eh Tó… eu levei os cds que colecionava todos para o sótão e tenho lá do rock ao clássico, coletâneas que fiz com o meu irmão, blues, pop, jazz, muito indie…

- Mas quando é que me trazes?!?!?!?

- Ó companheiro… assim que tiver tempo de lá ir procurar… Eu prometo. Vá Tó, fica bem e aquele abraço. (Senão nunca mais me desmarcava e não saia mais dali)

Pois tive mesmo de arranjar tempo e consegui selecionar 30, 40? cds que meti num saco de plástico forte e na bagageira do meu Kaguincha Twingo, para lhe ir levar á Beirã, assim que possível.

Ele bem perguntava quando seria, mas essa voragem dos tempos de que costumo falar, fez com que a semana ou os 15 dias que eu tinha imaginado, se tivesse prolongado por tempo a mais, mas nunca mais do dobro.
Eu gasto o tempo todo a viver. Sei que não o aplico mal, mas gasto-o. Família, Trabalho, Família, os meus hobbies (blogue, facebook, comunidade virtual), Família, sem cinema e pouco ou nenhum som.

E numa manhã destas, há duas semanas, maios ou menos, ia eu para cima, eram 8.35h/8.40h e depois da curva do infantário, sai-me uma aventesma muita grande, de barba, calções e t-shirt, a pedir boleia de braços abertos. Mandava parar todo e qualquer carro, mas… todos se desviavam.

“Cruzes! É o Tó!”, pensei.
Encostei de imediato e abri o vidro: -“foi o senhor que pediu uma limusine para Marvão?”

- PEDRO!!!! Meu grande amigo! Calha mesmo bem, man! Deixa aí entrar.

- Deixa-me adivinhar: tu pediste os discos na semana passada, eu disse que ia lá nesta semana. Sabia que não podia ir lá nesta quinta porque o enfermeiro ia lá dar-te a injeção para a bipolaridade, já hoje é sexta e tu pensaste: bom, passa-se a semana e aquele cabrão não me vem cá trazer o que me prometeu. Levantaste-te hoje e pensaste: vou-me a ver dele!

- Isso!

- Sou quase vidente. Se acabarem com as finanças e tiver de ir ver de vida, arranjo uma tenda dos marroquinos, vou comprar uma bola de cristal à feira da ladra, e faço-me à vida!

- “Tenho tudo orientado”, disse ele. “Quem me deu boleia até aqui a cima desde a Beirã, foi o Luís da Estrelinha (vice-presidente da câmara que nunca se livrou dessa alcunha entre as crianças que foram seus pares. Teria sido muito mais fácil para mim ter sido o filho do João Sobreiro, mas consegui sempre impor-me por mim). Como mora aqui, estou à boleia. Vou contigo para cima e calha mesmo bem. Mesmo bem. Era contigo que ia ter. Ouve, vou levar os discos…

- Epá, mas são muitos e pesados…

- Não faz mal. Não tenho presssa. Vou mesmo na minha. Se os carros pararem para me dar boleia (o que acho difícil. Muito difícil, digo eu), eu digo que não quero ir porque vou na minha. A minha mãe fez-me o almoço que trago aqui. Duas sandes impecáveis e está tudo a correr bem. Agora, se faz favor dás-me dois euros para beber café aqui e outro nos Barretos. Bom, vamos lá fazer a troca porque eu tenho aqui uns livros para te oferecer.

- Eh Tózinho, mas eu não ten…

- Lês só uma página antes de dormir. Vais ver que dormes melhor. Não é uma leitura assim séria, estudiosa, como se fosse um trabalho, como eu faço, mas é uma leitura.

Chegados ao alto, disse-lhe: “vamos lá acima ao serviço para fazermos a troca e não estarmos aqui como ciganos na rua. O meu chefe é um fixe e não há espiga.” Demoramos minutos. Assim foi.

Dei-lhe só um lamiré do som que lhe passava e ele deu-me os livros. Mas que não se pense que eram livros quaisquer. Obras recentes, de Junho de 2016, numa 1ª edição, com preço de amigo da FNAC. Juro que não sei onde é que esta alma vai buscar as referências. Mas irei certamente lê-los. Promessa a mim próprio.

“De Primatas a Astronautas”, de Leonard Mlodinow, com um chamariz de Stephen Hawking, esse mesmo, o génio encadeirado: “Mlodinow nunca falha na tarefa de tronar a ciência tão acessível quanto divertida.”
Hum… promete!



- “Cometa”, de Carl Sagan e Ann Druyan, 2ª edição de Abril de 2014.

Obras cheias de apontamentos, índices, notas e recortes. Mas onde é que este homem tem a cabeça? E onde é que a gente que pensa nele, se é que pensa, pensa que ele a tem?

Habitue-me a admirar o Tó Gordo, era assim que o conhecíamos, porque era mesmo anafado, desde que me lembro. Dono de uma inteligência rara, foi sempre idolatrado por todos os pais da pequena aldeia onde nasci, por ser um exemplo de filho.
“Mete os olhos no Tó!”, “Havias de ser assim” eram paragonas que se ouviam por toda a Beirã, um pouco por todas as casas.

Um par de anos mais velho que eu, um bom par de anos, uma década?, já ia distante quando eu comecei a ganhar consciência. Ele já fazia a barba, andava de colete e cabelo pelos ombros quando eu comecei a fazer xixi no urinol dos grandes.

Num nosso tempo onde os miúdos bons daqui, do concelho, de agora, arranjam empregos lá fora (Seguros, Miguel Miranda) e dão aulas no estrangeiro (Arquitetura, Rui Pinto), o Tó foi um dos primeiros a desbravar esse caminho para Lisboa. E logo para estudar Filosofia, creio que na Clássica.

Filho único de uma família tipo da Beirã (pai guarda-fiscal; mãe doméstica), sempre viveu num lar honrado, de pessoas muito respeitadas, honestas, trabalhadoras. Miúdo nada problemático, com uma forma de pensar muito alternativa, sempre foi muito católico e lembro-me da sua ida a Taizé. Eu também queria ter uma cruz daquelas, em forma de pomba. Eu também queria ter sido assim.

Em Lisboa, o Tó perdeu-se. Cortou-se o vínculo, sei lá como. Mas por deslumbre ou más influências, entrou na vida alternativa. O álcool e as drogas apoderaram-se dele. Deixei de ter notícias. Deixei de o ver e de saber dele.

Certo dia fui a Lisboa com os meus pais, de comboio e em Santa Apolónia encontrámo-lo. Fortuitamente. Recordo-me de ter visto a minha mãe chorar, pelo choque de o ter visto assim desarranjado. Não sei se estaria dentro de si e que discurso deu, mas estaria certamente muito longe do Tó da Beirã que todos conhecíamos.

Soube por amigos e vim a saber por ele depois também que o Tó chegou a ser uma figura do Bairro Alto, daquelas típicas, características, como a velha do “pontapé na cona!”

Só soube que estava de regresso quando me apercebi que se tinha passado completamente. Do tipo andar despido, ofender a mãe e todo nú a fugir em Portalegre, de uma vez que o levaram para o hospital.

Nesse entretanto, os anos também foram passando por mim. Casei-me, nasceu-me uma filha e comecei a ir frequentando o quarto do Tó. Sempre com um som de fundo, sempre com o seu hábito de escrita e com o seu bom trato e educação.

Li os poemas dele que adorava, e me maravilhavam pela arte da escrita por imagens, sempre com um Mário Cesarini e um Herberto Hélder como ídolos, por trás.

Noites em que ouvimos, dissecámos e escamoteámos o FMI do José Mário Branco. Quem nos haveria de dizer então que haveria de voltar…



“Vamos então beber o cafezinho?”, perguntou naquela manhã, em jeito de quem já estava a dever tempo à estrada, que havia-de caminhar a seguir.

Um café, um cigarro, dois homens a falar como rezava cada um a Deus à noite, e na importância de sabermos agradecer cada dia, como se fosse o último. Porque a vida é uma bênção e porque a sua consciência nos faz limpar de muitos artifícios nocivos que teimam em afastar-nos daquilo que é essencial e verdadeiramente importante.

Disse-me, seguro e confiante: "Estou muito mais magro. Só como dieta. Não se nota?"
- Porra Tó... Ainda bem que me dizes isso. Já temia que não estivesses bem de saúde"

Vi-o descer a calçada, com o saco com o farnel que a mamã lhe aviou e os discos que o amigo lhe emprestou. A vida é efémera. Na realidade, não valemos mais do que aquilo que somos, sentimos, respiramos, vivemos no momento.




Fui feliz naquela manhã, diferente de todas as outras.

E ele… sei que também foi. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Contrabando na(s) Periferia(s)


Era a sessão de abertura do “Periferias”, o Festival Internacional de Cinema de Marvão e, agora, o de Valência de Alcântara também (já na sua 4ª edição). Eu tinha de estar presente. Não para aparecer no Jet 7 da porcalhota, mas porque o documentário inaugural que teria a sua estreia nacional, versava uma temática muito nossa, e por isso também muito apelativa: o contrabando.


Uma vez que iria só, pensei em convidar a minha mãe, que adora estas temáticas e por certo alinharia. Rumamos assim bem cedo e logo após o jantar para evitar atrasos e constrangimentos diversos que poderiam obstar a que fosse uma noite bem passada, como por exemplo, não termos um sítio confortável para sentar, pensando sobretudo nela.


Chegámos quando faltavam 10 min para as 9 h e deu tempo para sondar o terreno, fazer os cumprimentos queridos; um ou outro circunstancial e tempo ainda para virar a cara (o que dá o tal prazer especial) a quem tudo beija, mesmo que seja num funeral, que em tempo de guerra não se limpam armas.

Antes de dar largas ao teclado e à minha verve escorreita, que louva sempre o que é bem e zurze no que é mal, tenho de começar por dar os parabéns à bela, simpatiquíssima e doce Paula Duque Giraldo porque é ela a mola que faz tudo girar em torno desta mostra cultural. Quando se está à frente seja do que for, de vez em quando as pessoas têm a sorte de sem saberem ler, nem escrever, nem nada terem feito para algo acontecer, lhe aparecerem assim estes diamantes como ela a pedirem que lhe possam dar alguma margem para que possam brilhar por nós todos.

Pelo que conheço da Paula, das poucas vezes que tivemos possibilidade de trocar algumas impressões, já me apercebi que tem um background imenso nesta área de cinema, sobretudo o tipo curtas/documentários e de cariz independente. Vai daí, com os seus conhecimentos da arte e da área, tudo tem remexido e esgravatado para levar avante esta sua ideia quase que Quixotesca de ter uma mostra deste tipo em Marvão. A ela e antes mais que a nada, nem ninguém, os meus muitos parabéns!


Notem bem que as observações que irei fazer não são para criticar objetivamente nada, nem ninguém mas são… observações. Isso mesmo. Observações. Daquelas que visam o melhoramento e não para deitar abaixo seja lá o que for.

O festival seria para começar às 9h. Nestas coisas há sempre um ou outro atraso, normal. Ora entre discursos circunstanciais e agradecimentos diversos, perdemos 1 hora. Leram bem. 59 longos e eeeeeeexxxxtttteeeeeeeeeennnnnnssssssooooooosssssss minutos, mais um. Falou o alcalde de Valência, um cachopo novo mas com óbvio treino político e pareceu-me que com menos sinceridade e veracidade do que aquela que eu gosto mesmo.
Falou também um rapaz que não me consegui aperceber muito bem quem era, mas creio que era alguém ligado ao cinema ou aos fundos que suportam a iniciativa e depois falou o presidente da câmara de Marvão que, com o seu estilo absolutamente marcante nos abrilhantou a sessão em cerca de 15/20 minutos de estilo livre, isto é, sem recurso a qualquer cábula ou guia orientadora. O que se traduziu numa brilhante viagem pela temática dos “Direitos Humanos” que é a linha que une todas as obras que serão envolvidas no festival. Ou seja, enquanto toda a gente se preocupa em devorar os filmes, este homem vai mais longe e na sua visão clarividente, mergulha no verdadeiramente fundamental, sem sequer passar cartão aos relógios que isso é coisa para os comuns mortais que se preocupam com tudo o que não interessa.

Falou a Paula, que estava visivelmente satisfeita por, tudo aquilo em que há tantos meses tem andado a trabalhar, se ter tornado finalmente realidade, e Paulo Vinhas Moreira, o jovem realizador da obra que não a deu como sendo algo que esteja fechado, confinado, concluído, mas sim como uma narrativa permanentemente em construção num país com fronteiras tão extensas, onde a interação entre estes dois povos que estão dos dois lados da fronteira está em permanente reconstrução.

A projeção aconteceu no edifício da Alfândega dos Galegos e aquele sítio é, para mim, um sítio muito especial. Carregado de memórias de tardes em que a ida a Valência com as tias e os pais, aos sábados à tarde, era uma garantia de felicidade, não foi fácil lá voltar. Dá sempre medo quando a gente regressa ao passado. Parece que aquilo tem vida própria e ganha mais, perante nós. Do contrabando, recordo sempre os ralhetes que o meu pai nos dava e os pedidos que nos fazia para não trazermos nada que não fosse permitido, tal era o medo que tinha dos seus amigos guardas (fiscais e civis, porque trabalhava com ambos os lados no seu serviço de ajudante de despachante) o apanhassem. Medo vão, digo eu agora que penso nisso, porque os espanhóis nunca revistavam nada e diziam sempre “Halá Juan! Hasta pronto!”, e os portugueses, igual.


Sobre o filme, o documentário… a recolha de imagens é belíssima, a poesia visual muito por causa da fotografia é um portento. O som… foi miserável. Execrável. Inexplicável como é que se permitiu que aquilo acontecesse. Mas será que ninguém testou os aparelhos para ver qual era a qualidade sonora? Aquilo foi ao ponto de grande parte dos 45 minutos da projeção não terem sido audíveis. O que me safou foram as legendas em inglês para ir apanhando a coisa, nunca com a graça que teria a audição do original.

Mesmo que dissessem “ai mas a sala cheia, muda muito o som e só agora se poderia testar com essas condições…”
Tudo bem. Mas é que não se percebia peva! O Ti Manel da Relva já tem uma forma de falar muito própria e antiga mas ali… zero.

Muito difícil. Aquele documentário num bom ecrã, uma boa sala escura e um bom sistema sonoro, deverá ser uma experiência bem diferente.




O destaque vai inteirinho para o Zé Manel pedreiro dos Galegos, o irmão do João pequeno, que deu um verdadeiro show de bola quando contou as histórias do seu pai, um industrial do contrabando! Tal era a dimensão e a prosápia! O som aí, creio que por indicações da Paula, melhorou bastante. Porque houve uma altura em que dialogavam, um português e um espanhol que, não se percebia um cacete.

Nas estradas onde corro... sempre a pensar nisso...

E foi este homem Zé Manuel que, para fechar o documentário, dizendo que nem sequer conseguia explicar isso, abordou, à sua maneira, o fim do contrabando e a abertura das fronteiras, como uma coisa que nem se consegue explicar…

Como o espaço Schengen e a abertura das fronteiras, acabou-se com tudo, com aqueles negóciozecos em que numa viagem os duas daquelas se conseguia tirar, o que não se conseguia tirar em todo o dia de trabalho da terra.

Viagens loucas naquele jogo do gato e do rato, tão bem contadas pelo bom do Zé Manuel, naquela altura “em que um gajo tinha de andar tanto em forma que nem sequer havia colesterol”.

Para terminar, o fim da fronteira e o fim de tudo. O fim da minha Beirã, com imagens dela a serem as últimas a serem projetadas, e o escritório do meu pai, o escritório da minha mãe, e o fim do Pedro pequenino que teve de crescer para ajudar; e eu a ver aquilo sem conseguir chorar.




Deveria aliviar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

#RUMO AO TETRA: Começar bem


Se eles podem ter um autocarro com o escrito, eu também posso abrir um capítulo no blogue. Olaré!

Bom… apesar de o telefone estar todo “esboquinado” e estar muito calor para pegar no computador, eu tinha de fazer isto.



O telefone foi vítima da minha insensatez e total displicência, que sou mesmo tropeção e mal jeitoso. Estava todo carinhoso a limpá-lo com a toalha húmida do banho e sei lá por que maldição, me escorregou das mãos, mas… não caiu no chão… não! Estiquei a gafanha (43-44) e amorteci a queda. No entanto, o que tem de acontecer tem muita força. Ainda hoje estou a tentar perceber o que se passou a seguir, que tudo terminou com o vidro a dar o peido mestre, com o meu dedorro gordo do pé direito, a asfixia-lo no chão lisinho da minha casa.

Por isso tem estado estabariado e, as publicações pela lanchonete no calcadão (leia-se facebook), que é o que mais jeito dá nesta altura do estio, têm sido poucas ou nenhumas que a porrada no vidro foi de tal ordem que ficou com mil estilhaços que ao serem tocados, baralham a máquina toda e quando penso que estou a publicar uma foto, estou é a ligar para o Carlos Ramos da Ramila que não me larga porque tem as pinhas lá à espera, com o calor que está.

Assim que montei-me na máquina de estimação, VAIO máquina!, para abrir um capítulo no meu blogue: #RUMO AO TETRA, onde irei colocando as minhas divagações/reportagens/reflexões/crónicas/devaneios ao longo desta época que agora começa, rumo ao canecão, com uma regularidade que quero que seja regular, mas que não posso por ora garantir, porque é só quando me der jeito.

Puto, não jogaste peva!

Jogo 1 – Tondela - 0 x Benfica -  2
Estádio da partida – Pequenino como o raio que o parta
Estádio privado – Pastelaria Caldeira (A nossa catedral)
Treinador – O nosso petit
Tempo – Bom. Aquilo não estava a arder.

O jogo foi mau demais para ser verdade. Muito fraquinho. Não jogámos uma beata. O melhor? Ganhámos, não por 1 mas por 2. = + 3 pontos para a saqueta.

Não houve fio de jogo, não houve um caudal ofensivo constante, não se viu futebol. Apanháremos um ou dois cagaços dos piquenos que foram desenhados à imagem do treinador, o nosso querido Petit, o Pitbull. Poucos skills mas uma entrega total.




Os velhos do Restelo e os arautos da desgraça que “puxam”, ou “deveriam puxar” pelo mesmo clube que eu, só choravam ao meu lado os passes perdidos, a falta do “Eu Shou Nico Gaitán”, do minino Renatinho e por aí fora. MAS QUE DIABO?!?!? Quem é do Benfica puxa sempre ou está lá só para criticar? Que está mal, quando está mal, todos vemos, não é preciso estarem a bater mais no ceguinho, irra!

O Shôtor Baltazar ainda ripostou mas… ver, sofrer e puxar só, é difícil.

Eu ali sinto-me não entre os meus, mas como os sofredores do concurso “1,2,3” que via na espanhola, que iriam ganhar o que ganhava quem estava a concorrer, mas sabiam qual era o teor dos prémios que eram eliminados. Só eles… BBBBRRRRR…



No meu clube, muita gente presa por pontas. O imperador César e o Luisão já vão dando sinal da idade e o resto foi uma arrastar paralelo aos minutos.

Aqui fica o vídeo do jogo e, de tudo o mais, ficam 2 lances: um com Pizzi a centrar para o oportuno Lisandro marcar e outro do menino André Horta que pode não sero “o novo” nada ou uma coisa qualquer, mas é puto do Benfica e que agora joga lá de alma e coração.



 Isso às vezes tem uma força…



O comentário mais certeiro é: “Como é que foi o jogo? Olha… ganhámos.” (E os campeões também se fazem assim.”





domingo, 7 de agosto de 2016

Ao discordar, reclamar. (no sítio certo)





Uma verdadinha verdadeira é que o desporto nacional não é o futebol, mas sim a inveja. Outra verdade, é que quase toda a gente está contra tudo e todos, mas adora fingir, dizer mal nas costas, nos cafés; em todo o lado menos onde se deve de reclamar. Eu não sou assim. Tenho provas dadas disso e muitas têm sido expressas aqui, na minha casa virtual.

A situação que se passou foi que há dias rumei com a minha mais pequena infanta, a amazona, a dos cabelos encaracolados e andámos apressados, apesar de termos acordado cedo, para passarmos uma manhã de sol e sonho na praia de Marvão (leia-se piscina do Centro de Lazer da Portagem). Acontece que chegados lá a tempo de desfrutarmos da manhã por inteiro, das 10h às 13h, batemos com o nariz na porta, porque ainda não era a hora de abertura, mas ainda por cima, tínhamos à nossa frente uma fila enorme de pessoas à espera para entrarem. Tudo bem até aqui. Tudo justo, tudo certo.

Acontece que muitas dessas pessoas que aguardavam na minha frente, tiveram de pagar bilhete, o que significa que as caixas tiveram de fazer trocos, tirarem o ticket do sistema informático (que muitas vezes não funciona, leva imenso tempo e não costuma ser sempre assim tão célere como, por exemplo, rasgar uma senha de um livrinho). Tudo isto esmiuçado e traduzido dá em 15/20 minutos de perda de água, de sol, de bom tempo, de convívio.

Sem querer passar à frente de ninguém, (a minha corrida era contra o relógio), perguntei na entrada: será que quem tem cartão de utilizador frequente pode já passar? (numa fila entre pares munidos da mesma forma de entrada, sem terem de levar com Valência de Alcântara inteira, que toma a Portagem, por estas alturas do estio?)

A resposta do funcionário que está responsável pelo espaço, que já o era no meu tempo de vereador mas nunca por ter demonstrado capacidades de liderança / espírito de trabalho / de equipa; mas sim por ter uma bula presidencial que lhe dá indulgência total, a ponto de ter folga um dia preciso do fim de semana em que todos os funcionários da área trabalham em escala menos ele, foi: “não!”

“Tudo bem”, respondi. “Eu espero. Mas depois quero o livro de reclamações, têm?” (claro que têm de ter, como serviço público que são. Senão chamava a GNR. Mas como da última reclamação que fiz para a câmara (porque as vacas e as vedações de um privado que se julga um dos novos Sinhôzinhos Malta cá do sítio, me impediram de correr num dos caminhos camarários que levam até aos Cabeçudos, pela Vedeira) nunca teve resposta… experimentei.

E a reclamação que aqui surge em .jpeg ainda me levou uns bons 10 minutos a redigir à sombra, saiu assim:

Tendo chegado a tempo de usufruir da piscina desde a hora de abertura, e estando munido do cartão de utilizador frequente do espaço, reclamo do imenso tempo perdido (10/15 minutos) na fila para entrar porque a ordem respeitada é apenas a de chegada.
Há uma confluência entre quem quer pagar bilhete (num sistema informático obsoleto, que por vezes tarda a mais) e quem tem cartão.
Não há uma placa informativa que explique a quem chega, esta dinâmica de entrada.
Reclamo/proponho também que seja colocado um relógio de parede, que possibilite ao utente saber a hora do dia; a colocação de música ambiente em som num nível baixo, numa rádio nacional, como existe em Castelo de Vide, por exemplo na Rádio Comercial, a mais ouvida; e a colocação de um livro de sugestões como existe nessa vila; para que não seja necessário utilizar este livro para tal feito.
Apesar de saber que este propósito é de difícil concretização, proponho a abertura do centro para as 9 horas.”



A resposta chegou dias depois, que eu sei que há prazos a cumprir e não falharam.

Mas foi uma respostazinha ao estilo: tááááááááaááááá bem, abelha. Do género, festinha na cabeça do cão e ele enrosca-se e deita-se.


Nos últimos dias, que as eleições estão a aproximar-se a passos largos (estão aqui, estão aí!) e como a malta do contra se anda para aí a juntar num grupo de refundidos (Marvão para Todos), a máquina no poder em Marvão, qual camorra muito bem oleada e articulada, anda já com a máquina do alcatrão a tapar os buraquinhos da estrada para facilitar a vida a quem lá passa. A gente agradece. Não diz é onde vota, que a gente é esperto. O espaço entre SAA – Ponte Velha - Portagem, parece outro. Esqueceram-se que o real problema desse troço é a dimensão da estrada; e as bermas tão mal esgalhadas (disformes, fundas, desalinhadas), onde já se ia finando este vosso escriba. E esqueceram-se também de um buraco no alcatrão no meu bairro, na curva junto à APPACDM. Não sei se foi de propósito. Ainda estou por descobrir.

A real questão que está por trás de tudo isto, é de fundo mesmo e sobre a essência de serviço público. Quem está nestes sítios a trabalhar deve sempre fazer o esforço de se meter no lugar de quem serve, para dessa forma, saber melhor se está a agir de forma correta, com a sua consciência e com quem é o seu empregador.

Eu faço sempre isso no meu serviço de finanças. Trato cada contribuinte como se fosse um cliente, a quem eu devo servir. Como se estivesse na mercearia das manas Sobreiro, onde fui criado. Sei que sou da autoridade, não da tão respeitada e temida por todos, rodoviária; mas sim da tributária. Ali, onde trabalho, em total consonância com a chefia, não há caras cerradas e palavras duras para quem está do outro lado do balcão. Há sim compreensão, esclarecimentos, ações. Boas ações. As leis e as regras têm de ser cumpridas por todos. Mas há formas e formas de explicar e fazer entender isso a uma população onde o nível etário e de escolaridade são, como em todo o interior nacional, alto (o primeiro) e baixo (o segundo).

Os funcionários que estão lá dentro do Centro de Lazer poderiam, (atenção que não é uma crítica, mas sim uma sugestão) fazer duas filas distintas, facilmente observáveis e diferenciáveis, entre quem tem de pagar e quem tem cartão. Disseram-me então que há, mas eu nunca a vi. Facilitariam muito a vida a quem se quer divertir no Centro de Lazer e não teria assim de gramar estopadas de resmas de espanhóis (que simmmm, eu sei… estamos na União Europeia e…) a “roubar-nos tempo”.

Certamente venderiam muitos mais cartões de utilizador frequente e facilitariam a vida a quem se quer divertir, apenas.

E se eu queria passar à frente não era por apanhar ou não espreguiçadeira, que nós os dois paramos pouco nelas. Eu porque nado muito e quase sempre estou na água, ela porque brinca e anda sempre dentro também.

O que eu peço, peço, não exijo, nem reclamo, na verdade; é que pensem nisto.

O excelentíssimo senhor presidente que já vice-presidenciei, deu-me a honra de me escrever, tratando-me por excelência e dizendo que ia pensar no que eu pensei. Vou emoldurar. E esperar.

A ver se me ganha o voto.