sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

As 2010 goes by...

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Este desenho foi feito ontem pela minha Leonor. A amiguinha que estava cá em casa a passar a tarde com ela, pintou uma princesa gótica, o que até é mais apropriado para a idade, diga-se de passagem. O desenho não tem muito a ver com o ano novo mas é, sem dúvida alguma, um grande começo. Se todos pensássemos assim... de certeza que 2011 seria beeeem melhor.
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Não sou daqueles gajos com uma memória prodigiosa, que se lembram de tudo e mais alguma coisa. Não sou. A minha memória é uma amálgama de sentimentos e sensações que se mesclam sem qualquer respeito cronológico. Faço o filme à minha maneira. Quando vejo os balanços do ano nos jornais ou na televisão fico sempre surpreendido. A minha memória e o calendário vivem em ritmos diferentes.

É por isso que tenho sempre alguma dificuldade em fazer balanços (sem recorrer a arquivos, porque isso é batota. É fazer um exame com cábula.) sobretudo quando abrangem períodos mais longos. Mas posso tentar…

Este foi o ano em que o meu Deus e o destino me deram a graça de ter outra filha e isso é quanto basta para ofuscar todas as outras memórias. Não há nada na vida de uma pessoa que supere isso. É o sentimento maior. A chegada da Alice (cheia de garra e genica…) foi o acontecimento de 2010.

Este foi o ano em que o Benfica foi campeão e aqui tenho outra magnífica desculpa para não me lembrar de mais nada.

Foi um ano complicado em termos de saúde. O ano abriu com a operação da minha mãe e terminou com duas minhas. Eu, que raramente faço as coisas bem à primeira, tive de repetir “a dose”. Não foi fácil mas tudo está bem quando acaba bem e isso é o que interessa. Quando se está com os costados enfiados na cama de um hospital é quando melhor se percebe o fácil que é ser-se feliz. Tão simples… Porque será que temos tendência para complicar?

A nível nacional foi o ano da crise, com muito desemprego, muita gente a passar mal. Fechamos o ano com o país num buraco. Somos um barco à deriva e olhando a tripulação, não vejo, com sinceridade, quem possa deitar mão ao leme. Esperemos que venham dias melhores mas acho que vai demorar…

A nível internacional, o cardápio não foi muito diferente do de anos anteriores: crise, guerras, fomes, catástrofes naturais para todos os gostos… o habitual para gente que não se respeita, num planeta que não é respeitado. De mal a pior…

Foi um ano marcado pela internet, sem a qual já não sabemos viver. Para mim é A invenção da humanidade, de sempre, e a história ainda agora vai no início. A extensão das suas possibilidades é inimaginável. Basta dizer que os dois acontecimentos maiores de 2010: o boom do Facebook e o escândalo do Wikileaks não seriam possíveis sem ela, e com isto diz-se tudo. Na nossa Europa há já quem questione os Estados… A ver vamos…

Eu chego ao fim do ano e penso que eu e todos os meus estamos vivos e de saúde e já não peço mais nada. Eu sei que é um pouco egoísta but… who cares? O resto a gente arranja…

E assim, caríssimos leitores, olhamos 2011 cheios de esperança renovada neste novo ano, à excepção do âmbito desportivo mas não falemos em coisas tristes que a última coisa que quero é estragar-vos a derradeira ceia do ano.

Assim fecho o 2010 agradecendo-vos A TODOS a vossa fidelidade e desejando-vos que este 2011 que entra vos traga tudo o que mais desejam.

Sejam felizes.

Um abraço do vosso

Tio Sabi
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PS: Ser homem é complicado. A gente quer arranjar-se para uma noite especial e não há por onde inventar… As mulheres fazem penteados, metem brincos, sombras nos olhos, dão um jeitinho com o lápis, usam adornos, usam decotes, calçam saltos… Já um já um gajo como eu, ainda por cima meio careca… tem as hipóteses tão limitadas que quase dá vontade de ir nú. Quanto mais não fosse… chocava. Feliz ano novo!!!!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Porquê? Porquê? Porquê?



Eu também me lembro de ter tido a minha idade dos "porquês", de passar ao dias a fazer perguntas sobre tudo o que mexia, mas quem é que está preparado para um “ó pai, o que é que é um gato esterilizado”? (no seguimento de um anúncio televisivo) quando está prestes a iniciar uma refeição? Ainda bem que não tinha começado a sopa. Era “engasganço” certo...

Agora que já desistiu de reclamar por desenhos animados de cada vez que nos sentamos à mesa, por saber que a hora dos noticiários é sagrada (e lamentavelmente coincidente com a das refeições), adoptou uma postura do tipo “se não os consegues vencer, junta-te a eles”.

Vai daí… entra num debitar de perguntas que jamais parece ter fim…

“O que é o Dia de Acção de Graças?” e no seguimento da explicação… “porque é que os Estados Unidos são um país tão novo e nós somos tão antigos?”, “Porque é que os colonos e os índios combatiam uns com os outros?” e por aí fora… so on and so on até ao “mais infinito”.

Eu até lhe expliquei que hoje em dia, as crianças da idade dela que têm muitos “porquês”, o que é natural e desejável, têm a vida muito mais facilitada do que as crianças do meu tempo. Nós perguntávamos e tínhamos obrigatoriamente de fazer fé nos pais e professores. A contra-prova só podia ser feita numa biblioteca e isso era coisa que ou estava longe (em Castelo de Vide) ou demorava (no caso da ambulante da Gulbenkian). Os poucos que tínhamos sorte de ter enciclopédia daquelas de dezenas de calhamaços também sabíamos que não respondiam a tudo.

Hoje em dia, uma criança como ela tem tudo à distância de um clique. É tão simples como sentar-se no sofá, ligar o Magalhães, ir à net, digitar a palavra-chave num motor de busca e deixar-se espantar à medida que se vai abrindo um mundo de respostas. “Surfar” até ao limite do conhecimento. Neste caso, imagino eu que possa, para além de saber tudo sobre o “Thanksgiving Day”, fazer deste marco um portal para onde quiser, seja na história dos Estados Unidos, na cultura dos nativos americanos… enfim… Devem existir centenas de livros, filmes, documentários disponíveis on line sobre o tema, de borla! (o que ainda é o melhor de tudo).

Hoje em dia é fácil, muito fácil saber-se muito desde que haja curiosidade e alguma acutilância.
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Diz o sábio ditado que “não me dês um peixe, ensina-me a pescar” mas neste caso, até fico feliz que pergunte. Foi a tecnologia que fez com a que os idosos deixassem de ser o repositório último do conhecimento para passarem a ser adultos fora de prazo. Só espero que a net não antecipe as coisas e faça o mesmo aos pais. Ia custar…
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E eu até gosto que ela entre de rompante (como hoje) pela cozinha adentro e pergunte com indignação (perante a notícia): “Mas quem é que é o parvalhão que anda sempre a aumentar o IVA?”.

“Quem é que tu achas, Leonor?”, perguntou-lhe a mãe, num tom de voz conformado.

“O SÓCRATES, CLARO! Só podia!”.

Perdidamente

Numa manobra de zapping, “pesquei” isto na RTP 2. Foi um flash. Um arrepio boquiaberto.




O poema da Florbela Espanca é arrebatador. Um verdadeiro sopro de divindade. Poderia ser a Declaração Universal dos Direitos do Poeta (caso tivesse sido escrita em França. Ninguém aceita uma Declaração Universal seja do que for escrita em Portugal).

A encarnação musical dos Trovante tem toque de génio apesar de ter de vos confessar que nunca fui fã da banda e que prestei muito pouca atenção quando este êxito galgou os tops nos anos 90.

Esta versão “nua e crua” com o João Gil à guitarra, interpretada desta forma tão especial, por pessoas tão diferentes… eleva o tema ao expoente máximo.

Alguém disse “pão para a alma”?
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PS: E deve ser tão bom rapazinho. Tem mesmo pinta de ser “bom tipo”. Tenho tanta pena que aquilo com a Catarina Furtado tenha corrido mal. Onde é que aquela cachopa tinha a cabeça quando “embarcou”com aquele “mal enjorcado” do João Reis. Realmente… Viram-na no Circo de Natal? Xiiiiiiii…. Poderosa! Está como o vinho do Porto…

Este homem não está bom…



Toda a gente viu a mensagem de Natal do nosso Primeiro?

E fui só eu… ou também acharam que o homem está assim… estranho, vá lá?

1. O cabelo está enorme e “mal amanhado”. Dá-lhe um ar mais velho. Desgastado.
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2. Está com os olhos pequeninos e fundos. Aquilo, ou é Xanax a mais ou são os danos colaterais dos excessos etílicos da noite anterior. No dia 25, eu também tinha aquele ar (precisamente) mas eu não tinha que falar à nação (isto presumindo que foi directo. Se não foi… pior!).
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3. Está pálido. Esbranquiçado, mesmo.
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4. A forma como olha fixamente para o teletexto, situado ao lado da câmara, dá-lhe um ar bizarro, um misto de estrábico e lunático.
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5. Aquela de ter uma gravata da cor das luzes da árvore de Natal, não lembra ao susto.
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6. Falar com as mãos é feio. Ajuda a dar expressividade ao que diz, mas…

Quem é que ainda quer ouvir o que o homem diz?

Eu só vi porque a minha filha Alice tinha raptado o comando do Meo.

E já agora… Onde é que andam os assessores de imagem do PS??? Maus!

domingo, 26 de dezembro de 2010

O fenómeno (Tony Carreira)



Por estranho que (me e vos) pareça, eu vi o concerto do Tony Carreira no Pavilhão Atlântico que a RTP transmitiu neste domingo de Natal. Eu tinha de ver. Tinha mesmo de saber como era.

Conhecer, para poder opinar.

E o que vos posso dizer é que o que vi explica o fenómeno e me deixou deveras impressionado.

Em primeiro lugar, fiquei impressionado com a devoção das fãs que lotaram o espaço por completo. Fãs de todas as idades e de todos os extractos sociais que cantaram cada um dos temas em uníssono e sempre com igual fervor. Havia ali mulherio para todos os gostos e mais algum… Altas, baixas, gordas, magras, novas, velhas, havia-as bonitas e feias, mais expansivas ou sofisticadas… mas todas elas em delírio e total entrega e é por isso que eu não compreendo o que é que tanto homem (até de bigode!) lá estava a fazer, Deus meu… Vamos lá ver se eu me consigo explicar…

Eu não via tanta mulher ao rubro desde que vi um dos últimos concertos do Elvis em Las Vegas, já na derradeira fase “barbitúricos /cabedal branco com lantejoulas”. Nesses tempos, o Rei já passava os dias drogadíssimo, bebedíssimo e “completamente fora” mas continuava a ser um músico e um performer absolutamente genial, capaz de comandar músicos e espectadoras com a destreza de um domador numa jaula gigante pejada de leões famintos. No final do show, o Elvis saltou-me do palco e começou a distribuir “beijo na boca” e até alguns “linguados” às meninas e senhoras da plateia que se levantavam religiosamente para o saudar à sua passagem, como que hipnotizadas pelo carisma incontestável. Ao seu lado estavam os namorados/maridos que ou sorriam ou davam umas “passas” no charuto para dissimular o embaraço mas ficavam quedos e mudos. E porquê? Porque um homem sabe reconhecer que perante uma força da natureza daquela ordem, não havia nada a fazer. Qualquer um se rendia e eu, que já pensei no caso, juro-vos que no seu lugar, reagiria tal e qual como eles e até seria capaz de fazer muita força para não cair de joelhos, adorando logo ali o mito. Ora, o Tony Carreira não tem nada disto.

O Tony Carreira não é um homem bonito como era o Elvis e olhem que eu sei apreciar homens! O Tony tem um rosto simpático mas tem um penteado pindérico, umas “entradas” no cabelo que lhe chegam às orelhas, um nariz adunco (ao estilo do meu), uma dentição muito mal “encavada” e depois… não é fisicamente “mal apessoado” para um homem da sua idade mas aquele crucifixo de ouro a reluzir entre os pêlos do peito… a camisa aberta até ao umbigo… as fatiocas… Enfim… Já o seu filho Mickael e até o mais novito são bonitos dentro do género “carinha laroca”.

O Tony Carreira não tem uma grande voz como tinha o Elvis, ou o Sinatra, ou como tem o Marco Paulo, por exemplo. Tem um espectro vocal muito limitado (a distância entre o grave mais baixo e o agudo mais alto que alcança é curtíssima) e o seu repertório nunca sai dessas balizas castradoras.

O Tony Carreira não é um grande músico/compositor. O Tony sabe que deve 90% (ou mais!) dos seus êxitos ao Ricardo Landum, o verdadeiro Rei Midas da música ligeira portuguesa que, esse sim!, cria êxitos garantidos em tudo o que toca. Os pimbas de sucesso deste país devem-lhe quase tudo. O Tony não é excepção.

É impressão minha ou as músicas do Tony são sempre “mais do mesmo” limitadas à fórmula do “deixaste-me-e-nunca-mais-fui-o-mesmo-e-estou-aqui-a-sofrer-tanto-ai-coitadinho-de-mim”? Atentem nos títulos… “Ai destino”, “Se acordo e tu não estás”, “ Esta falta de ti”, “Depois de mim”, “Sabes onde estou”, “Vagabundo por amor”, “É melhor dizer adeus”, “O que vai ser de mim quando fores embora”, “Tu levaste a minha vida”, “Quem esqueceu não chora”… Se tiverem dúvidas consultem as letras ou ouçam as músicas. De certo que ficarão esclarecidos.

E é este o preciso ponto do texto em que a leitora que é fã pergunta para os seus botões (já irritada…): Mas… se tem tanta coisa má… que raio tem então o Tony Carreira (e já nem falo na piroseira do nome artístico) para triunfar desta forma faraónica?

O Tony é humilde e generoso
. Durante a actuação, rendeu homenagem ao tal Landum, o génio por trás da “máquina”, quando o chamou ao palco e pediu uma ovação para o, cito, “maior compositor da música portuguesa”. Aquela dos “Sonhos de Menino” é de conquistar até as pedras da calçada.

O Tony é sensível e sincero e só Deus (e todas as mulheres do mundo) sabem o fascínio que um homem com estas características pode ter no universo feminino (desde que não seja gay. Se for, jamais passará de amigo).

O Tony sabe estar. Foi notável a forma como evitou a lamechice ao cantar com os dois filhos em palco. Seria fácil agradar por aí mas ele evitou o simples e o óbvio. Ponto a favor. Vantagem e set.

O Tony sabe-se rodear dos melhores. Tinha atrás de si uma “super-banda” repleta de super-músicos capazes de “segurar” até uma marioneta em palco. Das guitarras aos metais, da percussão aos coros, ali ninguém brinca em serviço. Na segunda parte do espectáculo nem sequer faltou uma secção de cordas ao jeito orquestra de suporte. Muito bom.

O Tony tem uma noção perfeita de espectáculo. O tema “Obrigado”, que dedica às fãs, foi o penúltimo do espectáculo e nem sequer faltou uma lágrima que foi disfarçada na perfeição, ao ponto de se deixar ver de soslaio nos ecrãs gigantes. Sabe alternar entre o intimista e o acelerado, os momentos de tensão com os de relax, sabe que está ali para agradar, para dar prazer, para dar espectáculo. Nem sequer faltou um palco no meio do pavilhão onde interpretou dois temas enquanto a segurança ia seleccionando as fãs que podiam subir para o beijinho da praxe. Nível!

O Tony sabe ao que vai, é profissional, é competente, acertou na mouche e sabe repetir a formula para que jamais falhe.

O Tony é grande (para o nosso país), viva o Tony!

Mas eu, se me permitem, no que diz respeito a pimba, gosto mais é da Rute Marlene. E da irmã.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um conto de Natal

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Acendeu a última beata que apanhara do chão minutos antes e aspirou lentamente o fumo que lhe adormeceu os pulmões. Ajeitou a cabeça na sua cama de papelão, abrigada por uma varanda a escassos metros de uma vitrina chique e fitou as luzes da rua que anunciavam o Natal. A noite caíra há instantes. Com ela veio o frio e uma chuva miudinha que fez acelerar o passo às gentes que procuravam os presentes de última hora. Os presentes de última hora…

Já não se conseguia lembrar da sensação de abrir um, de descobrir uma prenda, de dar… de ter uma só para si.

Por mais dias que passassem, e já tinham passado tantos, não conseguia deixar de perguntar a si próprio como foi possível ter descido tão baixo, tão fundo, como se a força do destino tivesse sido mais forte que tudo por só ela ser capaz de o arrastar para ali. De vez em quando ainda olhava as mãos encardidas, as unhas negras… e mal se reconhecia no vulto barbudo, de cabelo desgrenhado e mal amanhado que lhe respondia num assombro quando olhava as montras da Baixa.

Ao caminhar por entre a multidão, sentia-se sempre como se fosse um barco perdido que remava contra uma maré sem rosto. Eles… certos do seu destino. Ele… desgovernado na bruma, mergulhado em oceanos infernais. Já não prestava. Tinha sido cuspido da “máquina” e por ela esquecido como uma sobra que ficou por apanhar. À margem da vida. À margem de tudo.

Mas houve dias em que também ele foi assim… jovem, com vida, com família, trabalho, futuro e ideais. Também ele desfilava por aquelas calçadas, impecável nos seus fatos de corte à medida, sem reparar na legião de desafortunados que se anichavam aos pés dos edifícios centenários. Mas a sorte tinha-o esquecido e bastou um clique, um imprevisto seguido de uma impressionante sucessão de azares para o deixarem naquele estado. No dia em que a tragédia lhe bateu à porta, todos partiram. Uns nesse preciso instante, outros nos tempos que se seguiram… ninguém quis ser testemunha da sua queda e fugiram dele como se de uma epidemia mortífera se tratasse.

Tinham passado anos e sabia agora, melhor do que nunca antes, que só poderia contar consigo. Na rua não há amigos. Na rua vive-se no limiar básico de sobrevivência, luta-se por existir a cada dia que passa. Sabe sempre bem a solidariedade dos que chegam com uma sopa, um prato quente, uma palavra amiga mas só isso é pouco até para quem nada tem. Eles dão… mas recebem o conforto de se saberem úteis. Até aí… há um retorno.

Já estava cansado de tanto gritar em silêncio. Por mais estridentes que fossem os seus lamentos… ninguém jamais o iria ouvir.

Os seus dias eram tão escuros como a mais negra das noites. Arrastava-se por eles como um vegetal e por incrível que parecesse… só o álcool, que a tantos derruba, o conseguia manter de pé.

Mas naquela noite de Natal, decidiu que não queria uma que fosse como as outras antes. Não queria a “fatia” de bacalhau num prato de plástico, não queria a mesa comprida onde teria por companhia outros mortos-vivos como ele, não queria a compaixão alheia, não queria luzes, nem os sorrisos, nem um daqueles barretes idiotas que lhe enfiavam pela cabeça abaixo para a fotografia. Não queria.

Se não podia ter a sua casa cheia, a mesa farta, o calor da lareira, a árvore plantada num monte de presentes, tudo o que mais desejava dentro de uma sala… não queria ter nada. E assim disse que não à insistência dos outros. Que não! Que queria ficar ali por sua conta, sozinho com a sua cruz, agarrado às suas convicções como aqueles idosos que preferem enfrentar sozinhos o fogo no sopé da montanha, defendendo a sua casinha de sempre, a serem levados pelos braços jovens de um bombeiro salvador. Havia nele uma réstia de dignidade que ainda não tinha sucumbido. A ela se agarrou nessa noite.

Do sobretudo rasgado que lhe servia de pele retirou a garrafa de absinto que tinha encontrado dias antes, numa casa abandonada, e meia caixa de calmantes passada da validade. Deitou-se e foi emborcando a mistura em tragos lentos, enquanto quadros vivos do seu passado lhe passavam à frente dos olhos rasos até que por fim, adormeceu.

“Está aqui! É ele! É ele…”, ouviu a quilómetros. Uma mão pequenina pousou no seu rosto empedernido.

“Paizinho… Somos nós! Viemos buscá-lo… Temos saudades…”.

Esforçou-se por abrir os olhos. Envoltos numa névoa, reconheceu dois rostos que lhe pareceram familiares, a sorrir. “A mãe quero-o de volta… Já temos uma casa… Começámos de novo mas já podemos ajudar. Sabemos onde o podem salvar… Venha connosco…”.

Deixou cair a cabeça num regaço e sorriu.

Fosse o que fosse… para ele… era Natal.
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Feliz Natal a todos. Saibam agradecer pelo que têm.
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pessoa... digital e universal

«Fernando Pessoa em flagrante delitro»: dedicatória na fotografia que ofereceu à namorada Ophélia Queiroz em 1929.


Já não é notícia (estão online desde 21 de Outubro) mas é sem dúvida uma excelente novidade saber que os 1140 volumes que constituíam a Biblioteca Particular de Fernando Pessoa, provavelmente o artífice-mor da Língua Portuguesa (e quase sempre em vinha d’ alho… gostava tanto d’um bagacinho…), estão disponíveis na internet e podem ser consultados de forma totalmente gratuita. Um tratado!

Em formato Pdf ou Jpeg, arrumadinhos por autores, datas, títulos ou classes… tudo à mão de semear.

Para aceder a este verdadeiro tesouro, repleto de anotações manuscritas que muito revelam sobre o universo deste génio basta clicar aqui.

O feito deve-se a Jerónimo Pizarro, investigador e estudioso da obra do poeta; a Inês Pedrosa, directora da Casa Pessoa e à Fundação Vodafone Portugal, que entrou com o “guito”. Pretendeu-se com esta iniciativa “tornar Pessoa ainda mais universal e ter a sua biblioteca aberta ao mundo inteiro”.

Notável!

Se ele fosse vivo, mesmo agora íamos ali ao Martinho da Arcada provar o morangueiro…

Para quem lê o retrato possível de Fernando Pessoa, é impossível não ficar rendido…
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“Era um homem magro, com uma figura esguia e franzina, media 1,73 m de altura. Tinha o tronco meio corcovado. O tórax era pouco desenvolvido, bastante metido para dentro, apesar da ginástica sueca que praticava. As pernas eram altas, não muito musculadas e as mãos delgadas e pouco expressivas. Um andar desconjuntado e o passo rápido, embora irregular, identificavam a sua presença à distância. “Vestia habitualmente fatos de tons escuros, cinzentos, pretos ou azuis, às vezes curtos. Usava também chapéu, vulgarmente amachucado, e um pouco tombado para o lado direito. “O rosto era comprido e seco. Por detrás de uns pequenos óculos redondos, com lentes grossas, muitas vezes embaciadas, escondiam-se uns olhos castanhos míopes. O seu olhar quando se fixava em alguém era atento e observador, às vezes mesmo misterioso. A boca era muito pequena, de lábios finos, e quase sempre semicerrados. Usava um bigode à americana que lhe conferia um charme especial. Quando falava durante algum tempo e esforçava as cordas vocais, um dos seus pontos sensíveis, o timbre de voz alterava-se, tornando-se mais agudo e um pouco monocórdico. A modulação da passagem de um tom para o outro acabava por reduzir o seu volume vocal natural e o som então emitido ficava mais baixo e um pouco gutural, tornando-se menos audível. “Nos últimos dez anos de vida, talvez provocado pelo fumo dos oitenta cigarros diários, adquiriu um pigarrear característico, seguido de uma tosse seca. “Embora não muito dado ao riso, Fernando Pessoa tinha uma certa ironia e algum humor, sobretudo se estava bem disposto, o que acontecia algumas vezes quando os amigos mais próximos o desafiavam para jantares. Curiosamente libertava-se então da sua timidez e gesticulava de um modo mecânico e repetitivo, deixando escapar um riso nervoso, às vezes irritante.“Apesar de conviver com os amigos, no fundo nunca deixou de ser um homem neurasténico, solitário e reservado, pouco dado a conversar com estranhos. No final da sua vida, a melancolia e uma exagerada angústia existencial predominavam. Daí a tendência para se isolar dos mais próximos e dos próprios familiares. O seu temperamento ansioso foi interpretado por alguns dos seus biógrafos como uma personalidade do tipo emotivo não activa. No fundo, era um tímido introvertido, dado a fortes instabilidades de sentimentos e de emoções. “Dotado de um carácter bastante complexo, era, apesar de tudo, um homem simples com uma grande inteligência e de uma extrema sensibilidade... era reservado e não gostava falar de si nem dos seus problemas, protegendo o mais possível a sua privacidade. Terrivelmente supersticioso, tinha momentos em que se comportava de uma forma enigmática e misteriosa, a que decerto não seria alheia a sua velha atracção pelo oculto, o esotérico e a própria relação metafísica que tinha com a vida.”
[…]
“Sabe-se, também, que Pessoa tinha algumas fobias: não suportava que lhe tirassem fotografias, não gostava de falar ao telefone e tinha terror às trovoadas.”
[…]
“Sabe-se que coleccionava postais e que era filatelista. Para além de gostar de ler, e a sua biblioteca comprova os muitos livros que “devorou”, apreciava música clássica: Beethoven, Chopin, Mozart, Verdi e Wagner foram seguramente alguns dos seus compositores favoritos.”
“Apesar da sua vida retirada, monástica quase, Pessoa teve amigos. Tal facto não é de estranhar porque era um homem bondoso, de uma grande nobreza de carácter, sempre disponível para ajudar os outros.”

Morreu de cirrose hepática. Tinha 47 anos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Até a Vitória nos levam…



Todos nós estávamos preparados para já em Janeiro perdermos o David Luíz… talvez o Coentrão… ou até, caso Deus ouvisse as nossas preces e fosse misericordioso, o Cardozo (de preferência para ceder o lugar a um avançado de jeito, como o Falcão, por exemplo…), agora…

Perder a águia Vitória em Dezembro? A escassos dias do Natal? É duro…

Ainda por cima desta forma… tão pouco digna… tão desfasada do nível e da história do nosso clube.

E assim ficaram, de boca aberta, olhando em vão os céus, as cerca de 40.000 almas que no passado sábado se deslocaram à Luz para assistirem ao embate com o Rio Ave, a contar para o campeonato nacional. É caso para dizer que entraram todos a perder. Quando soou o apito inicial já tinham sido privados de um dos momentos mais altos de cada jogo em casa, e isto sem direito a desconto no ingresso, vale de compras na Megastore ou passagem pela casa de partida. Custa…

O voo da Águia Vitória é um daqueles momentos capazes de arrepiar qualquer um, por mais anti-benfiquista que seja. Imaginem então o que significa para nós… Que prazer… o de a poder ver mergulhar do seu pedestal e deslizar, naquele seu voo suave, circular e hipnótico, como que saudando as bancadas, catalisando todas as atenções até pousar em glória no nosso símbolo de sempre. Que poder, o seu… o de conseguir silenciar por completo um estádio inteiro, colá-lo a si e incendiá-lo numa explosão de alegria e cor, deixando-o em êxtase no final de cada actuação.

E isto acontece porque sempre que voava, a Vitória congregava nela toda a mística do Benfica que por muito que custe a alguns, ainda É o maior clube português (em títulos conquistados, em número de sócios, em história e em valor). A Vitória levava-nos com ela… Quem nunca sonhou, ao vê-la planar, que seguia nas suas asas, podendo assim desfrutar daquela que será certamente, a mais imponente perspectiva da nossa catedral?

Ao que parece, Juan Barnabé, o seu proprietário e treinador, deu o passo maior que a perna e vai pagar por isso. Eu sei que ler isto pode parecer estranho mas eu também ajudei a que assim fosse. Quando visitei pela primeira vez o interior da Catedral e o Museu do Benfica, a convite do Grupo Desportivo Arenense (acompanhando as escolinhas) e na qualidade de Vereador do Desporto, tive oportunidade de conhecer Barnabé e de também tirar algumas fotos com ele e a “nossa” Vitória. Recordo-me de o ter felicitado pela alegria que transmitia aos sócios e por também ele ser já uma referência do clube. Reparei então como este comentário, que imaginei comum e até corriqueiro, o fez olhar fixamente para mim, com um espanto que se foi condensando em emoção no seu olhar. Não sei se foi a primeira vez que o ouviu, mas que causou frisson, disso não tenho a menor dúvida (ofereceu-me as fotos autografadas que cobrava bem caro) e a certeza tive-a meses depois, quando voltei à Luz acompanhado pelas minhas pequenas. Barnabé estava numa sessão de autógrafos, desta vez na Loja do Benfica e reconheceu-me no meia da assistência. Levantou-se de imediato, propositadamente e veio-me cumprimentar. Cumprimento de circunstância, trivial, mas que me que me retornou por completo a gentileza do meu gesto inicial.

Eu sei que as versões sobre o que aconteceu no passado sábado são contraditórias. O tratador diz-se pressionado e maltratado mas a leitura oficial parece ter provas físicas do contrário. Se assim for, concordo com o director de comunicação quando afirmou que ninguém está acima da instituição. Assino por baixo e sublinho. Mas também penso que se a direcção estava descontente com algumas atitudes do espanhol, nomeadamente com o facto de ter retirado ao Benfica a exclusividade do “número” ao oferecer os préstimos da sua empresa a outros clubes que também têm uma águia no símbolo (como a Lazio de Roma e o Flamengo), poderia tê-lo manifestado de uma forma mais elegante e consentânea com a nossa linhagem.

O assunto resolvido com cortesia e discrição, em tempo oportuno, possibilitaria a contratação de um outro tratador (quem não se lembra do Paixão, o precursor da ideia?) e de uma outra águia (Barnabé tem diversas… a Vitória é uma personagem) e evitaria as cenas lamentáveis que deliciaram os nossos detractores, plasmadas em fotos na 1ª página de alguns desportivos e em tempo de antena nas televisões nacionais para lavagem de roupa suja.

Pelo que se pode comprovar por este artigo, nem o facto de serem símbolos do clube faz com que as águias (e os seus tratadores) sejam tratados de forma mais condigna. Afinal, a novela de Barnabé é um déjà vu. Lá diz o povo… “Quem com ferros mata, com ferros morre”.
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PS: Se eu mandasse, durante este tempo em que sócios e adeptos estarão privados do “show” da mais nobre inquilina da catedral, o “número” deveria ser protagonizado por outras aves raras que por lá andam que, quais Ícaros, seriam obrigados a saltar do alto do 3º anel com umas asinhas de cera, bem mais consentâneas com a prestação da equipa na actual época. O mais certo era derreterem antes de chegarem ao sol (leia-se campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga Europa). Enfim...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Mau tempo no canal (neste caso... na linha férrea)



In Público de 17.12.2010


Transportadora vai acabar com o serviço regional em 450 quilómetros de linhas e prepara concessão dos serviços suburbanos de Lisboa e Porto. CP Carga já foi autonomizada

A CP prepara-se para eliminar 450 quilómetros do serviço regional - o mais deficitário da empresa e onde já foram abatidos 144 quilómetros de linhas -, tornando-o residual em termos da sua área de operação. A CP Carga já é hoje uma empresa autonomizada, que espera 33 milhões de prejuízos no fim do ano e que está na lista das privatizáveis no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), e as CP Lisboa e CP Porto vão ser concessionadas. Ou seja, o desmembramento da CP é agora uma matéria assumida pelo Governo pois, seguindo à risca as intenções do executivo, dentro de um ano dela não restará mais do que a unidade de longo curso e uns restos do serviço regional.


Este último irá acabar em 2011 nos troços Torre das Vargens-Beirã (65 km), Abrantes-Elvas (129), Beja-Funcheira (62), Ermesinde-Leça (11), Setil-Coruche (32), Pinhal Novo-Beja (138) e Casa Branca-Évora (16). Mas a estes há que somar os 144 quilómetros de linhas que já foram encerradas no primeiro mandato deste Governo, o que significa um total de 597 quilómetros sem regionais.


Desde Janeiro de 2009, os comboios deixaram de apitar entre a Figueira da Foz e Pampilhosa (51 quilómetros) e nas linhas do Tua (54), do Tâmega (13) e do Corgo (26).


A falta de segurança nessas linhas foi a razão invocada, tendo-se seguido promessas imediatas de reabilitação dessas vias, mas a única coisa que se fez foi retirar os carris e as travessas em algumas delas. A política de contenção do investimento público ditou, entretanto, que os trabalhos de modernização fossem adiados, faltando agora apenas formalizar o seu encerramento através de um processo de "desclassificação".


Ontem, o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, anunciou que "a actual conjuntura, pelas pressões que coloca, designadamente no plano financeiro, obriga a acelerar algumas das coisas que vinham a ser preparadas" no que diz respeito à desclassificação de linhas férreas que não tenham procura.


Além das linhas onde o serviço regional será simplesmente suprimido, prevêem-se reduções do número de comboios nas linhas do Algarve, do Douro, do Oeste e do Minho.


Em 2009, o serviço regional da CP deu prejuízos de 56,6 milhões de euros, sobretudo nas linhas do interior, onde, muitas vezes, as automotoras circulam com menos de dez passageiros. O PÚBLICO apurou que, por exemplo, no ramal de Cáceres, entre Marvão e Torre das Vargens, cada passageiro transportado custou à CP 68 euros, sendo nesse troço a taxa de cobertura das despesas pelas receitas inferior a seis por cento.


Mesmo alguns dos eixos ferroviários mais representativos do país, como as linhas do Oeste, do Sul, da Beira Baixa e da Beira Alta, têm taxas de cobertura inferiores a 20 por cento, situando-se todo o serviço abaixo dos 50 por cento, com a excepção dos "tomarenses", expressão por que é conhecido o serviço entre Tomar e Lisboa e que serve também Entroncamento, Azambuja e Vila Franca de Xira, cujas receitas quase pagam as despesas.


Mas a fraca procura do serviço regional é também vítima da maneira como a própria CP está organizada, com as unidades de negócios a operaram de costas voltadas ao nível da oferta e do tarifário. Uma viagem do Bombarral para Espinho implica que um passageiro tenha de apanhar cinco comboios, do Rossio para Leiria e do Pinhão para Viana do Castelo quatro comboios.


O tarifário é também desencorajador da procura porque resulta do somatório dos vários comboios que o passageiro apanhar numa só viagem. De Santarém a Mangualde, paga 13 euros num Intercidades. Mas das Caldas da Rainha para Mangualde, que tem uma distância maior, um cliente da CP paga 16 euros e tem de apanhar três composições (um regional, um suburbano e um Intercidades).


om tarifas e horários desencontrados não surpreende, assim, que o serviço regional tenha pouca procura.


O PÚBLICO perguntou à CP qual a percentagem de passageiros do regional que precediam ou seguiam viagem no longo curso, mas a empresa respondeu que não dispunha dessa informação.

Saiba sobreviver ao jantar de Natal da sua empresa

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Brilhante e muito útil, este Manual de sobrevivência publicado pelo jornal "i".
É de borla e está aqui.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Portuguesitos - A ressaca


(Clica para aumentar)


Açúcar escasseia em alguns super e hipermercados portugueses
Sic Notícias

Nas prateleiras de alguns super e hipermercados de Lisboa e Porto não há - ou há pouco - açúcar. Segundo as Refinarias de Açúcar Reunidas (RAR), há falta da matéria-prima no mercado internacional, obrigando à suspensão da refinação. Há, porém, quem fale em estratégia para aumentar os preços

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Novo acordo? Exato! Já é um fato!


Mas que raio de história é esta do acordo ortográfico? Onde? Como? Quando? De onde é que isto saiu? Assim sem mais nem menos? Não chega já a falta de açúcar nas prateleiras?

Ao tempo que eu ando para reclamar com isto… Se deixo atrasar muito mais, ainda o corrector ortográfico do meu Word se converte em “corretor”, como mandam agora as leis, e me boicota o texto. Isto é de loucos…

Para chegar onde quero tenho de começar por dizer que adoro jornais. Acho que toda a gente gosta mas eu… é uma coisa irracional. Se pudesse… comprava-os todos, lia-os todos, devorava até os artigos que não eram para ler. Mas como não tenho tempo, nem tampouco dinheiro para tanta literacia, reduzi a voragem à leitura gratuita dos diários na versão html e… claro está… o “Expresso” ao fim-de-semana. Ainda continua a ser… o tal.

E foi por o ter nesta distinta condição de excelência que fiquei, digamos que… arrepiado, para não dizer pior, quando comecei a “esbarrar” com palavras redigidas em versão simplex: “adotar” em vez de adoptar (e notem bem como o “p” dá logo outra dignidade ao gesto); “atores” em vez de actores (que sem o “c” se tornam até mais… banais); e por aí fora… “espetáculo” sem “c” que passa a valer logo menos 5 euros no ingresso;
“atuação”,
“exatos”,
“ativa”,
“fato histórico”,
“infeção”,
“ativista”,
“exatamente”,
“projeto”,
"receção",
“ato”,
“direto”,
“concessão”…

Mas que raio de merda é esta?

Eu não me quero armar aqui em xenófobo, e muito menos quero ofender os amigos que tenho (e muito estimo!) espalhados por essa lusofonia fora… mas esta história do acordo ortográfico é mesmo uma cena que só nós nos podíamos dar ao luxo de permitir. Então cabe na cabeça de alguém que nós, os portugueses de Portugal como diziam os Heróis do Mar, tenhamos inventado (bem ou mal) uma língua e agora a deixemos “transvestir” com “aparadelas” oriundas de outros povos que a utilizam sem pagar portagem?!?!? Uma idiotice pegada… Se gostam, usem. Se não… que inventem uma melhor só deles. Não é?

O quê? É uma tentativa de aproximação da oralidade? Ah… ok! Então qualquer dia estamos a escrever como os putos fazem agora nos sms: “Kmé ppl? Táss? Bora krtir 1 nva linguagem?”. Um ultraje!

Para andar com parvoeiras destas, mais valia andarmos para trás e voltarmos ao tempo em que "phoda" se escrevia assim… com “ph”. Pelo menos era mais estiloso…

Que comédia!


PS: Honra seja feita ao Sousa Tavares (sempre ele! Pés bem assentes, cabeça no lugar, convicções à prova de bala, tiro certeiro) e ao Cutileiro, que mandaram as opções editoriais às urtigas e se mantiveram fiéis ao “old-fashioned portuguese”. Homens com tomates! Cada vez mais raros…


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Obs: O Acordo Ortográfico de 1990 já está em vigor em Portugal?

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Sim. De acordo com o aviso n.º 255/2010 do Ministério dos Negócios Estrangeiros, publicado em 17 de Setembro de 2010 no
Diário da República n.º 182, I Série, pág. 4116, o Acordo Ortográfico de 1990 vigora em Portugal desde 13 de Maio de 2009, data em que foi depositado junto da República Portuguesa o instrumento de ratificação do Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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É a partir desta data, 13 de Maio de 2009, que começa a ser contado em Portugal o período de transição de 6 anos estipulado por lei, o que significa que 2015 é o prazo limite para a adopção oficial da nova ortografia. O art.º 2º da
Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008, de 16 de Maio de 2008, prevê esse período de transição em Portugal, durante o qual "[...] a ortografia constante de novos actos, normas, orientações, documentos ou de bens referidos no número anterior ou que venham a ser objecto de revisão, reedição, reimpressão ou de qualquer outra forma de modificação, independentemente do seu suporte, deve conformar-se às disposições do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa".

Daqui

Cabeçalho exclusivo Feliz Natal

domingo, 12 de dezembro de 2010

500 Days of Summer

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Bem… se os filmes são mesmo isto… cápsulas de vida recheadas com sentimentos e gente dentro… ainda por cima feitos com imaginação e mestria; com timings e planos certeiros, com actores que não actuam, apenas são; com personagens de carne a osso e ainda por cima… uma banda sonora de luxo… é caso para dizer que pertencem a uma arte maior.

Provavelmente, o melhor “heartache movie” (leia-se “filme sobre a dor de corno”) que já me passou à frente e mais uma prova que me confirma uma teoria antiga: de todos nós, fãs dos Smiths, não há um único que “bata bem da bola”.
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sábado, 11 de dezembro de 2010

Tááááá´ beeeeeeeemmmmmmm!

Eu não sei se vocês já conhecem isto. O mais certo até é já andar a “rodar” aí pelas redes sociais. Se for o caso, que se lixe, vêem outra vez. Eu vi no canal Q, no programa do Palmeirim e fiquei derretido com a cena. Isto não é material para se enviar via e-mail ou se colocar no mural do Facebook. Um documento destes merece, no mínimo, honras de ser postado num blogue.

Trata-se de eterna questão do “choque de gerações” aqui magnificamente retratado pelo Márcio e a sua avó, gente boa do Norte, como se pode comprovar pelo vernáculo. Pelas imagens, presumo que a cena se tenha passado no Verão. Ora o Márcio bebeu demais (talvez até na festarola da terra). “Encharcou as velas” por completo. Fez o que eu costumo chamar de “reset”. Vai daí, montou a cama no alpendre de casa, mesmo em cima dos mosaicos da entrada (que por acaso até são iguais aos da minha garagem... Bom gosto...). Foi à procura do sítio mais fresquinho. Compreende-se.

A avó, preocupada com a situação e muito mal almoçada (como irão ver…), tenta por tudo trazer o cachopo de volta ao mundo dos vivos mas ele reage e eu não sei o que é mais engraçado: se é a eloquência do discurso da idosa, se o ar blasé do mancebo, se a malvadez do primo que tudo registou para a posteridade e difundiu para todó mundo.

A cena em que os “gafanhotos” expelidos pela septuagenária durante o ralhete são tantos que fazem o cachopo perguntar “se está a chover” é de antologia. Um Óscar para o melhor documentário… já!
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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Salvem os classificados do Correio da Manhã!!! (E as baleias...)



Aviso: Pequenitos… Este post é só para os maiorzinhos, ok? É material mais pesado. Vamos lá então desligar os Magalhães e voltar para o recreio, ok? Malandrecos…


Eu tenho de confessar que adoro comunistas, opá. Palavra! Sem ofensas, ãh! Acho-os o máximo! São tão pitorescos, tão peculiares, tão “old-fashioned” que acabam por estar o mais na moda possível. Ainda por cima, sendo, tal como os pandas ou os linces ibéricos, uma espécie em vias de extinção, parece-me que já vai sendo tempo de se criarem umas leis proteccionistas para evitarem que esta espécie acabe de vez.
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Adoro os maneirismos, as roupas que usam, a forma como se expressam, as ideias que professam (Deus meu, e que ideias…), adoro a cassete que todos têm decorada (o proletariado… a exploração pelas classes dirigentes, a opressão dos desfavorecidos, blá, blá, blá…), adoro o tom, prontos, gramo mesmo! Também adoro o conceito da Festa do Avante com os reformados da velha guarda com uma mão dada e o outro punho no ar e a rapaziada mais nova a mamar grandes canhões de erva e caipirinhas, todos vestidinhos com a obrigatória t-shirt do Che… O máximo! Era engraçado era se passassem lá nos ecrãs gigantes uns vídeos dos tempos dos camaradas Lenine e Estaline que mostrassem o dia-a-dia nos Gulags, os tenebrosos campos de concentração da época. Isso é que era bom, para desenjoar...


Tenho especial apreço por aquele piqueno que é deputado na Assembleia, o Bernardino Soares… tchhh, uma classe! Lembram-se quando ele defendeu, pleno de convicção, que a Coreia do Norte era uma democracia? Coisa de nível! Isto é pensamento que não está ao alcance de todos. Travão!

Eu gosto muito dos comunistas mas estou muito zangado com eles. Muito mesmo! Então não é que eles querem acabar com o trabalho de milhares de jovens, um trabalho que gera muitas centenas de milhares de euros de receita por mês! Isso mesmo! Como não têm mais nada que fazer lembraram-se (logo eles… vejam bem o puritanos que estão…) de apresentarem na AR um projecto de resolução que visa “a proibição de anúncios nos meios de comunicação social que, directa ou indirectamente, incitem à prostituição ou angariação de clientes para a prostituição". Um escândalo, ó camaradas! Porra, pá! Não se faz!

Já nem pela profissão mais antiga do mundo têm respeito! Logo por essa… que ainda por cima gera impostos já que a sua tributação esta prevista no mais mirabolante dos artigos da Lei Geral Tributária (a “Constituição” dos impostos) que fecha os olhos à ilegalidade desde que a mesma produza receita fiscal. Um mimo!

Eu estou muito zangado pela censura, pelo desemprego que isto gera, por todo o transtorno económico e porque eu adoro ler aqueles classificados, pá! Aquilo são verdadeiras pérolas de imaginação e mais! criaram uma nova e luxuriante forma de manobrar a nossa língua (literalmente!) portuguesa a um nível que o nosso país não via desde que a saudosa Revista Gina fechou as portas. Merecia uma cadeira em “Línguas e literaturas modernas” exclusivamente dedicada à preservação deste... linguajar.

Como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) já se meteu ao barulho, a fazer lobby, o mais certo é que a coisa vá avante. É pena…

E é assim… já em jeito de recordação, que partilho convosco algumas jóias que colecciono no meu arquivo pessoal:

A abrir... a Ana Bonita que diz que dá detalhes... como se fizessem falta com uma perspectiva destas... Naaa... deixa estar... Esbanjar caracteres, é o que é...



Duas obras-primas: a empregada travessa que "prega a peça" quando os senhores vão de passeio e a casada que na ausência do marido... aproveita para realizar um dinheirinho extra. Se o homem for caçador ou militar e tiver arma em casa, melhor. Mais excitante e apimentada a coisa fica. Muito bom!



Um exemplo de discrição e requinte. Pés e mãos e não só... O que arranjará mais? As pestanas, as sobrancelhas...


Eu não fazia a mínima ideia que Quarteira já tinha aeroporto. Arejado...


Recém-casada?!? Xupaxupa?!? De certeza que chegam às bodas de diamante. Vai uma aposta?


Nos classificados também há exemplos de grande rigor científico. A Edi, apesar de já ter idade para ter juízo, não desiste de ser astronauta!


E que dizer disto? Uma transmontana peluda? Masagista com apenas um "s"? Claro que só pode ser para cavalheiros idóneos...



Ora aqui está um caso em que todos deveríamos meter os olhos... Uma tia e sobrinha tão amigas... Não é lindo quando as famílias se dão bem?


A Reboleira está ao rubro! Uma mãe solteira decidida a "fintar" a crise e uma casa de brasileiras em promoção! Está em conta...


Toda a gente sabe que os empregados de mesa têm horários esquisitos, com muitos períodos "mortos", sobretudo depois da cozinha fechar. Estas amigas também aproveitaram para fazer mais algum...



Isto é o que eu designo por... um anúncio "à Benfica" de uma moçoila de... Benfica. Só podia... Amplo logradouro...

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A Nara Chupa Chupa rouba a clientela com a sua pose "tigresse". Inteligente...


Em Almada há casais aborrecidos que querem companhia e... brincadeira! Tarecos...


Vêem quando digo que os chineses vão tomar conta disto? Mais cedo ou mais tarde... As asiáticas são uma opção sempre a considerar: rostos delicados, peles lisas, pouco pêlo, pequeninas e por isso... facilmente (des)montáveis. Muito procuradas.


Um corpinho Danone é coisa para arrasar a concorrência. Por isso só está disponível para cavalheiros de nível. Compreende-se...


Os clubes de sonho são uma proposta que só existe nas grandes cidades. É o preço da interioridade...



Isto é o que eu chamo uma quadrologia de luxo: a preta de Luanda de curvas perigosas, a casadinha do Feijó que atende quando ele ressona no sofá, a Soraya selvagem para noites mais loucas e a gordinha do Laranjeiro gulosa atrás. Demais...



No meio de tana proposta indecente, a Tatiana ucraniana destaca-se por exibir uma oferta inusitada: beijo na boca. Há que saber contornar a concorrência...

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O que é que os anjinhos do amor com este classificado à "ursinhos carinhosos" querem dizer com "miminhos". Hum....



Medo! Toquem as sirenes!!! UUUUUUUUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! Livra! Quando no Barreiro, há que ter cuidado... Conhecem a expressão "gato por lebre"? Dass....


Em Almada reinam os bumbuns. Há os gulosos, há os de arrepiar...


É o que eu digo... Em Lisboa há de tudo.... Loiras cultas e elegantes... Loiras que usam e abusam e fazem tudo, tudo, TUDO? Porra...



Meus amigos... Castelo Branco não é so o Fórum e o Jumbo. Há tanto p0r onde ocupar o tempo livre... O que é que ela quererá dizer com "DSLK a camionistas"? As voltas que eu já dei à minha cabeça... Estava desligado.


Leiria rima com loucura! Sereias recém-pescadas, 3 universitárias Venezuelanas de parar o trânsito (estarão em Veterinária?) e mais uma casada com um faroleiro.


Dominação. Uma área em franca expansão. Só para os mais aventureiros! Cuidado! A Angélica é perita em "chuva dourada" e em bondage; a Inês deve ser ruim pra c******; e a Ana adora metê-los "de quatro" a ladrar pela sala fora. Ui, ui... Foge!


Ex-transexual?!?!? Não percebo. Ex? Já está tudo no lugar? Ai se o Ken te apanha...

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Leiria de novo... estudantes a precisarem de companhia, Loiras viúvas "O 100% nat complet" e moreninhas atrevidas de anca larga e sem pressas. Será a do Marco Paulo?


Leiria... sempre! Um rapagão de "barrote" avantajado que não é esquisito (vai a todas...) e uma senhora que dá... "facadinhas"??? no matrimónio?

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Será este o tão falado "fenómeno" do Entroncamento? Brrr...


As senhoras também podem brincar. Há de tudo! Strippers "rodados", chavalecos meigos e sedutores e machos safados... 23/7?!?!?!? Naaaaaaa... Empresta lá a régua...

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Voilá! A nossa cidade tb dando um arzinho da sua graça. Ruivas (hum... não há muitas...) que não decepcionam e muitas novidades de serviço completo...


Mulata... peluda... magra... de "lingeri"? Travesty bombástica?!?!? Já não se pode andar descansado em lado nenhum...


No Montijo... só para homens de barba rija...

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Jeny boca de veludo? Parece nome de boneca. Ora vira-te lá!



Quase a terminar... gente honesta que não anda com desculpas esfarrapadas. assim é que é: "Faço tudo porque gosto!". Quem diz a verdade, não merece castigo! Olaré!
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E para terminar mesmo... vocês já me conhecem... EU NÃO RESISTO...


Me liga, vai?

Ele há coisas que não se explicam...