terça-feira, 30 de novembro de 2010

Corte e costura (Parte 2)

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Nota do autor: Há uma fórmula, simples mas eficaz, para ler os meus textos que consiste em não olhar para a extensão. Se o fizerem, desistem porque há sempre outras coisas mais importantes para fazer. Compreendo... O conselho é começarem e deixarem-se levar. Acho que vale a pena. Dou tanto de mim a escrevê-los que me parece um desperdício, perdoem-me a imodéstia, deixarem-nos no prato, ao lado dos bróculos. A gerência agradece.

Tempo estimado de leitura (tendo como referência a capacidade de um jovem licenciado em engenharia, com um curso de inglês técnico tirado nas Novas Oportunidades): 10 minutos.



Bem…

Já que tanta gente (felizmente) se preocupa e pergunta…

Já que assumi, ao expor-me publicamente neste blogue, um estatuto de semi-figura pública (isto numa micro-escala, claro está!);

Já que já passaram quase 15 dias da intervenção, já se foram os pontos, já se ultrapassou a fase crítica…

E já agora… só porque sim, falemos então desta segunda operação.

Uma operação, sobretudo quando envolve anestesia geral (e atenção que isto é um leigo a opinar!), nunca é um acontecimento inócuo, sobretudo para os estreantes. Envolve tanta gente, tanto medicamento, tanto aparelhómetro, tanto químico, tanta perícia, tanto corte, tanta coisa que há sempre uma dose de risco... de algo que pode correr menos bem.

A intervenção a que fui sujeito no dia 20 de Outubro, para eliminar uma hérnia discal de proporções assinaláveis que me estava a esmagar a raiz do nervo ciático, correu bem. Na sala de operações tudo se passou conforme o guião e a recuperação parecia encaminhada. Logo no dia seguinte, consegui levantar-me e tomar banho sozinho. Assim que me ergui da cama, percebi de imediato (com grande alegria e alívio) que a dor tinha desaparecido. Tive alta no dia seguinte e assim rumei a casa, amassado mas ilusionado.

Passei bem a Sexta, o Sábado e no Domingo, ao final do dia, notei uma dor momentânea mas intensa que disparou ao longo da perna esquerda, precisamente a que era mais castigada pela hérnia. Ainda pensei que fosse uma inflamação num tendão ou um dano colateral da cirurgia, ou talvez até, o resultado de algum movimento mais esforçado (as operações a esta secção da coluna obrigam a que o acto de levantar e deitar sejam autênticos exercícios de ginástica, em que nos temos de “empinar” como se fossemos uma tábua de passar para a proteger, com recurso a muita força de braços e alguma agilidade).

Os dias sucederam-se, mais tristes do que o esperado. A dor não só persistia como aumentava à medida que o tempo passava. Como tinha consulta marcada em Portalegre na sexta-feira seguinte para retirar os pontos, decidi aguentar até então para falar com a médica e procurar explicações. As dores atingiram o limite máximo do suportável nessa tarde. Quando me tentei vestir, percebi que não era capaz de dar passo. Eram de tal forma insuportáveis que assim que tocava com o pé no chão tinha a sensação que tinha acabado de pisar um cabo de alta tensão que me desferia uma descarga pela perna acima e demorava minutos a desaparecer. Era o tipo de dores que eu imaginava que ser poderiam sentir com uma fractura exposta e com isto acho que digo tudo.

Arrastei-me literalmente até ao carro e dali até ao consultório. Não me lembro de ter sequer conseguido abrir os olhos durante a viagem. Senti, a cada curva do percurso, que a perna iria explodir a qualquer momento. As dores eram cem vezes piores que antes da cirurgia.

Se mal ia, pior fiquei quando percebi o ar de espanto da médica ao ver-me. O seu “mas Pedro?!?! O que é que se passa? Isto é tudo tão estranho… tão inédito...” não me animou por aí além. Saí de lá directo para uma injecção “de cavalo”, com acertos na medicação, indicação de repouso total e uma guia de marcha para nova ressonância magnética, o mais preciso dos exames a este nível.

Uma ressonância não é fácil. A ideia de ter de me enfiar de novo dentro daquele aspirador gigante, apenas vestido com uma bata e uns auriculares para me protegerem dos ruídos (imaginem…), durante meia hora sem me poder mexer, sob pena de se caso isso acontecesse, ter de começar tudo de princípio… não era animadora.

Assim que de lá saí, não podia ter tido “melhores” notícias. Disse-me o técnico: “ foi operado mas a perna ainda lhe dói, não é? É natural… há ali “algo” a comprimir o nervo. Vai ter de ser operado de novo!”.

Não me disse nada que não esperasse já, sinceramente, atendendo a tudo o que aqui vos descrevo, mas “levar” com a notícia assim de chofre… É dose!

A comparação com os exames anteriores confirmaram a necessidade de nova intervenção. Tenho, mais uma vez, de agradecer à minha médica, a Dr.ª Anabela Nabais, o cuidado e a preocupação que teve comigo, bem como a prontidão com que marcou a nova cirurgia.

“Quanto mais cedo, melhor” e assim regressei aos Lusíadas, disposto ao que quer que fosse. Dentro de mim, não conseguia deixar de ouvir em repeat, uma frase que ouvi na primeira consulta e que foi determinante para a minha opção pela cirurgia: “com a sua idade, peso, altura, físico e massa muscular, as possibilidades de ficar completamente bom são de 99,9%”. E eu só pensava: “Onde raio fui cair… logo no 0,1%”. Isto é tão típico em mim… para o bem e para o mal. “One in a million? That’s me!”.

E prontos… assim foi. No passado dia 17, foi mais uma anestesia geral e depois de quase 3 horas de operação, já estava cá fora, à espera de melhores dias.

Depois de aberto, e só então, lá se descobriu que afinal tinha sido um osso. Um osso?!?!? Sim, um osso com 1 centímetro (não é propriamente despiciendo) que se libertou sabe-se lá de onde e se foi alojar no espaço onde antes estava a hérnia, estando agora a castigar o nervo já magoado que, coitado, entretanto desenvolveu uma fibrose que o relatório de alta classificou de “exuberante”. Nem aqui me safo da excentricidade que alguns me catalogam…

Desde então aqui estou, desta vez já sem dores, rezando e esperando que este upgrade tenha sido o definitivo. Receitaram-me, pelo menos, mais 1 mês de cama (a juntar ao mês e meio que já cá canta), com levantes muito curtos e períodos sentado nunca superiores a 15/20 minutos. Por mais que mudem os lençóis, por mais banhos que tome e pijaminhas lavados que vista… acho que já estou a ganhar musgo. Com esta cacimba gelada que vai caindo pela manhã, já só falta que me comecem a nascer cogumelos selvagens detrás das orelhas.

Tenho tantas saudades da minha vida… de ser independente, de poder ir para onde quero, fazer o que quero, às horas que quero sem ter de incomodar ninguém… poder conduzir (saudades!)… estrear a minha bichinha… correr, nadar, andar de bicicleta, caminhar… estar com a minha família… com os meus amigos, cozinhar… até trabalhar… Quero!

Alguns (breves apontamentos) sobre mais esta experiência:

1) Nestes dias tenho pensado imenso. Não há como não. E foi assim que descobri que acho que a doença é um mecanismo que foi inventado por quem inventou o mundo (seja Deus, Alá, Buda, ou ninguém… de acordo com a confissão) com o objectivo de nos trazer de volta à nossa mera humanidade, à condição de reles seres mortais. É sempre um banho de humildade. Quem está doente sente-se sempre diminuído, esquecido pela sorte, deixado para trás (por mais carinho que tenha à sua volta). Porquê eu?, pergunta-se. E isso traz-nos de volta à estaca zero. Limpa-nos de algumas ideias e conceitos, de algumas impurezas que se vão colando a nós (tantas vezes inconscientemente..) e nos conduzem a uma imagem errada de nós, dos outros e do que nos rodeia. Eu acredito que nada acontece por acaso e espero, sinceramente, sair daqui como uma pessoa melhor.

2) Quero fazer um agradecimento que será sempre especial para todos os que trataram de mim, muitos deles ao quais nem sequer vi o rosto, tão somente os olhos, mas que tanto me estimaram e acarinharam. Do enfermeiro benfiquista que me foi chamar para a operação com um “atão pá, mas ainda não te vestiste? Olha que o gajo já tem a motosserra ligada e está-se quase a acabar a gasolina!”, à enfermeira que me acordou de mansinho já no recobro, passando, claro está, pela médica responsável. BEM HAJAM! Eu sei que é o vosso serviço, mas os serviços têm muitas formas de serem feitos.

3) Eu sei, porque se passou comigo, que um dos grandes medos de quem é operado está relacionado com a operação em si, com a anestesia, com o momento em que a luz se apaga e a gente vai para sei lá onde… “E se eu não acordo? E se me dói? E se desperto durante a coisa? E se acordo dentro de um caixão? E se acordo com o Malkovich e o Clooney à briga por um punhado de cápsulas Nespresso numa nuvem à nossa frente? E se acordo num caixão? E se, pura e simplesmente, não acordo?”. O medo da morte, sempre ele... o medo do nada, do deixar de existir, do deixar de ser… Vou-vos ensinar uma coisa: não se preocupem. Apenas deixem-se ir. Que será, será…

Da outra vez, como vos contei, já devo ter ido drogadíssimo para o “banco de ensaio” porque toda a gente à minha volta só se ria com as tarequices que eu dizia. Desta vez não! Entrei completamente lúcido para a sala das operações. Até pude comprovar, deitadinho na maca, que naquele trajecto é mesmo tudo como dá na televisão, nas séries do costume. Só vemos as luzes do tecto a passar, os caixilhos das portas e um ou outro olhar complacente que se cruza com o nosso por um segundo. Estranhei a lucidez e comentei com um camarada que por ali andava a passear de bata: “Veja lá… não se estão a esquecer de mim? Não falta darem-me qualquer coisinha? É que eu, da outra vez, a esta altura do campeonato já estava bem “do lado lá” e hoje estou aqui fresquinho da Silva. Vejam lá… não me abram para aí a sangue frio, ãh?”. Nisto surge-me por cima da cabeça, só que ao contrário, um senhor muito educado e bem falante, que se apresentou dizendo o nome todo e me disse com ar de prestidigitador e voz de João Chaves (o tal do Oceano Pacífico): “Agora esteja calmo, muito calminho... porque eu vou-lhe dar uma coisa que o vai acalmar muitooooo…” e nisto, vejo uma máscara amarela vir em direcção a mim e à primeira sorvidela… marchei para Morfeu. Coisa poderosa, aquela! Ainda senti o ar, uma dormência a entrar por mim adentro mas no segundo seguinte já tinham passado 3 horas, já tínhamos espetado 4 “secos” nos espanhóis sem eu ter sequer ajudado, e já me estavam a acordar.

Não temam. Não temam mesmo. Seja o que for que esteja para vir… é um ar que nos dá. Custam mais as dores que se seguem, o sentirmo-nos mexidos por dentro, mas isso são outras conversas…

E as últimas palavras vão para:

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Os meus amigos, os meus leitores, quem me estima. Pelas visitas, pelos telefonemas, mails, sms, pensamentos e orações. Obrigado!

Os que me querem, os que me têm amado e amparado… a minha gente, a minha família, por me tomarem ao colo mais uma vez. Tenho poucas certezas mas uma delas, estou certo que bem certa será: sem vocês, nada seria.

E o último abraço vai para o meu primo Carlos que prontamente (mais uma vez…), se disponibilizou para abandonar tudo e ser meu chauffeur privado, e confidente nestes momentos sempre difíceis. Obrigado pela companhia, pelas conversas, pelos jornais e revistas que garantiste que nunca me faltassem, por tudo o que fizeste e te levou a que, por mim, estivesses longe no momento em que Deus chamou a tua mãe. Que esteja em descanso e em paz. A ti te digo que há favores que nunca se pagam.

A todos… um abraço!

Do vosso,

Tio Sabi

Cabeçalho especial comemorativo - Cimeira da Nato

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Na Casa dos (muitos) Segredos



Se eu vejo o “Big Brother” novo, aquele da “Casa dos Segredos"?

Mas é claro que sim! Claro que sim… isto é, calma… vejo… mas com moderação e de forma selectiva. O que é que eu quero dizer com isto? Para já não vejo desde o princípio, depois, nunca vi uma gala, não sei bem os nomes deles nem quantos saíram e, devo confessar, ainda não cheguei a perceber bem como é que funciona aquela cena do dinheiro e da revelação dos segredos e afins. Ah, também não dou atenção aos diários com o Granger e a outra piquena.

Mas a verdade é que de vez em quando, passo por lá. Quando não estou a ver nada de interesse ou quero a tv apenas como companhia de fundo… lá vou eu ao canal 10, em sinal aberto no Meo, 24 horas por dia.

E vou lá porque aquilo é interessante. Acreditem! Deve ser a coisa mais parecida com ter uma gaiola com hamsters, com o acréscimo de interesse de os animais aprisionados serem humanos como nós, por mais que isso nos custe, às vezes. Só a disponibilidade para a prostituição mental já serve para incomodar.

Quem conseguir transpor o filtro mental do ridículo e se dispuser a assistir, garanto-vos que muito poderá aprender sobre a forma como nos relacionamos. Há ali, naquela casa, muito do que vemos no nosso próprio dia-a-dia. Quem disser o contrário, mente! Afinal, são nossos similares. É um produto televisivo muito interessante dos pontos de vista sociológico, psicológico e até antropológico.

É certo que é um jogo mas para quem se dispuser a ler nas entrelinhas verá que há ali muita matéria-prima. Mesmo muita… Às vezes também vejo os debates em directo da Assembleia da República mas são muito menos entretidos e esclarecedores, por muito que eles tentem…

Há aqueles concorrentes com os quais simpatizamos de imediato (o jovem agricultor do Norte é um prato, claramente o novo Zé Maria, mas mais autêntico e verosímil. O outro fazia um pouco o “desgraçadinho”…), há aqueles com que antipatizamos, há gente divertida e gente muito interessante. Há ali histórias de vida complicadas e se nos esforçarmos um pouco… há ali muito substracto.

Perdeu-se a ingenuidade e a genuinidade da primeira edição, dos saudosos concorrentes que serviram de cobaias, mas depois de estalado o verniz… a essência vem toda ao de cima.

Ontem, a produção que os manipula como ratos de laboratório e os “esmifra” até ao tutano organizou uma festa e disponibilizou-lhes litros de álcool, o que geralmente lhes é vedado no economato. Claro que a rapaziada aproveitou e “encheu a cara”, quanto mais não fosse para ajudar a esquecer a condição de “passarinhos na gaiola”. A “voz” que os domina como se de marionetes se tratassem, pediu, às tantas da manhã, voluntários para um strip e a coisa deu para o torto.

Quando acordei hoje de manhã, liguei a televisão para ver como estavam os ares pela casa e percebi logo que tinha havido “arraia”. O ar estava pesado e um dos concorrentes andava de cama em cama a tentar perceber o que é que tinha acontecido, o que é que tinha feito na noite passada. Não se lembrava de nada!

Pelos vistos (isto porque ao escrever ainda não vi as imagens), esse concorrente, o Vítor, apanhou uma bubadeira de tal ordem que virou a casa “de pantanas”. Como a namorada se ofereceu para o strip, entrou numa cena de ciúmes de tal ordem que fez de tudo um pouco: despiu-se também, intimidou os outros concorrentes e culminou com uma lamentável cena de violência com a sua companheira onde não faltaram as agressões verbais e corporais, incluindo puxões de cabelos, empurrões e outros amassos que tais.

Isto, para cúmulo, no Dia Mundial da não violência contra as mulheres.

O concorrente Vítor, que confesso, desde sempre achei o mais frio, calculista e manipulador, não teve um acordar fácil. Tinha a casa e o mundo contra ele e nem se lembrava porquê!

Durante toda a manhã, estive coladíssimo ao ecrã. A forma como os concorrentes foram lidando com a situação (cada um à sua maneira e à luz das suas vivências e personalidades) e sobretudo, a absolutamente inacreditável remontada que o Vítor fez ao longo das horas seguintes foram dignas de registo e de serem televisionadas em horário nobre. A vida em directo e em tempo real. Não é isso a que se propõe o programa?

O pérfido concorrente (descobriu-se então que a cena entre ele e a namorada não foi inédita. Há um historial de violência e manipulação com anos…) foi reunindo a informação necessária e quando na posse da que achava suficiente, envolveu a vítima como uma pitão e foi-lhe dando um nó cego de tal ordem que em poucas horas a fez passar do estado “o que é que tu me foste fazer? Nunca mais te quero ver!”, ao estado “beijinhos e abraços, amor (dito por ela) perdoa ter-te prejudicado”. Ela a ele!

Percebi então porque é que muitas das senhoras que foram entrevistadas ontem nos noticiários por terem sido vítimas de violência doméstica repetida ao longo dos anos respondiam daquela forma quando lhe perguntavam : “mas se ele lhe batia, porque é que nunca o deixou?”. “Porque o amava. Porque ainda assim, o adorava.”

Lá canta o meu velho Bono… “love moves in mysterious ways…”

Fiquei a aguardar o desfecho do “episódio”. O elo mais fraco estava conquistado. Os outros concorrentes entretanto amotinaram-se no quarto ao lado onde, entre dentes, criticaram a súbita rendição e se revoltaram interiormente pela inércia, pela apatia, pela submissão.

Estou plenamente convicto que se “a voz” não se tivesse metido ao caminho, até ao final do dia, o Vítor teria dado a volta aos colegas, um por um, caso a caso, do mais fraco ao mais forte, amealhando apoios e firmando-se neles para ir avançando as tropas até à conquista final. Ele estava convicto do seu poder.

A “voz” decidiu então reuni-los na sala de estar e como era previsível e incontornável, expulsou o Vítor, condenando de forma veemente o seu comportamento da noite anterior, apesar dos avisos que lhe tinha ido fazendo.

O álcool é fodido. Uma mini gelada sabe muita bem. Um bom tinto eleva uma refeição à excelência. Um gin tónico para ajudar a digestão é receita sagrada. Quem é que não gosta? Mas quando se abusa e se perde o controlo, a coisa descamba e dá sempre maus resultados. O Vítor teve 5 minutos para abandonar a casa onde esteve voluntariamente aprisionado durante 47 dias, com a sua relação afectiva por um fio, (certamente) condenado por um país inteiro e sem sequer saber porquê!

Atordoado pelo que lhe aconteceu, não conseguiu responder de jeito a uma única pergunta da repórter que o aguardava à porta. Limitou-se a pedir perdão. Lá dentro, a “sua” Ana Isabel chorava como uma Madalena arrependida, inconsolável por se ver virtualmente viúva da noite para o dia.

Mal o culpado saiu e a porta se fechou, toda a tripulação reagiu e se uniu em torno da vítima, dando-lhe conselhos e precauções para a vida.

Em vão, digo eu. O ascendente que ele tem sobre ela é assombroso. Assim que sair, correrão para os braços um do outro, de onde nunca teriam saído por sua vontade. Admirável, não é? Isto com gente real, como nós. Ela é advogada e segundo me pude aperceber, tem planos para a vida. Não estamos a falar de indiscriminados ou inimputáveis.

No momento em que escrevo estas linhas, as pedras reajustam-se no xadrez. Os pretendentes que a ela se declararam já no decorrer no programa, rendem-se de novo à sua óbvia e incontestada beleza e tentam a sua sorte, aproveitando-se (inconscientemente?) da sua debilidade emocional. Uns ajudam a arrumar a mala com os pertences do seu “mal-aventurado” companheiro, outros, mais afoitos, passam-lhe a mão pelos longos e sedosos cabelos castanhos, tentando (fingindo?) apaziguar a sua dor.

Jogando num programa, como de resto todos fazemos (por mais que digamos o contrário…), na vida real.

Admirável, não é?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Via Sacra (Paixão e morte de Jesus)



Conforme escrito ontem, logo após o cataclismo.


Mais do que o meu clube, eu amo o futebol.

Nós, os verdadeiros adeptos, não ganhamos nada em concreto com as vitórias e os títulos. Não nos aumentam o vencimento, não nos sobem a gama do carro que temos estacionado na garagem, não nos constroem uma piscina naquele canto livre e sombrio do quintal. Não nos resolvem os problemas, não nos mitigam a dor.

Nós, os que amamos o futebol, o que verdadeiramente queremos é o frémito, a vibração. A jogada genial, o drible inventado naquele segundo, o corte impossível em cima da linha de golo, a defesa que desafia as leis da gravidade, a transição que sai perfeita como se tivesse sido traçada a “régua e esquadro”, o golão que nos dá a vitória no último segundo, quando o árbitro já morde o apito e enche os pulmões de ar para o assobio final. Nós queremos o Messi e o Ronaldo, o Mourinho e o Guardiola porque nos fazem sonhar… esquecer tudo o resto e acreditar que toda a vida se joga dentro daquele rectângulo sagrado. É esse o poder do futebol. É esse o fascínio que lhe confere uma dimensão religiosa à escala planetária.

Logo eu, que sou do tipo de adeptos que é bem capaz de saltar a grade e fintar os stewards só para abraçar, ali bem junto à bandeirola de canto, o craque que acabou de marcar. Arrisco a detenção e (já agora!) o cheiro a suor por aquele momento mágico de alegria. Nunca me emocionei pelos pontos conquistados mas ainda há dias fiquei de olhos rasos com uma cena assim, quando um dos “meus” correu para abraçar o “Chicharito” do Manchester depois do seu golo vitorioso ao cair do pano frente ao Stoke City. Com a adrenalina toda ao rubro, o jovem escorregou, caiu, mas até os seguranças, ao vê-lo bem intencionado, o deixaram ir abraçar o seu ídolo que o chamava de braços abertos junto à bancada. A cena de uma vida… para contar aos netos.

É por amar o jogo que sigo cada partida com emoção sempre renovada. É esse o motivo pelo qual acompanho todas as Ligas que posso (pagando uma fortuna pelos 3 canais da Sport Tv), é por isso que salvo raríssimas excepções, prefiro o jogo memorável do qual infelizmente saímos derrotados, à exibição vergonhosa na qual ganhámos 3 pontos pouco honrados.

É por amar o jogo que me custa tanto perder assim, como hoje… de braços caídos. Hoje, só houve uma equipa em campo com vontade de vencer e essa equipa não foi seguramente o Benfica. Perder por 3 golos “secos” com um clube de 2ª linha e ser assim escorraçado da Liga dos Campeões, da liga milionária, pela “porta do cavalo”… é mau demais para ser verdade.

O Benfica de hoje foi a namoradinha que era perfeita até à noite em que se embebedou na festa de Natal da nossa empresa e decidiu fazer um strip em cima da mesa de honra, frente ao Director-Geral. Um escândalo. Um vexame. Uma vergonha.

Jorge Jesus inaugurou a temporada a dizer que queria (e que sabia que podia!) ganhar a Liga dos Campeões. Estranhei a lisonja. Pagou cara a ousadia.

Também vaticinou que neste grupo alguma equipa haveria de “pendurar as botas” em Israel. Só lhe faltou dizer que os palhaços na fotografia eramos nós.

E bem me pode vir falar nos vinte e tal cantos, nas oportunidades de golo escandalosamente falhadas, na posse de bola… em todas essas desculpas de mau pagador. Foram 3, na pá, sem resposta e ponto final.

Tirando o Aimar, ninguém mais neste Benfica quis ganhar o jogo. A equipa não teve chama, não teve alma, não teve vontade de vencer. Pareciam autómatos desgovernados que perderam a ligação à central, entrando em curto-circuito, cada um esperneando para seu lado. Sem estratégia, sem orientação, sem querer…

A quantidade de passes falhados… de bolas passadas para trás… mastigadas entre a defesa… Parecia que tínhamos voltado ao tempo do Artur Jorge ou do Fernando Santos. Medo!
O Benfica de hoje foi um fantasma, uma alma-penada cuja lamentável figura assombrou as glórias do passado.

Este Benfica está a anoz-luz do Benfica campeão da época passada e não me venham dizer que é pela perda do Di Maria e do Ramirez. Eram jogadores fundamentais mas não tão cruciais assim. No meu entender, a grande diferença é mais do foro psicológico que do nível físico ou táctico. A equipa está triste, apática, distante… Há jogadores que se sentem “presos” por não terem podido voar mais alto (David Luiz é o caso mais emblemático, mas há também Cardozo e afins), há jogadores que perderam brilho e se banalizaram (Saviola…), há jogadores com manifesta falta de qualidade (Sidnei, Peixoto…), há jogadores que tardam em se afirmar (Jara e Gaitán), há jogadores com qualidade que estão claramente subaproveitados (Nuno Gomes e Wender) e há um Jorge Jesus que mete dó. Dó maior!

Eu já nem critico o homem pelas suas sempre mirabolantes invenções como esta hoje de ter deixado apeado no banco um Martins super-motivado pelo nível exibicional demonstrado na selecção, leia-se papel fulcral na “cabazada” frente à Espanha. Jesus envelheceu 100 anos em 10 meses!!! Nem parece o “nosso” Jesus do ano passado… enérgico, combativo, esfuziante, que fazia disputar cada lance e cada jogo até ao fim. Uma sombra do que era… Será hoje a antítese perfeita de Mourinho. Aquele faz dos jogadores autênticos gladiadores que o seguem fielmente até ao infinito, se tal fosse preciso. Este parece que está a fazer um frete, um sacrifício por ali estar.

Eu não sei o que se passou para que tal sucedesse, mas que está mal… disso ninguém duvida.

Isto bem pensado… foram 5 com o Porto que já nos levam 10 pontos… (Sejamos realistas: o campeonato ardeu!) A Champions já foi… Coentrão e David Luiz vão em Janeiro mas antes disso, a jogar assim, o mais certo é o Braga meter-nos já no dia 12 a ver o Jamor por um canudo. Isto está belíssimo…

Eu, se fosse o Rui Costa, se fosse o Presidente… começava já a fazer contas de cabeça… e não demoraria muito a tocar os sinos a rebate.

PS: Dica de boca para os lagartos: “vocês estão tão mal que nem em Israel, Jesus vos salva!”

Dassssssss…

Quem é amigo? Quem é?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A mãe de todas as greves

Digam lá se não fico bem como revolucionário... Ai não repararam? Atentai... Onde está o Sabi?
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“Portugal não é um país, é um sítio.
Ainda por cima… mal frequentado.”
Eça de Queiroz



A mãe de todas as greves
Por Pedro Sobreiro
Aprendiz de poeta popular
Lírico, boémio e personagem de banda desenhada


Nota do autor: este projecto de poema deve ser lido imitando a voz e a entoação do Manel Alegre, porque senão não resulta. De preferência, deve ser lido de olhos fechados, para enfatizar a emoção. Sim... eu sei que deve ser difícil ler de olhos fechados mas se não tentarem... nunca saberão se conseguem!


Nesta manhã… nem o sol,
Quis trabalhar, é normal…
Afinal hoje é o dia,
Da tão esperada greve geral!

Páram barcos e comboios,
Páram metro e aviões,
Não saem os autocarros,
Não há quaisquer opções.

Páram todos os serviços,
Páram escolas e hospitais,
E até mesmo as morgues,
Não aceitam funerais.

Páram finanças e conservatórias,
Cartórios e tribunais,
Pára a Segurança Social,
Manicómios e outros que tais.

Até as centrais sindicais,
Decidiram dar as mãos,
Meter de lado as divergências,
Trabalharem em cooperação.

O país está fartinho,
Do governo que tanto tem roubado,
Que nos vai ao bolso a toda a hora,
Que deixa o povo empenhado.

O Sócrates tira as reformas,
Corta subsídios e o ordenado,
“Pinta-nos” o “nosso” ao fim do mês,
E até o pouco que temos de lado.

Andamos muito descontentes,
Com toda esta situação,
Por isso gritamos bem alto,
E em coro dizemos que “não!”

O país está na última,
Endividado, sem solução,
Está sem rumo e sem futuro,
Está com as calças na mão.

Na tardará muito e a Europa,
A Merkel ou o FMI,
Virão puxar-nos as orelhas,
Tentar tirar-nos daqui. (Onde estamos há quase 10 séculos...)

Por tudo isto eu concordo,
Com os outros camaradas,
Que dão o corpo ao manifesto,
Que lutam com bandeiras desfraldadas.

Como estou doentinho,
Nesta cama aprisionado,
Decidi juntar-me a eles,
Fazendo um protesto adaptado.

Vou fazer greve de fome,
Hoje não me irei alimentar,
Nada comerei em todo o dia,
Excepto ao almoço e ao jantar.
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Vou dispensar os remédios,
Vejam bem como me sinto…
Decidi trocar os comprimidos,
Por uns “martelos” do tinto.

Por cada antibiótico,
Mamarei dois ou três,
E por cada supositório,
Um jarro de cada vez.

Oxalá o protesto ajude,
O Governo a pensar melhor,
A respeitar mais quem trabalha,
Quem tem brio e valor.

Em vez de defenderem,
Os “barões” que os financiam, (Com aeroportos, TGVs e afins…)
Que pensem mais no dia-a-dia,
Das famílias que atrofiam.

Camaradas, o dia é de luta,
Uma luta sem igual,
Viva a greve, viva a gente,
Viva o nosso Portugal!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um coro chamado Vega



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E uma versão de “Creep” dos Radiohead que tem tanto de angelical como de arrepiante… (descoberta no visionamento de “A Rede Social – The social network”, de David Fincher).

Site:
Facebook:
http://pt-pt.facebook.com/pages/Vega-Choir/117616228293625

Não tão magníficos mas igualmente surpreendentes:

“Fix you” dos Coldplay aqui:

“Come as you are”, Nirvana:
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Nota: O cd saiu no mês passado e está disponível no itunes.

Blindados e... cegos!


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Este cavalheiro da foto, nosso ilustre ministro da administração interna, foi o protagonista principal do caso dos blindados da cimeira da Nato que serviu bem para espelhar o desnorte completo de quem nos governa e o estado deplorável a que chegámos como país.

E atenção que isto não é a gente a falar. É a mais pura das verdades.

De forma que o sujeito este achou que era impreterível que a PSP contasse nos seus dispositivos com 6 (logo 6!) viaturas blindadas para poder enfrentar eventuais distúrbios de maior monta durante a cimeira, e assim, garantir a total segurança das estrelas do mundo político que no passado fim-de-semana aterraram por cá.

Como o tempo era escasso, cortou-se a direito, arrepiando caminho através de um ajuste directo que teve tanto de irrazoável quanto de disparatado e até, diria mesmo, de ilegal. O país poder-lhe-ia responder: “ faz o que eu digo… não faças o que eu faço…”

O atabalhoamento e a falta de planeamento foram de tal ordem que a cimeira começou, decorreu e terminou (!!!) sem que se vislumbrasse sequer sinal dos imprescindíveis blindados. O primeiro chegou dias depois…

Isto num país em que cada cêntimo conta e sempre que faz falta mais receita não há pejo em carregar nos impostos que mais asfixiam (IVA, sobretudo para as classes mais desfavorecidas), se retiram regalias adquiridas de forma indiscriminada (reformas), se corta definitivamente nos salários já conquistados…

Uma vergonha! Uma autêntica vergonha!

Feita a asneira, ainda poderia haver alguma sensatez, alguma dignidade, um sinal de respeito pelos portugueses, que não somos propriamente parvos. Mas não! Questionado sobre o erro de casting, o Sr. Ministro foi lesto a “sacudir a água do capote” dizendo que deveria ser a PSP a explicar o assunto. É óbvio que a oportuna resposta do porta-voz da polícia não podia ter sido outra: “os blindados são para nós mas não fomos nós que decidimos a aquisição, não fomos nós que a operacionalizamos, não podemos ser nós a responder.” Elementar!
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Questionado sobre a “novela”, o ministro escusou-se a mais explicações e disse que só falaria sobre o evento onde se encontrava. Se puderem, não percam hoje em qualquer noticiário, essas hilariantes declarações onde repete umas 6 ou 7 vezes a mesma frase aos jornalistas: “só falo sobre o evento em que me encontro”, ou coisa que o valha. Parece um brinquedo da loja do chinês!

Onde é que está a responsabilização dos órgãos públicos pela delapidação do património que é de todos nós, contribuintes?

Se eu mandasse… haveriam de os pagar bem caro! Nem que fosse com trabalhos forçados!


PS: Onde se poderiam juntar aos dos submarinos que isto é transversal ao espectro político. M…. desta tanto há à esquerda como à direita!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Alá esteja convosco!


Nota introdutória: este post foi escrito antes das últimas evoluções clínicas que me levaram, de novo, à sala de operações. Já passou! Disso darei notícias em breve, quando estiver melhor. Agora não consigo. De todo… Até lá.)
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S. A. A. 16.10.2010


Estive a pensar em cenas engraçadas para fazer durante este fim-de-semana em Lisboa.

Um gajo aqui refém dos lençóis… é natural que comece a pensar em dicas fixes, sobretudo para a malta que está aborrecida na capital durante a cimeira da NATO, num fim-de-semana em que parece que o mundo inteiro se mudou para ali.

Só o Obama parece que traz 900 black panthers na comitiva para o acompanhar. 900?!?! Dass…

Uma brincadeira engraçada deve ser um gajo disfarçar-se de Bin Laden e tentar ultrapassar o maior número de bloqueios policiais possíveis. Uma cena ao estilo olímpico: “1.000 metros barreiras terroristas”. É óbvio que não podia sair logo assim vestido de casa. O mais certo era ser caçado no metro. Mas o disfarce cabe numa mochila qualquer, por mais pequena que seja. Um lençol creme para fazer de túnica, umas barbas piratas do Carnaval, um turbante a euro e meio do Martim Moniz, tudo bem embrulhadinho… cabia. Depois… quando no Parque das Nações, era só baixar-se junto a um carro qualquer (o tempo das cabines telefónicas do Super-Homem já lá vai), mudar-se num instante e depois… dar corda aos sapatos! O mais certo era ser baleado por um tótó qualquer com menos sentido de humor mas lá está… é o que eu chamo um dano colateral. Viver sem risco deve ser bem mais triste. Ainda assim, podia ser que a bala não atingisse um órgão vital e sempre dava para brincar mais noutras vezes.

Outra cena engraçada era um tipo envolver o tronco nú num cinto feito à base de tonners velhos, daqueles pretos e cilíndricos, todos unidos por fita cola, com uma cordinha vermelha na ponta, a fazer de bombas. Vestir só um gabardine castanha, calçar umas botas pretas (de preferência de bico e com um fecho de lado), meter uns Raybantes da loja dos 300, e dirigir-se à primeira barreira policial. Lá chegado, era só abrir a dita cuja e começar a gritar coisas estranhas em árabe inventado do tipo : “Aselekamum ma há le braleli Alá, malekam, masiriritem Alá… (convém sempre repetir Alás com fartura e se se disser Bin Laden pelo meio, deve ser a arraia total). Claro que depois disto, de uma carga de porrada, pelo menos, ninguém se livrava mas para a malta que deve de estar fartinha de passar os fins-de-semana a cirandar nos centros comerciais sempre é uma coisa diferente.

Depois há outros cenários mais elaborados, também com muita pinta, mas mais arriscados e dispendiosos. Um gajo comprar um presente da empresa “A vida é bela”, dos que dão direito a um salto de pára-quedas a ser feito nesse dia na zona de Lisboa e mandar-se da avioneta quando sobrevoasse o Pavilhão Atlântico a muitos mil pés de altura, com uma bandeira verde com dizeres arábicos, é aventura de alto gabarito.

Um chaço todo escavacado com música árabe em altos berros rebolando a alta velocidade contras barreiras também deve ser coisa de meter graça. Se mais amigos alinhassem, até podiam tentar a invasão por diversas avenidas. Ganhava quem derrubasse mais.

Um helicóptero de miniatura telecomandado, ornamentado com uma bandeira do Afeganistão a fazer raides à porta da FIL… (esta é do meu primo Carlos… bem esgalhada!)

Enfim… são ideias… outras mais engraçadas haverá eventualmente. Era uma questão de puxar pela cabeça.

Pelo menos ia ser divertido de ver nas notícias e não se magoava ninguém a não ser (talvez) os próprios. É que eu estou tão fartinho dos mesmos telejornais… todos tão iguais em todos os canais… sempre a falar na crise…

Pedro Sobreiro


37 anos

Acamado há 4 semanas e já com óbvios sinais de aborrecimento (a insanidade já era anterior à hérnia. Não tem nada a ver.)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quando os sonhos se fazem de verdade

Sabem como cantava o Santana: "Got a black magic woman..."


Há sonhos…. que de tão sonhados… têm mesmo de se tornar realidade.

Toda a minha vida sonhei ter uma Vespa. Toda a minha vida. Tooooodinha a minha vida mesmo.

Quando comecei a andar de mota, na mota da minha madrinha, com 13 ou 14 anos, pela mão do meu pai e às escondidas da Guarda, já eu sonhava com uma Vespa… como aquela azul bebé de um senhor de Castelo de Vide, ou como uma amarelinha de um velhote dos Barretos que via de vez em quando lá na Beirã.

Sempre que via uma a passar na rua, num filme, numa revista… suspirava.

Sempre quis ter uma Vespa e a conversou surgiu há uns anos com o meu amigo Serrano, numa das nossas reuniões anuais de quintos, quando soube que ele tinha uma cena de motas lá para Elvas. “Fica descansado, Sabi… quando eu tiver lá uma cena à maneira em segunda mão, eu oriento-te isso…”

O tempo foi passando, houve algumas propostas que não se concretizaram por motivos diversos, até que há dias me ligou, estava eu acamado no hospital, precisamente no dia a seguir à operação. Disse-me que a oportunidade era única… semi-nova, 2 aninhos apenas, de garagem… 5 mil quilómetros, preço de saldo...

Fiquei de lhe ligar de volta. Pensei, pesei os prós e os contras e liguei-lhe depois, a agradecer ter-se lembrado de mim, mas que não…

Os hospitais são sítios lixados porque a gente tem imenso tempo para pensar. O local presta-se a isso. E eu não sei bem se foi por ali me encontrar, ou por circunstância das circunstâncias da vida, decidi, mentalmente, não desistir do negócio.

Os sonhos das noites seguintes foram, literalmente (juro!), passados a andar de mota. De Vespa! Claro! Eu no campo, na cidade, na praia, na montanha, acompanhado de amigos, da família, sempre rodando, não a muita velocidade (que a máquina em questão não se presta muito a isso…) mas com enorme estilo.

Não resisti e dias depois liguei-lhe a perguntar se o negócio ainda estava disponível. Arrematei-a no momento.

Chegou ontem e… para mal dos meus pecados, nada mais posso fazer que olhar para ela e admirá-la com paixão. O pós-operatório não tem corrido com eu esperava e não pude assim subir Marvão nela para juntos brindarmos com um caneco de tinto e um saco de castanhas à sua saúde.

Ficará, se Deus quiser, para uma próxima mas, da garagem, já ninguém ma tira!

E eu posso dizer: HELL YEAH! I’M A VESPINO NOW!!!!!!!

Como eu conto os segundos para lhe meter as patinhas em cima…


Ps: Este post é dedicado a todos (vocês sabem quem são…) os que também sonham um dia poder rodar numa bichinha destas. Acreditem. Acreditem sempre porque acreditando… de certeza que vão conseguir. Entretanto… o capacete do pendura vai sempre de baixo do banco para no caso de apanhar um amigo ou amiga apeado(a). Wanna a ride?






Negócio fechado! Com direito a óculos de aviador de oferta.
Serrano, my man! Tu és o melhor vendedor de motas... da galáxia!
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E em homenagem...
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A minha bichinha... companheira de tantas, tantas horas... tantos milhares... sim! milhares de quilómetros... Como é que eu poderia ter namorado tanto sem ela? Vai finalmente poder gozar a sua merecida reforma. Ficará sempre disponível para as ocasiões especiais e está-lhe prometido um lifting numa casa da especialidade para pintura, retoques e manutenção. É uma jóia de família, com 37 aninhos e eu quero-a a brilhar como no dia em que saiu da Macal. Afinal, é a única coisa que eu tenho na vida com um selo de fábrica a dizer: Tipo - Luxo. Amo de paixão!

sábado, 13 de novembro de 2010

Excentricidades... em tempo de vacas magras




A edição do Expresso desta semana vem acompanhada, a título de oferta, de um catálogo com a programação da Casa da Música para 2011. Trata-se de uma obra com mais de 320 páginas, sim, 320! páginas, nas quais são detalhadamente explicados os espectáculos que ali decorrerão no próximo ano.

Folheando o “objecto” em causa, analisando a qualidade do papel, o cuidado gráfico, a minúcia e o rigor, assalta-me de imediato a questão sobre quanto terá eventualmente custado este calhamaço a que muitos darão provavelmente o mesmo destino que eu: o caixote do lixo, ou melhor, o caixotinho azul da reciclagem, não vá eu ofender as puristas cá da casa. Direitinho para o lixo!

Ora para que é que eu, que vivo a centenas de quilómetros do Porto, preciso da coisa esta?

E ainda assim, perdoem-me a imodéstia, não me considero um indiferenciado. Sou um apaixonado pela cultura em geral. Adoro cinema; música; jornais, revistas e livros; adoro pintura, teatro, fotografia e dança, passo horas a ver televisão, adoro computadores, tecnologias e internet, adoro viajar e conhecer pessoas e até tenho hábito de ir a concertos, seja por aqui em Portalegre ou mesmo em Lisboa, quando alguma das minhas bandas favoritas me convence a fazer quase 500 quilómetros e a ter uma despesa extra. Eu até poderia ser um potencial leitor para este obsequio do meu semanário de eleição. Mas não sou.

Eu sei que a Casa da Música tem mecenas. Eu sei que conta com o BPI, com a Sonae, com a Fundação EDP, a Axa, a Fundação Galp Energia, a Unicer, o Grupo Amorim, a American Express… tem as costas quentes com toda esta malta endinheirada… mas convém não esquecer que o apoio institucional é do Ministério da Cultura (nós!) e o apoio à divulgação é da Câmara do Porto (nós!).

Eu sei que há ali co-financiamentos do QREN, do Programa Operacional Regional do Norte, enfim… de fundos europeus, mas a pergunta que me faço e que se impõe é só uma:

Num tempo destes… nestes tempos tão duros e escuros… fará sentido gastar rios de dinheiro numa programação tão vasta para uma minoria tão minoritária e sobretudo FARÁ SENTIDO ESTURRAR DINHEIRO A FAZER UMA “LISTA TELEFÓNICA DESTAS” destinada a ir direitinha pró caralho?!?!?

Quem quiser ir à Casa da Música há-de arranjar forma de saber quem por lá está. Não poderia este dinheiro ser empregue em coisas mais úteis, em ajudar quem verdadeiramente precisa?

E há tanta gente a precisar…

Os 300 da Groundforce de Faro, cobardemente despedidos por e-mail; os da água do Alardo… os tantos milhares por esse país fora que vivem com a corda no pescoço e engrossam, a cada dia que passa, a lista negra do desemprego não devem de achar muita piada a este tipo de excentricidades.

E se houver quem me chame demagogo… que experimente a passar aqui por baixo da minha janela que vão ver a pontaria que tenho mesmo com um livro de meio quilo…
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PS1: O Expresso teve uma tiragem média semanal no mês de Outubro de 33.750 exemplares.
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PS2: Na edição desta semana vem uma reportagem sobre uma família que decidiu abdicar da luz eléctrica, porque a água e o gás lhe são essenciais para fazer as refeições que alimentam os filhos.

O princepezinho



Ou muito me engano, ou ainda vamos ouvir falar muito deste rapazinho… durante muitos anos…

E ainda por cima é um gentleman e eu adoro ver um homem com classe. Viram-no sair em defesa de Jorge Jesus?

Vai longe. Ai vai, vai…

Ora leiam, leiam que vale a pena...
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In Jornal de Notícias 12.10.2010
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André Villas-Boas é muito mais do que o treinador do FC Porto. É o técnico da moda do futebol português. Começou a carreira na adolescência, quando teve a ousadia de abordar Bobby Robson. Depois, conquistou José Mourinho e, pelo meio, orientou a selecção das ilhas Virgens Britânicas. O rapaz que fazia relatórios é um dos responsáveis pelo sucesso dos dragões.

Um dia encheu-se de coragem e resolveu abordar o treinador do FC Porto. Não percebia por que razão Domingos Paciência estava quase sempre destinado a ser opção no banco de suplentes, um desperdício, tratando-se de um avançado tão talentoso. Era vizinho de Sir Bobby Robson e mostrou a ousadia que também agora o distingue no futebol. À custa de um inglês perfeito, perguntou-lhe por que motivo o seu ídolo não tinha espaço na equipa titular e estava confinado a viver na sombra. Debateu as questões tácticas, o posicionamento dos jogadores, dissecou as opções técnicas e o então treinador portista ficou impressionado com a irreverência e os conhecimentos daquele adolescente de cabelo ruivo. Que era seu vizinho.

Esse rapaz chama-se André Villas-Boas. Agora, é o treinador da moda do campeonato português e o mais jovem contratado pelo presidente Pinto da Costa. É um principezinho, tem sangue nobre, sucesso e um futuro risonho. Mas mal sabia que essa pequena conversa iria abrir-lhe as portas do futebol. Quase por magia. Seguiram-se outras abordagens e trocas de ideias que mostravam alguém de opiniões seguras e maduras, que devorava futebol e tinha uma sede infinita de conhecimento. O treinador inglês andou a matutar na sabedoria daquele miúdo de 17 anos e deu-lhe a mão. Sem hesitar.

O primeiro passo foi aconselhá-lo a ir para Inglaterra, onde tirou o curso de treinador e sedimentou as bases de um saber científico e sustentado. Começou por ir para Lilleshall, um reputado centro de treinos, onde aprendeu as primeiras letras do abecedário da modalidade. Mas aí deparou-se com um problema: como era menor de idade não podia inscrever-se como aluno. Nada que Robson não resolvesse e bastou uma conversa com o amigo Charles Hughes, o director da academia, para a questão ser contornada. Seguiu-se um estágio no Ipswich Town, com George Burley, e uma passagem pela academia de Largs, na Escócia, para completar a formação de um treinador que foi precoce em quase tudo. Até na formação académica.

Mas a mão amiga de Bobby Robson também se estendeu em direcção ao FC Porto, o clube que André Villas-Boas aprendeu a admirar desde os tempos de criança, o mais representativo da cidade onde nasceu há 33 anos. Foi o técnico inglês quem deu o empurrão definitivo para o rapaz passar a colaborar nas camadas jovens e vencesse mais uma etapa do crescimento profissional. Foi aí que travou conhecimento com um conjunto de treinadores mais velhos e pôde constatar o que era o trabalho de campo na qualidade de assistente. Percorreu vários escalões, sempre com os olhos bem abertos e os ouvidos afinados.

Nessa altura, o culto pelo futebol também passava por estar em casa com o computador à frente. Perdia horas a jogar o Championship Manager, um simulador no qual os utilizadores gerem uma equipa profissional como se fossem treinadores a sério. Também assinava várias revistas estrangeiras que lhe permitiam saber o nome de muitos futebolistas e a composição de vários plantéis. Tinha uma sede de conhecimento notável, era o primeiro a querer melhorar e mostrava uma dedicação extrema em todos papéis que lhe eram confiados. O que não passava despercebido. A ninguém.

Aí, já vincava os traços que fazem dele um treinador próximo dos jogadores, quase um amigo e um confidente, alguém capaz de se divertir quando o ambiente é descontraído ou duro quando as circunstâncias assim o exigem. «Há um episódio de que não me esqueço. Quando fomos campeões nacionais de juvenis, em 1996/97, o André era adjunto do professor Ilídio Vale e os jogadores foram todos curtir para a noite. Ele andou connosco como se fosse um de nós. Era muito próximo da equipa», conta Manuel José, jogador do Paços de Ferreira. Há 13 anos era um dos futebolistas mais promissores dessa equipa e contactou de perto com aquele rapaz de olhar atento. De uma extrema competência.

Mas André Villas-Boas sempre foi um aventureiro, tinha a coragem para protagonizar as decisões mais arrojadas e inesperadas. Desde sempre alimentou o sonho de ser treinador principal e quando tinha 23 anos viu um anúncio num site da internet que lhe parecia ser interessante. Em 2000, havia uma selecção que precisava de um jovem técnico e qualificado, com um salário em conta, alguém que mostrasse uma ambição desmedida para trabalhar nos escalões de base. Viu o pedido, mandou o currículo por e-mail, fez uma entrevista e foi aceite. Foi assim que assumiu as rédeas da selecção das ilhas Virgens Britânicas. Num abrir e fechar de olhos.

Mais uma vez, o velho amigo Bobby Robson foi importante. «Deu-nos boas referências e isso ajudou. Também se mostrou mais interessado na oportunidade que tinha para trabalhar como treinador do que no dinheiro que tínhamos para lhe oferecer», conta Kenrick Grant, na altura o presidente da Federação de Futebol daquele minúsculo país no mar das Caraíbas. Aos poucos, começou a mostrar o seu talento, um sentido de organização notável e as funções que exercia passaram a ser redutoras para quem tinha horizontes largos: «Era muito bom a criar manuais de treino no computador. Criou métodos específicos para todos os treinadores das camadas jovens. Também era estupendo na observação, a detectar os pontos fortes e fracos dos adversários. Por isso, demos-lhe o cargo de director técnico para que orientasse todos os escalões.»

Em termos desportivos, a qualificação para o Mundial 2002 acabaria por ser a imagem de uma selecção débil e que se encontrava na cauda do ranking da FIFA. Averbou duas derrotas diante das Bermudas (5-1, em casa; 9-0 fora). Nada que perturbasse uma carreira ascendente. Durante os 18 meses em que viveu nas Caraíbas nunca perdeu os laços de amizade com os responsáveis do FC Porto e enviava-lhes postais a ilustrar as belas paisagens marítimas. Só quando regressou a Portugal, aí sim, teve a coragem de revelar a idade. Porque nas ilhas Virgens Britânicas todos pensavam que fosse mais velho. «Sempre se mostrou interessado em um dia vir a treinar o FC Porto», conta Kenrick Grant.

André Villas-Boas voltava à casa de partida e encontrava um clube diferente do actual. Sem a chama das vitórias. No início da década, os dragões desesperavam por vencer o título de campeão e procuravam um treinador capaz de colocá-los na rota do sucesso. É nesse contexto que José Mourinho é contratado à União de Leiria no decorrer da época de 2001/02, um rosto emergente do futebol português que tinha como missão germinar novos hábitos de vitória. Logo aí abriu-se uma janela de oportunidade para o rapaz. Quando o novo treinador precisava de um observador, um perito capaz de desmontar a forma de jogar dos adversários, houve alguém que lhe falou em André Villas-Boas. O nome não lhe era estranho, conhecia-o dos tempos em que o agora treinador do Real Madrid era adjunto de Bobby Robson. Quando o tal adolescente de cabelo ruivo cativava quem o ouvia falar sobre futebol. E aceitou-o.

Em 2003, começou a ser «os olhos e os ouvidos» de José Mourinho (a expressão é do próprio Special One), quando era preciso estendê-los em direcção aos adversários para detectar os pontos fortes e as fragilidades. Foi assim que começaram a ser feitos os famosos relatórios que dissecavam a forma de jogar de quem se cruzava no caminho do FC Porto. Nada passava despercebido. Fosse o comportamento das equipas em campo, a postura ou os movimentos específicos dos jogadores, fossem as questões tácticas ou os posicionamentos, todos os pormenores eram analisados e trabalhados pelo jovem aspirante a treinador.

Antes de cada jogo, cada futebolista recebia um minucioso relatório sobre as características do marcador directo ou de quem tinha de perseguir dentro do campo. «Eram dossiers muito detalhados e ficávamos a saber tudo sobre os nossos adversários. Raramente éramos surpreendidos e já se notava que estávamos na presença de alguém que sabia muito de futebol», revela Ricardo Costa, defesa do Valência, um dos jogadores que estiveram na caminhada sensacional dos dragões quando conquistaram a Taça UEFA (2002/03) e a Liga dos Campeões (2003/04).

Além disso, André Villas-Boas também tinha outras preocupações e transmitia um pouco do seu conhecimento no contacto pessoal com os atletas: «Antes dos jogos grandes conversava com alguns de nós, depois dos treinos, e chamava-nos a atenção para determinados aspectos deste ou daquele adversário.» Eram essas as características de quem fazia do rigor uma máxima de vida, um discípulo que soube beber todos os ensinamentos do mestre, mas que nunca se deu por satisfeito. Nem rendido. Quis sempre saber mais. E em 2003, aos 26 anos, tirou o nível máximo do curso de treinadores na Escócia.

Depois do sucesso estrondoso no FC Porto, Mourinho ganhou dimensão internacional e despertou a cobiça de vários clubes europeus de nomeada. No Verão de 2004 foi apresentado no Chelsea. E não foi sozinho. André Villas-Boas também se mudou para Inglaterra, onde continuou a passar uma infinidade de tempo nos estádios adversários e no gabinete, a trabalhar a informação mais preciosa para ser entregue aos jogadores. Um desses relatórios de observação chegou a ser tornado público e maravilhou os entendidos pela forma como a equipa do Newcastle era decomposta. Literalmente, ao pormenor.

Em 2008, seguiu-se uma aventura em Itália. No FC Porto, no Chelsea e no Inter de Milão, teve a oportunidade de desmontar a forma de jogar das melhores equipas do mundo e isso deu-lhe uma grande bagagem do ponto de vista táctico. Ao mesmo tempo, foi absorvendo os ensinamentos de José Mourinho e traçando as suas ideias. Amassou um registo próprio e uma identidade bem definida daquilo que seria um estilo de jogo. O seu conceito de futebol aliado à velha ambição de ser treinador principal, um líder capaz de se impor pelo seu pensamento. Porque não queria ser adjunto por muito mais tempo.

Um ano depois de ter chegado ao futebol italiano, mudou-se para Portugal, para desagrado do mestre. E para treinar a Académica. A 14 de Outubro de 2009, foi apresentado como treinador da equipa de Coimbra, mergulhada no último lugar da tabela classificativa, agoniada e desacreditada perante o país desportivo. Era uma aposta de risco para um jovem de 31 anos e sem experiência de banco. Se falhasse, a sua carreira estaria hipotecada; se vencesse, outras portas se abririam. Mas os dirigentes estavam seguros da pérola que tinham nas mãos e apresentaram-lhe um contrato de duas épocas com uma cláusula de rescisão de quinhentos mil euros. Nada mau. Porque sabiam que nos últimos meses, o seu nome já tinha estado associado a outros clubes mais bem cotados.

Estreou-se no campeonato português à oitava jornada. E com uma derrota. Ironia das ironias, no terreno do FC Porto (3-2), o clube do seu coração. Mas logo ali se percebeu que algo iria mudar no futebol da Briosa: a equipa jogou mais confiante, muito compacta e sem descurar o sentido estético do jogo. Fez o adversário sofrer, sempre à procura do melhor resultado, sem se inibir ou baixar a cabeça. Seguiu-se uma recuperação notável, à custa de trinta pontos em 23 jogos e com o 11.º lugar na classificação final. Era o reflexo de um futebol sedutor e sem fixações defensivas. Sempre à procura do espectáculo, virado para a baliza adversária.

No início da caminhada, André Villas-Boas procurou distanciar-se das comparações feitas em relação a José Mourinho, mas os jogadores são os primeiros a reconhecer que mantém a mesma relação de empatia junto do plantel. «É um treinador que tem um grande coração», conta Jonatham Bru, ex-futebolista da Académica, que revela o lado humano de quem que não olha a meios para fazer o grupo feliz: «No Natal do ano passado, tinha pedido dez camisolas para oferecer aos meus amigos. Mas o clube enganou-se e entregou-me 30. Disse-lhes que não podia pagar tudo de uma vez. O mister ouviu a conversa e pagou metade.»

Mas houve mais manifestações de generosidade que cativavam o grupo e criavam fortes laços de solidariedade. Esse é um dos seus segredos, a forma como a barreira entre os jogadores e o treinador é cortada, mas sem colocar em causa os princípios da disciplina e da liderança. «Parece um homem duro, mas não é. É justo, é um amigo e trata toda a gente da mesma maneira. Quem joga ou fica no banco, todos lhe merecem o mesmo respeito e isso traz muita confiança. Quando o plantel jantava junto, fazia questão de ser ele a pagar a conta do restaurante», recorda o agora jogador da Oliveirense. À custa disso, levou muitos rombos no cartão de crédito.

Aos poucos, André Villas-Boas passou a estar nas bocas do futebol português e a merecer a atenção de outros clubes mais capazes. Foi apontado como hipótese para o Huelva (Espanha), esteve na mira do Sporting por duas vezes, numa delas chegou a dizer que tudo não passava de uma «palhaçada», mas resistiu à tentação e continuou na Académica. Não por muito tempo. No fundo, esperou pelo momento certo. Enquanto se pensava que Paulo Bento seria o sucessor de Jesualdo Ferreira no FC Porto, Pinto da Costa trabalhou pela calada e escolheu o antigo discípulo de Bobby Robson e de José Mourinho. Do namoro ao casamento foi um pequeno passo. E acabou por se despedir dos jogadores da Académica por SMS. Com as emoções à flor da pele.

A 4 de Junho de 2010, apenas com 23 jogos na Liga e um bilhete de identidade a mostrar a verdura dos 32 anos, foi apresentado no Estádio do Dragão como treinador do FC Porto. Cumpria um velho sonho de criança: ser o técnico da equipa que mais admira. Logo aí, perante o aparato mediático, as comparações com José Mourinho foram inevitáveis, mas procurou distanciar-se do mestre. O tempo todo. À custa de um discurso inteligente e mordaz. Não prometeu títulos, apenas disse que assumia «um compromisso com a vitória». Não deixou que fizessem dele uma imitação do Special One, pela postura no banco, pela irreverência ou pelos métodos de treino, apenas disse que era «mais clone de Robson do que de Mourinho». E porquê? «Tenho ascendência inglesa, o nariz grande e gosto de beber vinho.» Mais tarde, foi mais a fundo: «Não temos o mesmo carácter, a mesma personalidade e temos formas diferentes de comunicar e trabalhar.»

No FC Porto, André Villas-Boas começou por ser uma pequena brisa que se transformou numa lufada de ar fresco. Percebeu-se logo nos treinos da pré-época, nos quais nunca repetia o mesmo exercício, exigia uma rápida circulação de bola e impunha uma nova mentalidade ganhadora. «Os treinos são sempre diferentes e isso motiva os jogadores que não sabem o que vão encontrar quando chegam ao relvado. Mas o que mais me impressiona é a seriedade no trabalho. Quando é para brincar, brinca; quando é para exigir, exige. Nos treinos é como nos jogos, não pára de dar indicações, não pára de gritar. É muito exigente», diz Miguel Lopes, lateral portista emprestado ao Bétis.

Mesmo assim, muitas dúvidas se levantaram em relação à escolha do presidente Pinto da Costa. Viram-no como um treinador imaturo, sem o arcaboiço necessário para conduzir uma equipa da grandeza do FC Porto. Até José Mourinho se mostrou surpreendido por ver o antigo discípulo à frente do comando técnico dos dragões. Nada que o abalasse. A primeira prova de fogo foi superada com nota elevada: vitória contundente sobre o Benfica (2-0), na Supertaça, o seu primeiro troféu como treinador principal. E a mostrar uma equipa diferente, a jogar à FC Porto, com espírito combativo e ao ataque. A praticar um futebol sedutor e de sentido estético. Porque essa é a sua máxima de vida: «Se ganhar a jogar mal, não durmo bem.»

Aos poucos, os dragões descolaram e começaram a voar. Com um início demolidor no campeonato: nove jogos, oito vitórias e um empate. Sem derrotas. Com uma liderança expressiva no campeonato, a sete pontos de distância do rival Benfica. Na Liga Europa, o mesmo percurso brilhante. Sempre pela mão de um treinador próximo dos futebolistas, capaz das melhores estratégias para motivar o grupo. «Nos jogos em casa, os convocados deixaram de fazer estágios no hotel. Isso motiva muito os jogadores, que têm a oportunidade de estar mais tempo com as famílias. É um treinador com espírito aberto, pronto a ouvir, é obcecado pela perfeição e vai ao detalhe», revela Miguel Lopes. Por isso, os adjuntos andam com folhas de papel nos treinos e as sessões na pré-época foram filmadas.

André Villas-Boas tem dois anos de contrato com o FC Porto, mas a Europa já se rendeu às qualidades de um talento precoce. Esta é apenas a casa de partida de um homem que não tem sonhos. Apenas objectivos. De ascendência nobre, não é só o sangue azul que lhe corre nas veias. É a ambição própria dos campeões, a ambição de um principezinho que tem tudo para vir a ser um rei.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Homenagem ao adeus


O Tio Sabi presta homenagem ao Sr. do Adeus e oficialmente anuncia que durante todo o fim-de-semana da Feira da Castanha estará na rotunda da Portagem a dizer adeus a quem passa.
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Morreu João Serra, o "Senhor do Adeus"
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Era uma figura incontornável da cidade de Lisboa. Acenava a quem passava pelas zonas do Saldanha e do Restelo apenas porque acreditava que, dessa forma, fazia os lisboetas mais felizes.
Eles acenavam de volta. João Manuel Serra faleceu aos 80 anos.

João Manuel Serra assumiu por várias vezes nunca ter tido de trabalhar. Vinha de uma família abastada que o deixou com rendimentos fartos e lhe permitiu escolher uma «profissão» diferente.

Todos os dias, o Senhor do Adeus passava horas a fio sob sol ou chuva vendo os carros que passavam e acenando aos condutores. A motivação? Dizia que começou por brincadeira mas que percebeu que aquele trabalho deixava as pessoas mais felizes, distribuía sorrisos.

E se muitos havia que não percebiam e associavam a personagem a um certo grau de insanidade, a maioria retribuía os acenos e, com isso, levava para casa um sorriso no rosto.

João Serra tinha ainda outra faceta pública: era um acérrimo cinéfilo. Tornaram-se célebres, as tertúlias semanais que partilhava com o amigo Filipe Melo, músico de jazz, realizador e autor de banda desenhada. Todos os Domingos à noite, assistiam a uma estreia da semana que era depois comentada no blogue «O Senhor do Adeus».

Ontem à noite, em vez da habitual crítica de João, foi uma despedida que Filipe Melo publicou. «Todos os dias, o João dizia adeus às pessoas. Era assim que assim fazia as pessoas felizes e que as pessoas lhe retribuíam essa felicidade. Era um dos meus melhores amigos, e terei muitas saudades das nossas idas ao cinema e de o ver a sorrir e a trazer alegria a todos os que o rodeavam», recordou o amigo.

A história de João Manuel Serra levou-o ainda a outros caminhos. Desde a criação da estação que assinava uma rubrica de cinema no programa «A Rede», do Canal Q. Teve também direito a surgir na banda desenhada «As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy», de Filipe Melo e Juan Cavia, e fez participações especiais no filme de zombies «I’ll See You In My Dreams» e na série de televisão «O Mundo Catita», nos dois projectos também sob a bandeira de Filipe Melo.

Os papéis foram agora invertidos. Ficam os lisboetas a despedir-se do senhor que passou a vida a dizer adeus.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

De olhos em bico…

(Montagem original. Agradecem-se créditos e eventuais donativos)



Quando andava no Liceu havia por lá um professor, um tal de Filomeno, que era o terror da rapaziada da área das matemáticas, coisa que a mim, menino das letras, pouco me afligia. Pelo que me consigo recordar dos relatos assustados nos intervalos, o homem tinha o prazer macabro de tornar ininteligível o que já por si era complicado. Coisa com requintes de malvadez. De aspecto era um sujeito estranho: roupa de há 2 décadas atrás, óculos pretos de massa em forma de dois televisores acoplados, cabelo às ondinhas, tudo isto composto num andar apressado e de esguelha que lhe davam um ar ainda mais “fora”. Tinha a fama de dizimar as expectativas das turmas em relação à disciplina. À excepção de dois ou três carolas que de tanto perceberem, brincavam com a coisa, toda a restante turma dali saia com a viola no saco e o chumbo certo cravado no centro do rabo. O Sr. Filomeno este seria portanto a antítese do que deveria ser. Complicava onde deveria clarificar e nessa medida, mesmo sem o conhecer, a ele ou à sua arte, arrisco-me a dizer que poderia ser muita coisa boa na vida mas professor não, certamente.

Serve esta longa introdução para dizer que me recordo muitas vezes do Filomeno quando ouço na televisão os especialistas em economia a explicarem a actual situação para a enorme massa encarneirada de espectadores na qual obviamente me incluo (embora numa ala moderadamente esclarecida). Para a grande generalidade dos portugueses, a lógica financeira é incompreensível. Os défices, os pibs, os spreads, a inflacção, os ratings são jargões que não passam disso mesmo, palavrões sem expressão concreta na sua vida real. O que eles querem saber é se a garrafinha de Ucal morninha, aquecida na máquina do café e acompanhada por meia torrada comida à pressa no caminho para o serviço paga mais ou menos IVA.

Eu posso não perceber a economia mas esforço-me. Mesmo que me custe entrar, eu quero saber e para isso tenho uma estratégia que defini para a minha vida há muitos anos, baseada no jogo do Mikado: se a coisa é complexa, tento simplificá-la, passo a passo, desmontá-la, puxá-la para a realidade, subtraindo-lhe a abstracção e fazendo-a real. Foi assim que aprendi as fracções que hoje tanta falta me fazem no meu dia-a-dia nas Finanças.

Tudo isto a propósito da visita a Portugal daquele que a revista Forbes cataloga como o homem mais poderoso do mundo: Hu Jintao, o presidente chinês. Sabem porventura o que é que o senhor este veio fazer ao solo luso? Veio acordar a compra de parte da dívida pública portuguesa.

Como?

Isso!

O Zé deve na taberna da esquina as paletes de minis que emborca durante o dia para esquecer o desemprego, a fome e a falta de tudo e mais alguma coisa. O China decidiu chegar-se à frente e comprou esse calote. O que é que significa isto? Em primeira instância, que passou a ser ele o credor. Numa análise mais profunda, significa que de alguma forma, se “assenhoriou”, no mais feudalista sentido do termo, do outro. A técnica é antiga e comum em esquemas mafiosos. Quem conhece o modus operandi deste tipo de organizações sabe do que falo.

É claro que a grande maioria dos nossos políticos e dos nossos governantes, que não passam de uma corja de ignorantes e interesseiros que só pensam em safar-se a eles e aos amigos, viram isto com os melhores olhos: “o que é que nós achamos disto? Que é belíssimo! Se os chineses compram a dívida é porque acreditam em nós, é porque nos vêem como cumpridores e acham que um dia vamos pagar. Para Portugal é uma segurança!”

Pois é… Está bem, abelha.... Mas… e quando chegar a hora de cobrar? E se porventura não conseguirmos pagar? Se a dívida é galopante e cresce de dia para dia, se o governo continua refém dos mega-projectos que favorecem quem lá o meteu… como é que vai ser quando forem horas de fazer contas? Responderão os nossos recursos endógenos, o nosso próprio país por estes erros irreparáveis?

Acontece que a China não é propriamente a Suíça ou a Bélgica e os tibetanos sabem-no bem, coitadinhos, tão fartinhos que estão de apanhar naqueles totiços carecas. Direitos humanos e diplomacia não são bem o forte dos chineses. Para além desta maquiavélica manobra financeira, há outras frentes de ataque que convém não descurar. Não sei se já repararam (a menos que andem por aí a circular de olhos vendados) mas eles estão em todo o lado. Não há lugarejo onde não tenham uma venda. Compram tudo o que vaga, quase sempre em dinheiro vivo (claro!) e esticam-se até não poderem mais. A sua extraordinária capacidade de trabalho (24h/7 dias por semana… se eles vivem na barraca, por Deus!) e a velocidade a que se multiplicam vão-se encarregar de fazer o resto. Chama-se isto uma invasão silenciosa.

Há umas décadas atrás, os franceses, embuídos daquele espírito altruísta da revolução, decidiram abrir os bracinhos e deixaram ir a eles as criancinhas, sobretudo das ex-colónias africanas. Hoje, barricados e atacados nas suas próprias entranhas, sufocam nos erros do passado. Há dias, a Sra. Merkel, lá teve de bater o pé e dizer que o multiculturalismo era muito bonito mas era melhor mudar o baile: quem quer estar tem de se adaptar e respeitar a ordem estabelecida.

Lá vem mais uma vez o “método de simplificação sabística” (ou seja, o meu): cá em casa somos 4. Eu já vou mandando pouco (com 3 mulheres… não é fácil) mas a coisa leva-se. Se alugarmos um quarto a um casal de ucranianos com dois filhos, o sótão a um casal de russos e a garagem a duas lésbicas finlandesas… quem é que manda à noite no comando da televisão quando nos sentarmos na sala a fazer serão?

Tudo isto é muito bonito. Só tenho medo é que possa complicar…

PS1: Um apontamento final para o obsceno jantar organizado em nome do nosso ilustre convidado chinês. Obsceno. Obsceno é o termo. Eu sei que a diplomacia não pode parar mas uma gala daquelas, com tanto luxo, tanta faiança, tanta cagança, tanto salamaleque, tanto esbanjamento, tanto desperdício quando TANTOS passam sem ter nada para comer… é VERGONHOSO!

Bem o podiam ter levado ao restaurante chinês da esquina. Acho que a sopa de algas está em promoção.


Ps2: Tinha eu acabado de escrever isto quando dou com este genial cartoon do sempre genial Henrique Monteiro cujo blogue aconselho vivamente. Está tudo aqui, em 3 vinhetas apenas. Um mestre!



(Clicar para ampliar)

domingo, 7 de novembro de 2010

O inventor

(Atenção que tem direitos de autor, ãh? Esta deu muito trabalhinho...)

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Arre que foi de arromba!

Um Futebol Clube do Porto de gala e um Benfica de galinheiro, foi o que foi.

Eu sei porque é que perdemos: porque há jogadores que ainda estão cansados do Mundial e acusam falta de rotina.

Assim que ouvi dizer que Jesus ia mexer na defesa, colocando David Luíz no lado esquerdo e chamando Sidnei a central, todo eu estremeci todo por dentro. A receita já tinha dado excelentes resultados na época passada, na Liga Europa em Liverpool, pelo que era de esperar o melhor. Os primeiros minutos de jogo haveriam de revelar o óbvio: estava encontrada a porta do galinheiro por onde haveriam de surgir as 3 jogadas que originaram os 3 primeiros golos. De rajada!

Jesus tinha duas abordagens possíveis para esta partida: ou entrava destemido, olhando o adversário nos olhos, jogando o jogo pelo jogo, com uma equipa aguerrida, mantendo o esquema defensivo até agora bem sucedido e apostando na eventual inclusão de novos valores capazes de causar surpresa (Gaitán? Jara?) apoiando Kardec, ou entrava a medo, como fez… e saiu-se mal. David Luíz foi incapaz de segurar um Hulk supersónico e um Sidnei sem ritmo e sem rotina ajudou a compor o ramalhete. Estava a barraca armada…

E depois, o Futebol Clube do Porto tem muito provavelmente a melhor dupla actual de avançados da Europa. Hulk e Falcão juntos são absolutamente diabólicos e fizeram do Benfica “gato-sapato”. As investidas vertiginosas e os remates bombásticos do brasileiro fizeram dele uma máquina de guerra imparável. O primeiro golo de Falcão é um hino ao futebol. A facilidade com que a equipa chega ao terceiro golo é assustadora. Parecia uma peladinha de fim-de-semana.

Depois houve tudo o resto… um Varela em velocidade cruzeiro, um meio campo de luxo com Moutinho, Bellushi e Guarín, dois laterais sempre disponíveis para subir (Sapunaru e Álvaro) e uma defesa tranquila e fechada a sete chaves por Maicon, Rolando e Helton. O Porto está uma super-equipa, muito bem orientada, extremamente bem estruturada, disciplinada e talhada à imagem de um treinador que vai dar que falar. Temos que nos render à evidência: foi um banho de bola à antiga.

O meu Benfica nunca passou de um rebanho tresmalhado que apenas a espaços deu ténues sinais de vida em inócuas investidas individuais. Um torpor… Muito pouco para um campeão em título.

As coisas agora estão mais simples: à décima jornada temos novo campeão (não tenhamos dúvidas…) e eu estou seguro que vou viver o resto do ano mais tranquilo. Resta-nos brigar pelo honroso segundo lugar com os lagartos e os bracarenses. Enfim… Há males piores…

Foi uma boa noite para os adeptos portistas que se deslocaram às Antas. Pelo preço de um bilhete assistiram a dois espectáculos: um jogo de futebol e uma tourada.

Quanto ao Jesus… isto é como tudo na vida. As paixões não duram para sempre e eu, para ser sincero, já vou estando um pouco farto do homem. Farto do ar enjoado, farto da apatia, farto das invenções tácticas, farto de muito merda. E se é para mudar, que deixem também sair os que estão por favor e a trampa que por lá há do tipo Menezes e companhias.

Meu santo Rui, santinho da minha devoção… vê lá se metes a mão na massa que se não… a coisa azeda.

Eu voto numa revolução… já!

sábado, 6 de novembro de 2010

Ai é tão bom... (by The Lucky Duckies)

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O meu caríssimo Marco António postou a seguinte mensagem no meu mural do Facebook:

"Olá grande Pedro! Já temos saudades tuas e de Marvão!


Finalmente o nosso disco estará à venda a partir de segunda-feira nas WORTEN's, FNAC's, MEDIAMARKT's, PINGOS DOCES, JUMBO's etc.


Espero que compres para nos ajudares a ir ao TOP+ Ficas com o videoclip oficial. Um abraço."

Mas é óbvio que vou comprar, não só para mim, como vou correr o pessoal todo do Natal com o esta preciosidade e vós, estimados leitores e demais cambada, deveriam fazer o mesmo! Quem é que disse que não há classe em Portugal?

Se o Frankie "Old Blue Eyes" e o Elvis vos vissem... estariam orgulhosos!

Ai é tão bom...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Doente (Pensando em Nemo e em Pessoa…)


Prostrado no meu leito,
Aprisionado neste ninho,
Vejo os dias sucederem-se,
Sempre iguais, de mansinho.

Agrilhoado pela dor,
Submisso à clemência dos meus,
Liberto-me, sonhando acordado,
Imagino-me a cruzar os céus.

Sou um pássaro, uma nuvem,
Um astro, um foguetão,
Um cometa, uma avioneta,
Um relâmpago, um balão.

Do meu quarto saio voando,
Parto rumo ao infinito,
Sobrevoo campos e mares,
Desvendando segredos e mitos.

Quando me sinto mais só,
E a almofada me quer engolir,
Fecho os olhos e imagino,
Rompo os limites, saio a fugir.

Na minha cabeça não há limites,
Dores, febres, desilusão,
Só mil e uma aventuras,
À espera da minha intervenção.

Salvo donzelas,
Decapito dragões,
Descubro tesouros,
Resgato galeões.

Faço piratas reféns,
Instigo rebeliões,
Desbravo novos mundos,
Ajudo a criar nações.

Bruxas, ogres e feiticeiros,
De mim fogem com horror,
Com o meu sabre dourado,
Tudo enfrento sem temor.

E enquanto assim m’entretenho,
Neste faz-de-conta só meu,
Reduzo a minha sentença,
E caio nos braço de Morfeu.

O tempo é a minha salvação,
Mas meu inimigo também,
Por isso o quero como aliado,
Para o mal e para o bem.

Todos dias assim penso,
No momento da minha libertação,
Em que deixarei para trás de vez,
Esta tão pesada reclusão.