terça-feira, 30 de setembro de 2008

Pesadelo Londrino (lindo como um sonho!)

Yeahhhhhhhhhhhhhh!
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Cheer up, boys and girls because this year... Christmas came earlier to town!

Já sabem como é que eu sou no que diz respeito às competições europeias, sobretudo quando os jogos envolvem lagartos ou portistas: se puderem apanhar 5, que não tragam só 4 na sacola.

Isto hoje foi lindo demais!

E não me venham com a conversa que as equipas portuguesas e não sei quê…

Então não foi o Presidente do Porto quem andou durante décadas a apregoar que aquilo era uma nação à parte e que do Tejo para baixo éramos todos mouros? Se assim é…

Puro deleite!

Um banho de bola como eu não via há anos, sobretudo neste nível competitivo. É que foram 4 golinhos, todos eles assim a brincar, mas podiam ter sido mais 4, pelo menos.

Os “gunners” deram-se ao Lucho de falhar oportunidades flagrantes porque estavam assim mais na descontra. Recriaram-se com o esférico e até o Wenger se riu das incríveis bolas perdidas. Foi limpar o cú a meninos.

Isto de podermos ver o Porto completamente esquartejado, desorientado, sem fio de jogo, sem liderança, sem organização… é bom demais para ser verdade!

Pois é, senhor professor… o ciganito faz muita falta e o Assunção também. E a sua sorte grande foi a dupla argentina L e L ter ficado. Bastou ter o índio lesionado e viu-se bem a quebra na produção.

Uma enorme lição de humildade, para quem semeou arrogância e prepotência.

Algum dia haveria de acabar.

E quando o patriarca cair do andor, aí estaremos cá para ver o fim da picada.

Realmente, depois de aviarmos dois em casa ao menino do risco ao meio, para abrir a pestana, só mesmo uma prendinha destas.

Quando quiserem aprender como é que se fazem grandes resultados com equipas inglesas, perguntem à rapaziada da Luz que eles dão explicações.


AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA


PS: Uma última nota para felicitar o Cebola. Tinha razão quando disse que ia para um clube onde tinha a certeza que ia ganhar sempre. Em cheio. O rapaz tem futuro no ramo da futurologia.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

9ª Meia Maratona de Portugal - À conquista de Lisboa


Foi uma grande aventura, foi o que foi.

Ainda maior do que esperava. Sério!

A mobilização das tropas começou às 5 da manhã, para estarmos às 6h em Alpalhão e antes das 9h no Parque das Nações, a tempo de apanhar o último autocarro para a Ponte Vasco da Gama.

Para quem passou o sábado todo a olhar para o Código do IRS e se deslocou à noite a Badajoz para assistir aos eventos culturais da versão espanhola da festa da fundação, dormir apenas 3 horas antes de um desafio desta envergadura… não foi pêra doce.

Mas a equipa ajudava e de que maneira!

Tantos meses a treinar, a sonhar com esta prova de fogo que era impossível não sentir um nervoso miudinho. Será que na derradeira chance, saberia estar à altura? E se me desse a dor de burro? Ou uma súbita caganeira em plena prova? Ou um ataque de cãibras? Ou um episódio de falta de ar? Ou outra coisa qualquer que me deixasse ficar mal?

Chegados a Lisbon city dentro do horário estabelecido e depois de devidamente equipados (cortesia do nosso amigo Felino), lá rumámos à Gare do Oriente, onde milhares de pessoas se enfilavam a caminho dos autobuses da Carris que faziam o favor de encaminhar a populaça para o quilómetro 7 da ponte, de onde partimos. Já ali dava para avistar alguns interessantes exemplares da fauna cómico-citadina, como um palhaço trajado a rigor que encabeçava a parada.

Minutos depois e lá íamos nós, todos enlatados, até à linha inicial. Os participantes distinguiam-se à partida pela cor dos dorsais: os rosas para a mini-maratona de 8 quilómetros e os azuis para a prova rainha. Ali havia de tudo desde gajos com muita pinta de atleta, velhinhos rijos, a mães e filhos… enfim, mesmo de tudo um pouco.

Lá chegados, já um magote de malta aguardava engaiolado dentro das baias pelo tiro de partida. Andámos, andámos e a certo ponto, uma barreira separava os participantes da mini dos da meia. É claro que dos cerca de 18 mil participantes, a grande maioria enfiou pela via da esquerda. Assim que entrámos pela direita, muito mais estreita, era impossível um gajo não se achar assim importante, sobretudo quando via os parceiros do outro lado da grade a olhar para nós como se fossemos autênticos olímpicos, tipos que são capazes de fazer aquilo que lhes está ao alcance só em sonhos. Isto faz um bem ao ego…

Nota muito positiva para os mijatórios em forma de máquina gigante de espremer limões. Estes engraçados artefactos, colocados ao ar livre, serviam para os homens verterem águas e era muito engraçado vê-los ali muito acanhadinhos, a enfiarem o canário na gaiola. Modernices!

Na semi-pole-position onde nos colocaram, ouvíamos o speaker a animar a malta pelos altifalantes e a pedir palminhas e adeus para o helicóptero, para o pessoal ver lá em casa. Foi tempo para o aquecimentozinho da ordem e para colocar no sapatinho o chip que dava o tempo com certeza.

10 e meia e lá vão eles a dar à sola, equipados a rigor com a t-shirt da nossa terra, integrados na equipa “Unidos da Paródia” mas havia-os por lá bem piores.

A manhã estava magnífica, de encomenda, com uma temperatura fantástica e um solinho de fim-de-Verão espectacular.

Nos primeiros quilómetros, o nosso comandante imprimiu um ritmo bem esgalhado que nos permitiu ultrapassar muito, muito condutor de fim-de-semana. À saída da ponte, o primeiro abastecimento com águas e bebidas energéticas. Os da mini seguiram em frente e o pessoal da dureza cortou à esquerda, para uma recta de muitos quilómetros que não mais acabava e para cá era sempre a subir. Livra!

Durante o percurso, bandas musicais interpretavam êxitos modernos e a malta curtia enquanto se dava ao manifesto. Respirava-se ali um ar puro e a boa onde era incrível, com todo o mundo a esforçar-se e a querer dar mais.

Eu tenho de confessar que tinha um outro objectivo mais exigente do que chegar ao fim e esse era fazer um tempo abaixo das 2 horas. Tinha ideia de acompanhar sempre com o meu pessoal e lá para o quilómetro 14 ou 15, se o ritmo fosse bom, arrancava para bater o relógio.

Mas como ao quilómetro 10, o pelotão tirou o pé do acelerador, eu decidi aproveitar o balanço e meter a render a frescura que ainda sentia.

E dei-lhe bem, caraças! Depois do meio da prova, quando virei para Lisboa outra vez, fartei-me de ultrapassar pessoal e tantos, tantos artistas daqueles todos XPTO, com equipamentos todos pipis e cheios de barras energéticas e alta tecnologia. Tanto gajo que passei, tantos de perna rija, que corriam em grupos, com camisolas de mil e uma outras maratonas e eu ali em 5ª velocidade e prego a fundo na minha estreia. Foi muito bom!

Ao entrar de novo no Parque das Nações, reencontrei o pessoal da meia que vinha por ali palmilhando a pé e descemos para junto do rio.

Perto do quilómetro 18, quando necessitava um ímpeto suplementar, entram-me os Metallica com o novo “Death Magnetic” no ipod e a injecção de adrenalina foi tal que meti o som no máximo e quase rebentei com os tímpanos. Uma força tamanha que só me apetecia arrancar os semáforos à dentada!

E foi ali, então e mais uma vez, que percebi que isto de correr é uma paixão porque quando se corre, não se corre contra ninguém a não ser nós próprios. Na corrida não há bicicletas, nem outros equipamentos ou acessórios. Na corrida, és tu e o teu corpo e tudo a mexer dentro de ti, com os pulmões a insuflarem ar e o coração a bombar em todas as artérias, municiando oxigénio a cada músculo. Quando corres enfrentas os teus próprios demónios, os teus medos e ansiedades e vences pela persistência as tuas hesitações e desconfianças. Ali estás só contigo mesmo e provas a ti próprio que és capaz.

Na camisola que a organização ofereceu, para além dos logos, estavam estampados muitos verbos como sorrir e conviver e no final dizia em letras garrafais: eu consigo!

A questão é mesmo essa. Se algum dia tatuar algo no meu corpo, a palavra “acreditar” não pode faltar.

Quem é que me havia de dizer há 12 meses atrás, há 16 quilos atrás, há muitas, muitas horas de treino de dia e de noite, ao calor e ao frio, ao sol e à chuva atrás, que haveria um dia de vencer uma empreitada assim?

Andava eu nestas conjecturas quando um dos participantes da frente cai com uma suposta paragem cardíaca. Sim, a coisa não é para brincar. Espero que tenha conseguido recuperar.

Depois de túneis e altos e baixos, a entrada para a recta final, caminho da meta instalada em frente do Pavilhão de Portugal.

Tempo para desfrutar de cada minuto e do momento de glória que se antevia.

É! Assim que avistei a palavra "chegada”, saltou uma emoção cá de dentro e foi com a vista assim meio turva que passei a linha final. Naqueles instantes, muita coisa passou por mim. Prova superada!

Depois, estragam-nos com mimos. Ele é saquinhos com águas de todos os tipos e barras de tudo e mais alguma coisa e até geladinhos, daqueles de gelo e frutas, nos ofereciam a cada um. Uma maravilha!

Os bravos companheiros do meu pelotão foram dando à costa logo após, um a um com curtas distâncias de escassos minutos e todos nós de parabéns, por estarmos abaixo das 2 horas. Um luxo, diria eu!

Depois, ah… Depois foi tempo de banhinho e grande convívio na incontornável Portugália onde malhámos umas granadas amarelinhas e faustoso manjar.

Bom demais!

Eu que queria tanto, tanto isto, só tenho a agradecer a estes 3 bons amigos, a companhia e o apoio. É tudo tão mais bonito quando é partilhado e feito com quem gostamos. Bem hajam mesmo!

Terminada esta já ando a sonhar com a próxima: a da Ponte 25 de Abril, em Março de 2009. Os votos que faço é que para além deste núcleo duro, se possam juntar mais amigos, mesmo que seja para andar e conviver que isto é coisa linda de se ver, pá!

E que linda que fica Lisboa, espraiada ao longo do rio, vista assim de perto.

Este foi sem sombra de dúvida, e sei bem o que digo, um dos maiores feitos da minha vida. Um dos triunfos mais saborosos e que mais alegria me deram.

É! Foi um dia mesmo muito memorável!



Dados estatísticos:


Sobreiro, Pedro Alexandre Ereio Lopes

Dorsal: 3011
Categoria: Veterano I
Tempo na viragem: 54 minutos e 18 segundos
Tempo do chip: 1 hora, 48 minutos, 37 segundos
Tempo da meta: 1 hora, 51 minutos, 6 segundos

Classificação na Geral: 1242


Levando o nome de Marvão bem longe...

Esperando o autobus




"O meu é maior que o teu!"



Mais que as mães...

A companhia já em movimento

Eu e os meus amigos ingleses que iam trajados a rigor e a ler o Financial Times

Já no final da ponte

Recta a perder de vista...

Som na caixa! O que faz falta é animar a malta!

Garra e valor

A luz no fim do túnel afinal sempre existe


Terra à vista!

Para a posteridade e um dia mostrar aos netos.

A equipa maravilha: Felino, Dias, Sobreiro, Barradas

sábado, 27 de setembro de 2008

Som e devoção


Eu sei que os meus posts sobre música não são dos mais apreciados/lidos/comentados desta minha casinha virtual. Mas se isso é uma verdade, não é menos verdade, aliás, até é muito mais verdade que este estaminé não foi criado para agradar aos outros mas antes para eu poder, num único sítio do mundo que seja, dizer aquilo que me dá na real gana.

Sendo assim, gostava então de dizer que esta minha paixão/devoção/ligação à música em geral, esta minha melomania compulsiva que me faz devorar tudo o que é suplemento cultural de jornais, que me faz encomendar no meu dealer habitual revistas importadinhas directamente de Inglaterra só para mim, que me faz mergulhar horas a fio na net e navegar serões a fio no You Tube, tudo isso, é feito para que eu possa ter um momento como o que vivo actualmente.

Porque eu vivo numa constante caça ao tesouro e todas essas horas de pesquisa a garimpar conteúdos musicais, têm como objectivo encontrar a minha nova banda favorita, os meus mais recentes heróis de culto, aqueles que quando tocam e cantam e respiram, parece que o fazem só para mim.

Estou em permanente busca da minha nova luz, da banda sonora ideal para este período.

Falei neles ao meu irmão, o meu fiel companheiro nestas andanças (sim, acho que te peguei o vício…) e a reacção foi de arrebatamento.

Já comentei com um ou outro amigo, já os espalhei de mão em mão e do outro lado fica sempre um ar de espanto e a descoberta maravilhada.

No sms que troquei com o Júnior disse-lhe qualquer coisa como: este é para guardares na prateleira especial, ao lado do “Queen is dead” dos Smiths, do “Standing on the Beach” dos Cure, do primeiro e homónimo dos “Stone Roses”, do “Different Class” dos Pulp, do “Nude” dos Suede, do “Definetly Maybe” dos Oasis, do “Parklife” dos Blur, do “Ok Computer” dos Radiohead e do “Whatever people say I am, that’s what I’m not” dos Arctic Monkeys, isto só para citar assim de cabeça aqueles dos quais sou contemporâneo e são parte de mim.

Discos para a vida.

Os Glasvegas são desse campeonato.

Assim que vi o vídeo do primeiro single, “Geraldine”, um arrepio percorreu-me a espinha e quase entrei em transe. Vestidos de negro, num círculo luminoso, jovens demais, charmosos demais, humildes e sinceros demais para serem de verdade nos dias de hoje.

Depois… um baixo arrastado, uma muralha sónica a evocar décadas de guitar bands, uma bateria de ritmo pesado e tribal, uma poesia digna de estudo clássico, um sotaque irresistível e muita atitude encarregam-se do resto.

Na frente, James Allan, que recorda um jovem e belo Joe Strummer, canta com a vontade de quem nos quer anunciar um mundo novo.

Como disse e bem, o crítico inglês do New Musical Express, “que outra banda no mundo seria capaz de criar uma música sobre uma trabalhadora social e fazê-la soar como se fosse a tua alma a subir aos céus?”.

E que verdade que isso é!

O resto da história já nós sabemos e há-de-se encarregar de ajudar a criar o mito destes quatro jovens escoceses que hão-de influenciar tanta gente mundo fora. De resto, ninguém saberá porque é que James Allan convidou o primo para a sua banda em vez do melhor guitarrista de Glasgow, ou porque é que escolheu para a secção rítmica uma rapariga que conheceu casualmente numa loja, em vez do mestre das tarolas lá do sítio.

A honestidade que reclama em “Daddy’s gone”, dá-a de bandeja em cada estrofe porque há muito tempo que ninguém cantava “so fuckin’ sincerely”, como ele diz.

E depois, eu e música e a música e eu e a primeira linha que lhes conheço e me chega às mãos nesta altura e diz simplesmente: “quando a tua faísca evadir a tua alma, estarei ao teu lado para te consolar…”.

Bom, desde que os Jesus and The Mary Chain acabaram que a música não era para ser ouvida tão alta.

Toquem-na alta então e em bom som... e deixem-se levar pela maré.

Até dá vontade de levantar voo.


Como o vídeo não dá para sacar, vá lá… não sejam perguiçosos.
É só clicar aqui…


Tu
(tradução livre da minha lavra. perdão aos puristas)


quando a tua faísca evadir a tua alma,
estarei ao teu lado para te consolar,
quando estiveres no parapeito da janela,
hei-de convencer-te a voltar do limite,
eu hei-de virar a tua maré,
ser o teu pastor e o teu guia,
quando estiveres perdida no sítio mais fundo e escuro das redondezas,
que as minhas palavras te acompanhem a casa, segura e salva.

quando dizes que não sou bom e te apetece sair andando,
preciso certificar-me que sabes que é conversa fiada,
quando os teus pés decidem levar-te por caminhos incertos,
subindo pelas escadas e descendo pelo corrimão,
eu hei-de virar a tua maré,
fazer tudo o que possa para te apaziguar,
Serei o anjo no teu ombro,
O meu nome é…

Vejo que precisas de mim,

Eu sei que sim…

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Devaneios tecnológicos

(Ora experimenta lá, pequenita: control + alt + del. Giro, não é? Foi o Mariano que me ensinou.)


Nas notícias, para além dos já habituais tiroteios num liceu qualquer e das inevitáveis touradas à vara larga envolvendo assaltos a bombas de gasolina e máquinas multibanco, desfilam, agora mais do que nunca, os casos de famílias endividadas até ao pescoço que vêem o futuro por um canudo ao serem incapazes de cumprir as obrigações e os empréstimos que contraíram.

O caso é tanto mais gravoso se atendermos que muitas delas até fizeram quase tudo bem e não deram o passo maior que a perna, antes foram ultrapassados pelas… contingências e incongruências e variações das leis que regem a economia no mundo moderno e agora agonizam nessa sala de pânico chamada euribor, onde asfixiam à medida que as paredes se encurtam e esmagam o que resta da sua felicidade.

Olhar para os filhos, para os familiares, para os amigos, para si próprios e para o seu banco e dizer que não dá mais, que aquela casa não pode mais ser dele, ser dela, ser deles… que o sonho ruiu…

Há derrotas que são duras demais para serem aceites…

Entretanto, obviamente e no seguimento, aumenta o consumo de antidepressivos (6 milhões de embalagens) e ansiolíticos (20,3 milhões de embalagens). Actualmente, os portugueses enterram 240 milhões de euros só neste tipo de fármacos.

Quando falta a coragem para enfrentar a realidade, o pessoal atrofia e busca a salvação química em cocktails explosivos de compostos com nomes de planetas de livros de ficção científica do estilo Lorenin, Xanax ou Lexotan. (Este último, quando misturado com vodka resulta num composto bem ao estilo “gasolina de avião”. Potente!).

Bem dizia o Tio Variações, “toma o comprimido que isso passa”…

Quem parece que passa ao lado da crise ou a crise não passa por ele é o nosso Sócrates que apareceu todo desenxovalhado a dar os célebres computadores Magalhães à pequenada do 1º ciclo. É sempre um prazer poder observar este rapaz, está fantástico! Gostei de o ver numa escola qualquer de uma câmara socialista, no seu impecável estilo chique moderno, a perguntar aos catraios: “então meninos? Acham que há aqui computadores que cheguem?”.

“Nãããããããão!”, responderam os delfins com ar semi-domesticado.

Nisto, o homem mete as mãos nas ancas com ar “cowboy”, sorri de soslaio para os “yes man” que o acompanham e diz, convencido: “nós vamos tratar disso!”.

E eu grito no sofá de casa: “PORREIRO, PÁ!”.

Não restem dúvidas, Portugal precisa de um homem assim. Todo ele irradia classe e confiança. Qual Sarkozy, qual camandro, pá! Este gajo é que é letra!

Eu gostava era de ver se ele conseguia dar a volta assim tão facilmente ao resto do pessoal que há por aí… aos desempregados, aos que têm a carreira congelada, aos professores, aos que foram recentemente assaltados, aos que apertam o cinto e passam fome…

Cuidado aí, Zé! Prudência, rapaz! Olha que esses são capazes de dar mais trabalho…

Sabes o que te digo? Pelo sim, pelo não, conta comigo no domingo lá na Ponte Vasco da Gama. Os meus cambas aqui não acreditam que sou capaz mas eu não descanso se não te for dar um bacalhau, um abraço apertado e tirar uma foto contigo. Entretanto aproveito para desacelerar o ritmo (para acompanhar o teu) e vou tentar fintar a segurança para te dar uma belinha ou um belisco na barriga das pernas.

Eu sei que não vais levar a mal. Afinal, não é só o Soares que era fixe. Tu és muito mais!

Beijinhos,

Pedro

Recordar é viver…

Armação de Pêra. 1977. 4 anos

Passamos a vida inteira a pensar que nos conhecemos, mas não.

Eu pelo menos dou por mim muitas vezes a pensar que passo demasiado tempo do meu dia-a-dia a funcionar num nível estímulo-reacção e que deveria meditar muito mais.

Apesar de vivermos conscientes, passamos pouco tempo connosco.

Às vezes somos surpreendidos… como neste caso.

Ainda sou do tempo em que não havia máquinas digitais mas por sorte, já nasci depois da democratização e standartização das velhinhas máquinas de rolo e não me posso queixar dos registos que tenho desde a infância.

Conheço praticamente todas as imagens do acervo fotográfico dos meus pais (sim mãe, eu sei, está aqui há muitos meses para ser digitalizado, mas o tempo é sempre tãããão pouco…). Já as vi centenas de vezes de trás para a frente e da frente e dos lados, sobretudo em noites em que faltava a luz e nos dava para isso.

É por isso que fico tão contente quando me surge uma imagem inédita, uma que não conhecia ou da qual me tinha esquecido.

Há dias, a minha madrinha Fátima aparece-me aqui com três dessas.

Na primeira, apareço em plena actuação na antiga Sociedade da Beirã com o Vítor Felino e o meu primo Quim Carita. Apesar de me recordar de algumas apresentações deste género ensaiadas pelo saudoso Sr. Cardoso, desta não faço nem ideia mas para mim, está demais.


Esta outra retrata uma procissão dos passos em Marvão, em 83, onde comparecemos enquanto escuteiros do Agrupamento 659 da Beirã. Escuteiros que nasceram para cumprir o sonho do menino depois de assistir a uma missa campal no Algarve. Belos tempos, sem dúvida. Em grande plano, o inimitável Zé Pop.


Na última, uma cena caseira, na casa da avó, numa noite em que as coisas não me estavam definitivamente a correr bem. A pose é mais que forçada e o sorriso de gozo do Júnior não engana. The Gallagher Brothers in action! Tanto que este puto sofreu comigo. Desta vez deves-te ter safado. Não há regra sem excepção!


Andava eu às voltas com isto quando a internet me traz de volta esse meu querido Quim Carita que eu tinha perdido há uns tempos lá para os Algarves.

Parece mentira mas dantes, quando ouvia os meus pais dizer que não viam amigos há 20 e há 30 e tal anos, eu pensava sempre, “isso comigo nunca vai acontecer…”. Pois é, a vida… Agora mal me descuido, já lá vão 14 e 15 e no caso do Quim, talvez uns 4, não?

Mas é verdade quando se diz que quando se gosta e se quer, é para sempre e ele sabe como é especial para mim.

Vai na volta, trocam-se as ditas fotos e envia-me estas três numa resposta que me deixa sem palavras à altura:

Uma com o nome de ficheiro: “Irmãos Carita com o primo Pedro”,

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A inevitável equipa de futsal que é, para nós, o marco de uma geração,


E um pormenor do juramento de bandeira com os chefes do dito Agrupamento de Escuteiros: pai, mãe, tia, madrinha e o emblemático Chefe António, o que dominava mesmo o pedaço. Desde fazer fogo sem madeira, a construir uma barraca de quase nada, este homem dava explicações ao próprio Macgyver. Respeito!
Do lado esquerdo do ecrã, o nosso amigo Zé Murta e atrás deste o vocalista dos Proclaimers.


Como é que diz o Espadinha? Recordar é viver?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Por Maruán


Sexta-feira foi dia de conferência de imprensa de apresentação do festival Al Mossassa em Badajoz. Como sempre, uma grande azáfama e uma sala cheia de jornalistas e câmaras de televisão, com as rádios e os jornais espanhóis em peso, a provarem-me mais uma vez a importância de estarmos juntos neste projecto maravilhoso. Marvão, um concelho de menos de 4 mil habitantes, de mãos dadas com uma cidade de 150 mil…

Dois filhos do mesmo pai, dois elos perdidos na história, agora unidos pela memória e pela cultura.

Como nuestros hermanos madrugam, como as 10h deles são as 9h nossas e estava disposto a fazer tudo para não chegar atrasado ao compromisso, levantei-me às 6 da matina e fiz parte da viagem antes de amanhecer por completo.

Quando atravessava as vastas planícies que se seguem a San Vicente, com o ar fresco da madrugada a entrar pelo vidro aberto, pensei na origem de toda esta aventura e imaginei-me num corcel veloz, seguindo o meu próprio Senhor Maruán, sendo mais um cavaleiro do seu séquito fervoroso numa movimentação estratégica às terras de Batalyaws para afrontar e travar as perspectivas expansionistas do todo-poderoso Emir de Córdoba, fazendo da defesa o melhor ataque, mostrando toda a garra para encobrir as dificuldades de manter o último reduto marvanense.

Que espécie de homem seria este que renegou a estirpe e a cruz para se converter ao Islão e se afirmar como dono e senhor incontestável dos seus territórios?

Pensei na falta que nos faz hoje, como então, um líder assim, capaz de se rebelar contra tudo e contra todos para defender os seus, não temendo os poderes instituídos e as pressões externas, dando a vida a qualquer hora para o bem da sua comunidade.

Pensei como deve de ser fácil de acreditar como fervor em alguém assim, com o carisma necessário para nos dar certezas mesmo quando ele próprio não está certo do que se avizinha, ao mesmo tempo duro como granito e frágil como qualquer um dos demais.

Mas hoje… já não há heróis e é por isso que devemos, por todas as razões e sobretudo por esta, celebrar, de 3 a 5 de Outubro, a nossa fundação com a dignidade que a sua coragem nos merece.


Durante o curto período em que aguardei pela minha congénere, a minha muito estimada amiga D.ª Consuelo Piris, tive oportunidade de admirar na sala de espera, os maravilhosos frescos da autoria de J. M. Collado que nos transportam para os tempos da chegada dos espanhóis a terras das Américas. Notáveis ao ponto de não resistir partilhá-los convosco…








domingo, 21 de setembro de 2008

O complexo Cascão


A minha filha adora água de tal maneira que há vezes que chego a pensar que lhe vão nascer guelras. Não há piscina, mar, tanque ou alguidar onde ela não se perca, durante horas a fio e eu já sei de antemão que vai ser uma guerra para a sacar de lá.

No ano passado, na piscina da Castelo de Vide, era ela bem mais pequena mas já se mexia (e de que maneira!) dentro de água, foi-se esconder debaixo de uma pequena ponte entre os tanques só para poder ficar mais um bocadinho. Eu a chamá-la há meia hora, a mãe à espera para almoçar e a bicha esta armada em rã, encostada a um cantinho, só com a cabeça de fora, sem se mexer, a gozar o prato. Conseguiu meter a vizinhança a rir e eu e o salva-vidas de cú para o ar, a ver quem é que lhe conseguia deitar a mão. Acabou por sair por uma perna, virada ao contrário e umas nalgadas depois jurava por não mais… até à próxima.

Pergunto-me pois como é possível que uma criança com este gosto possa odiar tomar banho, convencional, em casa, numa banheira, como toda a gente.

Tirando os banhos de espuma que lhe preparo no Inverno, com uma técnica que só eu sei e ela ainda pensa que é magia, é falar-lhe em banho e assistir a todo o esplendor da birra que se segue.

Há dias, dei pelas duas, ela e a progenitora, a discutirem animadamente sobre esta temática. A mãe dizia-lhe que era uma vergonha com esta idade e não querer lavar-se como todos os meninos e ela, esperneando e dizendo que não, agarrando-se onde podia para se safar da sentença.

Eu estava de costas mas acho que depois de muita troca de galhardetes, a ouvi dizer já em desespero de causa, qualquer coisa como “não sabes que não se pode gastar água? Que temos de saber aproveitar os nossos recursos senão qualquer dia não há vida no mundo?”.

"?!?!?!?!!?!?"


É… ser pai nos nossos dias, não é nada fácil!

Caliente!

Eu sei que já ando há dias para dizer isto e ao fazê-lo assino formalmente a minha candidatura a “Otário do Ano” mas ainda assim e porque informar é também uma das funções deste estaminé, não resisto a concretizar o alerta aos menos avisados:

Se porventura forem proprietários de umas chanatas tipo crocs e se lembrarem de as lavar assim convenientemente com águinha e sabão, depois disso…
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NÃO AS METAM A SECAR AO SOL!!!!!!!!!!

A menos que estejam a pensar fazer uma plástica aos pés e retirar-lhe 2 ou 3 centímetros, ou oferecê-las aos vossos filhos.

Chuinf!

Tão lindas que elas eram… com o pin do Mickey que a pequena me ofereceu…

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Chupa... que é de melancia!

Aviso aos pais: Post para maiores de... vá lá... 16 anos e impróprio para cardíacos.
Depois não digam que eu não avisei!
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Eu não sei se isto acontece com as outras pessoas mas eu, de quando em quando, dão-me assim uns “vipes” em que me lembro de repente de coisas das quais aparentemente me esqueci.

Esta é uma delas.

Quando estivemos no Brasil, na nossa já saudosa viagem de geminação, apercebi-me que a malta nova de lá só ouve um género de música denominado forró que é assim uma espécie de corridinho acelerado com percussão, ferrinhos, cordas e uma concertina nervosa.

Como andávamos desejosos de saber tudo sobre tudo e sendo eu um apaixonado da temática, não descansei enquanto não apanhei as últimas novidades musicais.

A senhora da casa particular onde comíamos em Pedro II, que era uma jóia de pessoa, teve a amabilidade de me dispensar o dvd dos Aviões do Forró que bombava lá em casa de dia e de noite, que continha o êxito do momento : “Chupa que é de uva” e cuja letra diz qualquer coisa como “na sua boca eu viro fruta, chupa que é de uva, chupa, chupa, chupa que é de uva…”. Estão a ver, não é? Engraçado. São danados para a brincadeira…

Mas o hit mais desejado era mesmo o DJ Créu, cujo êxito homónimo “Créu”, virava loucura nas pistas de dança e rebentava nos tops de todo o país. O “Créu” é mais uma designação para “fazer-aquilo-com-que-nascem-os-meninos” e o dvd comprei-o numa banca de rua que lá no Brasil não há essas modernices da ASAE.

Como o carro fantástico da nossa Bya, a nossa ultra-profissional e ultra-querida e amiga guia (saudades…) tinha leitor de dvd, as viagens de 600 quilómetros em que eles diziam “é logo ali” pareciam assim menos monótonas.

No dvd do Dj Créu, ele ensina as 5 velocidades do “Créu” e conta, para tal façanha, com a colaboração de 2 beldades, uma das quais consta como sendo a “Garota Melancia”, alcunha que ganhou graças aos seus …eh… atributos traseiros.

Confidenciaram-me então que essa Garota Melancia seria capa da conceituada Playboy brasileira nesse mesmo mês, numa edição que já não iríamos apanhar nas bancas. E eu registei mentalmente. “Hum, hei-de dar uma olhada na Internet, só para checar o artigo, escrito, está claro de ver!”.

Nunca mais me lembrei… até hoje, de repente. Realmente, as fotos estão um deslumbramento e como isto da Internet é mesmo a maior revolução da história do homem, lá encontrei também no You Tube, a MTV do século XXI, os respectivos vídeos das músicas… para mais tarde recordar.
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Com melancias destas, como é que os gajos dos minimercados se hão-de ver livres da outra fruta...
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Qualidade!

(Alô, Mamãe? Cheguei!)

(Não te chegues muito perto dos holofotes que isso derrete...)

(Tapa-te com a mantinha, filha. Agasalha-te senão arrefeces e constipas-te...)

(Sem comentários disponíveis)


E para sobremesa... os vídeos...
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Aviões do Forró - Chupa que é de Uva
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E o famoso "Crééééééééééééééuuuuu" (com Garota Melancia em grande plano, do lado esquerdo do ecrã), mostrando as 5 velocidades ao vivo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Crónica dos Bons Malandros


Discordo por completo de quem apregoa aos sete ventos que Portugal está cada vez pior. Qual quê?

Estou farto de fatalistas, de arautos da desgraça, das manchetes escabrosas dos jornais e noticiários, e assim permito-me discordar de quase tudo e quase todos os outros.

E isto porque acredito que ainda existem áreas nas quais o nosso país está claramente na linha da frente da Europa e do mundo, e o exemplo mais evidente está na criminalidade.

Para quem adora o Faroeste e os filmes de cowboys, isto está a ficar engraçado!

Os bandidos portugueses estão cada vez melhores, mais dedicados e profissionais, pá! Deixem-se de merdas! Depois de décadas em que os malfeitores tugas dignos desse nome se contavam pelos dedos de uma mão e parecia que não havia vida para além dos Irmãos Cavaco, vivemos agora um verdadeiro boom de criminosos dispostos a tudo para ingressar no Wall of Fame de Pinheiro da Cruz.

Seja dos bairros de lata das periferias das grandes urbes ou das zonas mais inóspitas e isoladas do interior, há uma nova vaga de pessoal cheio de sangue na guelra disposto a singrar neste difícil e exigente mundo.

Os bandidos portugueses não brincam em serviço e apesar de não haver formação académica específica para a área, não é por isso que deixam de se esforçar e tentar aprender por eles próprios a fazer como se faz, bem e depressa.

E a opinião pública anda de tal maneira desorientada com os pibs e a inflação e as manobras multimédia dos nossos governantes que é incapaz de apreciar todo este novo mundo de oportunidades que surge diariamente.

A Selecção fez um jogo do catano e foi encavada pelos dinamarqueses nos últimos minutos, depois de terem estado o jogo inteiro a fazerem-se de mortos?

A prestação dos olímpicos lusos ainda está por digerir?

A prestação da casa subiu e tornou-se incomportável?

A locadora veio buscar a viatura da família e levou também o periquito?

Não há dinheiro para comprar os bifes do pojadouro que estão nesta semana em promoção no Pingo Doce?

Tudo isso pode infelizmente ser verdade, mas há coisas em que nós portugueses, estamos a melhorar e a perspectiva tem se ser essa: ver as coisas pelo lado positivo e aprender com os que sabem.

Tem a sensação que consegue visualizar todas as notícias do telejornal antes sequer de darem as oito? Eu também e é por isso que sabemos que estamos certos.

Esta então do assalto de ontem à casa do nosso Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, é de bradar aos céus. Numa atitude de antologia a fazer lembrar a cena da cabeça do cavalo morto na cama do mafioso no filme da trilogia dos Padrinhos, mesmo os mais reaccionários têm de concordar que o nível está a subir e o grau está quase insuperável. Ainda por cima são indivíduos cultos e sabem o que andam a fazer. Como estão fartos de ser incomodados por aqueles que não os deixam trabalhar, deram numa de entrar na casa do responsável pelo Ministério Público só para dizer que estão atentos. Cultos e cavalheiros porque como queriam só marcar o território, esvoltearam as gavetas, deram um giro e vieram-se embora sem estragar nem trazer nada para casa.

Os ladrões portugueses têm compaixão e são uma espécie de Robin dos Bosques dos tempos modernos só que esquecem-se de dar a quem mais precisa e ficam como o bolo todo porque muitos deles ainda estão meio crus.

Reparem que esta história do carjacking dá-se maioritariamente com carros de alta cilindrada, não porque sejam mais valiosos mas porque não cabe na cabeça de ninguém ir gamar um Fiat Uno em plenos semáforos duma avenida qualquer e isto porque muito provavelmente o bacano que está ao volante está tão apertado quanto o que perpetua o acto.

Mas há mais… em quantidade e variedade!

Só em Portugal é que lembra um gajo entrar na esquadra da PSP em plena luz do dia, cumprimentar o agente da portaria, entrar por ali a dentro e aviar meia dúzia de barrenos no sujeito que está a fazer queixa dele. Melhor que isto, é deixar-se apanhar, ser presente ao juiz e sair em condicional ainda a tempo de chegar a casa e ligar a televisão para ver no jornal na tarde o estado lastimoso em que se encontra o gajo a quem fez a folha e as imagens de si próprio a sair sorridente do tribunal, com um saco do Mini Preço debaixo do braço. Presumo que já devia ter ido às compras nessa manhã. Não é de classe?

Há dias, passei-me com a história de um indivíduo que enganou meio norte com as suas artimanhas. Uma coisa do arco-da-velha! O gajo limitava-se pura e simplesmente a limpar quem lhe aparecia pela frente com recurso exclusivo à sua “banha da cobra”. Numa peça televisiva de meia dúzia de minutos, entrevistaram para aí uns 5 marmelos que foram enrolados por ele. Alugou um restaurante, nunca pagou a renda e nem sequer chegou a apresentar o sócio que iria salvar tudo; vendeu a um gajo dum estabelecimento uma máquina de Totoloto que este nunca chegou a ver, bem como aos 600 contos que deu de adianto e… a cereja no cimo do bolo, ainda teve tempo de abancar numa esplanada para propor a um que por ali estava se queria entrar num negócio de pássaros exóticos e saiu assobiando com o fundo de maneio garantido por este, para lhe trazer meia dúzia de papagaios e umas araras. Ehehehe! Brutal! Anda prái o Ministério da Cultura a dar bolsas a bailarinos… Isto sim é que era! Caraças!

Isto para já não falar do gang que decidiu roubar o Multibanco de um Tribunal. Estamos claramente perante artistas dignos da Liga do Campeões, gajos para quem limpar multibancos de centros comerciais ou da via pública é um tédio. Como são exigentes, estão-se borrifando para as medidas de segurança e não se coíbem a entrar na própria casa da queixa para trazerem a caixinha do guito. E só não roubaram o Rolex do Juiz porque nesse dia meteu baixa senão também tinha ido de roleta. Classe e estilo!

Noutro dia vi um cavalheiro ali de Cascais, todo distinto, chateadíssimo a dizer que quando todos dormiam lá em casa, alguém entrou e lhe limpou jóias, quadros, peças de ourivesaria e um monte de dinheiro sem ninguém dar por nada. E eu a pensar: “é preciso descaramento! Quer dizer, os malfeitores querem ser simpáticos, exercem educadamente o seu mister sem incomodar quem está e ainda por cima ouvem ralhetes. O que é que o gajo queria? Que o fossem lá acordar para lhes fazer chá com mel para a tosse? Ele há cada um…”.

Passemos agora para o episódio da carrinha da Prossegur, abalroada em plena via rápida: um claríssimo exemplo de como temos actualmente mestres que não se envergonham de estar ao lado de qualquer outro criminoso oriundo de um outro país da UE. A época dos carteiristas do metro do meu tempo de faculdade acabou. Cientes da sua capacidade e do seu estatuto global, os malfeitores lusos já só têm o céu como limite. Rápidos, seguros e metódicos, fizeram o servicinho ao pormenor e bateram asa sem chatear ninguém a não ser o desgraçado que ia lá dentro a ouvir a RFM e levou com uma bazucada pela culatra. Mas a coisa foi propositadamente feita para salvaguardar a vida humana. Quantos se podem de gabar disto hoje em dia?


E depois… ainda há malta que se revolta por se estar a fazer o apanágio da banditagem mas depois vão a correr ao videoclube para sacar o Ocean’s Eleven, o Ocean’s Twelve, ou o Ocean’s Thirteen e ficam a rezar no sofá para que os polícias não apanhem o Brad Pitt ou o George Clooney. Vá lá pessoal… temos de ser coerentes!

Imaginem que acabavam os criminosos… Como é que depois o Moita Flores passava os dias na Câmara de Santarém, cabisbaixo a olhar para as paredes? Deixem o homem trabalhar que ele gosta disso com fartura…

Como sei que o tempo da tecnoexclusão já lá vai e que há-de certamente haver visitantes deste blogue que actuam nesta área florescente da nossa economia, só espero que se algum dia passarem cá por casa não levem nada e se precisarem do Astra, peçam que eu deixo-vos onde quiserem. Não levem vocês o carrinho porque depois riscam-me as portas e sujam-me os estofos. E já agora, vejam lá se descobrem quem é que foi o filha da puta que me ficou com o swatch preto há uns Verões atrás. Também, já deve ter avariado…

domingo, 7 de setembro de 2008

Sérgio António Amador Bernardo (07.06.1975 – 03.09.2008)


Este é daqueles textos que custa a parir… mas vai por ti.


O meu Velhinho, o meu Velharasco, o meu Velharanga levou caminho. Foi já há muito tempo que te comecei a tratar por Velho, Velho Camarada, Velho Companheiro, Velho Amigo e tu, com a tua graça natural, encarregaste-te de fazer as variações.

Terminou assim um longo calvário de dois anos que nos manteve a todos em suspenso. Cumpre-se agora precisamente esse tempo desde que deixei um jantar na Senhora de Estrela para acorrer de urgência a uma reunião de amigos que se juntaram na Ramila, preocupados, para tentar encontrar uma solução, uma forma de lidar com esta nova e dura realidade.


Ainda me lembro quando te conheci, há tantos anos atrás, pá… eras tu um franganito e eu não deveria ser muito maior, pois está claro. Franzino e desajeitado mas com uma piada, uma maneira de ser irresistível. Lembro-me de estarmos sentados nos ferros da pastelaria e tu me dizeres que escola não era contigo e que o velhote se passava porque a tua onda não eram as línguas e as ciências mas antes as tardes passadas na Baiuca a jogar às setas, a fumar e a beber uns copos, a conviver com a malta.

Contigo era tudo claro como a água. Gostavas de quem gostavas e de quem não gostavas não valia a pena sequer tentar. Seguiste a linha do teu tio João Grande na maneira de estar atrás do balcão e as tuas variações de humor fizeram escola. Grande amigo do amigo, de verdade mesmo, foste sempre companheirão à altura.

Pensando em ti… lembro-me das noites loucas na Renault 4L do Luís Sequeira.

Lembro-me da Maluka nos Fortios, das matinées da Cave, dos bailaricos nas festas e romarias do concelho…

Lembro-me dos petiscos e da Expo 92 em Sevilha.

Lembro-me das conversas em que te abria os olhos e fazia de mano mais velho.

Lembro-me de tanta merda que passámos juntos e sobretudo dos Verões em que trabalhámos no bar do Grupo Desportivo, quando ainda tinha o fascínio de atrair a rapaziada nova. Fizemos uma dupla em grande…

Na altura eu fazia as manhãs e tardes e tu as noites. Lembraste que nunca despejavas o bidão do vasilhame e eu no outro dia tinha que alombar com o teu e o meu? Lembras-te de uma vez que me fiz mulo e depois de estar cheio, comecei a meter as garrafas no chão? A tua cara quando lá entraste e viste que mal se podia meter o pé detrás do balcão. Foi remédio santo…

E o Ti Júlio da Bica, o pobre do velhote, tanto que ele sofreu connosco… quando lhe fechávamos a porta e o trancávamos lá dentro e fazíamos de gatos e miávamos por entre as mesas. “Venham cá, cabrões, que eu não tenho medo de vocês!”. Eh, eh. Uma vez deu-te com um cinzeiro na tola com tanta força que ias desmaiando.

E quando te dei aulas de condução no campo da bola no Fiat 600 da minha mãe? Para mim não sabia eu, quanto mais…

E os serões no Poejo com o Bonachinho, e as idas a Espanha com o Quiquin…

Agora recentemente o teu bar, o teu casamento, o teu filhote…



Já me tinham dito que andavas doente mas eu, conhecendo como conhecia as tuas pancadas, achei que podia ser mais uma mania passageira. Cruzei-me contigo nas escadas da Casa do Povo e estremeci por ser por demais óbvio que a coisa era grave. Muito pálido, com grandes olheiras, uma barriga enorme e andando com muita dificuldade, pressenti e lamentei o pior. O grande choque tive-o dias depois pelo João Carlos, que soube de tudo e me traçou o pior dos cenários. A irreversibilidade do caso deixou-me de rastos. Como podia ser possível?!?!??!

Sucederam-se os exames, as idas a Lisboa, os internamentos, as dúvidas e preocupações. Chorava com dúvida, angústia e raiva depois de falar contigo ao telefone, imaginando-te só e derrotado, longe daquele que era o teu mundo. Valeu-te então o enorme apoio da família Mamede que te soube amparar nessas horas difíceis na capital.

Tentei saber mais por médicos e enfermeiros amigos, perguntando sempre na esperança de encontrar um que me dissesse que afinal poderia haver uma saída mas foi em vão. Todos nós sabíamos quanto ia durar. Todos nós sabíamos como ia ser.

Tomei então uma difícil resolução pessoal de não me deixar envolver mais do que seria capaz de suportar. Conhecendo-me bem e sabendo a verdade da amizade que nutria, procurei sempre acompanhar, estimular, apoiar mas guardando uma distância de segurança que me salvaguardasse a sanidade. Sabia que era duro demais para ser verdade.

A todo o tempo perguntei. Sempre quis saber e houve fases em que a vida parecia que te haveria de sorrir outra vez, não te salvando, mas garantindo-te a qualidade de vida necessária para seres feliz.

A debilidade dos últimos meses foi galopante. As visitas que te fazia e as conversas nas escadas da tua casa, sabíamo-lo ambos, apenas serviam para mitigar a solidão e providenciar alento. Os dias estavam contados e tu sabia-lo melhor que ninguém.

De cada vez que me ausentava, de serviço ou em férias, pensava sempre se te voltaria a ver e adiei até por mais não, a despedida que não queria ter.

Quis o destino que nos últimos dias estivéssemos mais em contacto porque a Estrela me pediu apoio numa questão relacionada com as finanças. Soube por ela que nesta fase final já não querias ficar no Hospital e procuravas a todo o custo estar em casa. Sabendo como é rija e directa, custou-me ouvir a sua voz vacilante e amargurada e decidi ir ao hospital para dar uma força.

Pensei que já estivesses inconsciente, mas à medida que me aproximei da cama vi como me olhaste e estremeci ao ouvir-te assobiar para mim, como fazias quando entrava no teu café, e o “oláááá” que me deste baixinho, como que a dizer “olha esta prenda que aqui me aparece agora…”.

“Sabes quem é, Sérgio?”, perguntaram-te.

“O Sabi. O Pedro. O Pedro Sabi” e passei-te a mão pela face num carícia que já não encontrou carne suficiente para a receber.

As fortes doses de medicamentação, sobretudo da poderosa morfina, faziam com que os períodos de consciência e de sono alternassem com muita rapidez e era difícil perceber se estarias ou não lá. Estava então bem claro que já não eras deste mundo e se há porventura exemplos em que a morte pode significar libertação, não restaram dúvidas que o teu caso foi um deles. Tudo era já tão difícil… o estar… o respirar… o perceber o fim da linha… que todos nós rezámos para que fosse quanto antes.

Mas da mãozinha tão frágil, de só pele e ossos, ainda vinha o teu calor e os teus olhitos apagados e tristes ainda pediam conforto e consolo quando se cruzavam com os nossos.

Pensei eu que por te ver, por te poder dar força e pedir calma e tranquilidade já tinha tido mais do que pedia, quando a Estrela te perguntou se querias um gelado. Enquanto descia as escadas, nunca desejei tanto encontrar um Calippo de morango e estava disposto a ir até ao fim do mundo para encontrar um. Felizmente estava bem à mão de semear e tendo autorização e estando quase sós, ainda te pude proporcionar esse momento de prazer, amigo, e ver como lutavas para te agarrar à vida e às coisas boas que ela tem. Um Calippo de Morango que não é um Magnum, nem um Cornetto, nem um gelado que se possa ver, mas que tu comeste com um prazer e uma vontade que fizeram dele a melhor coisa do mundo. Jamais me esquecerei desse gelado que te saciou a sede e te aliviou, nesse momento que foi um hino à vida e às coisas simples que passam despercebidas mas que no fundo, são as mais importantes. Depois alguém perguntou se “estava bom?” ou “o que é que se diz?” e tu ganhaste fôlego, respiraste fundo e ao teu melhor estilo disseste “dá-me outro!”. No teu melhor!

Quando parti sabia que não havia volta atrás e muito provavelmente não nos iríamos voltar a ver em vida. Pensei que tinha ficado em paz e que dali só seria para melhor mas não estava preparado para a minha própria reacção quando soube da tua partida.

O processo que se seguiu, foi duríssimo, como antevíamos. Tudo tão triste que não vale a pena sequer pensar.

Os tertulianos despediram-se de ti com um palma que não expressou nem uma milésima parte da nossa tristeza mas que foi plena de simbolismo.

Aguentei-me firme na segunda leitura na missa, como me pediram, e suportei as pernas que tremiam como varas verdes porque sei que tu querias que estivesse bem por ti.

Depois, saíste em ombros como os grandes toureiros em Las Ventas porque um Homem que viveu como tu e que sobretudo, sobre enfrentar a morte com uma dignidade e uma tranquilidade daquelas, não pode deixar este mundo de outra forma que não assim, carregado pelos amigos que sempre tanto quiseste e te quiseram. Eu sei que tu ias gostar.

Ando há dias com este texto na cabeça… criando-o… dando-lhe voltas… adiando escrevê-lo…

O que eu queria mesmo era fazer-te a minha homenagem, querido, dizer-te que valeu a pena e que jamais te esqueceremos.

Queria que soubesses, Sérgio, meu Velho, que isto sem ti fica tão mais triste.

Estejas lá onde estiveres e eu acredito mesmo que estás, sê feliz. E descansa em paz. Tu mereces, campeão.

Abraço do Sabi


Nestes dias, andei a dar voltas aos meus arquivos e apeteceu-me recordar alguns momentos felizes:

No dia do casamento

Com o nosso filho Gira

No recém aberto "Adro"









A primeira montagem da "Real Tertúlia do Camarão de Marvão"
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Na missa limitei-me a ler o que me passaram mas se tivesse o direito de opção, eram estas as palavras do grande Bob Dylan que gostaria de te deixar.
A música chama-se “A morte não é o fim” e diz que:

Quando estás triste e só e não tens um amigo,
Lembra-te que a morte não é o fim.
E quando tudo o que tinhas como sagrado, se desmorona e perde o sentido,
Lembra-te que a morte não é o fim.
Não é o fim, não é o fim,
Lembra-te que a morte não é o fim.

Quando enfrentas as encruzilhadas que não consegues compreender,
Lembra-te que a morte não é o fim.
E se todos os teus sonhos se desvanecem, e não sabes o que te espera,
Lembra-te que a morte não é o fim.
Não é o fim, não é o fim,
Lembra-te que a morte não é o fim.

Quando a tempestade te cerca e as chuvas fortes caem,
Lembra-te que a morte não é o fim.
E se não há ninguém que te conforte e te estenda uma mão amiga,
Lembra-te que a morte não é o fim.
Não é o fim, não é o fim,
Lembra-te que a morte não é o fim.

Porque a árvore da vida crescerá,
Onde o espírito nunca morre,
E a luz da salvação brilhará,
Nos céus negros e vazios,

Quando as cidades ardem com a carne flamejante dos homens,
Lembra-te que a morte não é o fim.
E quando procuras em vão para encontrar um homem que seja justo,
Lembra-te que a morte não é o fim.
Não é o fim, não é o fim,
Lembra-te que a morte não é o fim.
Até sempre!