domingo, 31 de agosto de 2008

Separados à Nascença - Vanessa de Contarr

(Clica que isto aumenta)


A Vanessa Fernandes e o Conde de Contarr são gémeos e nasceram no mesmíssimo castelo da Transilvânia.

Acontece que quando vieram a este mundo, as finanças do pai de ambos, o próprio Conde Drácula, estavam já bastante fracas e pior ficaram quando o fisco local lhe penhorou e alienou um T2 que o homem tinha comprado com umas poupanças na Baixa da Banheira quando era solteiro.

Na noite em que nasceram, o Príncipe do Mal praticamente não dormiu, como sempre, e decidiu que tinha de abrir mão dos seus mais jovens herdeiros para evitar que passassem mal.

O filho varão foi encaminhado para a Rua Sésamo que estava nesse momento em digressão, a fazer uns castings nos Balcãs. Como tinha uma inteligência acima da média e era perito a contar, sobretudo os cadáveres que o pai empalava nas traseiras do castelo, foi contratado para ser o contador oficial da série. Foi-lhe dado um banho numa tinta rosa duradoura e como o Jim Henson achou piada à ascendência, adoptaram o look do pai e assim nasceu a figura do “Conde de Contarr”.

Com a filha o caso foi mais difícil porque ninguém a queria. Por coincidência, o português Venceslau Fernandes deslocou-se então à zona para correr a Volta à Roménia e como estava farto de levar sempre os mesmos souvenirs e bibelots à mulher por onde quer que passava, desta vez lembrou-se de levar a petiz que “um sujeito com ar pálido, olheiras profundas e uns caninos salientes” estava a oferecer a quem passava na Praça principal da sua aldeia. A criança nunca se adaptou bem a Portugal e sofre do sintoma de “não poder estar quieta” porque, sabemos nós, tem nostalgia do lar do qual já não se recorda. Diz com frequência que é como o Variações e “só está bem onde não está”. Como é hiperactiva, leva os dias a nadar, a andar de bicicleta e a correr. Foi por esse motivo que o pai a inscreveu nos Jogos Olímpicos. O “Vendo o Mundo de Binóculos do Alto de Marvão” descobriu recentemente que o aparelho que usa nos dentes não é para endireitar o “corta-palha” mas para impedir que os caninos cresçam ao nível dos do pai e comece a sugar o sangue aos adversários em plena prova, o que lhe causaria uma óbvia desqualificação com justa causa.

Esta é a história dramática destes “Separados à Nascença”.


Nota do produtor: Se o Henrique Mendes ainda fosse vivo, isto dava um excelente “Ponto de Encontro”.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"Vidas" do Correio da Manhã – Manos Sabi no Sasha


O suplemento “Vidas” do jornal Correio da Manhã vale por si.

Esta brochura, se me é permitida a designação, é uma das mais isentas, bem estruturadas e completas publicações do mercado editorial português.

Não tenho qualquer tipo de dúvidas que grande parte do sucesso do jornal se deve a esta lapidar e complementar revista.

A edição do sábado passado, que eu me apressei a comprar a fim de me servir de companhia na manhã passada nas piscinas do Centro de Lazer, era riquíssima.

Para além do destaque à nova doença de Ronaldo, chamava também a atenção para a Clara de Sousa (que anda feita maluca), para o gémeo modelo e para os Santamaria. Um mimo!

Folheando no interior, não pude esconder a minha satisfação e alguma vaidade ao ver publicada uma foto que sacaram a mim e ao Júnior no Sasha, em plena festa da Maxmen, onde de facto estivemos.

Aqui deixo a cópia para a posteridade com um grande abraço para o Rúben (onde é que estão os gajos dos convites?) e ao Janita que serviu de fotógrafo com o seu telemóvel.

Muitos beijinhos também para o Evaristo, o DJ Joaquim e a Carla Matadinho, que mal vimos mas isso não interessa nada.

Foi uma noite memorável, pá! Se eu me pusesse aqui a contar o episódio do Zézé Camarinha, o dos russos bêbados que iam entrando pela praia fora com o carro desembestado, o do gajo que ladrava às inglesas e o do taxista maluco… dava quase para escrever um livro!

E o man que ficou profissional a passar lancheiras a ferro com as rodas da viatura, ao estacionar na praia?

Muito bom!

Valeu, pessoal!

Ó para nós tão lindos aqui nessa página!


Clica para ampliares e lê com atenção (senão não vais perceber ponta)



Scanner dos verdadeiros convites para a festa de encerramento com a designação “guest” a brilhar. Não fomos lá mas isso não interessa. São nossos! Se quiséssemos, podíamos ter ido, não é Bro? Estes ficam de recordação. Gente fina, man!

domingo, 24 de agosto de 2008

Bolan... Aquele bar!

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Não devem existir mais bares assim em Portugal e duvido que os haja no resto do mundo, onde sejamos recebidos desta forma arrebatadora, com um sorriso desconcertante e uma mão aberta à nossa espera, como se fossemos um familiar que se pensava perdido para sempre e regressou contra todas as expectativas, mesmo quando é apenas a segunda vez que lá entramos.

O Bolan, em Alvor, bem pertinho de Portimão, é um verdadeiro templo de amizade e tudo aquilo que um bar deve ser: um espaço de paz e convívio, de fraternidade e atitude.

Situado na esquina de uma rua polvilhada de estabelecimentos e gift shops que vai desembocar na Ria local, impressiona logo pela sua aparência exterior, pelas cores garridas da bandeira da Jamaica e pelo seu estatuto interventivo bem patente nas imagens na fachada de Luther King, Mandela, Che, Marley, Ghandi, Malcom X, Haile Selassie, Teresa de Calcutá e Miles Davies, todos homens e mulheres que pugnaram a sua existência na luta por um mundo mais justo e mais fraterno.

Se o aspecto exterior não podia ser mais convidativo, imaginem o recheio… Entrar no Bolan é mergulhar no quarto de um eterno adolescente e deixar-se deslumbrar por toda aquela iconografia de encantar. Numa deliberada estética “pró-erva”, não é de admirar encontrar estampadas nas paredes altas desta casa antiga e de traça tradicional, diversas personalidades do showbizz exercendo a arte do fumo, não faltando mesmo uma versão da Mona Lisa com um grande cacete nas unhas.

No Bolan, o som é reggae e a bebida, caipirinha ou caipiroska de frutos silvestres, ambas de provar e chorar por mais.

Enquanto nos deliciamos com a especialidade da casa, passeamos os olhos em redor e reencontramos Frank Zappa e os Beatles, Jagger com Marley e Tosh, desenhos, posters e souvenirs, Chaplin, Jimmy Hendrix e James Brown, todos eles desfrutando, sorrindo, ajudando a fazer-nos sentir em casa.

Descobri esta pérola pela mão do meu Júnior que em boa hora para ali me encaminhou. Fartou-se de me falar no estatuto quase mítico do fenómeno e na figura tutelar do proprietário conhecido como Cáubi, seu cliente e amigo, figura famosa na cena pelas suas respeitáveis rastas, pela contagiante boa disposição e pela exemplar gestão familiar que implementou no espaço com a ajuda dos seus 6, disse 6 filhos.

Na minha noite de estreia, no ano passado, fiquei com tamanha boa impressão que não resisti a regressar, como se me faltasse fazer qualquer coisa importante nestas férias se por lá não passasse. Desta vez tive o azar de não levar o Miguel comigo e de não poder estar com o patriarca que estava ausente, mas tive a sorte de ter um pôr-do-sol imenso que tudo banhava com um dourado redentor bem à frente da esplanada, e de ter conhecido o Nago.

O Nago é um dos herdeiros deste legado e pelo que tive oportunidade de dele conhecer, posso assegurar que o império está mais do que garantido. Os traços do seu rosto não enganam e ele foi pronto a explicar que naquelas veias corre sangue com ascendência dos indígenas da amazónia, de escravos africanos e dos tão europeus holandeses. A sua atitude muito positiva, uma simpatia contagiante e uma graça natural encantadora fazem dele um adolescente tão diferente de quase todos os outros, standartizados, formatados, limitados. Um verdadeiro anfitrião de luxo!

E eu senti sinceramente que podia ficar ali para todo o sempre, naquelas mesinhas de tábuas vermelhas, verdes e amarelas, a receber a energia revigorante do astro-rei, enquanto intercalava a conversa com mais com mais uma sorvidela daquela mescla divina de açúcar torrado, lima, gelo e cachaça.

Compromissos já assumidos obrigaram-me a partir, contra a minha vontade, mas com uma promessa: “Algarve para mim, tem de ter beijo neste solo sagrado. Jamais falharei!”.

O Bolan ficou por lá, languidamente estendido rua abaixo, à espera dos amigos que já tem e dos tantos que certamente há-de fazer com a sua magia encantadora.

Até breve, espero eu!






Com Nago, o jovem cicerone

A beleza da Ria de Alvor ao cair da noite

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Voando para a imortalidade


Eu estava com uma grande fezada para estes Jogos Olímpicos, certo de que teria aqui um excelente cartaz televisivo para todo o mês de Agosto mas enganei-me.

Na verdade, tenho visto pouco ou nada porque me esqueci que os chineses lembraram-se de inventar a China lá mesmo do outro lado do globo, o que significa que os fusos horários são enormes, querendo com isto dizer que quando estão lá a competir, estamos nós quase a dormir e vice-versa.

Maneira que tirando aquilo que vejo nos telejornais e num ou noutro diário desportivo, não tenho visto quase nada.

É óbvio que já me apercebi dos gajos extraordinários que por lá andam como o nadador americano papa-medalhas que parece que tem guelras e desliza como um torpedo assim que se apanha debaixo de água ou o jamaicano maluco que nem toca com os pés no chão ao correr e limpa os 100 e os 200 metros com uma enorme vantagem sobre os oponentes directos, cortando a meta a rir-se para as bancadas e em clara desaceleração.

Coisas do outro mundo!

Quanto aos portugueses, a habitual banhada a que nos vamos habituando com as esperanças no Judo, na Vela e em tantas outras modalidades a esfumarem-se perante as adversidades habituais.

Destaco em particular o jovem lançador de peso, Marco Fortes, que justificou o seu mau resultado pelo facto de a prova se ter realizado de manhã, quando se sabe de antemão que “de manhã se está bem é na caminha”. Sim senhor, por mim, deviam-lhe dobrar o subsídio para poder dormir mais. A coisa promete…

O cenário estava de tal maneira tenebroso que o velhinho que chefia os olímpicos lusos, o comandante Vicente Moura, disse que estava disposto a mandar tudo às urtigas e passar o resto dos seus dias a jogar à bisca lambida nos bancos da Alameda. Agora parece que já reconsiderou.

De tudo salva-se a Vanessa que foi de prata, mas para mim mal porque é claramente a melhor do mundo e quando se é a nº 1 não se pode ser outra coisa senão ouro. Ela diz que está feliz assim. Eu não, sobretudo porque sei, e ela disse-o, que sabia que tinha pernas para a outra mas não quis arriscar. Ora quem não quer arriscar… fica em casa. A prata pode saber-lhe a mel mas para mim e lá no fundo, acho que sabe é a fel.

E vivemos praticamente nas trevas olímpicas até hoje, até ao momento em que o pretinho bonito de sorriso de menino decidiu voar para o mais alto lugar do pódio, com uma graça e uma leveza que mais pareciam dignas de um anjo.

Incrível!

Fiquei todo contente quando soube que a prova era à hora de almoço e ainda comecei a ver em directo. Os primeiros ensaios foram bons mas depois um inglês cheio de brincos, de cabelos vermelhos, fita branca na cabeça e meias brancas de gesso até aos joelhos, começou a pular como se fosse uma corça e eu decidi não ver mais, sobretudo quando um gajo das Bahamas também pulou como o raio.

Como tinha mais que fazer, a coisa demorava e me parecia que ia correr mal, regressei à câmara e foi lá que ouvi na rádio da proeza do Nelson Évora.

Epá, foi uma emoção ouvir o relato e pensar como aquilo tudo deveria estar a ser. Uma emoção sobretudo quando o ouvi dedicar a vitória aos portugueses e a mim também. Como não ficar orgulhoso de um miúdo destes?

Adorei ver as imagens nas notícias da televisão e o oportuno programa da RTP1 sobre a vida do atleta, com depoimentos de pessoas que com ele se cruzaram, revelando-nos muitos pormenores importantes dos quais destaco a história enternecedora de amizade com o seu treinador de sempre, o Professor João Campos, nos braços de quem se foi anichar quando soube que era o vencedor. Revelou que já teve convites de outros treinadores que são muito mais avançados tecnicamente e com recursos de treino mais modernos ao seu dispor, mas todos eles rejeitou porque sabia que nenhum lhe podia dar o amor, o carinho e a compreensão que tem do seu, a quem quer como a um pai.

Muito bom!

Parabéns Nelson! Parabéns mesmo, campeão! Parabéns pela humildade, pela alegria, pelo gozo com que voas e sobretudo porque acreditas sempre que o adversário nunca está ao teu lado mas sim dentro de ti e que para o venceres, tens apenas o céu como limite.

És um modelo para todos e a tua história de coragem, sacrifício e triunfo deverá ser um elixir para nós, para as nossa vidas e para os nosso filhos.

Quem é que não se vai arrepiar quando “A Portuguesa” ecoar no Ninho de Pássaro?
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Modas… de Verão

Como toda a gente, na praia eu gosto de ler, de apanhar sol, de me “estreichar” na toalha, de ouvir música… mas gosto sobretudo de olhar.

Olhar para tudo em volta. Observar, analisar e ruminar tudo o que vejo.

Perante a oportunidade de ver tanta gente, de tantos sítios diferentes e durante tantas horas à minha frente, aproveito sempre a praia para fazer o meu raio-x à portugalidade, batendo uma chapa ao sentir e ao estar lusitano.

E isto porque não há moda, boato, crença ou novidade que não rebente ali bem no meio do areal, nas bocas de quase todo o mundo.

Neste ano, estão em destaque:

1) Rabos
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As mulheres portuguesas estão cada vez mais despidas de preconceito e mais conscientes da sua própria sexualidade, o que é uma coisa fantástica e já não era sem tempo. Os “sacos do pão”, como agora são conhecidos os fatos-de-banho que tapam o nalguedo todo, estão a dar lugar aos formatos reduzidos e é lindo ver o areal polvilhado com fios dentais, tanguinhas e “asas delta” de todas as cores e sempre, sempre, num tamanho muito abaixo do aconselhado pela moral e pelos bons costumes.

Acho justo. Na verdade, nós, os homens, já há muito que utilizamos a tanguinha tipo “nadador”, ao melhor estilo Zézé Camarinha, e nunca ninguém se horrorizou com isso. Ainda era eu gaiato e já me lembro de uns modelos à leopardo, com as ancas bem cavadas, que a mim me pareciam que davam um ar traveca aos machos que os envergavam, mas que me parece que não deixavam de surtir o efeito desejado no público feminino que perante tamanho exibicionismo, nem sequer precisava usar muito a imaginação para antever o calibre…

De forma que saúdo as jovens e as senhoras que, de uma vez por todas, se assumem sem complexos e sobretudo aquelas que mesmo sabendo que não são donas de um corpo escultural, não deixam por isso mesmo de revelar as suas formas, mais lisas ou arredondadas que ele há gostos para tudo e é por isso mesmo que o mundo não cai para o lado.

Nota do Professor Martelo: 5/5

2) Tatuagens
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A prática de gravar no próprio corpo símbolos ou elementos relevantes com carácter de permanência é uma prática corrente do homem desde tempos imemoriais.

Hoje em dia, não há coisa mais na moda que as tatuagens, ao ponto de eu dar toda a razão ao meu irmão quando diz que qualquer dia quem é notado não é quem as tem, mas quem não as tem. Realmente, conta-se pelos dedos de uma mão, o pessoal que ainda não aderiu a isso.

Não é que eu não concorde, antes pelo contrário. Interesso-me bastante pelo tema e há muito que ando a matutar naquilo que gostava de ver para sempre gravado na minha pele e só ainda não concretizei porque o facto de ser para sempre me deixa meio a vacilar.

O que me custa notar é que a maior parte do pessoal só não tatua um sinal de trânsito, o símbolo do Lidl ou o número de telefone dos bombeiros lá da terra porque não calha.

Há o grupo dos caracteres chineses (que vão sendo cada vez menos à medida que vão abrindo mais lojas chinocas pelo país fora), o grupo dos caracteres árabes (estilo Simão Sabrosa e Quaresma), o grupo dos indígenas (estilo índios e lobos), o grupo ao estilo inglês (apanhando o braço todo, como o Raul Meireles), o grupo dos clubes de futebol e o grupo das pessoas (que tatuam a cara dos filhos e da avó e nunca ficam parecidos), isto para não esquecer o grupo dos pioneiros, da guerra colonial, da malta que esteve em Angola, Moçambique ou na Guiné e que ostenta, orgulhosa, a data do período em que lá permaneceu, um “Amor de Mãe”, “Em África rezei por ti” ou “Sangue, Suor e lágrimas”.

Hoje passei por um tipo que num ombro tinha uma imagem de Jesus e no outro, uma águia. Estive para lhe dizer: “olhe, desculpe, mas o meu amigo de certeza que é católico e do Benfica, certo?”. Como de certeza que ele me ia perguntar: “epá! como é que sabe?”, achei melhor fingir que não vi nada. As tatuagens podem ser perigosas…

Eu ando louco por uma tribal azteca ou por um elemento floral oriental que vi numa revista mas é melhor esperar a ver se me passa. Se tivesse ido na minha conversa de há uns anos atrás, já há muito que tinha um extraterrestre num antebraço ou o Batman com a capa a esvoaçar nas costas. Ele há coisas…


3) Colares à Cristiano Ronaldo
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Os colares à Cristiano Ronaldo são terços de plástico que se vendem nas barraquinhas de Fátima por euro e meio. Nem sei como é que o rapaz ainda não mandou fazer um só com pedras preciosas, incrustado de diamantes e rubis, mas enfim.

A rapaziada cá da praia, querendo tanto imitar o ídolo e na dificuldade de arranjar uma namorada com o calibre de mamas da Nereida ou um Rolls-Roice de 500.000 euros, faz romaria à santinha para adquirir o adereço da moda.

Ainda hoje me cruzei com um casal em que ele levava um branco a condizer com os dentes da frente e ela um rosa-choque bem feminino.

No Sasha, o clube / discoteca nº 1, são mato e não há jovem que se preze que não tenha o seu. Aposto que nem desconfiam que aquilo também dá para rezar mas… quem é que precisa de rezar quando há ipods e playstations?

“Isso tá fora de moda”, dizem eles, e eu acho que a Igreja também tem culpa: quem é que os manda meterem as missas a um domingo de manhã quando sabem que a malta vai toda para a borga no sábado à noite? Experimentam a fazê-las às segundas-feiras de tarde, quando anda tudo arrependido do mal que se portou no fim-de-semana e vão ver que apanham lá muitos mais, até a confessarem-se!

Termino como uma nota que me surpreende sempre imenso que é a predisposição para a novidade com que os veraneantes vêm para as terras do Algarve. É uma coisa divertidíssima! Não podem ver nada novo que juntam-se logo num magote de malta, atropelando-se para estarem na linha da frente. Seja um gajo a tocar berimbau, um cãozinho que faz o pino ou uma pulga amestrada a praticar dança Jazz, tudo é razão mais que suficiente para que o pessoal que circula nos passeios aos milhares fazer logo uma roda com um escarcéu monstruoso à volta.

Isto é bom para quem tem o amor-próprio em baixo ou necessita um suplemento extra de atenção. A solução está em vir para o Algarve, estender uma toalha numa esplanada ou montar uma banca numa avenida qualquer e começar a tocar pífaro liso, a falar ao contrário ou a fingir que é capaz de imitar o som dos traques apertando o sovaco como nós fazíamos quando éramos putos.

Um dica de ouro? Fazer de homem-estátua! É dinheiro garantido. Vista uma cuecas largas, meta muita base na cara, coloque uma lata de atum vazia para as moedas (uns bons metros à sua frente), empine-se num balde virado ao contrário e finja que é capaz de estar quieto mais de 5 minutos. Acha que não aguenta? Não faz mal, também ninguém vai ficar lá mais do que esse tempo a reparar e entretanto pode coçar o nariz, os tintins ou a orelha que o pessoal até se ri a pensar que é de propósito.

Verão 2008! Ele há coisas fantásticas, não há?

sábado, 16 de agosto de 2008

Brisas atlânticas


Chegar bem cedo ao areal. Fazer corridinha de uma hora desde a Praia do Alemão até à outra ponta, percorrendo toda a Rocha e virando na marina. Mergulho retemperador no final. Cafézinho no quiosque à beira-mar. Ritual de degustação da bolinha de Berlim com creme!, comprada numa pastelaria da cidade, para fintar a Asae. Revista de imprensa com generalistas, desportivos e revista do coração que sabe tão bem nestas alturas, sempre alternada com mais um mergulho salgado. Brincadeiras na areia, visita às rochas, conversas e avistamentos até à 1h da tarde, quando os médicos nos mandam para casa, para fugir ao sol abrasador.

Quem é que disse que não há manhãs perfeitas?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cumplicidades


Quando contemplo o horizonte e o mar calmo de fim de tarde, acabo por reparar num casal de jovens que passeia à beira-mar, ambos na casa dos 20, e se pára a uns escassos metros à minha frente.

Interrompem a marcha e viram-se um para o outro. Ele abraça-a pela cintura e ela rende-se, encostando a cabeça no seu peito. Ele segreda-lhe algo ao ouvido e ela sorri, embalada pela carícia. Olham-se e envolvem-se num beijo terno.

Não sei se será uma paixão de Verão ou uma relação mais duradoura, mas sente-se que o que os une é forte e contagiante.

O amor e os seus cambiantes.

Que coisa esta que nos consome e alimenta, nos domina e nos liberta, nos trespassa e avassala.

Eles ainda não sabem mas aquele sentimento que agora os hipnotiza, há-de também ele mudar ao longo das suas vidas e madurar à medida que a idade o trespassa porque a novidade e o entusiasmo não podem perdurar para todo o sempre.

Por aquela mesma beira-mar, passeiam muitos outros casais de mais idade que vão uns anos à frente, eles de barriguinha proeminente, elas já com rugas e celulite nas ancas, mas de mão dada e quase sempre conversando…

Esses já sabem que a vida leva o ímpeto e traz a cumplicidade.
Esses já sabem que quando a beleza e o desejo se vão e os problemas da vida, a dois, se instalam, não lhes resta senão a amizade, o companheirismo e o respeito.

Pelo caminho ficam cada vez mais tantos, rendidos à tentação, ao facilitismo ou tão somente à incompreensão que é tão mais lancinante quando há rebentos pelo meio.

Eles já sabem que quando as mãos caminham unidas e os cabelos já são brancos, os sorrisos que ostentam são também de vitória como que a dizerem, “depois de tudo o que passámos, ainda aqui estamos…”.

E eu apercebo-me que na praia, quando nos despimos dos trajes convencionais e nos aproximamos da nossa condição natural, é mais fácil chegarmos à conclusão de que no fundo, somos mais parecidos uns com os outros do que muitas vezes nos parece.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

No reino da sardinha


Em termos de cultura e lazer, a Câmara de Portimão pertence àquilo a que chamo a Liga dos Campeões.

Qualquer um que seja menos distraído e se passeie por uma das principais artérias da cidade, cedo se aperceberá da enorme quantidade e variedade de riquíssimos produtos criados precisamente para atrair e agradar aos turistas.

Ele é concertos, ele é exposições, ele é eventos desportivos, ele é festivais de tudo e mais alguma coisa, ele é ballets, ele é musicais, ele é tanta coisa que até me falta o ar.

Tudo isto para além das praias belíssimas e de todo o encanto algarvio.

Em cada poste das avenidas centrais há um estandarte a anunciar eu sei lá o quê mas seja o que for, é muita bom!

Eu imagino o difícil que deve ser, ser-se vereador da área por estas paragens, sem saber onde gastar tanto dinheiro. Uns com tanto e outros com tão pouco… Como é que ainda há pessoas que não acreditam na vida depois da morte. Se não houvesse, isto era um grande fiasco. Onde é que Deus corrigia estas assimetrias todas senão aí?

Ah, já me esquecia que tudo isto deve mesmo dar tanto trabalho à Câmara que esta, à semelhança de Óbidos, até criou uma empresa municipal só para os eventos (http://www.expoarade.pt/). Ai mãezinha!

Bom, já que cá estou, a oferta é tão grande e a companhia não podia ser melhor, vamos lá então provar essas sardinhas que devem estar maravilhosas de tão fresquinhas e tão bem assadas por mãos sabedoras e a saberem a mar. Só de pensar nelas tenho logo de meter um babete que me emprestou o meu afilhado João Sobreiro. Aaarrrrrrrrrrhhhhhh. Boas!

Assim que chegámos à porta, o moço de serviço pediu-nos logo a cada um, 3 euros e meio só para entrarmos, como se faz de resto em todos os grandes certames do país. 700 paus em moeda antiga. Só no meu Marvão é que cobrar um euro para ajudar a custear as despesas da Feira da Castanha me provocou quase um linchamento público. Enfim…

A organização, como já seria de se esperar, simplesmente genial e ao detalhe. Para além da área dos enchidos, do artesanato, dos espectáculos, da doçaria e da muita animação, existe ainda a estrela do certame que é a área dos restaurantes. Eu estava curioso para saber como funcionaria mas a mecânica criada resulta e permite evitar as grandes filas e as esperas prolongadas. De um lado estão os restaurantes e do outro, as enormes mesas com uma capacidade total para 2 mil pessoas. O cliente escolhe a tasca e depois, por cerca de 6 euros e meio, tem direito a meia dúzia de sardinhas, batatas, salada e uma bebida. É pegar no tabuleiro e marchar.

A minha filha, coitadinha, que ainda não sabe o que é bom na vida, disse que queria entremeada e em boa hora o fez porque não a comendo toda, ainda me deu um fundo de maneio que negociei com o meu irmão, que também é mais carneiro, em troca de quatro sardinhas do menu dele. Eina pá, que boas estavam. Calhou mesmo bem. Aquele sal na pele, o molhinho…

Já satisfeitos, passamos pela barraca do Ti Nabeiro, malhámos uns cafezinhos bem alentejanos e ficámos contentes por termos ajudado o homem a arranjar dinheiro para caiar a adega nova que diz quem conhece que é um encanto.

Quem tiver filhotes e os quiser entretidos num sítio de onde não fujam com facilidade (os muros são altos!), é largar mais euro e meio para uma pulseira que dá acesso aos quatro insufláveis existentes. Só para judiar, ainda perguntei à senhora da bilheteira se tinha pulseiras para adultos e deixei a pobre a bater mal. Ao menos sempre tem qualquer coisa para contar aos colegas hoje.

Ainda passei pelo palco principal e espreitei o Camané que está a cantar cada vez melhor. Só não percebi porque é que o rapaz fazia questão de contrariar a brisa marítima que lhe baralhava as folhas do dossier que tinha a sua frente com as letras dos fados. Mas com aquela idade e com o disco já com meses, ainda não as sabe de cor? Ou será que a sua abstinência anda a levar umas facadinhas e a memória já não anda a 100% outra vez? Fiquei preocupado. Afinal, de todos os que emprestam a voz à causa, ele, apesar de ser o de mais baixa estatura, é para mim o maior.

Deu também para constatar, pela assistência presente numa noite destas, que a crise não foi inventada pelos jornais como o Sócrates nos quer fazer acreditar. A coisa está bera…

Regressámos à base antes que começasse o fogo de artifício que encerra todas, TODAS! as noites do festival. Lembrei-me do Ti João Esteves da Abegoa. O homem se vivesse cá estava multimilionário. Eu deu-me pena de não ver mas a minha filha criou esta aversão a tudo o que faça barulho que por mais que eu lhe explique que aquilo não faz mal, é escusado. Quando todos os outros olham maravilhados para os céus cheios de luz, ela suplica-me, horrorizada, que partamos quanto antes para qualquer sítio coberto, como se fosse a própria Al Qaeda que estivesse nos comandos da pirotecnia.

Bem diz o sábio povo que “quem tem filhos, tem cadilhos”.

E eu digo “Portimão me mata!”.

Má que jête, mosse: tássaqui tã bem!”.


A vasta e aprazível área de restauração
Ração de combate individual

Área de artesanato com palco principal ao fundo

Não resistimos a dar uma volta no carro dos Flinstones.
Destaque para a cara de felicidade do Júnior e para o pequenino João, de azul, à esquerda.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Al-Gharb


Aquela semana do ano...

na qual levamos o ano inteiro a pensar.

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Edição Extra - Zézé Camarinha vs Cristiano Ronaldo


A SIC Radical é, desde que nasceu, uma das minhas estações oficiais. No meio de tanto lixo, de tanto estrume televisivo, este canal temático é um verdadeiro diamante na lama que nos traz muito do melhor do mundo, por exemplo em talk shows (Jon Stewart, o mítico Conan O’brien) e em séries. Os melhores humoristas portugueses estão lá e basta verem um episódio do “Vai tudo abaixo” para perceberem isso de imediato. Até os gatos lá começaram, o que é sempre bom não esquecer!

A “Edição Extra” que reeditava e transformava o panorama noticioso nacional com dobragens falsas e notícias inventadas era de partir a moca. ERA, porque o bacoco do Pedro Boucherie Mendes não deve ter aprendido nada nos tempos do “Independente” e decidiu descontinuar a série.

Bem me fartei de mandar mails elogiosos, a reclamarem a continuidade, mas nada…

A coisa estava mesmo de restos.

No entanto e faltando o programa de tv, sempre ficámos com o blogue, a outra vida da “Edição Extra”, que vai dando para matar saudades.

A última aparição é genial e dá perfeitamente para admirarem o recorte e o requinte desta filigrana do “fazer rir em português”: a guerra entre o Zézé Camarinha e o Cristiano Ronaldo acerca do último jogo de computador lançado pelo algarvio.

Façam-me o favor de clicarem e admirarem a forma perfeccionista como os autores manipulam os diálogos e imitam as vozes, fazendo-nos acreditar que é tudo de verdade.
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Como os meninos não brincam em serviço, até o jogo criaram mesmo. Carreguem aqui e mudem de fraldas que isto é, como diz o meu amigo Rui, “de partir o côco a rir!”.

Fujam, fujam, que o Camarinha anda com ele feito.

Ma que jête!!!

Para quem quer saber mais, o blogue oficial está em: http://edicao-extra.blogspot.com/
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Ah! E a SIC Radical está disponível online em http://xl.sapo.pt/. Basta clicarem no ícone. Quem é amigo, quem é?

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dobrando o indómito



Hoje venci o meu Adamastor.

Hoje consegui o que sempre pensei ser impossível.

Hoje, correndo, dobrei a serra de Marvão.

Comecei namorando-a no sopé, agarrei-me às madeixas dos seus cabelos e trepei-a até ao cume, quando já só tinha o castelo à minha frente.

E pensar que precisamente hoje, nem me apetecia muito ir. Depois dos 7 dias sem treinar, decidi que quando regressasse iria duplicar o ritmo para recuperar o tempo perdido. Após dois dias de um jogging seguido e intenso, quando cheguei a casa, já depois das 7h, senti-me lazeirento e equipei-me meio contrariado.

Mesmo assim insisti e quando cheguei ao cruzamento com a nacional, em vez de cortar para os Barretos, segui em frente, encosta acima e fui seguindo, seguindo até onde nunca esperei chegar.

Já por 3 ou 4 vezes por ali me tinha aventurado mas ao chegar à Fonte da Pipa, o excesso de cansaço e a falta de fôlego fizeram-me virar para trás sem a sorte grande mas com uma pequenita terminação debaixo do braço. De cada vez que rodava e pensava em descer, os olhos iam-se-me por aquele alcatrão acima como que a dizerem… “quando é que serás capaz?”.

Calhou a ser hoje, quando tudo indicava o contrário.

No percurso lembrei-me de quando comecei a correr, há mais de 10 anos atrás, com umas sapatilhas Diadora que a minha mãe me ofereceu nos anos. Lembrei-me de quando fui morar para Marvão, das descidas que fazia e daqueles que me gozavam dizendo que para baixo, todas os santos ajudavam.

Foi preciso muita persistência, muita força de vontade, muito trabalho, muita abnegação, muito espírito de sacrifício, muita entrega.

Correr não é apenas dar à perna. Quando se corre por correr, pelo gosto de correr, há ali algo que nos faz mergulhar num propensão genética qualquer, como se fosse um desafio à nossa própria existência. O homem não foi feito para estar parado, amarrado a uma secretária. Quando um corre, liberta-se, põe-se à prova, sente-se mais vivo do que nunca quando o sangue bomba por todas as artérias e a respiração puxa ar e vida.

Depois, não há coisa que me dê mais prazer do que quando me supero, quando me transcendo e provo a mim próprio de que sou capaz.

Nestas minhas incursões pelo desporto e pelo jogging olhava sempre para o morro de Marvão como o meu Everest. “Ena pá, se eu ao menos um dia lá chegasse ao ciminho…” e continuava de olhos no chão, certo de que era um objectivo que estava para lá das minhas capacidades.

Tudo isto se torna ainda mais motivante e recompensador quando penso que foi transposto por um miúdo asmático que passou a infância e grande parte da juventude dependente de medicação regular e aerossóis e só à custa de muita natação e muito desporto conseguiu quase duplicar a capacidade toráxica e superar em muito a resistência.

1 hora e meia depois de arrancar, quando avistei a minha casa, já de noite, nem queria acreditar no que tinha conseguido fazer. Ver as luzes a brilhar lá bem no alto e saber que já não são mais intransponíveis… foi lindo!

Agora sim! Deixou de ser a brincar e já só penso nessa primeira meia-maratona de Lisboa que alguns colegas de esforço me incitam a fazer. Aí pessoal! Caraças, pá! Valeu!

Ai Sócrates, Sócrates… vais levar uma rabeta, bebé! Até te saltam os collants!

Espera pela demora…

Porreiro, pá!




Em Nisa, no centro do mundo (swingando com a divindade)

Fui de visita à Nisartes e não consegui evitar deixar de me sentir pequeno, diminuído por todo aquele aparato. Mais intimidante que aquilo não pode haver e para mim foi uma experiência bem reveladora. Dei por mim a admirar o entorno como um puto que passa as tardes a jogar ao pião e vê os amigos passearem de mini-aeronave.

Eu também tenho uma Gastronomia mas a minha tinha 4 mil euros de orçamento. Esta, segundo me confidenciaram, tem à volta de 510 mil, ou seja, 120 e tal vezes mais, o que sempre dá para mais qualquer coisita. Gastam numa feira o que eu não gasto num mandato.

É! São opções. Ele há executivos que arriscam, que acreditam e ousam meter os seus locais no mapa. Corra bem ou corra mal, eles lá estarão para justificar, em bloco. Ainda bem que assim é.

Só em artistas, de certeza que 40 mil contos não chegaram para todos.

E depois há os pavilhões gigantescos, as cozinhas do melhor que pode haver, belos estrados, belos palcos, belas luzes, belas aparelhagens.

Uf!

Por muitas críticas que possam haver, o que eu vi, e eu conheço bem Nisa, foi as pessoas felizes, passeando em famílias ou entre amigos, desfrutando de aquilo tudo porque tristezas não pagam dívidas e a vida são dois dias. Salero!

Fui ver a Mariza porque a minha senhora diz que gosta e não indo pelo artista, não podia ter saído mais impressionado.

Nunca fui gajo de modas. Eu sei que isto pode ser pancada mas quando os outros cantam em coro, eu desconfio e afasto-me. Exemplo claro disso são os Silence 4. Quando o “Borrow” começou a bater nas rádios e parecia que andava tudo hipnotizado pela melodia, eu não passei cartão e por pouco, se não tivesse ouvido a assombrosa “Angel Song”, estive em risco de perder uma das bandas mais talentosas dos últimos 20 anos da pop portuguesa e um dos génios criativos mais profícuos do nosso universo musical luso, o meu quinto David Fonseca que eu adoro e venero e ouço até à exaustão.

Maneiras que esta onda do novo fado e das Anas Mouras e “não sei quê” me cheira a esturro e tirando o Camané, eu como a xixa e deixo o resto ao lado no prato.

Mariza? Tá bem, abelha!

Mais uma vez, não podia estar mais errado.

O concerto foi extraordinário e aquela garça real de pescoço aristocrático é muito maior do que pode ainda sonhar. Dona de uma voz assombrosa, com um extraordinário sentido de tempo e com um carisma inebriante que nos obriga a segui-la por onde quer que pise, Mariza transporta o fado para outro nível ao cruzá-lo com influências e ritmos que o levam da Mouraria para o mundo. Nunca o conceito “world music” fez tanto sentido.

A Senhora Dona Amália que esteja lá em descanso que o que é dela ninguém lho tira mas aqui o tempo é outro.

Tal como não há forma de comparar o Cristiano com o Eusébio, por viverem em épocas e em estágios de evolução da modalidade diferentes, também esta Mariza merece ser admirada por si.

Classe, distinção, erudição e domínio mas também sinceridade, entrega, humildade e devoção.

Um pássaro raro com uma coroa dourada, em bailados mágicos e cantos de sereia.

Absolutamente notável.

Nota muito mesmo 5 estrelas para a banda que impressionava de tão jovem e competente, recriando-se com os instrumentos e deixando-nos a pensar como é possível atingir aquele nível excelso de execução quando ainda nem barba se tem. Coisas destes tempos. Estranhos tempos os nossos.

Quando se despediu e cantou junto ao público, banhada na luz dourada dos holofotes, tocando as crianças e acenando aos adultos que sorriam embasbacados, pareceu-me assim até a visão de uma outra senhora também tão querida de Portugal.

Foi memorável, pá.

Vamos lá sacar esses discos todos para ver se mais uma vez, sou contemporâneo de uma lenda e ando tão distraído que nem dou por isso.

A bênção, minha filha!
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