segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

o MEU Concelho. o MEU herói.

(Fotomontagem que compus para o 1º aniversário da restauração que comemorei no executivo, em 2006, que apresenta em 1º plano o Dr. Mattos Magalhães e o nosso castelo, tendo como fundo a acta da reunião extraordinária que assinala o acontecimento. Clique para ampliar)

Pensei diversas vezes se isto era conversa para aqui chamada ou antes assunto para ser debatido noutras instâncias, mas pareceu-me que aqui era bem pelo simples motivo que o facto gerador desta tasca cibernética foi precisamente o de eu poder dizer o que me vai na gana sem fazer concessões.

Assim sendo,

Na quinta-feira passada comemorou-se mais um aniversário sobre a restauração do concelho de Marvão e não estou a falar de restaurantes mas sim de restabelecimento.

A 24 de Janeiro de 1898, muito por força de um tesudo chamado Mattos Magalhães, a rapaziada de Marvão trazia de volta para estas paragens a autonomia concelhia que andou arredada lá para os lados de Castelo de Vide por força das remodelações administrativas que surgiram no seguimento da Revolução Liberal.

110 anos depois, para comemorar a efeméride, o município local encomendou foguetes de manhã, foguetes à noite, e organizou um sarau simbólico na Casa da Cultura, antiga sede camarária. Houve lugar a discursos e abordagens históricas, poesia popular, uma actuação do Coro Infantil dos Assentos e um ligeiro beberete com chá quentinho e bolinhos.

Coisa pouca… mas sentida.

Não fossem os familiares das crianças do Coro a darem calor humano à sala e poderia eu bem dizer aqui que a assistência seria um óbvio reflexo daquilo que nós somos hoje enquanto membros desta entidade que é Marvão.

Poucos e dispersos.

Eu sei que as noites são frias. Eu sei que por coincidência de calendário, os compadres reuniam também nesse serão. Eu sei que alguns vivem longe. Eu sei muitas coisas e nessas muitas coisas que eu sei, também sei que é pena.

É pena porque já estou farto que me digam que é por causa do morro que Marvão fala a duas vozes. Realmente, o morro é alto mas a volta dá-se depressinha. Na verdade, eu, numa hora e meia de corrida e andamento, passo pelas quatro freguesias, indo pela Ponte Velha, Portagem, Fonte da Pipa, Abegoa e Santo António. Às vezes vou á ponte dos Vales de propósito só para pôr um pé na freguesia da Beirã e sentir que estive nas quatro. Sei que isto pode soar um pouco estranho a ouvidos alheios mas a mim sabe-me muito bem quando o faço.

É uma pena porque no meu concelho, as pessoas, não são capazes de pensar que está nas suas mãos o fazer de todas as vontades, uma vontade só.

É o egoísmo e não a geografia que condicionam a nossa unidade.

Se o querer fosse mesmo poder. A coisa saía como uma força que ninguém pode imaginar.

Maneira que nessa noite, onde podemos medir o pulso à nossa consciência municipal, onde podemos psicanalisar a nossa vida conjugal concelhia, eu senti-me triste cá dentro, embora sorrindo.

Falar é fácil e pensadores não faltam por aí mas mesmo aqueles que hoje ocupam cadeiras do poder que é dado por todos, faltaram à data e ao convite que os seus próprios antepassados lhe legaram com tanta solenidade.

Vi lá muito poucos Presidentes de Junta e membros de Assembleias de Freguesias.

Vi lá muito poucos deputados da nossa Assembleia Municipal (quase nenhuns).

Senti mesmo a falta de alguns vereadores.

Vi que faltou muita gente que devia de lá estar, não falando sequer nos populares, nas gentes das aldeias, das povoações, dos lugares de Marvão.

E a razão porque faltaram a este encontro com a história é simples: faltaram, e não lhes pesa na consciência, porque a matéria de que ali se tratava era de interesse menor. Caso contrário, estou certo que marcariam presença.

E isto é o que temos e digo-o resignado e sem remorsos.


Naquele então, a nossa autonomia esteve ameaçada e agrilhoada.

Hoje, a ameaça reformadora paira sobre nós e os horizontes que se vislumbram nos tempos mais próximos são tudo menos sorridentes.

Se o Sócrates e a sua canalha lá de Lisboa, os que só querem números e rácios, decidirem um dia dar a volta ao texto e apagar com a borrachinha as fronteiras do nosso concelho para o juntar a outro qualquer, não irão encontrar grande resistência.

Ou muito eu me engano ou isto em Marvão é coisa para demorar pouco e dar ainda menos trabalho.

Que pena!


PS: Mas a mim têm de me roer os ossos e são capazes de serem tudo menos moles!!!!

Conta-me como foi


A série “Conta-me como foi” é um prodígio!

Verdadeiro ovni de qualidade, brilha resplandecente no soturno e paupérrimo panorama televisivo da produção nacional.

Um extraordinário naipe de actores (sublimes Miguel Guilherme e Rita Blanco), uma reconstituição visual e histórica irrepreensível e magistral, uma família e uma narrativa que nos colam ao ecrã, muito humor e realismo são os ingredientes desta pérola sem igual.

Acho que desde o “Duarte e Companhia” que não assistia tão embevecido a uma série produzida em solo lusitano e pouco me interessa que o formato seja importado da vizinha Espanha porque está tudo feito com tanto detalhe e tanto amor que já é só nossa. Ainda alguém se lembra que o Simão Sabrosa foi do Sporting? É disso de que vos falo.

Devia de sair um decreto qualquer que determinasse que nos domingos à noite todos os outros canais deviam de substituir a programação regular pela mira técnica, convidando todó Portugal a ver com prazer o que é mesmo muito bom.

Ensina, educa, instrói, diverte, anima, satisfaz.

5 estrelas!

E aquele miúdo… é todo um prato!

Desta televisão gosto eu!


(E ainda faltam 27 episódios para o final!)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Olhó Robot! (Separados à Nascença!)

(clicar na imagem para ampliar)


Esta história de ser a própria família a divulgar o retrato-robot, meses depois do desaparecimento, é mesmo muito estranha. Que eu saiba, as competências dessa área são da polícia e cada vez mais me convenço que o velho Moita Flores tem razão: o caso pode muito bem ter protagonistas óbvios.

Mas pelo sim pelo não e como passei também férias na Praia da luz pouco tempo depois do sucedido, lembrei-me de dar uma volta pelo meu arquivo fotográfico digital, para uma segunda olhadela pelas fotos que registámos então, na tentativa de apanhar o dito cujo em segundo plano e assim poder ajudar a resolver este mistério.

Mas sabem como é… a gente começa ver as fotos, entusiasma-se e vai por aí fora, vendo mais e mais e mais e eis que de repente, encontro umas imagens de uma Festa da Relva de há uns anos atrás e dou de caras com o meu amigo Victor Malaquias, célebre vulto da vida artística arenense, com um look bem similar ao do meliante.

Coa breca!

Estão parecidos ou quê?

E foi então que me lembrei de publicar isto quanto antes para que a Polícia não descubra por ela própria e ainda invente para aí problemas ao nosso amigo.

Sendo a notícia avançada pelo blog, tudo não passa de uma brincadeira e o nosso Victor pode continuar a viver em paz.

Mas só aqui para nós. Se fosse eu, cortava a melena quanto antes.

Sempre um gajo ficava mais descansado…

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Postalinho de Portugal

(clicar para ampliar)


Vi a notícia no Público e fiquei estarrecido.

E se um extraterrestre aqui caísse e visse isto?

Será que resistiria a mandar um postalinho à sua família na galáxia “Solibatemaisum?”.

E assim nasceu a rubrica “Postalinho de Portugal”, instantes do nosso país real para todómundo enviar para a família, amigos, amantes, primos afastados e animaizinhos de estimação, quando de passagem pelo nosso país.

À venda apenas nos quiosques seleccionados.

25 cêntimos cada. 40 cêntimos o par.

Fazemos desconto aos cartões: “65 +” e “Cartão do feirante”.

Dave Rocks!


Eu também sou da opinião que o Dave Grohl é mesmo o gajo mais fixe da cena do rock.

É simplesmente impossível não gostar dele.

Desde que apareceu lá atrás, a bombar como um louco na bateria dos Nirvana, tem espalhado classe e conquistando fãs por todo o mundo.

Virtuoso das baquetes, simpático e sempre brincalhão, pensou-se perdido para sempre quando Cobain preferiu o mito e cedeu ao sofrimento.

Ninguém dava nada pelos seus Foo Fighters, mas ele resistiu.

Tem sido uma carreira longa e trabalhosa, com breves ascenções à 1ª liga do Rock.

E o Dave nunca se negou. Colaborador de projectos mirabolantes como os Queens Of The Stone Age e mentor de outros míticos como o que se esfumou sob a designação Probot (onde prestou homenagem aos seus ídolos de adolescência), o seu talento parece querer desbravar todas as fronteiras.

Nunca fui particularmente fã mas este último trabalho “Echoes, Silence, Patiente and Grace” é de todos o melhor.

E já há muito que o Dave e os seus caçadores de ovnis mereciam um tema assim.

“Long road to ruin”, essa estrada sinuosa para a desgraça já outrora trilhada por nomes míticos como a família Ramone, é no meu entender, a grande estrada da glória para eles.

Grande, grande tema. Grande letra. Grande riff. Grande solo. Grande malha e grande Dave Grohl.

E já agora, grande vídeo. É que este gajo nunca se leva a sério!

Esta é daquelas que dá vontade de apanhar um avião para o Havai!

Keep on Rockin’ Boys!





Tradução livre e discutível, já sabem!

Longa estrada para a ruína

Aqui agora, nem um único som,
Já ouviste as notícias hoje?
Uma bandeira foi retirada,
E outra hasteada no seu lugar.
Uma cruz pesada que carregas,
Um coração obstinado que permanece inalterado,
Sem casa, sem vida, sem amor,
Sem um estranho cantando em teu nome.

Pode ser da estação,
As cores mudam nos céus do vale,
Meu Deus, eu selei o meu destino,
Atravessando o Inferno, o Céu pode esperar.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.

Vamos dizer, tomaremos esta cidade,
Sem rei ou rainha de qualquer estado,
Levanta-te e desliga tudo,
Abre as ruas e ergue os portões,
Eu sei de um muro para escalar,
Eu sei de um campo sem nome,
Avança sem cuidado,
Antes que seja tarde.

Pode ser da estação,
As cores mudam nos céus do vale,
Meu Deus, eu selei o meu destino,
Atravessando o Inferno, o Céu pode esperar.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.


Por cada peça que cai no seu lugar,
Para sempre desaparecida sem um rastro,
O teu horizonte toma a sua forma,
Não voltes para trás, não vires essa página.

Vem agora, vou partir esta noite,
Vem, vamos deixar tudo para trás,
É esse o preço que pagas?
Atravessando o Inferno, o Céu pode esperar.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.

Longa estrada para a ruína aí no teu olhar,
Debaixo das luzes frias da rua,
Sem amanhã, sem beco de saída à vista.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Camisinhas...


E agora parece que vão começar a dar preservativos à pala nas escolas, segundo o que ouvi no outro dia nas notícias da rádio.

As associações de pais já andam numa granda azáfama a organizar protestos e mais não sei o quê. Não tarda nada, anda meio mundo na rua aos gritos com cartazes contra isto e contra aquilo.

Imagino que vão chover protestos de todos os quadrantes e mais alguns.

Preservativos à borla.

E logo nas escolas…

Eu acho bem.

Na verdade, não só acho bem como me parece que é uma das medidas mais certeiras que ouvi em muito tempo para combater, olha, por exemplo, a SIDA.

E isso já é uma grande coisa.

É uma medida certa porque às vezes os grandes problemas combatem-se não com grandes soluções mas sim com soluções pequenas e certeiras… estratégicas… que vai na volta nem custam muito.

Eu agora sou pai, mas olhando para trás, recordo-me bastante bem da minha adolescência que me parece, agora que penso nisso, que foi ontem ou por aí.

Acho que ainda estou mais próximo de ser adolescente do que de ser um chefe de família e pai e funcionário das Finanças e Vereador e essas coisas todas.

Se calhar é porque já fui jovem mesmo assim a sério e nestas novas funções estou há ainda menos tempo.

De qualquer das formas, tudo isto é para dizer que eu percebo os jovens porque não raras vezes quando falo para eles, ou penso neles, me sinto também um deles.

E lembro-me bem que as raparigas se tornam mulherzinhas mais depressa que os rapazes. Na minha turma do 7º e 8º ano, já as miúdas passeavam pelo átrio da escola as formas roliças que haveriam de fazer delas mulheres e ainda eu e os meus colegas trocávamos cromos de futebol da 1ª divisão, de cadernetas que nunca chegávamos a acabar porque eu ainda hoje acredito que os cabrões da editora deixavam sempre um cromo do Varzim, ou do Espinho por fazer, para nos tornarem dependentes ao ponto de queremos vender a casa e o carro e os nossos pais só para ter o prazer de folhear aquilo tudo e não ver nenhum quadradinho em branco.

Quando ainda no ciclo, a dada altura, a gente começa a reparar naquilo, ou seja, nas colegas, nas mulheres e é tudo um rebuliço. A cabeça dos jovens é muito complicada porque processa os pensamentos à velocidade da luz e o corpo então está sempre em permanente ebulição e mais parece um tubo de ensaio cheinho de hormonas malucas do que o invólucro de uma pessoa normal.

Aí a partir dos 13 ou 14 e nos 15 é já de certezinha, um gajo só pensa em namorar e nos beijinhos e no bingo! que às vezes parece que está quase mas a páginas tantas lá se vai tudo por água abaixo porque toca para a entrada, ou porque os amigos que estão à esquina a espreitar se escavacam a rir, ou porque chega a funcionária da biblioteca ou a contínua ou assim.

Sejamos claros: os rapazes nessas idades só pensam nisso.

Elas, fazem-se difíceis mas a partir de uma determinada altura, vergam-se perante a natureza e arreiam porque a carne é fraca.

E podem vir para aqui com mil teorias do género “ah, não sei quê e isto e aquilo e aqueloutro” que nem todas são iguais e eu digo: “balelas!”.

Eu sei do que falo.

Só no Liceu, e já me estou a adiantar na conversa, tive 6 namoradas, todas elas giríssimas, mesmo das mais giras da escola e não foi dito só por mim e eu nunca fui dos gajos mais bonitos. Pondo a modéstia de parte e olhando para trás, podia não ser muito giro nem muito atlético como os gajos de desporto, mas tinha pinta e isso gerava algum consenso. Acho que sabia levá-las e isso notava-se. Os meus segredos sempre foram 2: saber usar a cabeça e uma coisa fabulosa que eu ouvi uma vez o Humphrey Bogart dizer num filme a preto e branco, no segundo canal da televisão espanhola numa madrugada em que não me conseguia deixar dormir: “Fazer rir uma mulher é a maneira mais fácil de ser dono do seu coração”. Bem hajas!

Piada sim, acho que nisso, mais ou menos, safava-me.

Concluindo, a partir dos 14, a malta está toda numa onda de transe. Verdadinha e que me desculpem os pais porque quem fala verdade, não merece castigo.

Isto no meu tempo, porque se fizermos a conversão para os dias de hoje e se levarmos em linha de conta que os jovens aprendem tudo mais cedo e fazem tudo mais cedo e até a menstruação se explica nos iogurtes da Danoninho ( a sério? Não! Isto sou eu na reinação), a coisa complica e muito.

Agora vamos todos fazer um exercício:

Faz de conta que somos jovens outra vez. Faz de conta que temos vontade de dar vazão a estas coisas estranhas que nos fazem tremer cá dentro e querer fazer o que nem sequer sabemos como e até há esta miúda muita gira do ciclo que está aqui ao lado e pelos olhitos de gata que me deita, está na mesminha onda que eu.

O que é que nós precisamos para dar andamento a isto?

Em primeiro lugar… precisamos de espaço, mas isso é fácil. Qualquer cantinho duma sala de um setôr que faltou, a arrecadação do ginásio, o clube de francês, a sala dos finalistas, o sótão da escola, o anexo do laboratório (tanto frio!), um canto do edifício ao anoitecer, qualquer coisa serve.

Então, temos 2 corpos que encaixam (a biologia ajuda!), temos espaço, tempo e oportunidade… o que é que falta ali para que a coisa vá por onde tem que ir mas sem problemas de maior?

Isso mesmo: faltam os preservativos!

E os preservativos estavam na minha altura para os jovens estudantes como o Santo Graal para os arqueólogos, ou seja, eram pura e simplesmente inatingíveis. Hoje as coisas mudaram um pouco mas o sexo continua a ser tabu. Continua a haver pudor e receio de falar, discutir e debater uma coisa que é tão natural ao ponto de todos nós termos tido origem nela.

Sim, porque para cada um de nós que anda por aqui a passear a cabeça entre as orelhas teve de haver uma cópula prévia, uma junção de corpos, uma relação sexual, uma ***a (isso!). Simples não é? Então, let’s face the truth, e encarar isto com naturalidade, como uma contingência da vida, como o Alzheimer ou outra cena qualquer que nos vai tocar a todos.

Para um miúdo com vontade, o preservativo é o mais difícil.

Procurá-lo em casa é um pouco careta. A coisa pode correr bem mas também pode correr mal e a menos que haja um pai ou uma mãe conscienciosos que deixem um ou outro exemplar assim num sítio meio a fingir que está escondido para ele poder lá passar e apanhá-lo quando precise; ou o utilizem na prática conjugal e deixem a banquinha de cabeceira destrancada ou outra benesse divina do género, pode tudo complicar-se.

É claro que ter um irmão mais velho é certeza de Jackpot. Aí o mais provável é que não faltem camisas de vénus de todas as cores e sabores. No meu tempo eram todas iguais, cremes e a cheirar a borracha.

Mas para quem não tem pais assim e irmãos mais velhos, e colegas repetentes fixes que também as querem para eles, conseguir camisas é arriscado.

Agora já há os hipermercados que vendem toda a merda e até drogas e medicamentos e as ditas camisas também. Mas no meu tempo, lá está, o preservativo era um produto que não constava do inventário adrede da mercearia das minhas tias nem nas outras mercearias num raio de trezentos quilómetros quadrados.

E aquela história de ir à Pharmácia quando os vendiam em exclusividade e entrava alguém conhecido e apanhavam um gajo com a borracha na mão e iam logo a correr dizer “xiii, andas nessa? Anda que eu já vou dizer à tua mãe e ao teu pai!”.

“Xii! Empata-****s!” digo eu!

Nós somos animais, meus amigos. Com o tal verniz cultural mas animais, de qualquer das formas. A malta nova quer é cobrição e divertimento e são muito mais dados a hedonismos que todos nós, cotas, juntos!

Por isso, vamos tentar compreender-nos uns aos outros, vamos tentar ser tolerantes e tornar a vida mais fácil à rapaziada.

O que é que vale mais? Uma jovem que guarda na mochila a borrachinha gratuita que levantou na sala de convívio e a torna prevenida, fintando estigmas e preconceitos; ou a mãe adolescente que claudicou o seu futuro e o do filho que não quer; ou pior ainda, a jovem que faz retro virais para conseguir levar uma vida uma pouco mais digna por um erro de uma tarde ou uma noite?

E não vamos extrapolar contra o carácter gratuito porque acho que neste caso é o melhor para a nossa sociedade.

Se me perguntarem se sou a favor da distribuição de seringas gratuitas nos estabelecimentos prisionais tenho de responder que sou contra e isto pelo simples motivo que uma prisão deve de ser um espaço fechado, logo hermético, logo avesso a essas passagens. Autorizar essa distribuição era reconhecer que o sistema é permeável e corrupto e violável e as prisões servem para moralizar e não para desmoralizar. A luta deve ser feita no sentido de fazer o acompanhamento e a reabilitação dos prisioneiros e aí deve-se gastar o que há e o que não há, mas quanto a dar-lhe mais do que os meteu lá dentro em 90% dos casos, não me parece caminho.

Agora os preservativos, isso sim.

E depois ouvimos, “Ai a minha filha foi para a casa de uma amiga” (a mais antiga desculpa do mundo que serve à amiga também para se esgueirar aos pais dizendo que está com a hóspede e estando bem melhor algures); “ai a minha filha foi a um festival de Rock acampar com umas colegas e vai lá estar uma semana”; “ai uma viagem de finalistas e umas férias para não sei onde…”.

Na boa… mas todos nós sabemos que o mais certo é a coisas rolarem.




A Leonor tem hoje 6 anos.

Ainda parece que foi ontem que peguei nela pela primeira vez, embrulhadinha numa toalha branca, encandeada pelas luzes da sala de parto, a deitar fumo do corpo e ainda a cheirar ao ventre da mãe.

Já tem 6 anos.

Em menos de nada, chegará a estas idades de que vos falo e só Deus sabe como tudo vai ser um dia.

Eu espero cumprir o voto que fiz enquanto jovem de me tentar sempre relacionar com ela mais como amigo do que como pai. Na altura prometi que quando chegasse o momento certo, falaria com ela de tudo aquilo que quisesse como gostaria que falassem comigo.

O problema está em saber quando chega esse momento certo.

E as promessas, diz o povo que existem precisamente para não serem cumpridas.

A ver vamos…

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Jamais!


Isto só em Portugal!

Só em Portugal é que um Ministro das Obras Públicas tem o descaramento de vir à televisão, a um programa de grande audiência de uma televisão pública, defender uma posição com a qual não só não concordou, como chegou até a gozar e a achincalhar em língua bárbara: jamais!

Só em Portugal é que isto acontece e o homem fica incólume e a populaça permanece encarneirada.

Quando lhe falaram de Alcochete como sendo um dos locais prováveis para o novo aeroporto, chegou a defender que só por cima do seu cadáver se avançaria para um investimento desta importância num sítio, numa zona, onde “não há gente, não há escolas, não há hospitais, não há cidades…”.

Agora vai para a televisão defender os argumentos contra os quais vociferou.

Se eu mandasse isto era assim, o Sócrates, ao decidir em sentido inverso da Ota e estando na posse destes elementos, tinha de deixar cair o ministro. Se assim fosse, não lhe restaria outra solução que lançá-lo às feras e na minha opinião a coisa processar-se-ia da seguinte forma:

O ministro seria entregue no fim do tabuleiro central da ponte 25 de Abril, à meia-noite, completamente nú, onde seria esperado por uma comitiva composta por cidadãos e autarcas da margem sul que o correriam “à frutada”, com podres e vegetais, até Alcochete, onde seria embalsamado e estrategicamente colocado numa rotunda inaugurada para o efeito, denominada “Rotunda do Jumento”, onde ficaria exposto para memória futura.

Seria bem engraçado, uma espécie de versão actual do rito pelo qual passavam os batoteiros no Velho Oeste, quando os banhavam em petróleo, os cobriam de penas e os passeavam numa viga pelas ruas das cidades e quem leu o Lucky Luke sabe bem do que vos falo.

Ah! Belos tempos.

É que eu não posso com o homem! Já viram bem o ar daquilo? Eu sei que é feio julgar as pessoas pelo aspecto. Eu próprio, se mandasse, tinha pedido a Deus para nascer no corpo do George Clooney, ou pelo menos, com menos meio-metro de nariz. Mas o Mário Lino ganha porque é impossível acreditar naqueles olhos esbugalhados, naquele ar de quem acabou de mamar uma garrafa de uísque, na sua expressão aparvalhada…

Mas é o país que temos, meus amigos e não me venham com histórias porque eu sei que faz falta mais um aeroporto mas também sei que a solução Portela + 1 é de longe a mais simples, mais económica e mais facilmente exequível. Só que essa solução não dá resposta à alcateia de lobos famintos que controlam as grandes construtoras e os grandes interesses instalados. Essa solução não paga os favores e o clientelismo dos partidos em época de eleições. Essa opção não satisfaz os donos do dinheiro e do poder e cá o mangas mais a esposa, o Pedro Alexandre e a Fernanda Cristina, que não fogem nem podem desviar um cêntimo da tributação, lá vão ajudar a financiar a megalomania desta gente.

Há tempos fui a Beja para uma apresentação oficial do PIT (Plano de Investimento ao Turismo), numa viagem enguiçada em que me carimbaram por excesso de velocidade, e fiquei boquiaberto quando ouvi lá a senhora a dizer que o governo tinha definido que as áreas de interesse no Alentejo no que diz respeito ao Turismo, face à nova conjuntura comunitária, eram a zona litoral e a zona do Alqueva. Quis ela dizer com isto que o resto era paisagem, um pantanal, para esquecer.

Com esta gente não vale a pena argumentar. É como o velhote da SIC que fazia de magistrado na saudosa série “O Juiz decide”. Dizia então o homem: “o juiz decidiu, está decidido!”.

Aqui é igual. Comes e não levantas cabelo!

Agora, começo a perceber que as conversas batem certo e que a grande estratégia socialista está a começar a tomar forma com o aeroporto por ali, o TGV por onde nós sabemos, as plataformas logísticas onde já foram anunciadas e as zonas de excelência turística previamente definidas.

Diz o povo que “por um bocadinho é um homem corno”.

Desconfio que é esse bocadinho que nos vai faltar aqui em Marvão.

Vamos ficar a vê-los passar e não muito mais do que isso…

Ai a porra da minha vida, ãh!


PS: Ah! Já me esquecia! No meio de toda aquela embrulhada, há um momento de puro génio e de comédia à antiga portuguesa. O nosso Mário, numa das suas encaloradas investidas, espeta uma ferroada na Zita Seabra, ali na qualidade de defensora de si e contra-tudo, como é de resto habitual, e diz-lhe qualquer coisa como “a shôtora tem dificuldades de relacionamento com a história e com o passado”, referindo-se à sua polémica saída do Partido Comunista Português.

Assim que pôde, a nossa amiga não o fez esperar pela demora e esperta!, aponta-lhe em público que “ai o shôtor acha que eu tenho problemas com a história? E o senhor? É que se bem se lembra, quando eu saí do PCP, o senhor ainda lá ficou, sendo na altura RESPONSÁVEL PELO SECTOR DAS EMPRESAS E PELA GESTÃO DOS FUNDOS E ORIENTAÇÕES QUE CHEGAVAM DE LESTE PARA A ÁREA!?!?!?!?!?”.

F***-**! E o gajo ficou impávido e sereno, com um ar de “prontos, prontos, não te zangues”.

Neste país diz-se tudo.
Estes romanos estão loucos!

Porca miséria!


E prontos! Já estão descansados, não?

Eu agora olho para o Porto (jogadores, equipa técnica e dirigentes), com o ar de quem olha para aquele gajo que num almoço de amigos, insiste sempre em contar o fim das anedotas antes que o contador lá chegue.

Esta é uma arte que exige requinte e um alto grau de “expertise”! É preciso deixar que o contador comece a narrativa, é preciso identificar a anedota para não cometer falhas, deixar que avance na história e quando a assistência está suficientemente quentinha e pré-disposta, pimba! Avança então com um “ah! Já sei! Essa é a do …!”, e não consegue parar de rir do ar de desconsolo dos comparsas.

Sendo assim, a 15, 15, 15! jornadas do fim do campeonato, na ronda inicial de arranque da 2ª volta, o Futebol Clube do Porto sagra-se Campeão Nacional da época 2007/2008.

Tri-campeão, na realidade!

É obra!

E inteiramente merecido!

Não bastava já o episódio de sábado, protagonizado por um Benfica totalmente ineficaz e incapaz de bater em casa um modesto Leixões, o campeão dos empates, com o qual perdeu nesta época 4 preciosos pontos dos 11 que o separam do campeão; quando eis que os lagartitos chegam para ajudar a festa, cedendo um empate de gritos frente aos estudantes de Coimbra já nos minutos suplementares. Esta teve requintes de malvadez! Deixaram-nos marcar primeiro e mataram-nos já bem gordinhos ao soar do apito final. Bem podia gritar o Miguelito Veloso, “Ai Valha-me Santa Fátima Lopes! Que horrrrrooorrr!”, abanando o carrapito no alto da nuca, não querendo acreditar, que os de negro já festejavam a monumental enrabadela que lhes aplicaram! Muito bom!

Caíram assim os dois, que nem patinhos, aos pés de um Porto demolidor que esmagou literalmente um Braga europeu, que aos 4” já tinha um na pá e aos 14” caiu de quatro com a confirmação da superioridade azul e branca. Sem hipótese!

Há diversas formas de abordar esta clara realidade de que há 2 campeonatos na 1ª Liga em Portugal: o do Porto e o dos outros.

Há quem conteste e se recuse a aceitar. Do lado encarnado, há os que ainda hoje rogam pragas a um árbitro que nos roubou claramente um golo limpo e um penálti. Da lagartagem há quem se queixe da má sorte e do penteado do Paulo Bento, mas de nada lhes vale também.

Eu sou realista. Sou como os drogados cujo primeiro passo para a recuperação é o reconhecimento das suas fraquezas.

Somos o maior clube de Portugal e um dos maiores da Europa. Somos os que temos mais troféus, mais campeonatos, mas sócios e simpatizantes. Temos uma história gloriosa e nenhum dos outros se pode chegar a nós quando falamos de projecção no mundo e de passado.

Contudo, neste momento, somos uma pálida sombra dos nossos antecessores. Temos uma equipa de merda! Sim, de merda! Um treinador obtuso, um Presidente quadrado e inoperante e até os ex-dirigentes são máfia da mais reles que há.

Meus amigos, rendam-se à evidência: o Benfica dos nossos dias está muito mais perto do Vale e Azevedo do que do Eusébio.

Eu cada vez me esforço mais para sofrer menos. Já não parto vidros em casa nem coisa que o valha. Mas custa-me, até quando me rio das asneiras.

Até ao fim do campeonato já não me tiram do sério, nem o sono.

Mas sem essa vibração de todos os fins-de-semana que é só dos que ainda acreditam, fico sem saber bem o que vou fazer então.

Que pena!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O gajo que sabe mais do que um miúdo de 10 anos


Já me vou habituando à ideia de que na minha casa não sou eu quem manda na televisão e sei que isto é o princípio do fim da minha hegemonia: primeiro apanham o comando do dito cujo e dentro em breve passarão as duas a controlar e a determinar tudo aquilo que eu devo ou não fazer, se hei-de ir de soquetes de renda e calções à missa ao domingo, que tipo de cereais hei-de comer de manhã ou que cor de papel higiénico é mais apropriada para o meu feitio.

Para mim isto já é ponto assente, um facto consumado, uma verdade imutável da vida como envelhecer ou morrer.

A pequena então, tem requintes de malvadez enquanto controla o aparelho. De manhã a RTP2, os ratos Xia e Mia, a Rua do Zoo 64, a Ilha das Flores (que repete e ela volta a ver de tarde), enfim, tudo o que há disponível, ela apanha!

Ai queres revistas de imprensa e as notícias da manhã? Ah, ah, ah, ah! Patinho!

Até o trânsito… O que eu gostava de ver o trânsito quando estava em Marvão e morava a 2 minutos do emprego, contemplando aquelas filas intermináveis com meio-mundo enfiado dentro das quatro latas, à beira de um colapso, de um AVC, de um ataque de nervos. Eh, eh, e eu a comer uma torradinha e a beber um leitinho com chocolate e a pensar assim: papalvos! Ai querem cultura? Querem centros comerciais? Hospitais? Proximidades dos grandes eventos? Ofertas de emprego a pontapé? Então engulam, engulam esse fuminho e essas filas intermináveis que só vos fazem bem!

Até isso se me acabou.

À noite então, a coisa piora. Em vez dos desenhos animados, aquele crânio em ponto pequeno, aqueles olhos vorazes, aquela miniatura de gente, cola-se ao ecrã a ver as coisas mais abomináveis que possam imaginar: adora o Fernando Mendes, o concurso do Figueiras, os Malucos do Riso, o Prédio do Vasco e afins.

“Mas tu nem te ris! Porque é que vês essa porcaria? Sabias que isso são programas de humor? Isso é para as pessoas se rirem”.

“Eu não me rio mas gosto!”.

Complicado! Bom argumento!

Um dos seus preferidos é o “Sabes mais que um miúdo de 10 anos”, com o qual eu embirro particularmente.

Embirro porque estou farto de concursos de cultura geral que são servidos desde há uns anos a esta parte como se não houvesse mais nenhuma televisão depois deles. Embirro porque sinceramente não vou muito com o Jorge Gabriel, que se está sempre a fazer à fotografia e a tentar ser o filho e o marido ideal para todas as donas de casa portuguesas. Embirro porque os miúdos estão sempre armados em espertos e a gritar “Eu! Eu! Eu!” quando é para responder. Se aquilo fosse no meu tempo e a professora fosse a Dona Lurdes e mamassem uma reguada na tola de cada vez que errassem a resposta, não se armavam tanto em chicos-espertos. Ah!

Mas hoje, cá no meu cantinho do meu sofázinho, da minha salinha, à minha braseirinha, depois da corridinha, do banhinho e do jantarinho e do cafezinho enquanto lia o jornalito e as pequenas se recriavam quando o dito concurso estava no ar, comecei a prestar atenção aquilo pelo canto do olho.

O jingle promocional dizia: “será que é este jovem que ganha tudo?”.

“Um gajo que ganha tudo? Hum! Deixa cá ver. Quem será o espertalhão?”.

Nisto entra ele, de rompante pelo corredor. Não sei porquê mas simpatizei com o indivíduo. Era novinho, alto, magro, com uma barba farta e dois olhos fundos e simpáticos a sorrirem do meio daquela penugem toda. Ao contrário da maioria dos concorrentes que se aperaltam todos para ir à televisão, o mano este apresentou-se de t-shirt do mais simples que existe sem sequer um único dizer, calça de ganga e a maior descontracção do mundo.

Era simpático e educado. Respondia de forma cordata e com um sorriso grande.

Na pergunta introdutória que serve de apresentação, onde os concorrentes devem de falar de um facto, um episódio marcante da sua vida, contou que já esteve para quinar. Numas férias de Verão particularmente atribuladas, passadas em Albufeira com os avós, quando contava 16 anitos (idade terrível!), abusou dos seus conhecimentos acrobáticos no mergulho de despedida da época estival e deu uma cabeçada tamanha na areia que deslocou não sei quantas ossadas e vértebras e essas coisas todas. Chegou mesmo a ficar inanimado e se não fosse o helicóptero que o levou de urgência para Lisboa, para mim, já estava a tocar harpa há muito tempo, lá nas nuvens, para os querubins; para os outros frequentadores desta casa (marinheiros, bugas, cunhados, meninas e afins), já estaria a fazer tijolo, sete palmos e meio debaixo de terra, há ainda mais tempo!

Safou-se e ainda bem. Este era um ser humano com apresentação. Um bom exemplar da raça lusitana daqueles que gajos como eu, já entradotes e a caminhar para cotas, gostaríamos de ver para genro. (Foi a primeira vez que disse isto assim e até me arrepiei! Mas prontos…).

Quanto à ocupação, acho que disse que era qualquer coisa de agronomia e que dava explicações.

Dar explicações do 1º ao 9º ano é uma grande vantagem para este concurso, que é de dificuldade acrescida porque não dá alternativas de resposta, tipo cruzes: ou sabes, ou não sabes!

Mas bem, com esta actividade estaria em vantagem e revelou-o logo desde bem cedo.

Digo-vos com sinceridade que acho que teve alguma sorte nas perguntas. De todas as que respondeu, eu falhei apenas 3 e acertei inclusive num problema matemático do 4º ano que exigia diversas operações e que me permitiu afastar alguns fantasmas, digamos que … aritméticos (viste mãe?).

Acertou a forma como se escreve lixívia (facilito!); o plural de escrivão (tb fácil); que a carne era o alimento com mais calorias de um determinado grupo (mas conhecia com detalhe todos os outros alimentos. Notável!).

Falhou a data de introdução no mercado cambial do euro mas essa até eu falhava porque tenho uma memória muito fraca para datas. Foi salvo pelos miúdos! Para tudo na vida é preciso sorte!

Acertou que os animais como as lagartas andam por uma locomoção “não sei quê” que eu não sabia; acertou que o corpo humano tem 600 e tal músculos que eu também não sabia (sei que o pénis tem 2 e pouco mais. Acho eu…); acertou que foi o Rei D. Dinis que instaurou o português como língua oficial (e eu desconfiava dele porque era poeta e tal mas a Cristina sabia e contou resposta certa para nós) e muitas mais coisas até que chegou à pergunta derradeira.

A final! E a final funciona assim: quem chega à final já leva 2 mil contos em moeda antiga que para mim ainda é muito mais que 10 mil euros. Feito o câmbio, o gajo pode ver o assunto que lhe calhou e depois de decidir se vai, das duas uma: ou ganha e leva tudo, ou se perde, já não leva os 10 mil euros que dão para comprar um carro de gama baixa mas só leva 1.500 euros, ou seja, trezentos contos que na minha tabela de correspondência monetária equivalem a um LCD de 102 centímetros, um portátil e uma máquina fotográfica. É uma escolha complicada e difícil, ou seja, difícil e bastante complicada!

Saiu “História” e confessou ele que tinha reflectido anteriormente e estabeleceu que se chegasse a esta fase do jogo e saísse “História”, ele não aceitaria avançar.

Pensou, pensou, pensou…………………………

(suspense)
……………………..

(suspense)
………………….....
e disse que ia a jogo.

“Bravo!”, disse eu “é um gajo com eles no sítio!”, e isto só pensei, não cheguei a afirmar porque a Leonor estava mesmo aqui ao lado e já estava ver o que diria de seguida: “ó pai, com eles onde? O que são esses eles?”.

A pergunta do Gabriel era algo do género “como se chamam as ilustrações que os monges do século XIII copiavam para os livros manuscritos?”.

É óbvio que eu e todos os terráqueos vivos que já nos deixámos apaixonar pela genial obra de Umberto Eco, “O Nome da Rosa”, sabíamos a resposta de caretas. Era de olhos fechados. Sem falsas modéstias. Eu respondi logo e elas são testemunhas e não é de Jeová.

O rapaz pensou, pensou e confessou que embora tivesse trabalhado durante 2 anos como guia turístico no Convento dos Capuchos (grande ajuda! Digo eu!), não se lembrava da palavra.

Merda!

Baixou a cabeça, pensou, pensou e de repente, fez um gesto como se já estivesse e os olhos encheram-se de lágrimas. Fez-se luz! A emoção era tanta que teve de morder o lábio para não começar a chorar como uma criança. Viu-se claramente que tinha a certeza. Momentos depois haveria de confessar que houve uma vozinha dentro dele que lhe soprou a resposta.

“A sua resposta é…”.

A minha resposta é: Iluminura!

O quadro apagou-se por segundos… e de seguida surgiu a palavra “Iluminura” que fez todos explodir numa alegria contagiante.

Nesse mesmo instante, dobrou-se e agarrou-se ao apresentador a agradecer, lavado em lágrimas. Agradeceu ao público e às crianças da sala, uma a uma, algumas das quais também choravam de emoção, não conseguindo esconder o que lhes ia lá dentro.

Foi um momento enternecedor e comovente, dois mais bonitos que eu me lembro em televisão assim nos últimos anos. Ah… foi maravilhoso!

Acho que a magia da televisão é isto mesmo, um gajo está muito descansadinho em casa e leva um pontapé destes... no tal sítio.

É bom!

Disse então que quando era miúdo tinha a mania que lhe havia de sair o totoloto. Quando saiu da clínica, depois do acidente, já livre de perigo, os médicos disseram à mãe que de facto lhe tinha saído essa sorte grande. Hoje, ou lá quando o programa foi gravado, saiu-lhe outra vez. Ainda bem, porque por mim, é mais do que merecido.

Esqueci-me de dizer que o seu nome é Pedro mas acho que isso não importa nada. Ou será que sim?

Boa gente!

Diz o ditado que “se não as consegues vencer… junta-te a elas”. Os “Malucos do Riso” ainda não me convenceram mas acho que vou passar a sublinhar este programa a marcador na TV Guia da semana que vem.

E se não me esquecer, amanhã mesmo hei-de ir daqui a Rio de Mouro inscrever-me nas explicações do meu homónimo, porque o saber não ocupa lugar.

E que bom que é ouvir cantar quem sabe!

Parabéns, campeão!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vinhetas e pranchadas - Família Superstar

Vinhetas e Pranchadas - Autárquicas 2008 - Vota PB

De dedo em riste!


Eu às vezes desconfio que ando ao contrário do resto do mundo.

Isto tudo a propósito da cena de semi-pugilato protagonizada pelo grego Katsouranis e pelo Luisão, em pleno Estádio do Bonfim, sábado passado.

Só vejo é gajos na televisão a dizerem que é uma vergonha, que o Benfica está de rastos, que não há quem pegue no balneário, que falta voz de comando, que uns estão com saudades do penteadinho do Veiga, que outros nem podem ouvir falar dele, que assim não vamos a lado nenhum…

Dizem que é um escândalo, que as penas deviam ser ultra-pesadas, que deviam de ir para trabalhos forçados no novo aeroporto.

Eu não.

Não só não acho que a cena não foi calamitosa, como acho aquilo tudo perfeitamente normal.

Esses críticos de meia tigela, treinadores de bancada e ultras em estado letárgico nunca devem ter jogado à bola, caraças.

O futebol não é para meninas e o que aconteceu foi para mim a cena mais normal do jogo, devendo até ser enaltecida porque os gestos foram típicos de jogadores que querem triunfar e querem ganhar. Senão vejamos,

Quando o grego atrasou a bola, pode ter feito o passe sem olhar mas certamente não teria como objectivo colocá-la nos pés do adversário e que adversário! Bem podia o Petit montar-se nas cavalitas do gajo para o apear que o homem corria que nem uma autêntica besta de carga, ao ponto de o deixar a pé e seguir viajem ainda mais rápido.

O Luisão, por seu lado, viu-se apertado e obrigado a esticar uma “faienca” para derrubar o “tanque” que se aproximava. Sentiu-se então no direito de pedir explicações ao colega que, no calor do jogo, não gostou e começaram a discutir.

Qual é o mal? Sim, qual é o mal?
Eu vejo aquilo bem! Mal era se andassem a assobiar para o lado como os lagartos. Esses sim que estão malíssimo! Agora nós?

Cenas destas durante os jogos profissionais devem de acontecer às dezenas e ninguém se queixa. Mas como é Portugal e como é o Benfica, armou-se logo ali um escarcéu de alta escala e parece que o mundo há-de sair à rua aos gritos em cuecas de gola alta.

Pelo amô di Deussss!

Se os homens estavam só a vibrar.

Diz o nosso orelhas que os atletas envergonharam a camisola do Benfica. Já eu sou da opinião contrária: estes homens jogaram à Benfica, com vontade e com querer, honrando a nossa garra mítica.

Processados deviam de ser inúmeros calotes que sem saberem ler nem escrever, se apanharam vestidos de vermelho e a correr na relvinha sem sequer se darem ao trabalho de suar os cueiros. Cacete!

Processada devia de ser a florzinha do Nuno Gomes quando anda lá a engonhar. Processado devida de ser o Luís Filipe quando não acerta uma marcação. Processado devia de ser o Nélson quando não consegue colocar um centro na área em 100 consecutivos.

Deixem lá a malta brigar uns com os outros…

É sinal que há sangue na guerra, embora a julgar pelo nível exibicional, deva ser sangue frio como o das serpentes…

domingo, 6 de janeiro de 2008

Um 2007 musical

Finda o ano e o Tio Sabi apresenta a toda a clientela, a listagem das cassetes que mais tocaram aqui no estaminé durante o ano que passou.

Tudo isto é material de altíssima qualidade, tão bom, tão bom e de tanta confiança que nem sequer aceitamos devoluções!

A memória de um ano musical.

Espero que vos faça bom proveito.

Consumam sem restrições.

À vontadex!

10+ Internacionais

1. Arctic Monkeys – Favourite Worst Nightmare
O segundo disco é sempre o mais decisivo para quem quer fazer carreira. É a obra da consagração ou do abandono e os Arctic Monkeys provam em cada tema deste 2º que são grandes, de verdade e estão para ficar. Para mim, continua a ser um mistério saber como é que mentes tão jovens e imberbes conseguem produzir o rock mais grandioso do momento mas depois lembro-me que a obra poética do Rimbaud saiu-lhe do corpo antes dos 18 e aí acalmo a passarinha. Eu adoro estes miúdos. Grandes letras, grandes riffs, música intemporal.



2. Arcade Fire – Neon Bible
Outro genial segundo disco. Outra bestial confirmação. A música dos Arcade Fire é uma experiência religiosa e mais não digo. Estes são sagrados.



3. The View – Hats Off to the Buskers
Mais um grupo de miúdos a fazer música como a gente grande não é capaz. Um compêndio de rock indie em 14 andamentos. Nota 20!



4. The Shins – Wincing the Night Away
A pop perfeita é assim. Os vídeos perfeitos também!



5. Radiohead – In Rainbows
Com “OK Computer” revolucionaram o rock nos anos 90. Com “In Rainbows” dão a machadada final na indústria musical tal como a conhecíamos, ao colocarem o disco directamente na net, pedindo por cada download, aquilo que cada um quisesse dar, como se estivessem a tocar no metro. Génios puros.



6. Amy Winehouse – Back to Black
Uma miúda inglesa, cujos passatempos favoritos são o álcool e as drogas, que canta como se estivesse possuída pelos espíritos de uma cantora da Motown e de um Pirata do Pacífico. A mais improvável das estrelas canta em todas as rádios que o pai lhe diz para se desintoxicar e ela diz “Não, não, não!”. A não perder…



7. Alicia Keys – As I Am
A mais bonita, mais sensual e mais talentosa estrela da pop/soul num álbum que para mim é de consagração absoluta. Desde que a vi ao piano a cantar “Fallin’”, há uns anos atrás, fiquei rendido para sempre. Muita classe!

http://www.youtube.com/watch?v=ktUSIJEiOug&feature=related

8. Babyshambles – Shotter’s Nation
Por falar em estrelas improváveis e quando nada se previa a seu respeito a não ser a morte numa valeta qualquer, Pete Doherty regressa sabe-se lá de onde para um grande, grande disco. Stylish!



9. Ben Harper – Lifeline
Nenhum outro músico no mundo canta com a alma e a fé de Ben Harper. Para os críticos é mais um disco. Para mim, é um passo de gigante numa carreira pródiga.





10. Interpol – Our Love to Admire
Bebendo da obra produzida nos 80s por bandas consagradas como os Joy Division, os Interpol desbravam novos territórios, transportando essa sonoridade para os nossos dias. Este amor é mesmo para admirar.





Os + em Português

1. Wraygunn – Shangri-la
Tinha uma esperança e uma fezada que este disco dos Wraygunn fosse o mais aclamado em terras lusas em 2007 e quase todas as listagens o confirmam. Que o disco tenha sido composto em Marvão no seguimento do convite que fiz a Paulo Furtado e que este nome lhe tenha sido dedicado, são motivos que tornam a paixão ainda maior.



2. David Fonseca – Dreams In Colour
O David Fonseca é enorme, um talento único e o nome maior do panorama musical actual, na minha opinião. Grande terceiro disco que me traz encantado. E ninguém, NINGUÉM faz vídeos com esta honestidade! Grande!



3. Clã - Cintura
Pop de nível internacional, de alto recorte e requinte e ainda Manuela Azevedo…



4. Maria Rita – O meu Samba
Um fenómeno. Um cometa. Um assombro maravilhoso.



5. Bonde do Rôle – Bonde do Rôle
Da favela para o mundo. Um autêntico disco voador.



6. The Poppers – Boys Keep Swinging
Uma banda que é uma agradável memória do Marvão Rockfest. Grandes músicos, grandes pessoas e um rock intemporal.



7. Jorge Palma – Voo Nocturno
Musicalmente extraordinário, com as letras a precisarem de mais uns whiskies. Bem agradável. Uma ternura de vídeo!



8. Sean Riley and the Slowriders – Farewell
Surgido bem no final do ano, mesmo a tempo de integrar a lista, mas ainda sem imagem disponível. Certamente, no início do ano, estarão por aí.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Pela boca morre o inspector


Como devem calcular, não consegui esconder um sorriso irónico quando conheci a imagem que revelava o presidente da ASAE fumando uma bruta cigarrilha em pleno Casino do Estoril, já em pleno 2008, querendo isto dizer que estava já claramente infringindo a lei que entrara em vigor às 0 horas.

O Todo-Poderoso António Nunes, Inspector-Geral da temida entidade, recentemente promovido a Torquemada, Inquisidor-Mor do Portugalete actual, foi apanhado a “cagar o capote”, como se diz em bom alentejano.

E a expressão assenta-lhe que nem uma luva: só borra o capote quem se arma em fino e não tem o cuidado de se desfazer desse potente agasalho quando necessita de “dar vazão à tripa” em pleno descampado.

“Faz o que digo, não faças o que eu faço” é outro ditado que porventura viria mesmo a calhar”.

Talhado à medida da arrogância do actual elenco governativo nacional, foi incapaz de reconhecer o erro e quis tapar o sol com uma peneira e esperemos que seja das de metal, porque as de madeira estão proibidas. Defendeu-se então o dito senhor dizendo que estando num Casino, estaria protegido pela Lei do Jogo que é omissa quanto a esta matéria.

Mas será que este pensa que somos todos parvos?!?!?!?!?!?

A Lei do Jogo regula o Jogo, não os espaços, meu senhor, e não pode fugir ao disposto na alínea j) do artigo 4º, da Lei nº 37/2007 de 14 de Agosto que prevê a proibição de fumar nas salas e recintos de espectáculos e noutros locais destinados à difusão das artes e do espectáculo, incluindo as antecâmaras, acessos e áreas contíguas.

Como me dei ao cuidado de ler a lei, só se o Casino for um mercado, como o do Bulhão e for ao ar livre, isto é, sem tejadilho!

Somos uma merda de país, uma merda mesmo! Porque se houvesse um pingo de dignidade e honra nesta história toda, não lhe restaria outra saída que a demissão. Ou a pedia, ou o convidavam a apresentá-la.

Um indivíduo que tem sido mais papista que o Papa, que tem fechado negócios familiares e pequenas empresas honradas de Norte a Sul do País clamando “Tolerância Zero”, não lhe restaria outra coisa senão sair perante a sua actuação enquanto prevaricador. Era mais do que justo e elementar!

Mas não, deu ali umas desculpas que os fiscalistas se apressaram a desmentir, mas vai ficar em lume brando até que se apaga.

Pobres de Nós!

Tive oportunidade de o conhecer pessoalmente quando se deslocou a Portalegre para no Auditório da Câmara de Portalegre esclarecer os agentes económicos que ali se deslocaram como o receio que todos vocês calculam. É do tipo de pessoa que não nos olha nos olhos quando o cumprimentamos e isso para mim é tudo.


Começou o discurso afirmando que na Alemanha existem x estabelecimentos comerciais para y restaurantes; na Inglaterra idem aspas, em Espanha idem idem e em Portugal existe em proporção, o dobro do que deveria haver, concluindo que se metade fechasse… não haveria problema.

Pouco lhe interessa as famílias que vão para o desemprego e todos aqueles que perdem o seu sustento.

À boa maneira portuguesa, passámos do 8 ao 80.

Mas que história é esta? Que tipo de homens estamos nós a criar? Voltámos à Idade Média e ao reinado dos medos?

Que vergonha!

Faz o que eu digo…


Tira-teimas: http://srh.ipbeja.pt/docs/tabaco.pdf

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Ano Novo!


De serviço na Megatenda,
na noite do Reveilhão,
Passei o ano no barraco,
coordenando a animação.

Depois das doze badaladas,
Passas, abraços e alegria,
Muitos votos de felicidade,
que a ocasião bem merecia.

Passei pelo lume de ano novo,
Juntei-me a todos os presentes,
Olhei para o céu e para Marvão,
Esperei ali pelos foguetes.

Peguei no telemóvel,
O fogo aguardava a chamada,
vi-me então bem apertado,
porque a rede estava “Ocupada”.

Meti-me na viatura,
Subi tão rápido quanto podia,
Bem gritava cá de baixo,
Mas o raio do homem não me ouvia.

“Ulisses!, arranque com isso!”,
Gritei ao da Pirotécnica,
Uma luz rasgou o astro,
E em segundos se fez dia.

Admirei a luz e a cor,
Ali tudo crepita e fervilha,
O atraso foi só de minutos,
O espectáculo… uma autêntica maravilha.

Dali regressei à tenda,
Meter discos p’o pessoal,
Por todo o mundo a dançar,
Ajudar a levantar o astral.

Com muito Rock e muito Pop,
Ponho os “cotas” a cantar,
Mas o mais certo é os jovens,
Começarem a assobiar.

Essa malta Sub-30,
Prefere os batuques do Reis,
Eles chamam àquilo música,
Eu ando então meio aos papéis.

Mas a malta abusa um pouco,
Bebem em quantidades anormais,
Abrasam o corpo e a mente,
Caem redondos que nem pardais.

Cantam, dançam e namoram,
Aproveitam cada segundo,
Vivem tudo numa noite,
Querem ser donos do mundo.

Afinal correu tudo bem,
Não houve brigas, nem confusão,
Apenas alguns aceleramentos,
E um ou outro empurrão.

No final restavam poucos,
Os mais duros e foliões,
Convencemo-los a ir para casa,
Com bons conselhos e sugestões.

Neste 2008 que agora chega,
Saúde, paz e sucesso,
Megatenda, até pró ano!
Aguardamos o teu regresso!

Separados à Nascença - Manélix, o Gaulês




De passeio...


Há dias, por motivo do aniversário da patroa, partimos numa “road trip” familiar com destino definido pela pequena. Quando os jogadores da selecção são mais novos que nós e são os filhos a dizerem para onde devemos ir, é mais que certo que estamos mesmo a ficar velhos.

E as coisas agora são assim… A prima avançou-lhe as melhores referências do local e aí vou eu, daqui para Coimbra, de propósito para ver o “Portugal dos Pequenitos”, de onde já tinha abalado por duas ou três vezes com a sensação de que sim, é muito giro, mas está bem, espera aí que eu já volto.

Bem lhe podia falar na Vila Natal de Óbidos, nas renas e na pista de gelo, na aldeia dos duendes e na casa do Pai Natal, nos mil brinquedos e divertimentos que ela não. Meteu mesmo na corneta que tínhamos de fazer 200 quilómetros, duas horas de viagem, para conhecer um espaço que foi inaugurado quando o Camões não só era vivo como ainda tinha os dois olhos.

Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii eu!

E nestas cenas não vale a pena um gajo ir acabrunhado e a prender o burrito porque ganha o mesmo. Sendo assim, sorriso bem disposto e ar de felicidade porque assim se afastam os maus-olhados e os carros da Brigada.

Lá por ser o primeiro dia de chuva em dois meses e lá por ela perguntar, bem antes de chegarmos a Castelo de Vide, se “ainda falta muito?”; não nos vamos deixar abater. Boa disposição atrai coisas verdadeiramente boas!

Siga!

Depois de muita cacimba e nevoeiro, chegamos à cidade do Mondego bem a tempo de dar ao dente num Fórum bem catita e moderno e nem vale a pena dizer quem é que escolheu a manjedoura.

Como a chuva amainou, a tarde antevia-se propícia ao passeio e os ânimos estavam em alta.

Assim que cheguei à bilheteira e a senhora me pediu 3 contos para passar o portão, os céus começaram a chorar gotas gordas que me caíam sempre nos sítios mais certeiros como o espaço entre o pescoço e a camisa ou em cheio nas lentes dos óculos.

“Já viu, já está outra vez a chover…” disse eu à espera de alguma compaixão mas em vez disso, uma voz plena de oportunidade avançou logo: “eu trabalho na lojinha das recordações e tenho lá muitos guarda-chuvas para vender!”.

“Ai sim, olhe… obrigadinho e tome lá mais 13 euros”.

À primeira impressão, percebe-se de imediato que aquilo é tudo do tempo da Mari Cachucha e tresanda a Estado Novo por cada canto e cada esquina.

A fase de entrada, destinada a representar as colónias e as regiões ultramarinas é de uma pobreza franciscana, adornada com exposições a cheirarem a mofo, ilustradas por legendas ainda feitas no tempo das máquinas de escrever. Duvido que as crianças dali apanhem muita coisa a não ser uma rinite alérgica qualquer e “ala que se faz tarde”.

A segunda área, dedicada aos grandes monumentos nacionais é bem mais interessante e conseguida, embora as exposições, sobretudo a do Museu do Traje, continuem na linha de despromoção de divisão. Mas vale porque é bem gira a ideia de ter ali nuns metros quadrados, as obras arquitectónicas mais imponentes do nosso país, só faltando mesmo o castelo de Marvão, é claro!

A terceira área, onde estão representadas as casinhas típicas do nosso Portugal é onde os pequenos mais se divertem e tudo aquilo deve ser bem mais engraçado quando o tempo está bom e convida a umas gasosas e uns gelados para refrescar das correrias. O rigor das réplicas é grande e resulta muito bem embora um upgrade dos interiores não fosse má ideia.

E prontos, hora e meia e está feito! A miragem de Óbidos ainda não se tinha dissipado da minha ideia mas nesta altura do ano faz-se de noite tão depressa que até o tempo passa mais a correr e achámos melhor não arriscar.

Ao regressarmos, passámos tão próximos de Fátima que achamos por bem aproveitarmos o tempo ainda disponível para mostrarmos o Santuário à infanta.

Fátima é um lugar muito especial para mim. Sei que gera muita controvérsia, escárnio e maledicência, mas deve sobretudo ser um ponto de respeito e de tolerância.

Visitei-a com os pais em criança, em excursões enquanto adolescente, na cerimónia da “Bênção das Fitas” no meu ano finalista e por diversas vezes nos últimos anos, uma delas numa caminhada solitária e noutra de bicicleta com o meu caríssimo “road mate” João André.

Ali pensei, ali meditei, ali rezei e senti o seu pulsar, uma paz e uma tranquilidade que nos pacificam e absorvem.

Para mim, só há um sentimento no mundo maior que o amor e foi essa fé imensa de milhares que ajudou a criar a Fátima enorme e invisível para os que não acreditam e se deixam cegar pelo brilho dos souvenirs dos vendilhões do Templo.

Para mim, Fátima é paz, silêncio e reflexão.

Nem tudo ali é perfeito e também eu discordo de tanta coisa. Mas a força que emana é de tal forma poderosa que me recarrega e apazigua.

Nunca ali tinha estado no Inverno, com tudo tão vazio e silencioso, dominado pela aura mística do lusco-fusco. Era uma Fátima quase fantasmagórica naquela final de tarde / noite, belíssima e inesquecível.

Da Capelinha das Aparições assisto à mais improvável das provas automobilísticas quando um maluco qualquer, certamente adepto de tunnings e afins, decidiu entrar com o seu Celica de tons azul-bébé pelo Santuário adentro e começou a dar voltas e mais voltas em círculo, percorrendo um circuito imaginário que só existia na sua cabeça tonta. Também eu abri a boca e fiquei ali incrédulo, a contemplar a bizarria da cena, aguardando um desfecho que não fazia antever nada de bom e que tanto podia passar por uma execução sumária do piloto pelos guardas do Santuário como por uma explosão espontânea seguida de fogo de artifício. Diga-se o que se disser, a verdade é que os gajos que trajam de preto e andam por lá armados de micros e auriculares e que supostamente serviriam para zelar pela integridade do espaço, deviam de estar a mamar umas minis e uns pipis na tasca da esquina porque demoraram meeeeesmo muito.

Eu, que até sou um gajo pacífico, se fosse um deles e assistisse àquele episódio das “Ruas de São Francisco” em directo, tinha disparado a magoar e faria-o com a mesma convicção se porventura tudo se tivesse passado num templo budista. Não há outra forma de combater os intolerantes senão usar o seu próprio veneno. Mas a coisa foi bem e a captura pela GNR não foi demorada, maneira que avançámos sem mais para a nova Igreja da Santíssima Trindade.

Belíssima, de linhas muito modernas e com um interior de deixar qualquer um pasmado, apresenta-se enorme, muito linear, muito grande e silenciosa, toda ela centrada para um altar que é uma obra de qualidade à prova agnósticos, com o seu Cristo suspenso e as imagens da história dos Pastorinhos em suaves relevos dourados, numa iconografia a fazer lembrar as imagens religiosas gregas.

Poderíamos discutir tudo e mais alguma coisa acerca desta magnânime investida arquitectónica e religiosa mas prefiro ficar por aqui. Não hão-de faltar pontas-de-lança para o efeito…

Saídos na penumbra e sob a chuva gelada de Dezembro, os três agarradinhos debaixo do mesmo guarda-chuva (sim, o tal dos pequenitos! Não é mauzinho…), corremos apressados para o conforto da viatura onde seguimos viagem, sem a alegria de tirar uma foto com os duendes de Óbidos, mas com outras contrapartidas…


Vinhetas e pranchadas



Enquanto estudante, um dos meus passatempos favoritos nas aulas assim... mais aborrecidas, era criar novas legendas para as imagens que via nos livros de estudo. Eram vinhetas digamos que... alternativas que serviam para desanuviar e faziam rir a malta.

Agora, de vez em quando, ao ler os jornais e revistas, dou por mim a olhar para as fotografias e a pensar: "parece mesmo que este gajo está a pensar ou a dizer isto...".

Agora lembrei-me de voltar a este meu hábito prestando também homenagem aos mestres-absolutos do "Inimigo Público", o suplemento humorístico do jornal "Público" às sextas-feiras que faz sempre com que o meu fim-de-semana seja mais animado.
Bom proveito!