terça-feira, 16 de setembro de 2014

(Se assim tem de ser...) De leituras...

Que me desculpe quem me desafiou mas eu não sou muito bom rapaz para entrar assim em ondas, sejam elas de solidariedade, de cultura ou de outra coisa qualquer. Por estranho que pareça a alguns menos bem intencionados, não sou de me exibir. Não sou introvertido, é certo que sou vaidoso, reconheço, mas quem não o é? Quem não gosta de estar no melhor de si? Mas isto não quer dizer que gosto de me exibir. Tento passear na passerelle que é a vida e desfruto daquilo de bom que Deus me dá. Só. E não é pouco.



Tenho maior respeito pelos bombeiros voluntários de marvão. Ninguém me tira da cabeça que é graças a eles e aos seu pronto socorro naquela noite terrível que ainda respiro e estou vivo. Sou sócio e pago religiosamente as quotas. Em sinal da minha gratidão, darei tudo de mim para que à instituição nada falte. Não terei a disponibilidade e o altruísmo corajoso de quem é um soldado naquela armada da paz, mas colaborarei em tudo o que me for pedido. Mas esses donativos não serão públicos. Serão. Apenas serão. Quando puder e achar que tem de ser.


Dos livros também não vou em ondas. Peço desculpa por ser o “desmancha o prazer de quem quer saber o que me mudou lendo”. Para já, nunca fui muito de leituras. De ler livros. Criado numa casa onde os havia às centenas, onde fui muito convidado a gostar pela paixão materna, enjoei sem lhe agarrar o gosto. Esse, tinha-o pela minha praia que desde miúdo foi a imagem, o cinema que desde sempre devorei. Agora, desde que li a placa da farmácia Romba em Portalegre (a primeira vez na vida que juntei a sonoridade dos caracteres e ainda bem me lembro) leio de tudo. Jornais, revistas, nets e blogues; nada há que me escape.

Mas, posto isto e depois de muito ter pensado, acho que nem 10 livros li na vida, quanto mais. Agora... quanto a aprender com alguns aprendi, lá isso sim, acho que aprendi. “O principezinho” de Saint Exupéry e o mágico “Peter Pan” do escocês J. M. Barrie certamente me influenciaram porque conseguiram plasmar em folhas de papel todo o imaginário infantil, aquilo que é ver o mundo pelos olhos puros de uma criança. Vou lá sempre que me quero recordar desse tempo. Partindo dali comecei a aprender a ser homem seguindo as coisas dos crescidos com o “Manual do Lobito” anotado por Lord Baden-Powell que poderia também ser identificado como o “Manual do Homenzinho” porque os faz nascer.






“O Estrangeiro” de Camus impressionou-me anos depois pelo absurdo e pela forma cruel de ver o quotidiano e o mundo. Frio e poético.


Passado isto, Steinbeck trouxe-me poesia, um lento e belo bailado na narrativa de descrever o mundo à nossa volta. “A Pérola” de tão bela, tão delicada marcou por ser tão singela e poderosa; mas foi “A um Deus desconhecido” que bateu fundo e marcou mesmo, pela busca da centelha de espiritualidade que há em cada um de nós.
Numa idade já mais crescida mas mais ou menos na mesma altura veio o romance “Siddaharta” de Herman Hesse que conta a história de Buda e os diferentes estágios e passos para se conseguir a plenitude espiritual.




Toda essa espiritualidade era sempre contraposta com o outro lado do vórtice, muito marcado pela beaten generation com “On the road”de Jack Kerouac e “Uma Oração Americana” daquele homem por muitos conhecido como uma rockstar mas que para mim, para além disso, foi talvez aquele que melhor conseguiu escrever poesia sobre o que é estar vivo: Jim Morrison.



Termino com um livro que estou a ler, há meses (“Ser Espiritual” de Luís Portela, o homem forte da Bial, um médico empresário dedicado à psicologia e às neurociências), a ler lentamente entre todos os outros compromissos que já assumi e aos quais não quero falhar. 


Ser marido e ser pai de duas vidas consome imenso tempo. Digo imeeeeeennnnssssooo tempo. Os espaços entre ver filmes, que apenas têm duas horas de duração, demoram meses. Quanto a livros… é melhor pensar nisso para depois. Sentar-me num sítio descansado com tempo para mim e um bom livro por companhia, é um luxo… inalcançável.
Mas não posso dizer que estou mal ou que queria que passasse depressa. Se este tempo assim depressa passar… é capaz de passar a vida também.
Sabem como dizia o outro? Deixem-me estar assim que também sou capaz de não estar mal.
E já foram 10?… agora que pensava que nunca lá chegaria…

Para encher poderia meter um Eça que sempre me assombra pela facilidade com que trabalha a língua, um Esteves Cardoso que corta sempre a direito e desarma pelo repentismo ou um Sousa Tavares que realmente escreve muito bem.

O Livro das Páginas Amarelas ou o de São Cipriano seriam também hipóteses a conjecturar.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

8 do 9. O dia de Marvão. O dia do concelho. O meu dia




O 8 de Setembro é o dia grande do meu concelho e claro que tinha que estar presente. Como munícipe, atendendo à caça que hoje em dia há a tudo o que não seja central, era uma obrigação, em muito reforçada pelo facto de ser feriado por isso, sublimada pelo cargo que já ali desempenhei naquela casa.


Fui como eu gosto de ser. Outsider, desalinhado de tudo, vi e vendo as coisas sempre pelo meu prisma. Não sou assim tão livre quanto isso porque durmo com a censura, com quem partilho a cama e a vida, e por mais que me explique que cada um é como cada qual… não dá. Mas quem me lê/conhece sabe que eu não sou de mentiras, rodriguinhos, salamaleques. Para mim, o que é, é. A verdade acima de tudo. Quem não deve, não teme e sempre que posso, corto a direito. Nisso sou da cepa do general sem medo. Quando lhe perguntaram o que fazia ao velhinho Esteves se ganhasse as eleições, tiveram um “obviamente demito-o” como resposta. Infelizmente pagou com a vida por isso mas também, as eleições estavam mais que cozinhadas e nunca as poderia ganhar, enquanto que por aqui, sempre foi tudo jogado às claras e nunca houve promessas de empregos em “situações estranhas” ligadas à autarquia. Ou…








Os Discursos

O do Alcaide que habitualmente abre as hostilidades (?) foi na linha do que já nos tem habituado nestes últimos anos e diga-se de passagem que tem sido mais que suficiente para as absolutamente esmagadoras maiorias que tem vindo a obter. Em Roma, sê romano, por isso… quem dá o que tem e não lhe pedem que a mais do que isso seja obrigado… siga para bingo! Ou então façam como diz o bom do Passos: se não gostam, “que emigrem, emigrem.”


Infelizmente, por mais uma vez (acho que todas! Não! Pera aí! Ele nunca foi, foi ao 25 de Abril porque dizem as más línguas que é contra. Mas ao feriado municipal, não sei se já foi a alguma), o presidente da assembleia municipal não nos deu a alegria da sua comparência, o que por si só já é bastante revelador da enorme preocupação que tem vindo a revelar pela vida do concelho. Mais estranho isto se torna porque tem sido uma presença sempre constante em tudo o que acontece no burgo. Desde que foi eleito há quem diga que já foi visto por aqui quase que uma dezena de vezes (muito mais que o abominável homem das neves). Mas é a velha história… Chega para ganhar? Siga!



Confesso que sei que sou um pouco suspeito e talvez seja pouco credível, mas na minha modesta opinião, foi o deputado da assembleia que é enfermeiro e falou em representação do mais alto na hierarquia que fez o melhor discurso do dia. Leu, não vacilou, não se enganou, não perdeu ideias que abalaram com o vento, não foi derrotista, não enalteceu mais o trabalho das instituições que se dedicam ao apoio social como motor de desenvolvimento em detrimento da indústria ou outras mais construtivas, falou do concelho e da grandeza do dia. Citou Pessoa em qualquer coisa como “um copo de vinho com pouco vinho é meio copo de vinho, mas qualquer coisa com pouca dignidade é coisa sem dignidade alguma”. Porque será que ficou bem? O homem era da oposição? Porquê a citação? Não percebi. De todas as formas foi uma alocução irrepreensível. Não tivessem as folhas do discurso sido escritas em páginas de verso de gráficos desaproveitadas e teria sido perfeito. Esteticamente não foi a melhor opção mas de qualquer das formas, há-de ter sido bem visto pelos ambientalistas, à pala do aproveitamento e reciclagem. Duvido é que houvesse por lá algum ecologista encartado.



As medalhas de mérito

As medalhas de mérito para as quais tanto trabalhei (estudando regulamentos de outros concelhos e adaptando-os; aprendendo com quem faz bem, para conseguir fazer ainda melhor) para que dessem dignidade ao dia e enobrecessem a cerimónia que as antecedeu, transfiguraram-se. O regulamento definia 3 tipos de medalha diferentes que se destinavam a figuras cuja distinção estava perfeitamente tipificada: ouro, prata e bronze; e pela diferente natureza do material delas quase que se percebia logo tudo. Agora são de mérito e ponto.


Em primeiro lugar distinguiu-se o maestro Christoph Poppen, grande responsável pelo 1º Festival Internacional de Música de Marvão que longe e bem alto levou o nome da vila. A atribuição não poderia ter sido mais merecida. Humilde, de trato muito fácil, sempre simpático, tem uma forma de estar desarmante que nos deixa pequeninos por nos deixar tão à vontade. De cada vez que o contato, sinto tanto aquilo em que acredito que até me arrepio: quanto maior é o homem, mais simples se torna. Acho que por não ter nada a perder. Apaixonou-se por Marvão, por aqui comprou uma casinha e decidiu, num feliz momento de inspiração divina, unir o mundo erudito das grandes orquestras por onde se move com este lugar onde, segundo ele, é mais fácil sentir a presença de Deus na terra. Já é um marvanense também. Há dias disse-lho e deu-me 3 beijos. Creio que serem 3 é uma forma de afeto reforçada usada de onde é. Agradeceu num português perfeito e completamente percetível. Como germânico que é, não brinca em serviço e está já a preparar a edição de 2014. Disse que de todas as distinções que tem tido ao longo da vida (presumo que muitas) esta é uma das mais importantes. Temos casamento.

Não percebi porque é que foi mencionado que a decisão da atribuição tinha sido sugerida pelo senhor presidente. É que no meu tempo era uma decisão do município e ponto. Se não pode ir mais a eleições à cabeça, não percebo o porquê desta contagem de pontos. Porquê esta busca incessante de ser o faroleiro, o timoneiro, sempre o homem da frente?!?!? Será trauma? Quererá uma estátua na Escusa de onde não é, mas vive?



O segundo homenageado foi o meu querido amigo João Sequeira Carlos, que recentemente nos deixou. Há homens que deixam vazios que não são preenchíveis. Com eles vai um legado, uma vida de trabalho, um amor à terra como nunca conheci. O neto, ilustre neto doutor (aqui), como ele sempre fazia questão de referir, (que recebeu o galardão acompanhado da neta, também ela doutora) recordou essa paixão pelo Porto da Espada e por Marvão num pequeno discurso de agradecimento que mostrou bem que o nível da família não se perdeu e antes passa de geração em geração. Disse que os pais do homenageado (seus bisavós) sempre tudo fizeram para que o filho João seguisse a vida por Lisboa mas, o vínculo umbilical com Marvão era de tal forma forte que o puxava sempre para o ventre.
Belos tempos passámos no seu lagar e foi com ele, por sugestão do seu querido sobrinho e meu querido amigo  Dr. Sequeira Carlos, ilustre Presidente da Assembleia, que criámos juntos as Comidas d’Azeite. Foi ele que me ensinou como se fazia uma tiborna e lembro-me sempre bem da enorme alegria que sentia quando via o recinto das festas do Porto da Espada cheio de convivas bem alegres e em saudável convívio no almoço convívio de abertura desta semana gastronómica.
“Amigo Pedro: quando é que volta lá acima? Olhe que fazem cá falta homens como o senhor.”
“Amigo João, por agora fiquei vacinado. O casamento correu mal e deu divórcio ruim. Mas nunca poderei dizer que não voltarei a casar, que não voltarei a tentar ser feliz como eu quero. À política… nunca poderei dizer que desta água não beberei. O futuro a Deus pertence. Nós somos pedras num xadrez onde ele é que manda. Faça-se em nós a sua vontade. Maneiras que… se estiver no meu caminho, saberei ser homem e responder à altura. Se não… tenho tanto onde ser feliz e graças a Deus, sou tão feliz…”
Lembrei esses tempos de convivência com um homem de uma geração que já não se fabrica, que admirava muito e bateu saudades, muito por me ter lembrado do seu fim.



Homenageou-se também Vítor Caldeira que deve ser a figura mais elogiável e meritória, até porque tudo quanto leio sobre ele é do melhor que se possa imaginar. Foi reeleito presidente do Tribunal de Contas Europeu pela terceira vez, e tornou-se o primeiro presidente da instituição a cumprir um terceiro mandato, o que é prova por demais evidente das suas capacidades. Mas não só não é de Marvão, como não estava presente. Factos que no meu entender, desmontam qualquer tentativa de o “puxar” para Marvão, tirar partido de uma situação que não é nossa. Nasceu em Campo Maior. Tem ligações ao concelho por via do matrimónio mas nunca se envolveu na vida do concelho. Em tempos consultei nas finanças um livro onde era referenciado e há pouco tempo, apercebendo-me que estava em Marvão, desci para cumprimentá-lo. Apresentei-me, disse quem era e onde trabalhava (somos vizinhos) e foi simpático. Só. Quase mudo, muito tímido, não sei se consegui mais que um sorriso. Nós, os comuns mortais, temos cada ousadia... A razão desta medalha está para além do meu conhecimento. A seguir, poderia ser atribuída uma ao Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a superfície lunar. Daqui também se vê a lua. Teria era de ser póstuma. He passed away 2 years ago. 


Mais uma tocata da banda seguida de um beberete aberto a toda a população onde os convivas se misturam entre os que tomam um drink e um canapé para celebrar o dia de festa; e aqueles que parece que fazem ali a última refeição antes de morrer, fação muitas vezes reforçada por malta turista das excursões que de passo se apercebe de um beberete e dali à festa rija é um passinho. Só falta o acordeão para ser o mega piquenicão do Continente. Ah… falta isso e o Tony Carreira.


Segui para a Igreja de Nossa Senhora da Estrela para assistir à missa da padroeira do concelho. Assim que cheguei à Santa Casa, falei com quem de direito e tive o desgosto de não poder ir almoçar com a minha tia, embora compreendendo a impossibilidade de cair no erro de se abrirem exceções. Mas a culpa foi minha. Já estive neste almoço noutro anos (onde levava sempre o meu filho Manuel Gira, aka Manél Bodes que faz anos nesse dia) e como as mesas eram tão corridas e havia sempre tanta gente que me encostei e pensei sempre que caberia mais um. Afinal, as mesas passaram a redondas, as marcações são limitadas e exclusivas a sócios. Assunto a tratar no próximo dia útil onde marcarei já (e se for preciso pagarei já) a inscrição de 2015.

A igreja estava repleta de gente vinda de todos os pontos do concelho e de fora. Lotação esgotada de prever. O homem de serviço era o próprio bispo Antonino, apoiado por diversos sacerdotes ligados ao concelho e na nave não cabia mesmo mais ninguém. Tivemos de nos sentar nos claustros, sempre reservados aos utentes, onde a visibilidade era reduzida. Curioso ter de ver dali, mas há sempre uma primeira vez. A partir dali já é sempre para a frente. Mas em 2015 também haverá ajustes a fazer: terei de vir para a apanhar antes, terei de…



 

Mas desta vez assistimos juntos e isso foi o que importou.



Incrível como uma senhora que era tão católica, tão cumpridora de todos os compromissos, sempre pontual aos domingos e aos terços, com o arranjo do “seu altar”, que não falhava a tudo quanto eram religioso e agora está ali… por estar. De vez em quando olhava para mim. Sorria. Fazia uma expressão com a cara como se não estivesse a compreender. Balbuciava qualquer coisa intraduzível. Sorria. E isso era o que importava.

E isso foi o que importou.


Manhã pesada com muita coisa para digerir. A minha preta sem chumbo e um american cigarette “olhando o mundo de lentes de contato da esplanada do café lounge em Marvão.” (Onde é que eu já vi este título?) 

Enfim, coisas de rico...


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Quando eu fui daqui ao Crato ver os aviões (muito à custa da co-piloto)


É... aquilo já tinha aspeto de festival. Um asseio...

Leonoro, Il Capo, Miccolina 



Até deu para tirar uma fotografia com a equipa da Comercial. Como é que eles deixaram?!?






Um casamento que vale ouro

Marvão em represent. Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé

As primeiras compras. Umas gomas. Belos 12 anos.





























As gerações Barradas a imitarem o rei Anselmo na Optivisão.
  
Pois que a minha onda é outra e pela minha vontade, a minha noite seria o sábado, ver aqueles suecos tresloucados que, segundo me garantiram amigos presentes, foi de arromba. Pois estes meninos que estão habituados a tocar em Reading e outros grandes festivais por essa Europa fora, chegaram ali e arrasaram. Diz que as pessoas, mesmo não gostando do som por aí-além, acabaram por ficar até ao fim. A dar razão ao que digo sempre: quando o artista tem categoria, puxa a atenção. Vê-se que há ali chama.





Mas a Leonor, por força que tinha de ir ver o Araújo e eu, como gosto bastante do trabalho de rapaz, fiz o sacrifício e ofereci-me para ir. As coisas que um pai faz por uma filha. Como é que é impossível?

Comprei os bilhetes dos CTT de Marvão (obrigado Maria!) quando estavam já a esgotar e ainda antes de me aperceber dessa loucura que o rapaz Anselmo provoca nas pessoas. È uma coisa inexplicável. Para mim, o Anselmo é só um, o meu amigo João. E o resto é conversa mas este dá uma converseta… bem, já lá vamos.

Saímos cedinho para fugir a filas e confusões e foi tudo tranquilo até lá, lá e para estacionar. Tanta volta demos aos comes e bebes para conseguirmos consolar a barriguinha antes da sessão começar que fomos cair nas mãozinhas do meu quintalhaço Hélder Pires que nos orientou logo um “reservado”. Foi tudo bem à maneira e fomo-nos chegando.

Eu fui lá para ver a coisa e queria mesmo ver tudo. Já tinha dado uma volta pelo artesanato exposto e cedo percebi que este tipo de feirinhas estão condenadas. Para já, não há papel. Depois os stands não devem ser nada baratos e para se fazer algum tem de se penar bem. A malta encolhe-se e quem se safa são, de certezinha, os das comidas. Para isso nunca pode faltar. Ninguém está para bibelots, lembranças e tirando uma cena para as criancinhas… viste-o. Os putos foram-se entretendo nas animações propositadamente montadas para eles e teve de chegar. De resto, havia um ou outro stand de qualidade mas muitas coisinhas locais, que não puxam e aparecem porque tem de ser mesmo.

Quanto aos artistas, abriram os cachopos chamados Capitão Fausto mas de graduação tinham apenas o nome. Quando muito soldadinhos. Fracos. Um som assim difícil de se caracterizar. Meio progressivo, meio a espreitar o olho ao alternativo, a cantarem em português mas num português… para dizer nada perceptível. No hit “Maneiras Más”:

“Quando o país rebentar,
Fico no meu próprio quarto.
Repito à exaustão até estar farto.
Defendo banalidades.
Interessam-me as caras e não idades
Pode ser que eu venha a controlar.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.

Nuvem que não sei deixar.
Sou a árvore do Outono
Que perde as folhas. Ganha mais um ano.
Perco as minhas diligências,
Mas vou acumulando referências.
Pode ser que eu venha a controlar.

Se ainda me corrijo é porque tenho
Um bom conjunto de maneiras más,
Para chegar a boas conclusões.


Comentário do tio Sabi:  “ó menino, pede para cagar e sai.”


Seguiu-se o prato forte do cardápio e impressionou. O Miguel surgiu algo eufórico, não porque tivesse bebido mas porque estava a tocar no Crato(????). Segundo ele um palco muito importante na carreira dos Azeitonas (provavelmente o pior nome de banda que me lembro, a seguir aos Kús de Judas), onde também toca, porque foi ali que sentiram o apoio fundamental para saltar para a fama. O Miguel chegou despretensioso, simples como ele é. Deve ser um bom rapaz, um gajo fixe para se ter como amigo. Com uma musicalidade bem moderna e audível, com um substrato muito rico, como se o Veloso (que só toca) e o Tê (que só escreve) se juntassem no corpo dum rapazola que faz tudo, afirmou-se ali um compositor verdadeiramente deslumbrante, capaz de escrever coisas assim de belas:

Reader’s Digest, fado que escreveu para o Zambujo.

Quero a vida pacata que acata o destino, sem desatino
Sem birra nem moça que só coça quando lhe da comichão
E á frente uma estrada não muito encurvada, atras a carroça
Grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no chão

E já agora a gravata com um nó que me ate, bem o pescoço
Para que o tremoço, almoço e o alvoroço demorem a entrar
Quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser funcionário
Com um cargo honorário, carga de horário, conta picada

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel, filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim

Quero ter um T1 ter um cão e um gato e um fato escuro
Barbear o rosto pagar o imposto estou disposto a tanto
Quem sabe a miúde brindar a saúde com um copo de vinho
Saudar o vizinho acender uma vela, ao santo

Quero vida pacata, pataca gravada, sapato barato
Basta na boca uma sopa com pão, com cupão de desconto
Emprego sossego renego chamego e faço de conta
Fato janota gota na conta e nota de conta

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim

Vou dizer que sim ser assim a sim assinar a rir reader’s digest
Ágeis de sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel filhos fado anel e lua de mel
Em frança abranda na dança
Descansado ate ao fim.

Reparem bem que na sua banda levou também um magnífico quarteto de metais que com arranjos fantásticos, vestiu o som de uma forma verdadeiramente impressionante, encheu o palco e deu um swing irresistível, assim:






Foi 1 hora e 10 m que justificaram e bem a deslocação. Para a companheira tínhamos ficado por ali. Mas, como eu é que manda, já que tínhamos pago o bilhete, tínhamos de descobrir o porquê e de onde é que vinha aquele cheiro de gatas ansiosas que se aproximavam do palco.


Já disse que para mim, Anselmo há só um, o meu amigo/irmão João e mais nenhum. Mas deixa lá ver o que é que o gajo tem para dizer. Então aquilo é assim: o bacano é o Júlio Inglésias do Kuduro. Uma música cachonda, melosa e típica de bar de alterne, sincopada e meio  miada que se cola ao ouvido. Efeito música de elevador, vá. O gajo nem sequer sabe falar bem. Mete assim uns “jjs” no final das palavras e aquilo nem é brasileiro, nem angolano, nem inglês. É uma coisa… estranha. A saber:




Depois tudo aos gritos por causa “daquilo” e uma mana que estava à minha frente a fazer um vídeo com o telemóvel que deve ter ficado um must. Ela dançava, abanava-se toda, levantava e baixava o braço, e deve ter ficado lindo. Se se atreve a levar os amigos lá a casa para verem aquilo, devem pensar que  o telemóvel ficou a filmar no bolso das calças de ganga dentro da máquina de lavar a roupa.

E eu pensava: “mas que raio de rádio anda esta gente a ouvir para saber isto tudo de cor?” Que cena…

E o bacano, de óculos escuros à Ray Charles… Será para o estilo? É que de noite… não deve dar jeito nenhum. O efeito Abrunhosa suplanta o meu grau de conhecimento.

Vi um bocadinho do sarau e… puta velha nestas andanças, bati de mansinho enquanto ainda se saia bem a larga.

Olha, foi bom. Foi muito bom. E isto do Crato… é capaz de não estar nada mal pensado.

Ainda antes das coisas começarem e os amigos chegarem, bem antes da hora de jantar, fiquei a olhar o recinto a sós encostado às grades e o meu amigo Hugo Teixeira, jornalista da praça, passou, riu-se e disse-me “eu sei o que estás a pensar”. Ri-me e disse-lhe (e acho que não estou a cometer nenhuma inconfidência): “epá, ó Hugo, não sabia que para além de seres um especialista em touros, também lês mentes…”
- “Tu estás a pensar no que seria uma coisa destas em Marvão”.
Eu deixei-me rir e disse-lhe que… sim. Era isso mesmo. Isto era aquilo que o Marvão Rockfest poderia ter sido se quem mandava e ainda manda não tivesse vistas curtas e não lhe tivesse cortado as pernas. O Rockfest tinha a grande diferença deste festival de ter um orçamento mixuruca mas que já primava pela diferença. Com o apoio da Zona B (alô amigo Nuno Madeiras) e bandas como os Bunnyranch, os Poppers e os Wraygunn procurava afirmar-se junto de um público mais ecléctico e específico, apanhar uma franja que se coadunasse às possibilidades diminutas do espaço. Também tínhamos ambiente, gastronomia, zonas de lazer e zonas de campismo. Mas porque queriam, deixaram-no secar. Isto apesar de os homens da Delta, nossos parceiros da Heineken, terem dito na noite do primeiro dia em que jantaram comigo no Zé Calha, que isto tinha tudo para andar. Descoberto o filão, só havia que investir. O contrário do que foi feito depois. Morreu. Deixaram-no morrer.

Castelo de Vide tem dado passos seguros e de gigante na promoção nacional. Jogada ganha com o Andanças e o casamento com uma organização vencedora que vai dar muitas alegrias e trazer milhares. Corre agora a Universidade de Verão que já não troca a vila apesar de o hotel ser mixuruca e haver bem unidades bem mais equipadas por esse país fora disponíveis a fazerem tudo para apanhar a oportunidade. O Crato aliou-se à Comercial e descobriu um joker. Saiu-lhe o euromilhões que garantiu cobertura nacional e animação nocturna gratuita com os djs da estação. Um casamento em que o município há-de ter sempre muito mais a ganhar por ter descoberto um padrinho rico e poderoso que achou graça a esta localidade no Alentejo. Quanto não vale ter os radialistas a dizerem no ar que querem ir para lá morar? E se fosse em Marvão?

Mas Marvão luz com muito orgulho uma feira de produtores locais que anima duas ou três barracas ali na zona junto à piscina no último domingo do mês. Uma coisa de dimensão e alta escala. Só temos aquilo que merecemos. Para quem manda, isto chega para dominar quem está. Como dizia o bom do velhinho Salazar, os portugueses querem-se com pouca escolaridade para não questionarem e sem a mente muito aberta para não entrarem em maluqueiras. E assim dominou quase 5 décadas do século XX.

Como eu digo, em Marvão, é o que há. E está para durar.