sábado, 28 de julho de 2007

Delírios Estivais

Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh!

Muito bom!

Bem me podem vir com a conversa que a praia cansa e não sei quê e o que está a dar é o campo e o turismo cultural e blá blá blá... A mim, quem me tira a prainha tira-me tudo. Mesmo que sejam só cinco dias, mesmo que seja só para matar saudades, entre reencontro faz-me sempre sentir como se nunca tivesse saído de cá.

Olhando à volta, às vezes dá-me vontade de mandar tudo às urtigas e ficar por aqui, como os pescadores que trabalham só para comer porque roupa quase não é precisa e porque quem tem o mar por companhia não precisa de outras coisas materiais.

O cheiro da maresia, a areia húmida entre os dedos dos pés, o sabor salgado da água, o sol e o calor e as longas caminhadas à beira-mar... tudo é perfeito.
Nestes dias de relax e de recarregar baterias tenho reparado que algumas coisas mudam, outras estão simplesmente diferentes e outras são mesmo novas.

Destes considerandos que me acompanham, gostava de partilhar alguns convosco...


I) O mar... esse grande urinol!


Se atendermos aos largos milhares de novos visitantes que chegam neste período estival e se encontram espalhados pelo areal fora; e ao facto de praticamente não existirem casas-de-banho disponíveis junto às praias (salvo honrosas excepções!), cedo chegamos à conclusão que 90 e muitos por cento da rapaziada, vai verter águas no sítio mais óbvio: a própria água! Tudo isto é mais do que comprovado quando aferimos que essas escassas casas de banho disponíveis são provavelmente o único sítio nesta região que não tem fila em Julho. Há filas para o pão, para o café, a dos telefones públicos acabou por causa dos telemóveis, mas há filas para estacionar, filas para entrar na praia, para fazer uma caricatura no calçadão por 5 euros, para os correios, para tudo e mais alguma coisa, menos para os WC. A malta chega ali à beirinha e zás! Aaaaaah! Já está!

Nestes dias de ócio tenho-me entretido a apreciar a forma como cada um dá a volta a esta questão. As observações directas permitem-me diagnosticar já nesta fase, sete tipos diferentes de abordar esta temática higiénica:


1) O dissimulado – É o grupo maioritário. Integra os homens, mulheres e crianças que sabem que mijam dentro de água, mas tudo fazem para que os outros como eu, que estão a reparar, não desconfiem do que estão a fazer. Fingem que se estão a ambientar á gua, entram só o suficiente para não se notar o repuxo, vão fazendo gestos com as mãozinhas para parecer que estão a nadar e chegam mesmo a sacrificar-se num mergulho para que pensem que foram mesmo à água sem outro objectivo por detrás, apesar de saberem que está gelada. Sabem-na toda!

2) O óbvio / convencido – Mija à grande e à francesa. O homem mete as mãos nas ancas e chega mesmo a suspirar de alívio durante o acto. Os adeptos desta modalidade fazem força ao ponto de ficarem vermelhos. Nunca encobrem o arrepio final. Fazem a coisa de uma maneira de tal ponto descarada que só lhes falta pedir à autarquia local que lhes construa um muro ou uma estrutura dentro de água para que possam colocar a mãozinha na parede enquanto com a outra seguram o respectivo entremejo. É uma figura clássica. Na sua vida normal, rotam em público, coçam-se em público e já nascem com o palito na boca.

3) O maldoso – Alivia-se estando plenamente consciente de que está a fazer algo errado e nada higiénico mas ainda assim prevarica e sente-se feliz por tal. Os mais avançados nesta técnica dão-se ao luxo de estudar as vítimas e o lugar onde podem pregá-la, não perdendo a oportunidade de inquinar as águas territoriais do vizinho de guarda-sol que lhe mandou uma boca ao penteado.

4) O pedagógico / ecologista – Ensina os filhos a fazerem xixi na águinha passando assim o ensinamento de geração em geração. Acredita da tal forma que o que faz é correcto que chega a defender que o facto de urinar no mar faz parte do próprio ciclo da água. É sócio da Quercus e adepto do nudismo que só não pratica por pura vergonha e por achar sempre que o do vizinho... é maior que o seu!

5) O arrependido – Pensa sempre duas vezes antes de se encaminhar para a água para cumprir as necessidades. Nalgumas vezes consegue resistir e faz-se ao caminho para encontrar o urinol mais próximo, noutras faz mesmo ali, mas dá sempre nas vistas porque sai com um ar de desconsolo e de quem fez algo de muito mau. É dos mais facilmente identificáveis à vista desarmada.

6) O narcisista – Mija devagar, convicto e desfruta do fluxo de água quente em seu redor. Pratica o acto quase sempre em isolamento e não consegue disfarçar um sorriso nos lábios por ter concretizado mais uma das suas. Homens divorciados e com tendências sexuais dúbias preenchem em larga escala este grupo.

7) O ingénuo – Faz xixi mas nem dá por ele. Pensa que toda a gente o faz. Enquandra-se por vezes num dos grupos anteriores por pura falta de tino. Entra na água, verte águas, ri-se com ar conivente para os que o cercam e sente-se bem.


Estando certo que existem muitos outros grupos que possam ser identificados, faço aqui o apelo para quem detecte outros modus operandii, e me queira ajudar a engrossar a lista. Nunca se esqueçam, sempre que ouçam: “Ó mãe, aqui está mais quentinha!”, é porque há mouro na costa.


II) A Bolinha... que já era!

Há coisas que casam tão bem que é quase impossível separá-las. Poucos prazeres na vida se assemelham ao divino desejo de comer uma bolinha de Berlim na praia, depois de saídos do banho e enquanto nos esticamos nas toalhas para secar. É um daqueles rituais que nascem connosco e que nos habituamos a estimar e a preservar. Dia de praia sem a bolinha não é dia de praia que se preze. Esqueçam as dietas e as recomendações médicas, porque quando na praia, a bolinha é tão indespensável como o protector solar ou os óculos escuros.

Assim que cheguei, mal avistei o chapéu de sol ambulante e as t-shirts brancas, mal ouvi o som da campaínha e o grito : “olhá boulinhaaaaaaaaaaa”, pus-me em sentido, em sinal de respeito.

O primeiro susto veio logo a seguir. 2 euros por cada uma??????? Phónix! Eu ainda sou do tempo do escudo e 400 por cada, soou-me a roubo flagrante. O meu irmão tranquilizou-me: “é 1 euro para a mercadoria e mais 1 euro para o gajo que anda aí o dia inteiro à esturra do sol, praia abaixo, praia acima, para te dar este prazer mesmo á beira-mar”. Achei justo e passei desde então a considerar que o valor pago deve ser mentalmente dividido em dois: 1 euro para o bolo, 1 euro de gorjeta. Assim custa menos a largar.

Já com ela na mão, depois da primeira trincadela, outra e outra se seguiram na busca do creme perdido... em vão. Pensei : “o cabrão enganou-me! Vendeu-me uma bolinha seca! Sacrilégio!”. Ainda pensei em reclamar mas a carruagem já ia longe e dei-lhe o benefício da dúvida. A bola estava mais ou menos mas faltava-lhe o cerne da questão, o néctarzinho amarelo.

No dia seguinte, precavi-me. O dealer era outro, uma senhora que pesava não sei quantas arrobas e colocou uma banda gástrica e deu no noticiário da Sic à hora de almoço. Reconheci-a logo. “Ó Dona, há com creme?”. A mulher quase que tirou os óculos escuros para me ver melhor e fitou-me com um ar de quem está a ver alguém que disse uma grande heresia. “Com creme já não há, senhor. Acabou há 2 anos”. “Mas como é possível, por Deus? ASAE?”, perguntei. “Sim senhor. E a Capitania também não deixa”.

Deu-me vontade de começar a correr aos urros pelo areal, vociferando aos céus como faziam os heróis clássicos da Roma Antiga nos filmes do C. C. B. DeMille, gritando a desgraça.

“Sabe... houve uma senhora que comeu creme estragado e quase morreu”, disse-me, com ar abatido.

E eu tive vontade de responder: “Ai sim? Morreu? Enterra-se! Há tanta gente boa que morre por aí todos os dias e que culpa tenho eu que me tenham tirado o creminho da bolinha por causa de uma gaja que eu nem conheço? E a PJ investigou? Chegou a saber ao certo se a causa da intoxicação foi mesmo da bola ou foi duns ovos mexidos manhosos que comeu na roulotte da esquina na noite antes?”

Estou desolado!

A praia nunca mais será a mesma!

Pois fiquem a saber que a mim não me enrolam à primeira! Fiquem sabendo que a minha sogra faz bolos e eu hei-de regressar em Agosto! E eu sei que a minha sogra também usa creme daqueles para barrar outros bolos e dá próxima não me hão-de amolar! Hei-de-lhe pedir uma caixinha dele e hei-de guardá-la religiosamente numa geleira para que a possa levar para a prainha e assim barrar as bolinhas que lá comprar mesmo aos olhos de toda a gente.

E disponibilizo-me desde já, a barrar as bolinhas de quem queira (salvo seja!), desde que haja creme e se una a mim nesta cruzada.

Os cabos de mar não estão incluídos! Se querem bolas recheadas junto ao mar, VÃO À PADARIA!

III) Estes britânicos estão loucos!!!!


Na vasta diversidade de bares que anima a vida nocturna algarvia, destacam-se os ingleses / irlandeses. Porquê? Porque são mais que as mães, porque estão sempre cheios, porque respiram ambiente familiar e porque me deixam sempre a questionar a razão da sua existência. As public houses, vulgo pubs, que se espalham por todo o ALLgarve, só confirmam a minha teoria que os bifes não batem bem.

Senão vejamos...

As famílias do Reino Unido que vêm passar o Verão a Portugal são de classe média – baixa, baixa. Isto não é, presumo, surpresa para ninguém. Os que têm mesmo muito guito vão para Espanha ou para as Seichelles, bazam daqui e não se enterram cá.

Se se deslocam para um país diferente, à procura de sol e praia, expliquem-me, por favor, se faz algum sentido que estes gajos se enfiem todas as santas noites em bares iguaizinhos aos que têm à porta da casa, na esquina do seu bairro, para se juntarem em longos e intermináveis Karaokes, para comerem e beberem até cairem de cú, enquanto há tanta coisa por fazer!

Não faz sentido! Mesmo.

Imaginem o que seria se um grupo de amigos ou familiares fosse daqui até Cancun ou Punta Cana e em vez de apreciar as vastas belezas autóctones, se enfiásse todas as noites numa taberna portuguesa, a mamar carapulos de vinho tinto e a comer couratos, a cantar temas perdidos do Tony de Matos ou a assistir à actuação sistemática do Rancho Folclórico da Casa doTrabalhador de Carrazeda de Ansiães ou aos Pauliteiros de Mirandela.

Tá demais! Só me apetece gritar: “ó rapazes, mexam-se! Espalhem-se por aí que a vida não é só isto! Vão pro bar do Camarinha, para a Kadok, para a Locomia, para o Sasha ou para o Nikki Beach ou para uma outra qualquer paneleirice dessas que inventaram do ano passado para cá, mas passar as noites como passam em casa... é desperdício! Mesmo!

“Don’t waste your precious time over there, lads! Cheers!”

E Boas Férias! Se for caso disso…

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A chama imensa


Maldita a hora em que mudei de canal!

Nestes revigorantes dias de férias, pouco tenho ligado à televisão, mas tinha que dar com aquele momento mesmo de caras...

O Simão, o meu Simãozinho, o meu Rei, vestido com a camisola do Atlético de Madrid.

Que raiva, que inveja, que ciúmes! Eu quero cá saber do dinheiro e do passivo e dos 25 milhões.

A única coisa que eu sei é que o meu capitão deixou-nos e fugiu com outra. A única coisa que eu sei é que tão depressa não o vou voltar a ver, provavelmente nunca mais!, encher de honra e de glória a camisola do nosso Benfica.

Este era tão bom e tão genuíno que chegou a fazer-nos esquecer que um dia pode ter sido lagarto, porque o Simãozinho merece ficar para sempre no mais alto pedestal do meu clube, ao lado das grandes glórias, ao lado do Coluna e do Eusébio, lá no alto, para sempre.

Os golos gloriosos que sairam daquelas botas... os dribles mágicos por entre as defesas adversárias, o sorriso e a simplicidade e o amor de todos os adeptos.

Os golarros, os golaços, as bombas que eu vi espetar nos ingleses das competições europeias recentes ficarão para sempre gravados no tal lugarinho tão lindo das nossas memórias.

Tão sorridente, a dar toques para as televisões espanholas... Desde o liceu que não me sentia assim. Dói muito quando vemos a nossa amada partir assim feliz... para os braços de outro.

Desejo-te o melhor do mundo mas sei que jamais serás tão feliz como foste um dia num clube que te soube amar mais que o teu, ao ponto de te fazer um de nós.

És grande, miúdo!

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Vidas...

De pé: Mister João Sobreiro, Varela, Felino, Paulo Jorge, Miranda;
Em baixo: Maroco, Carita, Vítor, Zé Dias, Pedro


Bem dizia o Pessoa que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena” e no “caso” do Arenense, foi mais do que verdade.

A conversa não caiu em saco roto. Fala-se já num almoço-convívio e numa publicação.

Ainda bem! São dois passos de gigante para reavivar memórias e semear um futuro que se quer bem grandioso.

Regressando aos posts e não querendo abafar a amena cavaqueira que por aqui se instalou, pego num comentário do meu querido amigo Rui Felino.

A páginas tantas, num dos seus textos, fala numa célebre foto que me fez dar voltas aos arquivos. Tenha a certeza que a tenho, mas como sempre... quando mais precisamos... é quando nunca encontramos e assim, vi-me na contingência de a requisitar à fonte. Bem hajas pela prontidão.

Confesso que estremeci quando a reavistei, sobretudo à luz dos acontecimentos últimos.

É incrível constatar como há imagens e lugares e sítios até, que funcionam para mim como portais no tempo, como passagens que me teletransportam para o passado.

Esta fotografia é disso o melhor exemplo.

Quando olho para ela, não sou quem sou hoje, mas quem era então ali. Pequenino, magricela, asmático, enfezado mas tremendamente feliz por fazer parte da selecção da minha terra. Bem sei que a mais não se deve que ao facto de ser filho do mister, caso contrário jamais ali estaria, mas isso agora não interessa nada.

Os Ray-Bans e o bigode e o cigarro que me hão-de acompanhar até ao fim dos meus dias; o remoínho na franja do Varela; a peruca e football styling do Rui; o Magafo, como era então o Magafo!; um fabuloso Orelhas, de fato de treino negro ao melhor estilo Yashin; e em baixo, de rodilhas, o meu vizinho Maroco; o Quinito Carita; o Bolinha, de risco ao meio; o Zé Pop (que então ainda não o era!); e moi même.

Quanta saudade!

Que felizes e que tontos éramos então. Às vezes já dou por mim a suspirar como fazia a minha avó quando me falava dos seus tempos de Valência de Alcântara. Acho que estamos a ficar velhos.


Quis o destino que no mesmo fim-de-semana, dois dos meus vizinhos da Rua Fernando Namora, dois dos miúdos que cresceram comigo (estando um, um pouco mais à frente e outro, um pouco mais atrás) se encontrássem nos dois lados diametralmente opostos dessa linha que é a vida: casou-se o Manel Coelho, enterrou-se o Fernando Maroco.

Quis o destino que no mesmo sábado de Julho, a paredes meias, se celebrásse numa porta uma união para a vida, enquanto que na outra se avistava o mais longo adeus.

E é difícil.

Perguntei-me a espaços o porquê? Porquê? Se há tantos dias nos anos e tantos anos vividos, se há tantas alturas para desgraças e alegrias acontecerem, porquê esta trágica coincidência? Será há alguma mensagem por detrás?

Eu acredito no destino, como condutor da nossa vivência. Já dei por mim em sítios e ocasiões onde jamais estaria se tivesse plenos poderes para decidir o que queria do meu futuro. Se alguém me tivesse dito, quando acabei a minha licenciatura, com tantos sonhos e planos na bagagem, que seria de profissão, Funcionário de Finanças, não iria acreditar. Mas no entanto, sou feliz que assim seja. Simplesmente, aconteceu. E eu acredito que para que as coisas aconteçam, tem de haver um motivo, mesmo que nós, às vezes, não o consigamos vislumbrar.

No Sábado casou-se o Manel. Com a Cláudia. E é tão bonito ver a sua relação de mais de uma década. O Manel é um companheiro daqueles à antiga. Daqueles em que se pode confiar. Despe, e eu já o vi!, a camisa por quem precise e está sempre disposto a ajudar. No dia do casamento, na nossa Igreja da Beirã, dei um abraço ao pai que estava visivelmente emocionado pela solenidade do acto. Sei que o Sargento Coelho, fervoroso devoto, é também um profundo fã do filho e apeteceu-me felicitá-lo pelo dia. Perguntou-me: “É um grande companheiro, não é?”. Eu respondi: “o maior!”. Quem o conhece como eu, sabe que é verdade. Foi um dia lindo, tão bem passado, com tantos amigos, em tão grande ambiente, com a Beirã e a Escusa e Marvão e Castelo de Vide a darem a mão em amenas cavaqueiras pela tarde e a noite fora que jamais me esquecerei de tão bom que foi. O melhor do Mundo para os dois! Muita saúde!

No Sábado, o que restava do Fernando, apagou-se. Recebi a notícia através da minha mãe, via sms. O nosso mundo tem destas modernices. Nem sequer tinha visto as notícias e já ela me dizia: “o militar que morreu era o vizinho Maroco”. Caiu-me tudo ao chão, porque não esperava. Parece-me que nestes momentos, o nosso cérebro faz um rewind imediato para pesquisar um memória, um contacto, uma palavra, um adeus, a última vez que o vi... A última vez que o vi, foi na piscina do Centro de Lazer da Portagem, creio que há 2 anos, quando veraneava com a mulher e as filhas. É daquelas cenas, por muitos anos que estivéssemos sem nos vermos, um abraço destes tem de ser apertado. O vizinhança! Vi-o feliz, saudavelmente vaidoso da sua carreira (porque o Maroco era sempre o mesmo!), orgulhoso a apresentar a família. Falou-me das minas e armadilhas, de como gostava do que fazia. “E não é perigoso?”, perguntei eu, feito tótó. Respodeu-me que não, que os riscos eram calculados, que era mais o show off que outra coisa qualquer. Lembro-me perfeitamente. Despedimo-nos com a promessa de um encontro qualquer... tipo um copo, ou uma jantarada nas férias do Algarve, onde ele residia há muito.

Dessa foto que nos contemplo acima, o Maroco era mesmo a morte mais improvável. Porquê? Porque era cauteloso, porque não era dado a excessos, porque era reservado e comedido e agora que penso nisso seriamente, porque tinha uma dignidade e uma educação que não eram consentâneas com a sua idade e eram muito pouco comuns num miúdo de aldeia, oriundo de uma família reservada e humilde.

O Maroco raramente dizia palavrões, quando todos nós, os outros gaiatos, vociferávamos de manhã até à noite, desde que não estivéssemos à frente dos pais. O Maroco era o único gajo que eu conhecia que sabia de cor as pistas da máquina do Pac-Man que estava no Nicau. Passava os níveis de memória e dava a volta à Arcada. Era genial. O Maroco mijava-se a rir quando me via assobiar porque eu quando assobio, assobio com a boca ao lado, senão o ar não me sai e o som, obviamente também não. O Maroco era uma espécie de irmão mais velho para os miúdos da rua que não tinham irmãos mais velhos e eu sempre tive um agradecimento e um carinho especial por ele. Numa altura em que os berlindes que as tias me compravam em Espanha desapareciam em minutos, o Maroco defendeu-me muitas vezes da hegemonia Felina. A Beirã nessa altura era um guetto. A ruas dominadas por gangs. O Maroco passeva-se pelo cenário com uma estranha imunidade.

Se é verdade que cada vez que reencontramos um velho amigo, se reacende uma luz na nossa alma... não é menos verdade que quando se apaga um, há algo em nós que parte com ele.

Consegui sempre conter a emoção, mesmo quando confirmei no noticiário televisivo que era mesmo ele.

Consigo hoje olhar para estes dois lados do espelho da vida, com um estranho distaciamento, de quem sabe que é normal que assim seja.

Doia-me muito quando dantes me diziam: “é a vida!”.

Vou-me apercebendo, com o passar dos anos, que é mesmo assim.

Até sempre, companheiro!

Que a terra te seja leve e que descanses mesmo em paz, naquele lugar tão enigmático quanto belo de que falam os padres na igreja: entre o esplendor da luz perpétua.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Portugal é Lisboa! O resto é paisagem!


Certa noite no final de uma aula, numa cigarrada informal com os alunos já no exterior da faculdade, o professor de Ciência Política, Dr. Basílio Horta, avança com uma que me mudou para sempre a maneira como eu olhava para o fenómeno: “a política não é mais que a escolha de um entre muitos caminhos. Política fazemos nós todos os dias desde que acordamos até que nos deitamos. Escolhemos o que vestir, o que comer, em que transporte andar… Nessa medida, na sua mais profunda essência, o político é o que escolhe, o que tem a responsabilidade de escolher não só o que quer para si mas também para aqueles que o elegeram”. Confesso que fiquei siderado pela sua visão romântica do processo e passei a ver a política e os políticos com outros olhos.

Ao ponto de também hoje estar investido no cargo.

Embora confesse que não sou de todo um político tout court!

Aceito que o hábito faz o monge e tenho de me calar quando me dizem que sou. (mas eu sei que não sou!).

Eu gosto da política do Tio Basílio e não gostei nada, nada do que vi no domingo, no Hotel Altis, na conferência do Partido Socialista.

Aliás, até gostei e não foi pouco. Nem sei como ainda há em Portugal pessoas que se dedicam a fazer humor como os gatinhos e o Herman e essa rapaziada toda…

NÃO É PRECISO! Já há coisas cómicas a mais, malta!

E aquilo foi um bom exemplo disso!

As eleições só por si já foram um descalabro e eu, como nunca fui barra a matemática, vejo as coisas assim: a abstenção, que é como quem diz, os gajos que se tiveram a c***r para aquilo tudo foram muitos, muitos mesmo. Feitas as contas, se estivessem 10 manos numa esplanada e aparecesse um bacano a dizer: “eh pá! Larguem lá os tremoços e bóra aí votar”, 6 deles nem sequer se mexiam do sítio. Só iam 4. É pouco. E considerando que a abstenção foi de 62,8% para esta minha cena estar mesmo correcta, ainda ia mais um com os seis só que não tinha braços, que é para bater certo com os 0,8% e chegava lá e não conseguia pegar na caneta e votar e por isso nem sequer falei nele para não dar mais confusão. Prontos!

Mas a cena mais fixola foi mesmo lá no tal hotel, na rueda de prensa, no final. Os gajos do PS pensaram assim: “man, a cena vai tar vazia. A rapaziada tá mas é a pensar na Caparica e na Fonte da Telha e no Algarve e não vai lá estar ninguém para bater palmas quando entrar o escurinho!” Vai daí, não estão com mais nem meias, desatam a ligar para a rapaziada da linha dura de todo o país naquela do “venham a Lisboa, assistir a uma vitória do vosso partido e ver como trabalham as televisões em directo”. E a malta foi. É bem mandada!

E o Zé Manel Mestre, da SIC, que sabe mesmo muita música, apercebeu-se logo da pinta de saloio de alguns assistentes e de micro em punho que mais parecia uma carabina, começou a carnificina:
-“Então miga? Aí a senhora do lencinho na cabeça? Então está contente com a vitória?”.
-“Então, não estou? Maravilha! PS! PS! PS!”
- “Então diga-me lá de que bairro é? Alfama? Mouraria? Alcântara? Bairro Alto? Olivais?”.
-“Nada, nada… Eu sou mas é do Alandroal!”.
-“Então e anda práqui perdida?”.
-“Não senhor. Foi os do meu partido. Levaram-nos à Nazaré e depois tínhamos de passar por aqui! Só tenho pena é disto acabar tão cedo e não termos tempo de parar em Fátima mas a gente preferiu ver o mar”.

Ena pá! Bem pensado. Podiam era ter recrutado gajos de Lisboa, porque aquilo foi uma razia: eram do Teixoso (Alô camarada Guterres!), de Guimarães, de quase todo o país que eu até me confundi e pensei que tinham mas é sido eleições legislativas e eu me tinha esquecido de votar! Que cena!

Foi lindo! E o Jorge Coelho, com aquele ar de sapo estufado acabadinho de sair da panela de pressão, a olhar para a barba do Pacheco Pereira para ver se encontrava algum pelo desalinhado para mudar de conversa.

Momento histórico do PS e das eleições em Portugal: a noite em que o PS fez a mesma cena que Jesus Cristo fez nas bodas de Canãa quando transformou água em vinho (já não há homens assim!) e multiplicou os peixes só que desta vez em vez de peixinhos foram militantes!

Enganaram-se na cartola e em vez de coelhos… saíram palhaçadas.

Bem engraçado!

Ah, e o Carmona, que parece separado à nascença do Santos Silva, deu a banhada ao pequenino do PSD que parece, cada vez mais minguado. O homem desaparece de dia para dia… valha-nos Deus!

Show di Bôla!

Vejo com apurado deleite a final da Copa América em que o Brasil cilindrou a Argentina.

Futebol do mais alto nível a fazer pensar que o campeonato nacional é um disco de vinil a rodar com a rotação errada, leeeeeeeeeennnnnnttttttttttoooooooo.

A Argentina, a brutal constelação de estrelas, a selecção do Riquelme, do Messi, do Tevez, do Heinze, do Zanetti, do Crespo, do Cambiasso, do Verón, vergou-se de joelhos perante um soberbo Brasil que parece finalmente, sob o desígnio do cerebral Dunga, ter encontrado o Santo Graal da objectividade.

Não sei se o terá sido o Wagner Love a levar, para além das trancinhas azuis, o segredo russo que desvendou o mistério do futebol do velho continente, mas a verdade é que eu vi o Brasil a jogar: à europeia!

Foi lindo! Nada de Romários, nem Bebetos, nem Ronaldinhos, nem “brincas náreia”!

Futibôu ao primêro toqui, cara! A redondxinha sempri rôlandu na pontxinha da chutêra! Em doiz ou trêis toquis da baliza e já morava na redi adverssária. Bunito dimaiz!

Eu gostei!

O Brasil é o Brasil, não é?

Todos nós que fomos espezinhados pela Itália, em 82, na Espanha, olhamos para o amarelo canarinho e é como se aquilo fosse tudo vermelho e verde. É tuga!

Eu lembro-me bem dessa tarde, em que o sacana do pequenelho do Paolo Rossi fuzilou os nossos sonhos mais lindos. Chorei tanta baba e tanto ranho que a minha avó, coitadinha, pensou que me estava a dar um AVC (com 9 anos!) e ligou para o escritório da minha mãe para me ir buscar.

Tranquei-me na casa de banho!

Eu queria morrer!

Não suportava a dor!

Isto para dizer que eu gosto muito quando o Brasil joga bem e ganha bem.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

O Cartão da Nova Geração (em estreia na Carreira de Cima!)

É caso para dizer: “Caraças! A modernidade bateu na porta mesmo aqui ao lado”.


In Jornal Público
15.07.2007
por José Bento Amaro


Prático e seguro


Chip vai permitir identificação via Web


A face do novo documento é composta pelos dados biométricos: fotografia do titular, assinatura, sexo, altura, data de nascimento e nacionalidade. No verso, para além de uma banda magnética que pode ser lida em todos os países do Espaço Schegen, permitindo desse modo ao utilizador viajar sem necessidade de levar passaporte, existe um chip com dois certificados digitais que permitem a autenticidade electrónica segura do cidadão e a assinatura digital qualificada sobre documentos electrónicos.Os habitantes do concelho de Castelo de Vide, no distrito de Portalegre, serão os primeiros, no continente, com acesso ao Cartão de Cidadão, o documento de identificação que substitui o Bilhete de Identidade, assim como os cartões de Contribuinte, Segurança Social e Saúde. A impressão e a entrega do novo documento aos residentes naquele concelho alentejano arranca na segunda quinzena deste mês. Prevê-se, no entanto, que o documento só em 2012 esteja disponível em todo o país.A impressão do documento no continente ocorre depois de, em Fevereiro, o mesmo ter sido lançado, no Faial, nos Açores, e posteriormente, nas restantes ilhas daquele arquipélago. Os dados da Unidade de Coordenação da Modernização Administrativa diziam que, até ao passado dia 9, haviam sido pedidos naquela região 6340 cartões, tendo até então sido entregues 4175.Em Outubro deste ano, depois de a solicitação do documento já ser possível em todo o distrito de Portalegre, avançar-se-á para os distritos de Évora e Bragança. Quanto ao resto do país, incluindo a Madeira, existe a intenção de se iniciarem as emissões no ano que vem.O documento pode ser utilizado para identificação electrónica em serviços on-line e até final deste mês serão postos à venda os leitores individuais, que custam 16,35 euros. Com esta nova acessibilidade, os portadores do cartão podem usufruir de alguns serviços disponíveis na Internet, como as declarações electrónicas, a constituição de empresas ou pedidos de registo comercial. Do total de cartões entregues, mais de 1700 já possuem a assinatura electrónica activa.O preço máximo do novo documento é de 35 euros, valor a pagar pelos cidadãos nacionais residentes no estrangeiro. Para os que residem em Portugal, os custos são variáveis. A primeira emissão para menores de seis anos é sempre gratuita. Acima desta idade paga-se 12 euros, no caso de se efectuar um pedido de emissão normal, ou 15, no caso de se requerer urgência na entrega do documento. Há ainda a possibilidade de o cartão ser entregue num período máximo de 24 horas. Nesse caso, o requerente terá de se deslocar à sede da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, onde terá de pagar 25 euros.O prazo de validade do cartão, que tem dimensões semelhantes às dos cartões de crédito, é de cinco anos, devendo os seus portadores requerer a sua renovação com seis meses de antecedência. Tal operação terá um custo de dez euros.

O Clube da TV

Agora que reparo nisso, dou por mim a pensar que praticamente não vejo televisão.

Eu que ainda sou do tempo em que as novelas eram boas e divertidas e juntavam toda a família depois do jantar para rir com as tropelias do Zeca Diabo no “Bem Amado”, do Sonhôzinho Malta no “Roque Santeiro” e com a “Tieta do Agreste”…

Agora não dá mesmo. Acaba o telejornal e levamos todos com o Malato (já não há pachorra para o gajo!), com as novelas recicladas e os programas da treta e eu desligo dali.

Uma miséria autêntica e valha-nos o cabo, o santo cabo, mas às vezes, nem aí!

Há dias passei num zapping estilo raid aéreo pelo RTP Memória e aqui sim!

Ó pá! Não é por nada mas isto sim é letra! E que vi eu? O Júlio Isidro, esse impagável, esse magnífico, esse mítico, num dos seus muitos programas de tarde de fim-de-semana e eu digo que há homens que nunca haviam de morrer.

Vale mais 1 hora de tv nas mãos deste bicharro que uma caixa com os compactos todos dos programas da Merche Romero (e não, não estou a falar de atributos físicos. Falo de arte pura, em estado bruto, meus amigos! Não me confundam!)

E mal ligo lá aparece o Júlio, ganda homem, de paletó verde, a apresentar o número musical que se seguia: uma cover dos Creedence Clearwater Revival, pela banda lá da casa. O Tó Leal, outro místico, com uma pantalonas envergadas de para aí 5 números acima, bem engalhotadas na cintura, a cantar como se não houvesse amanhã e a Dulce Pontes que dançava como se se tivesse agarrado por distracção a um fiozinho daqueles da alta tensão que às vezes caem perto da auto-estrada.




Momento mágico de televisão 1 – ao segundo 40! A tal Dulce Pontes, movendo-se efusivamente como se tivesse a ter um ataque agudo de lombrigas, espanta-se para a direita como o cavalo do Bastinhas e deixa o resto da malta pregada. A bicha! Sabida! Vai-se a ver da melhor câmara e a companheira do lado que tem uma penca maior que a minha e a do próprio Júlio segue-a pelo canto do olho, mas o Tózinho fica especado. Ai Tó Tó! Teve de ser a das calças de pirata a dar-lhe o toque e ele, com sorriso malandro, até bate com as mãozinhas na testa. Mas não se atrapalha! Bem engraçado! Isto era televisão feita por pessoas. Isto era televisão feita com mestria, caraças!

Momento mágico de televisão 2 – 2 minutos e vinte segundos. Entra o Júlio com duas cadeiras e dispara: “Com licença, com licença, com licença, com licença. Façam favor. Prontos! Faltavam-me exactamente duas cadeiras para terminar o curso de televisão. Cá estão elas!”.

Eh pá! É preciso dizer mais alguma coisa?

Júlio, meu querido: tu mereces o Céu.

Todos os portugueses conscientes deviam doar parte do ordenado a ti e à tua família, prái por 7 gerações, para agradecer o bem que nos fizestes a todos.

Quando quiseres, passa cá por casa para beberes uma ginjinha de primeira e eu te dar a minha parte em pecuniário.

És impagável! Votei em ti no Concurso dos melhores portugueses. Lástima ter sido o velho de Santa Comba Dão!

Para fechar, um jogo da cadeira (isto sim é entretenimento!), em que o Júlio arregaça as mangas e ele próprio faz de Júri, arriscando a vida e o nariz na final, desviando a cadeira para aumentar o suspense.



Génio!

terça-feira, 10 de julho de 2007

What I’ve done!

Sou fã do Professor Sagan.

Quando era puto, vi o Cosmos e apaixonei-me pelo espaço sideral.

Sou fã devoto.

Aprendi num programa que há por aí uma sonda qualquer que navega pelos confins do Universo com uma mensagem nossa, dos terráqueos, como eles nos chamavam no Star Trek. Segundo sei, num disco inviolável seguem umas imagens que explicam a nossa natureza, localizam o nosso planeta, demonstram a nossa forma de reprodução e o nosso propósito enquanto vivos e tem também o Satisfaction dos Stones. O Satisfaction, meus amigos, essa pérola deslumbrante da nossa civilização, nascida das cabecitas loucas e drogadíssimas do Jagger e do Richards. Concebida à luz das quantidades astronómicas de droga que aqueles dois mamaram nos 60 e nos 70, que melodia e que letra tão bonita para nos revelarmos ao desconhecido.

Cá pra mim, proponho um upgrade da era Internet. Chamava o embrulho de volta e metia lá o último vídeo dos Linkin Park. Muito, muito bom. “Que fiz eu?”, dizem eles, neste balanço negro da nossa inconsciência. Acho que tem mais a ver e no fundo temos de ser sinceros para quem não conhecemos. É bonito? É!


Ora vejamos bem: repressão racial, 11 de Setembro, catástrofes ambientais, fome, trânsito, poluição, contadores digitais, espécies em extinção, incêndios, belíssimas imagens do mundo animal, muita fome e desertificação, pilhagens em Los Angeles, a maravilha Stonehenge, o Taj Mahal, as Pirâmides de Gizé, o Parténon. Madre Teresa, Kennedy, Ghandi, Mao Tsé Tung e Lincon. Estaline, Fidel Castro, mísseis, Ku Klux Klan, manifs, Hitler e Saddam, testes nucleares. Vietnam, degelos, as torres gémeas feridas de morte, um óvulo, um feto, um recém-nascido, um bebé, uma veia, um chuto de cavalo, uma rosa a murchar, um pinguim, um navio encalhado. Chernobyl, marés negras, um cogumelo atómico, crianças com bandeiras, crianças com armas. Auschwitz, um deserto, vegetação a crescer, muita atitude, muitos óculos escuros, muito cabedal negro, muita inteligência, muito rock’n’roll, muita esperança na arte e na juventude e um dos melhores vídeos de sempre.

Power On, boys!

O som dos The Sound

Nunca na minha vida fugi a uma boa briga e já andei nalgumas.
Ando com saudades.

E cada vez me sinto mais vezes como a malta de Montalvão, que ia aos bailes da Póvoa só para armar confusão.

No meu novo blog abri os comentários a anónimos. A ver como a coisa marcha.

Sei que corro o risco de me entrar pela casa digital adentro algum parvinho do género “hei malta, vejam bem, um vídeo no blog do vereador com uma cena em que se vê o top desnudado de uma pequena!! Que escândalo!”.

“Chapéus há muitos, seu palerma!” como dizia o Vasco Santana. Se até nos anúncios do gel de banho FA se vêm maminhas e rabitos com fartura! Andas a dormir na formatura, pá! Mas bem, que se amole!

A música dos The Sound merece a homenagem e no You Tube só apanhei a versão não censurada. Ouvi isto há dias e fiquei enfeitiçado. Muito anos 80, muito garage, muito indie, um ritmo e uma batida e uma voz e uma atitude tão retro e tão actual. E o refrão, meus amigos, o swing cantarolável, a mensagem, o movimento, tudo demais!

Só me dá vontade de ter 17 anos outra vez e poder voltar a partir a pista da nossa Cave ao som desta malha. Trepidante!

“ÓÓÓÓÓÓÓ tempoooo! Voltapatráááááss! Traz-me tudo o que perdi…”

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Recomeçar...


Num bucólico almoço de família, muito fim-de-semana, crianças no jardim, muita relva, muito boa onda, muito relax, muito stress-less, alguém me dispara que tenho um defeito enorme.

Um defeito enorme!!!!!!!!! (Que diacho! E qual poderá ser? Por Deus!).

“Gostas muito de falar, mas muito pouco de que falem!”.

Confesso que fiquei sem balas.








Custa-me a olhar para dentro, pá!

Sei que é verdade.



E tenho que confessar que às vezes sou meio aparvalhado.

Vou em cantigas.

Custa-me dizer que não.

Alinho na maré…

E neste caso, foi mesmo assim.

Conheço a Zita Seabra do 9º ano, quando comecei a comprar o Expresso.

A gaja era do tipo muy duro, uma espécie de encarnação feminina do próprio Cunhal, de garras e dentes afiados, sempre acutilante, pronta a rasgar.

De repente, vejo-a passar para o outro lado e não foi necessariamente para o partido vizinho do espectro luso.

Um dia a servir imperiais no Avante!, no outro em amena cavaqueira com o Portas…

Caraças, pá! Assim, não dá!

A gaja só podia ser uma vira casacas e isso é um rótulo que ninguém quer ter.

Aquilo agarrou-se a mim e cada vez que a via, num jornal, num telejornal, numa revista, num boletim ou na sua bem sucedida carreira como editora, dizia para comigo… a bicha esta!

Deu a volta ao prego!

Está aburguesada. Vendeu-se!

E chego a casa e enquanto janto, encontro-a na RTP1 com a Judite de Sousa.

A protagonizar a mais brilhante entrevista política eu vi em muitos anos.

E não foi pela Judite, a pobre, que se mete no meio e não deixa mastigar e não percebe que a estrela não é ela.

Foi mesmo a mulher. Que força! E que soco no estômago!

Falando do PCP como nunca, da voragem e da dura militância, da perseguição interna e das escutas, da manipulação psicológica e do ostracismo como nunca.

Gritou em silêncio que só queria ser livre outra vez.

Ter direito a duvidar daquilo porque lutou até à morte.

E isso é comovedoramente belo.

Contou desassombrada que quando rompeu de vez com o Comité Central fez um esforço brutal para não perder o tino mas não resistiu a esvair-se em lágrimas no primeiro táxi que apanhou.

“O homem reconheceu-me de algures e disse-me que vinha a ouvir na rádio aquilo por que estava a passar. Não me cobrou a bandeirada”.

“Adoeci profundamente. Tive hemorragias enormes e estive tuberculosa durante a gravidez. Espreitei o lado de lá”.

É preciso tê-los no sítio para se despir assim em público.



Do último encontro com Cunhal, duas frases.

Disse-lhe ele: “Nunca mais vais ser ninguém”.

A cachopa responde-lhe à letra: “Espero que dures o tempo suficiente para veres que estavas errado!”.

Eh pá! Temos miúda!

E muita coragem. “Há os que dizem que saíram em discórdia com o processo mas em consonância com os ideais. Pois eu saí em ruptura com tudo. Quando fui, fui e soube donde estive. Quando saí, saí só. Desacreditei-me e hoje sou capaz de ser livre outra vez”.

Sorriu.

O livro que acabou de editar, de memórias, intitula-se “Foi assim”.

Está na lista de Verão.

Deve estar tenrinho.

Vale pela ousadia e eu prometo que onde quer que a veja, lhe hei-de espetar dois beijos e louvar a frontalidade.

Mesmo que não concorde nada... mas há coisas que por muito que nós discordemos, nos temos mesmo assim de vergar... nem que seja pela coragem!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

As novas oportunidades da malta


Eu sei que corro o risco de que me chamem elitista, mas tenho de dizer que não concordo com a cena dos RVCC ou lá como é que a coisa se chama. É do tipo, novas oportunidades.

Traduzido por miúdos, um tipo chega lá, a esta nova escola improvisada, diz o que fez na vida (só as coisas boas! As más não dão jeito nenhum), tipo fui à tropa, sei atar os sapatos de 3 maneiras diferentes, já fui ao Oceanário, sei fazer omoletes espanholas e assobiar a marcha de Alfama de trás para a frente e toma lá o 9º ano.

TOMA LÁ O 9º ANO?

Que cena!

Não tenho nada contra a malta que se adiantou assim, mas têm de concordar que não é justo. Na Fórmula 1, quando um mano daqueles faz um atalhozito, é desclassificado! Parece-me justo! E não há que relativizar as coisas porque elas são o que são.

Eu, para tirar o 9º ano, andei 5 anos da minha vida a bater a Carreira de Cima em Castelo de Vide, caraças! Não me amolem. Fui para lá com 10 anos, mal chegava ao balcão da cantina, levantava-me às 6.15 da manhã para apanhar o autocarro do Nicau, fartei-me de raspar frio e chuva e porrada com fartura porque era reguila e andava sempre metido em confusões. Não brinquem comigo! Até fome passei! Aquela cantina da escola e a comida da Lódi ainda hoje me assolam os mais negros pesadelos. Aquilo foi duro! Mesmo muito duro, tipo uma tropa antes do tempo e tinha que se estudar e agora estes artistas em poucos meses sacam o título com louvor.

Ai é assim? E a coisa vai por aí fora. Também já dá para o 12º e há-de vir o tempo em que até as licenciaturas são instantâneas como o cafezinho do nosso amigo Chaparro (é bom!).

Um gajo acorda naquela: “Hoje tou com a pica de sacar uma licenciaturazinha em Línguas e Literaturas Modernaças! Na boa!”. Chega lá, diz três ou quatro bazófias e enfiam-lhe o canudo… debaixo do braço!

E a gente diz ao vizinho: “então ó Quim Tó! Vais à bola?”. E o gajo responde, “para já o meu nome é Joaquim António e eu tenho o 3º ciclo completo! E não, não vou ao futebol, estou à espera da Biblioteca Ambulante. Ouvi dizer que têm um ensaio novo sobre a dialética Kantiana. Estou em pulgas! Nem me aguento!”

Engraçado, não é? Este país é como o Soares era dantes… FIXE!

Já estou na lista para o curso de diácono! Quando a Igreja se aliar à coisa, tenho a certeza que vou ingressar.

“Ratzinger! Põe-te a pau!”

A Real Tertúlia do Camarão


A Real Tertúlia do Camarão é uma das minhas paixões.

Esta sociedade secreta de fins maçónicos dedicada à devoção do célebre marisco é já um mito urbano da nossa aldeia, se é que as aldeias podem ter mitos urbanos (na Wikipédia não explica. O Fernando Ruas da Associação de Municípios diz que também não sabe!).

Composta por 11 elementos como os apóstolos, reúne sempre na mesma data secreta, num sítio secreto e com rituais secretos que convém não divulgar porque são secretos.

Por muito que se diga, o grande ingrediente é a amizade e o salutar convívio entre os convivas (perdoem-me a redundância mas gostei do som das duas palavras juntas).

Neste segundo ano de actividade sonhamos com a internacionalização e já andamos a recolher fundos.

Como li algures que houve um equipa de vólei em Itália que se desnudou para vender uns calendários e aquilo rendeu uma nota preta, lembrei-me também eu de fazer nos meus serões livres, umas brincadeirazitas com o Photoshop e todos os meses sai uma fotomontagem nova, para gaúdio da rapaziada. Os originais estão à venda por período limitado e não se demorem que o Berardo diz que os quer lá para a sala de jantar da casa nova.

Fica aqui o cartaz de Maio e o meu tributo à amizade.

Que Deus nos dê saúde que nós bem precisamos.

****-**!

Boletim Metereológico


O homem é um canastrão daqueles à antiga, mais parece saído de uma cóboiada do John Ford, descendente directo de ícones imortais na linha do John Wayne, do James Stewart, e mesmo do Ronald Reagan. Já não se fabrica fazenda desta. E é também o gajo a quem o filho do Bush roubou as eleições, com uma mãozinha do mano governador da Florida. Nestas cenas, dá sempre jeito ter a família pelo meio! Não há nada que o petróleo não pague!

Decidido a reposicionar-se no panorama político, agarrou-se à bandeira ambiental que é hoje das que mais rende.

Vai daí fez um documentário mesmo à americana, tipo Michael Moore, a dizer que esta cena está mesmo a rebentar pelas costuras: é a camada do ozono a desaparecer, as florestas tropicais a arder, os calotes polares a derreterem, a temperatura global a aumentar e a malta a assobiar para o lado e a pensar que são tudo cantigas.

E não é que este ano ainda não chegou por cá o calor a sério? Tá de estações do ano, está!

Nas notícias então é demais. No Reino Unido, água com fartura e os bifes a carregarem os botes com paletes de cerveja caminho do telhado mais alto do vizinho. Na Grécia, quarenta e tal graus à sobra e a malta não está com mais nem meias, inspirados na mais profunda filosofia helénica, pegaram nas tendas e marcharam todos a acampar para a praia. Lindo! Isto sim era um Prémio Nobel bem entregue. Todos estreichados na areia de latinha de refrigerante na mão, e como não havia luz no areal nem me perguntem onde faziam as necessidades de noite… A água também devia de estar um caldinho. Bem agradável!

Eu acredito no Al Gore. Com o andar da carruagem, qualquer dia vou abrir o portão da garagem e tenho um pinguim à porta!

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Trippin' Tripoli (aka Sócrates rules!)


Da maneira como as coisas andam ultimamente, sei que este post me pode levar de cana, mas mesmo assim arrisco.

O nosso Sócrates é uma máquina! Impagável, o rapaz. Sempre em grande estilo. Seja a fazer o seu jogging nos locais mais inóspitos, camisolinha da Adidas, em Luanda ou Moscovo, com meia dúzia de abetardas a fazer-lhe companhia; ou a ripar jornalistas de alto a baixo, irradia estilo.

Dá vontade de o adoptar para neto. Aposto que todas as avós queriam ter um assim…

Hoje nas notícias de quase todos os canais, vi-o a rir-se todo satisfeito para o Kadafi, um dos maiores terroristas, um verdadeiro carniceiro, uma das bichas mais loucas, tiranas e sanguinárias que o nosso planeta já viu nascer. Estavam todos sorridentes, como se fossem velhos amigos, com o ar de quem estava discutir o novo equipamento cor-de-rosa do Benfica.

Pensei: “Será que o rapaz sabe onde está metido?”

Ele todo numa boa e o outro meio dopado, com um traje folclórico lá do sítio, tipo cortinado. Parecia uma cena do Lion King 3.

Bem engraçado!

Ao contrário do que diz a minha filha, as notícias não são nada aborrecidas.

Eu até gosto. Às vezes…





Tripoli, Líbia (PANA) - O primeiro-ministro português, José Sócrates, encontrou-se hoje com o líder líbio, coronel Muamar Kadafi, durante a Cimeira da União Africana (UA), no quadro dos preparativos da Cimeira África-Europa, prevista para Dezembro próximo em Portugal, informou uma fonte oficial líbia.De acordo com a fonte, o primeiro-ministro português já tinha exprimido esse desejo durante a audiência que concedeu ao secretário líbio das Relações Exteriores e Cooperação Internacional, Abderrahmane Chalgham.Sócrates sublinhou igualmente a importância da preparação comum da Cimeira África-Europa e a criação dum mecanismo de acompanhamento da cooperação entre a União Africana (UA) e a União Europeia (UE) na execução do conteúdo da Declaração de Tripoli sobre Emigração e Desenvolvimento.O primeiro-ministro português acrescentou que o seu país coloca a Cimeira África-Europa no topo das suas prioridades durante a sua próxima presidência da UE.

Arte Modernaça


Li há dias, uma entrevista extraordinária com este caramelo.

Dizia então o gajo, que teve arte e manha suficiente para cravar um museu ao Sócrates lá para os lados de Belém (e não, não é o Belém da Palestina, é o outro, ao fundo da Junqueira, para onde vai o autocarro 19) que a maior parte das vezes, não se lembra do nome da mulher e eu fiquei para morrer.

Até então pensava ingenuamente que para um gajo ser esperto ao ponto de ter um império e ser estrela de anúncios da American Express e ter colecções de arte moderna sem par no mundo inteiro, tinha, no mínimo, de saber o nome da fêmea com quem acasalou.

Estava errado!

E não me venham com a história da dislexia e das outras tretas todas porque eu, quando andava na segunda classe, só pude escrever o meu nome a esferográfica quando a Dona Lourdes teve a certeza que dava menos de vinte erros quando escrito a lápis e nunca me queixei, excepto uma vez à minha mãe num almoço da catequese, mas ela não me ligou peva.

O Berardo, esse ícone do Portugal moderno, teve a ousadia recente de no seu novo dialecto, dizer que o nome da mulher não interessa para nada. Diz ele que ela não leva a mal.

E eu digo que no mínimo, se poupa a muitos equívocos inesperados e cada vez mais me convenço que não percebo nada mesmo desta história.

Eu… que nunca me esqueço que a mulher da minha vida se chama Cristina, esqueço-me muita vezes de meter dinheiro na carteira e é nessa altura que os meus amigos têm de pagar as datas.

Dá vontade de dizer: “You can’t have it all, Joe!