quarta-feira, 25 de junho de 2014

Zé Manel Gavancha


Soube que estava menos bem de saúde, que lhe tinha dado “uma coisa qualquer”. Porque sou amigo preocupei-me. Mas a falta de tempo fez com que houvesse sempre um… mas. Ou o trabalho, ou as filhas, ou a vida me levaram a saber sempre mais de mim e a não me preocupar em saber mais… dele. Depois, nesta terra pequena sofre-se do mesmo que nas outras terras pequenas e o boato começa a ganhar força de facto. Que estava melhor, que estava muito mal, que teve uma recaída, que lhe tinha dado outra vez.

Há semanas encontrei a mulher e a filha junto ao posto da GNR e pude saber mais ao certo, em concreto. Que estava melhor e internado na Anta da Beirã. “E recebe visitas? Hei-de lá ir vê-lo.”

Encontrei durante esta semana nas finanças, uma empregada que me garantiu que poderia lá ir a qualquer hora. “Assim que for ver as minhas tias à Beirã com tempo, hei-de lá passar.” E foi no sábado.
 

No caminho parei-me, sentei-me a olhar a estação e reencontrei uma beiranense com idade para ser minha avó que comentou comigo o inevitável nestes casos: como era e como está aquela que há-de ser sempre a nossa terra. Fomos andando e voltei a sentar-me já a sós, para ganhar tempo e fôlego para o que iria encontrar. Reparei que me tinha esquecido da net ligada no telemóvel e recebi um comentário do Brasil à imagem de perfil que tinha acabado de meter no facebook, com uma camiseta do Cachaçafest do Piauí de 2008, ano da minha visita lá. Se é verdade que a internet é a maior invenção do meu tempo (a roda já lá vai há muito e os computadores já existiam quando eu era puto) e transforma o mundo numa aldeia global, o facebook faz dessa aldeia uma rua. O Brasil é logo ali, logo aqui no meu telefone.


Mas eu ia a outra coisa. Olhei o edifício de fora e pareceu-me enorme. Maior do que o imaginava. Assim olhado de frente, e não de passagem de carro, parece que a dignificação o tornou ainda mais alto, mais importante e imponente. Respirei fundo e entrei. Uma senhora muito dócil de mais de meia idade perguntou-me o que queria e mandou-me sentar numa salinha de espera, pequena, simples mas muito confortável com poucos adereços. Olhei pela janela e fui pensando. Pensando que curiosamente a Beirã de hoje parece ter sido abandonada pela Beirã saudável e próspera do meu tempo mas aquele edifício que foi residência dos alfandegários na minha meninice e abandonado na minha adolescência, renasceu agora fruto do trabalho de uma associação à génese da qual a minha mãe esteve ligada porque nasceu da vontade de um grupo esclarecido de amigos que hoje é o santo graal da Beirã. Sem ela, provavelmente já não haveria nada ali.



Estava expectante. Horas antes tinha ouvido ao balcão do Adro, onde bebi café que o Zé estava mal. Quão mal estaria ele? Será que não conhecia mesmo ninguém como comentavam? Aquela sensação que os segundos pareciam horas… O Zé chegou acompanhado, numa cadeira adaptada à sua condição. Achei-o mais magro, com os olhos salientes que sempre o caracterizaram a parecerem ainda mais esbugalhados na cara esquálida. Os seus problemas com a visão, muito castigada pela diabetes, amorteceram o não me ter reconhecido logo. Foi a voz.

“E o senhor, o que lhe é a ele? Família?”
“Amigo.” (com A grande… há muitos anos. O Zé Manel zangava-se quando eu o tratava por você. “Epá não consigo que sejas tu, o que é queres? Acho que é do seu bigode. Mete respeito.)
“E o seu nome?”
“Pedro. Pedro Sobreiro”
As palavras surtiram nele o mesmo efeito que o “Abre-te sésamo” dos 40 ladrões. O meu nome despoletou um efeito que lhe abriu a gruta das emoções. Ainda com algumas limitações na mobilidade, foram os olhos ou a emoção que caiu deles em catadupa que abriram o jogo. O Zé Manel estava lá, aprisionado naquele corpo que o limitava mas com o mesmo cérebro, o mesmo sentir, o mesmo coração. A amizade, o querer bem aproxima muito as pessoas. Às vezes, faz delas mais próximas do que se fossem família. Cada lágrima era um grito de revolta por se ver assim de um momento para o outro depois de ter sofrido tanto com a saúde, um lamento, uma dor. E ficámos ali assim em silêncio, os dois, de mãos dadas. Ele a gritar em silêncio com os olhos fitos no nada e eu a olhar para o chão, para não interferir com aquele momento tão íntimo, tão seu. Muitos minutos muito grandes.

Silêncio e dor.

Quando voltou a pouco e pouco a si, foi respirando mais e mais fundo.

Dei-lhe espaço e vagar. “E então, Zé? Como te sentes?” foi a forma de entrar neste mundo ainda novo ao qual se está a ambientar. Com um discurso completamente lógico e compreensível, talvez um pouco limitado com a articulação das palavras, disse que se sentia muito bem apoiado e instalado. Disse que o apoio da família o motiva muito e que a mulher, a filha e o filho nunca o deixam sentir só. Disse-me que está à espera de ser avô nos tempos mais próximos e no rosto acendeu-lhe uma esperança que lhe fez brilhar os olhos. “É o meu filho… está quase a ser pai.”
“Mais um benfiquista, Zé! Tem de ser!”
Ele sorriu, disse que sim e a bola tirou-nos dali, fez-nos ir um bocadinho ao campo dos sonhos embalado pela paixão benfiquista que nos assola a ambos. Com a sua maneira generosa e bondosa de ser, fiquei com a impressão que ainda me perguntou pelas minhas pequenas mas a estrela ali era ele e não eu.  

“Tratam-te bem, Zé? Comes bem? Não te falta nada? Vês televisão? Ouves rádio?”
Disse-me que perdeu muito o apetite e pela falta de visão não se sente muito impelido a ler mas que a televisão é sempre uma boa opção embora os jogos do mundial sejam a horas difíceis. Relembrou-me de cabeça os jogos do calendário desse dia e afastou-me os fantasmas de que poderia estar menos bem de cabeça.

“Sabes o que te aconteceu, Zé?” (fiz um esforço pelo tu de há umas semanas a esta parte e tem resultado) e quando lho perguntei também eu não sabia ao certo. Provavelmente já me deveriam ter dito o que foi mas a minha cabeça já não é a mesma e quando perguntei, não sabia, de facto. Ele também não. “Achas que foi uma coisa que te deu? Achas que foi a tensão?”

“Não sei. Foi de tarde. Não sei o que foi mas acho que foi de tarde.”

O seu quinto Machado esclareceu-me depois no regresso à aldeia que foram 3 AVCs que fizeram mossa. Segundo soube, esteve no hospital já com sintomas e a triagem pode não ter sido exímia porque se repetiram. Agora está a recuperar, a apostar que a fisioterapia lhe consegue devolver alguma da qualidade de vida que perdeu.

De vez em quando olhava a janela e queria ver o que se passava lá fora. Mas senti-o machucado, como se um comboio lhe tivesse passado por cima.

Eram horas de jantar e ainda tinha de passar a ver as minhas meninas (de 84 e 86). Mas hei-de lá regressar. Com muito mais frequência. É nestas alturas que os amigos nos podem ajudar. E eu já estou a pensar no que lhe vou dizer em próximas conversas, que há-de passar muito pela ideia que apesar de tudo, teve uma nova oportunidade de ver as coisas que a vida ainda lhe pode dar, como um neto.


Tem 58 anos. O meu pai tinha 49 e naquela manhã só queria acordar. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Alemanha: 4 - Portugal: 0 / Uma entrrada nos mundial a matarr!!

- Pffffffffffffffffffffffff que calor... Na minha câmara de musculação está-se mais fresquinho
- Ronas, vais a deixar cair a carteira do bolso de trás...

Hum, Herrr Platinis, ests portuguesis bin sehr intersantzzz.Ich les din eres mas ils savoir que si ganhem se lhes acabem...

A equipa de futsal dos Escalos de Baixo
Pergunta para queijo: onde está o sósia do Variações?

Era enorme a expectativa,
Da estreia no mundial,
Queríamos conquistar o Brasil,
Como fez o bom do Cabral (há 500 anos atrás.)

Tava todo o mundo virado,
Prá nossa seleção,
Já ninguém se lembrava do BPN,
Dos impostos e da falta de pão. (que afeta todos e aqui o pão pode ser tudo o que falte)

Bem dizia o velhinho Esteves (Esteve aqui, Esteve ali),
Mas conhecido por Salazar,
Que para a malta andar animada,
Fado e muita bola não deviam de faltar.

Toda a gente em cima,
A acompanhar e a jogar por fora,
Que mal nos distraímos uns minutos,
Já estávamos a mamar uma tora.

Que o penálti não o era,
Que foi excesso do árbitro e do Pereira,
O primeiro porque podia ter deixado passar,
O segundo porque aquilo não são maneiras.

Dois lances decidiram o jogo,
Uma falta e uma expulsão,
Podiam não ter sido marcados, é certo,
Mas temos de acatar a decisão.

O Pepe é um tuga naturalizado,
Com pouco sangue de Viriato a bombar no coração,
Mas é um verdadeiro catedrático das expulsões,
Que quis dar um brilho da sua atuação.

(A verdade é que já) Mandamos muito pouco no mundo,
Onde fala alto a Alemanha,
(Por isso) Temos de piar fininho e aceitar,
Esta força ariana tamanha.

“Quem se deve estar a rir é o cigano!”,
“Isto é um jogo de treino para a Alemanha.”,
 “Hoje passa da meia dúzia”,
“Temos aqui outra Espanha”.

“Está tudo roto, é só arames”,
“Já podiam era fazer as malas”,
Foram os comentários que se ouviram,
aos meus colegas camaradas.

O que eu vi foi a Merkel de rosinha,
a desfilar na bancada,
Quanto aos representantes de Portugal,
Não apareceram mesmo nada.

Para fazer frente aos Fritz,
Nem Cavaco, nem Coelho,
O alemão agigantou-se
E mingou o nosso Paulinho.

Foi a pior exibição de sempre,
Demos uma imagem fraquinha,
Joga com a imagem da economia, digo eu,
E assim fica toda certinha.

Tivesse entrado a borla,
Dada ao Kedhira, pelo Patrício,
E a desgraça não tinha sido só a derrota,
A expulsão e tudo o resto, um suplício.

Quatro foram muitos,
por quatro é pesada.
Mas eu digo que por 20 causa igual mossa,
Na nossa lusitana armada.

Perder por 100 ou por mil
Dá igual, têm de pensar,
Não se podem ir abaixo,
Não podem mesmo traumatizar.

Agora faltam 6 pontos a jogo,
E 6 temos que ganhar,
Aos States e ao (ma)Gana,
Se quisermos lá ficar.

Vamos já lamber as feridas,
Limpar as armas, carregar o canhão,
Acreditar que tudo é possível,
Com muito esforço e união.

Ter o melhor do mundo dá jeito,
Mas os outros têm de ajudar,
Senão ficamos a ver navios,
No oceano a patinar. (perdidos, a naufragar…)

É já no domingo que nos vamos a eles,
Os yankees vamos trincar,
Vão ver bem o que é os tugas,
Plenos de força, a bombar.

Não sabemos fazer isto doutra forma,
Senão correndo atrás do prejuízo,
Só assim conseguimos fazer contas de cabeça,
E saber bem o que é preciso.

Se acredito que podemos ganhar a copa,
Claro que sim, como não?!?!?
Também me acho é sério candidato,
A presidente do Cazaquistão.

Copa é sonho, Copa é querer,
Se o Paulinho não a traz,
É porque não é capaz__________________________________________FIM

Aluno: Pedro Sobreiro

Idade: 41 anos

Ia batendo no poste. (de tão bem marcado que foi)

Eu sou fã do Uri Geller e vou fazer desaparecer o Nani

Cara, não brinqui. Eu só lhi vou dár uma cabeçada, valeu?

A minha Cristina vai estar parada mais tempo e pode não jogar já este mundial

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O nosso fado, Aníbal

Se não se mexerem... é capaz de demorar... mas uma a um... vão!

Hoje, com mais calma que os ânimos já estão mais serenados, é altura de falar com o nosso tio-avô Cavaco. O homem não pode estar bem. E não foi só de ontem. É certo que ter estado a querer cantar o hino com aquela turba toda aos gritos não ajudou a sua (a)tensão em nada. Mas ele já não andava bom. Há muito tempo. E eu já andava desconfiado só que não disse nada para não assustar os credores que sei que são leitores assíduos do meu blogue. Não há reunião da Troika que comece sem antes por aqui passarem para saber se tenho novidades. O “Vendo o mundo…” e o facebook de Pedro Sobreiro estão ao nível d’ “O Crime”, da “Nova Gente” e do “Dicas da Semana” do Lidl. Obrigatórios para quem quer saber o pulsar do país.

Quando Cavaco disse que a 7ª avaliação da Troika foi favorável por se ter sido a 13 de Maio e mais um milagre de Fátima, achei que a coisa ia rebentar. Mas safou-se na autópsia. Depois disso têm sido muitas e mais do que evidentes.

Quando se despediu dos jogadores, ao partirem para o Mundial do Brásiu, pagou um almocito mas em vez da bela da feijoada, ou de uma sardinhada que ali nos jardins de Belém, com tantas sombras para quem se embezanásse (e se há lá gente com boa pinta para o fazer) poder dormir a sesta, ou uma frangalhada assada bem regada com uns tintos que são bem tugas, mandou servir uma “carne à bolonhesa”!?!?!? Desculpe? Se é bem verdade que os jogadores precisam de comer hidratos, davam-lhe batata que estes pratos bem tugas têm muita. Se não chegava davam-lhe supositórios de hidratos. O Veloso e o Meireles têm ar de quem não se preocuparia muito com o negócio. “Carne à bolonhesa” não lembra a ninguém. Pior só um “Arroz à Valenciana” servido à moda de Sevilha.

Pode estar bem? Não pode!


Por falar nos vizinhos, o rei de Espanha tem mais um ano e já decidiu bater asa. É certo que o monarca toda a vida se meteu em caçadas de animais de grande porte  (do peito para cima)e da fama de Onassis não se livra, enquanto que o nosso Aníbal venera a sua Maria que tem mesmo ar de quem dá ordens lá na casa. Mas ele já tem idade, vá. E não vai ter tempo para fazer muita coisa já. Há que definir prioridades.

Aníbal, eu se fosse a ti mudava o hino, pá! Este é velho, está desatualizado e já não vai tendo jeito de nada. Aníbal, o teu tio sabi explica:

Como sabes, o hino nacional é um símbolo nacional, como tu, mas é mais antigo uns anitos. Tem a ver com o ultimatum dos ingleses e como se tornou marcha dos revoltosos, até foi proibida pelo regime monárquico. Só com a implantação da república é que se oficializou e desde então, é presença certa em tudo o que é de Estado. Tem música de Alfredo Keil que até nem está mal de todo mas o problema é a letra do Henrique Lopes de Mendonça que está do mais destualizado que possas imaginar. Eu explico:

Alfredo Keil: antigo
Henrique Lopes Mendonça: mais antigo ainda


Senão vejamos e analisemos, os dois:


A Portuguesa

Heróis do mar(está certo porque fomos mesmo, já dividimos o mundo ao meio com os espanhóis no Tratado de Tortesilhas), nobre povo, (já não somos lá muito nobres, vendemos os dedos e foram-se os anéis),
Nação valente (isso sim! com eles no sítio!), imortal (isso não. Todos morrem e a gente também não fica cá para semente),
Levantai hoje de novo (outra vez?!? Só com Viagra!)
O esplendor de Portugal! (tá correto e tá bonito)
Entre as brumas da memória (onde não se deve ver um palmo à frente do nariz),
Ó Pátria, sente-se a voz (sente-se a voz?!? Não ficaria aqui melhor o ouve-se?)
Dos teus egrégios avós (egr… quê?),
Que há-de guiar-te à vitória! (conduzir—te não ficaria melhor? È que guiar-te faz lembrar um volante)

Às armas, às armas! (Isso já não se usa. Ainda se fosse Aos mísseis, Aos mísseis)
Sobre a terra, sobre o mar, (todo o terreno, portanto)
Às armas, às armas! (ver duas linhas acima)
Pela Pátria lutar (lutar q.b. que isto não está para lutas. Há muita fome)
Contra os canhões marchar, marchar! (marchar contra os canhões? É capaz de dar barraca)

É certo que ficar sem hino não dá jeito nenhum e eu já te arranjei um substituto. Uma música que verdadeiramente diz e define o que é ser português: “Desfado”, cantado pela Ana Moura. A intérprete é um exemplar belíssimo da raça lusitana (feminina… calma!) e impõe-se por si. Enquanto estiver dentro do prazo (e ainda tem muitos e bons anos pela frente) evitaria que ao hino se sobrepusessem outros temas que roubassem protagonismo ao nosso tema nacional. Dou-te um exemplo: evitar que o Paulo de Carvalho fosse de brinco para a Assembleia da República cantar o “E depois do Adeus” que serviu de senha para os militares do 25 de Abril. Para já, o rapaz já não canta nada, depois vai para lá fazer show-off e não dignifica nada em nada, pá. Apanhar a Ana ali de vestidinho justo e de cavas, era outra música, dava outra solenidade, não sei se estás a ver.


Se a interprete é do melhor e está a um nível que a Amália nunca esteve nem mesmo nos tempos áureos porque sempre bebeu muito, a estrela da companhia é a letra do tema. Nunca vi, nunca conheci, nunca imaginei um tema que pudesse dizer tanto sobre o que é ser português em meia dúzia de linhas. Um portento. Uma verdadeira obra-prima. O Pedro da Silva Martins é conhecido como sendo um dos barbudos dos Deolinda. Aquilo é tudo primos e família, mas não é nem o dos óculos que está casado com a donzela, toca contrabaixo e é imberbe, nem o outro da guitarra. É um que parece o D’Artagnan e o cachopo merecia uma medalha dessas que tu dás no 10 de Junho. Este ano já vai tarde mas pensa nisso pró que vem.

https://www.facebook.com/pedrodasilvamartins2?fref=ts
Vê o vídeo, lê a letra, pensa no poema e diz-me lá se não tenho razão. Cada palavra tem um sentido, cada verso é poderoso. Podes comentar utilizando a caixa do meu correio sentimental que vem no cabeçalho do blogue para o fazeres. É sigiloso.

Aníbal, um abraço e lembra-te que há coisas sempre piores que podem acontecer. Lembra-te do Relvas a cantar “o povo é quem mais ordenha” quando foi interrompido por manifestantes numa universidade qualquer onde estava infiltrado. Mais uma…

Admira isto:


E diz assim (e está tão perfeito que nem toco em nada nem anoto):

Quer o destino que eu não creia no destino
E o meu fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
Ai que alegria, esta tão grande tristeza
Esperar que um dia eu não espere mais um dia
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém
Que aqui está e não existe
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem
Só por eu andar tão triste

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande incerteza de não estar certa de nada
  
Já que chegámos à conversa e para ultimar, Aníbal, sem te querer chatear, quero dizer-te que essa de entrares nas selfies com a selecção é coisa que não te dignifica e que te deverias aplicar mais na escolha dos rapazes que vão representar as nossas quinas. Para já, todos deveriam de ter um bigode ou uma barba, pelo menos, para homenagearem o Camões. Depois não deveria de haver por lá tatuagens a não ser como as minhas que são andorinhas, tipicamente portuguesas e hábito de marinheiros. Nada de tatoos: “Kátia Vanessa amo-te”.





Isto para não falar daquela coisa chamada Raúl Meireles que parece um índio mohicano raçado de Variações que não lembra o diabo. Mas que raio de cabelo é aquele?!?!? Tem cuidado nisso, Aníbal. O Ronaldo está bem. Alinha-os por aí. Tem muito músculo. Mete-os a encher.

Adeus,

Dom Pedro
Alentejano marvanense beiranense arenense

terça-feira, 10 de junho de 2014

Dia de Portugal?!?!?









O Cavaco sentiu-se mal e não é para menos. Ele é o chefe do Estado Português e perante a afronta dos revoltosos nas comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, deixou-se abater. O pobre do homem foi-se abaixo das canetas e foi preciso o chefe Estado General Maior das Forças Armadas a ampará-lo para que não caísse.

Aqueles descontentes com o actual estado das coisas mostraram a sua insatisfação mas revelaram muito mais que isso. Revelaram uma profunda falta de respeito pela nossa história, pelo passado valoroso, pela democracia, pelo chefe do nosso Estado, mostraram a sua ignorância e o seu desrespeito por mim, também.

Assisti boquiaberto às imagens no youtube mas acredito que muita gente se sentiu assim como eu.

Mal como eu.

Alguns, mais antigos, tiveram certamente saudades do Salazar, pelo respeito que então havia pelos valores do país. O tirano não foi terrível em tudo. Foi muito terrível quase em tudo mas soube sempre valorizar o que era nosso, gerir bem as finanças do país, manter-nos longe das grandes guerras com hábeis alianças e morreu com parcas posses.

Outros, mais modernos, como eu, acham que aquilo ia com o corpo de intervenções rápidas que deveria ter zelado por aquele símbolo do Estado português que é o Presidente da República (goste-se ou não do homem mas aqui o que está em causa é o cargo que ocupa), como zelaram pela Assembleia da República como fizeram na manifestação das forças de segurança. A causa-efeito foi hoje mais que óbvia.

Vergonha.

Podem chamar-me aquilo que não sou porque eu, como sempre, estou em paz com a minha consciência, que é a única juíza a quem devo prestar contas. Não sou neo-nazi nem nada que o pareça, não sou salazarista, não sou estafermo. Sou amante da liberdade como valor maior da vida. Para além disso: sou português! E neste dia, digo-o com muito orgulho. Ter orgulho nisso não é nada que envergonhe ninguém. A mim orgulha-me e muito. Tenho pena que os sujeitos e as senhoras que boicotaram as comemorações na Guarda, não o sintam.

Quando ouvi o que se tinha passado, queria brincar com o sucedido e com o facto de o rei de Espanha também já ter bazado mas fiquei sem força

Hoje também é o Dia de Camões. Se tivesse visto uma lide destas, tinha ficado cego dos dois.


sábado, 7 de junho de 2014

Eu, advogado do diabo, me confesso


Este país é um país a brincar e cada vez mais me convenço disso. Não tem ponta por onde se lhe pegue. Tá difícil, tá complicado e as previsões que as coisas relevem ou melhorem são escassas.

Há pouco no café, um cá da terra comentava as declarações de Passos Coelho  na televisão dizendo que a coisa resolvia-se “com um daqueles de dois cartuchos”, como se o primeiro tivesse sido o responsável pelo mal que vivemos.

Pois eu cá aprendi que num estado de direito (que normalmente anda menos torto que o nosso) existem 3 poderes que devem andar sempre separados e se auto-regulam entre si: o legislativo, o executivo, e o judicial. Há quem faça as leis, quem as aplique e quem as fiscalize. Se bem for, é bem assim.

Agora, pelos vistos e mais do que nunca, há que chefie estes 3 poderes que é o Tribunal Constitucional, que faz ouvir a “lei das leis” e aqui está o cerne da questão. Para mim, o Tribunal Constitucional é quem manda nesta merda toda e ai de quem se levantar a questionar que lhe cai a marabunta toda em cima e é apedrejado ainda sem saber bem o porquê de tanta calhoada. O 4º poder é que manda. Mais que o Presidente da República, que se cala.

Para já, na minha opinião, a constituição deveria ser um documento claro, curto e conciso que soubesse proteger o Estado de Direito mas que não esmiuçasse assuntos ao pormenor, retirando o raio de alcance a quem se esforça por governar. A lei das leis deveria ser assim. Governar não deve ser uma tarefa nada fácil e o Pedro Passos Coelho corre o sério risco de vir a ser considerado a cara de um dos mais difíceis momentos da história do Portugal recente. Ele é o que baila à frente das labaredas mas o responsável para mim, tem sido muitos, toda a classe política desde o 25 de Abril. Homens e mulheres que tendo lugares de destaque permitiram que a situação chegasse onde está agora. No fundo. Resgatados. A sobreviver com o dinheiro que nos emprestaram. A viver deles e de cada vez que vejo as notícias, lembro-me disto que é um documento único que me foi mostrado pelo meu amigo António Gonçalves no seu quarto, numa noite quente de Verão há muitos anos atrás. (e merece mesmo ser ouvido. São 25 minutos ao vivo de puro deleite histórico).


Fui anteontem a Lisboa e segui pelas estradas nacionais, para fugir às portagens como todos os outros fazem agora. E as auto-estradas para que são? E os estádios de futebol construídos para o Euro 2004, que agora estão às moscas? Explicações que se necessitam como a de como foi possível um caso BPN, que teve um mamarracho por sede, um mausoléu no coração da capital do Império... E a fiscalização?!?!? E quem ganhou com aquele “Alves dos Reis” do século XXI? E o Banco de Portugal? Onde estava?  
   

Falava o Pedro primeiro-ministro que os Juízes do Tribunal Constitucional deveriam ter noção das limitações que impõe a quem governa. Para mim, o que ele quis dizer foi que os juízes que são eleitos pelos partidos, (note-se!!! De acordo com a votação, pela Assembleia da República, mas escolhidos por eles) que ganham um absurdo, que têm um poder tremendo e regalias obscenas para os tempos tão duros que hoje vivemos, que se reformam com idades e condições pornográficas, correm o risco de ficar no desemprego se esta brincadeira berrar e deixarmos de ter um país. Querem ser mais papistas que o papa e podem comprometer, inviabilizar, estourar. Quando chumbam uma medida têm de a pensar no global, no estrago que faz a sua falta e nas consequências que podem daí advir. Chumbas aqui, papas com um aumento do IVA ali ou outra forma de qualquer de fazer dinheiro que ele não nasce nas curvas. Aqui não há milagres. Não há fábricas de dinheiro vivo.


Não vejo o governo como tendo prazer nesta escalada abrupta da carga fiscal e nas quebras de vencimento. É assim porque assim tem de ser. Esta fatura vai provavelmente levar toda a minha vida a saldar. A minha e a das minhas filhas. Por isso, sair há-de sempre ser uma hipótese a considerar, não no caso dos pais que ainda conseguiram encaixar-se, mas no delas.

O Partido Socialista bate porque no Constitucional ninguém toca. Mas e quando para lá for? Como será quando este impasse interno se resolver e Costa agarrar o país pelos cornos? O Seguro é um bom rapazinho mas insonsinho e licenciado nas juventudes partidárias. Foi o sósia esquerdino do seu congénere social-democrata. O Costa de acção que todo o país quer e necessita tem de esperar pelo fim de Setembro(!!!) para umas primárias que tardam demais. Ele diz que queria já e era já que faziam falta. Quem não teme não espera, pelo que...



Meanwhile como dizem os bifes e agora parece-me que fica aqui melhor que “entretanto”, vamos imaginando como será. Ele, que num artigo que li ao sábado no CM defendeu a Constituição como inatacável e pedra de toque deixa um bom augúrio sobre como será a sua governação.
    
Nós, mexilhões, vamos vendo e calando, sabendo de antemão que certamente seremos os únicos a ser lixados, levando pancada entre o mar e as rochas, ao sabor do vento e das marés, rezando para que nenhuma gaivota faminta nos descubra.