quarta-feira, 27 de julho de 2011

A doer


Chegou a hora da verdade.


Neste defeso, o meu Benfica esturrou a fortuna de que não dispunha em jogadores.


O meu Benfica comprou como se não houvesse amanhã.


O meu Benfica é (doa a quem doer, custe a quem custar) um clube de referência no futebol mundial.


O meu Benfica tem património, tem historial, tem prestígio e tem sócios fervorosos que o apoiam e patrocinam. É o clube português com mais sócios e creio que o segundo no mundo inteiro.


O meu Benfica está recheado de estrelas e talentos mas não sei se terá uma equipa.


O meu Benfica tem muita coisa e até tem a besta de um treinador que não é capaz de assumir o favoritismo quando disputa uma eliminatória de acesso à Champions contra um clube turco de nome impossível.


E eu pergunto: “Ó minha grande merda: se não és favorito contra estes, estás aí a fazer o quê? E se jogasses contra um Real, um Barça, um Chelsea ou um Manchester?”.


Sinceramente, nunca vi tamanha auto-declaração de incompetência.


Por mim… podias ir e era já!


Tristeza…


PS: Sim… eu sei… eu já fui muito fã do homem mas as paixões também acabam, sabiam? Quando eu era fã, ele costumava dizer (de dentes cerrados) que sabia que ia ser campeão porque os jogadores com ele iam correr o dobro e dar o litro a valer. E agora? Isto? Por favor… Saí-me da frente, opá!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Back to (forever) black


Era um desfecho mais do que previsível mas nem por isso menos trágico e doloroso para todos os amantes do seu talento absolutamente único e irrepetível. Amy Winehouse era muito mais que um vozeirão singular. Era uma compositora prodigiosa, uma performer de excelência e uma figura icónica da galeria rock’n’roll, mais uma que pagou com a própria vida por reger a sua existência pelo duro lifestyle ditado pela cartilha do género.


É uma pena e uma perda imensa mas foi feita a sua vontade. Ela, que tanta vez cantou que não tinha 70 dias disponíveis para a “rehab” imposta pelos pais, até na morte foi fiel às leis do rock ao sucumbir perante a velha máxima: “Better to burn out than to fade away”.


A dura verdade é que há muito pouco glamour quando o álcool e as drogas deixam de funcionar como estimulantes à criatividade e ganham terreno, passando a ser carrascos de uma existência que fica refém do vício. Este cocktail explosivo levou-nos o Hendrix, o Morrison, a Joplin, o Jones, o Cobain e agora a Amy… tantos… todos eles com 27 anos apenas e chega a dar arrepios só de pensar no tanto que nos poderiam ter dado se fossem vivos. Imaginem a desbunda que seria uma jam session com esta rapaziada…


Naquele corpo esquálido e trôpego, viviam a soul e o blues, a pop e o rock, os mandamentos e os trejeitos, a pose e o savoir-faire e tudo isso se perdeu de uma assentada. Privados de podermos saber mais e melhor dela, haveremos sempre de ter como consolo os seus dois trabalhos, os concertos e as actuações que agora consolidarão o mito e adensarão a lenda.


Paz à sua alma.


Que descanse agora, de vez, que bem merece.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Meco, sol... e Rock'n'Roll


Ai eu… Deixem-me cá ver se arranjo fôlego para contar como foi tudo… que tudo foi tão bom.


Já não ia a um festival desde o primeiro Sudoeste, há uns bons 15 anos atrás e a expectativa, guindada pela qualidade das bandas, não podia ser maior. Muita coisa, tanta coisa mudou em mim desde então (casei, fui pai duas vezes, assentei praça num emprego) mas acho que o espírito, esse, continua o mesmo, sempre refém do rock’n’roll. Graças a Deus! E foi assim que entrei em transe assim que avistei as milhares de tendas, os milhares de carro, os milhares de jovens que envoltos em nuvens de pó se encaminhavam para o festival. Coisa linda de ser ver... Tanta saúde, tanta maralha bem disposta… coisa de nível! O meu amigo Ramos que sempre disse que toda a gente na vida deveria de ir a um concerto de rock, mudou logo a frase para “toda a gente deveria de ir a um festival”. Muito boa onda, grandes vibrações e tudo a curtir a sua numa de paz e união. Muito bom!


Twingo... o bólide oficial do festival! Supersónico!

Medo...

Não cabe? Cabe, cabe!

Armando (literalmente) barraca!



Ao relento já não dormimos...




A fila para os duches era sempre muita engraçada...




Como a nossa ideia era não perder pitada dos concertos, fomos cumpridores e orientamos sempre as nossas vidinhas para à hora de abertura das hostilidades já estarmos o mais próximo possível da boca de cena. Uma vez que havia 3 palcos a bombar som em simultâneo fizemos as nossas (difíceis) escolhas e vimos com bom agrado o concerto do Sean Riley que não esteve brilhante mas cumpriu. Nestas cenas, a candeia que vai à frente faz sempre as vezes de cobaia e ele bem que se pode queixar do som de merda e das constantes quebras de electricidade que lhe cortaram o pio por diversas vezes. Mas nem por isso se deixou intimidar… aproveitou para se meter com a rapaziada, distribuir abraços pelos fãs, enfim… entreteve e passou à prova oral.



Os Walkmen provaram que são grande banda e que podem dar muito… mas não ali. Homenagem viva aos Smiths e à mais nobre linhagem da pop feita com guitarras rendilhadas, provaram que podem resultar em grande numa Aula Magna ou quando muito, num coliseu, jogando em casa para os fãs mas num festival… passaram ao lado apesar do esforço sobre-humano do vocalista que berrou a alma para fora e do baterista que impressionou pelo prazer que tirava daquilo. Dava gosto ver o homem recriar-se. MAS não chegou…





Os Kooks foram a grande surpresa da noite. O vocalista, um misto de Mick Jagger e Jim Morrison, não parou um segundo e ganhou a assistência desde o primeiríssimo minuto. Eu fiquei deveras espantado quando constatei a enorme legião de fãs presente, sobretudo espanhóis, que entoavam todas as canções com um fervor que impressionou a própria banda. Conhecia os dois discos e nunca fiquei fã daquela pop teenager indolente mas a verdade é que gostei muito do espectáculo.



A actuação de Beirut foi, quanto a mim, um tremendo erro de casting. Depois da devassa veio a mansidão e por segundos temi que a malta começasse a cair adormecida para o lado. Num festival, o que o meu people quer é festa e se possível, sempre a subir. Música rócócó com secções de metais e acordeão é coisa para afugentar as hostes. Eu nem desgosto do projecto e até sou capaz de levar com ele assim numa esplanada ao cair de tarde mas ali… zero! Uma maçada a esquecer.


Pois… e assim chegámos ao grande momento da noite, a actuação dos Arctic Monkeys, que foi tudo aquilo que eu esperava: demolidora! A minha alma continua a ficar parva de cada vez que penso como é que quatro putos conseguem fazer uma avalanche sonora daquelas. Convém recordar os mais distraídos que esta banda foi a grande responsável pelo boom do myspace e uma das primeiras a dar uma machadada de morte na obsoleta indústria discográfica quando provou que as bandas precisam muito mais da internet do que dela. Já eram enormes antes de editar e quando editaram bateram todos os recordes de vendas na Grã-Bretanha. Conseguiram a proeza de fazer um grande segundo disco, de não caírem ao terceiro e depois… bem, depois enrolaram-se com os Queens of the Stone Age e perceberam na pele que andar metido com malta da pesada… é pesado! Amadureceram o som, tornaram-se mais densos e hipnóticos e chegaram ao Super Bock com o novíssimo disco pronto a bombar. Percorreram todo o seu espólio musical, deram-lhe duro e cru e eu adorei. Eles também adoraram e até o esfíngico e taciturno Alex Turner não se cansou de elogiar o público português, de cantar “Portugal” e até mandar beijinhos (?!?!?) no final. Foi um fechar o dia com chave de ouro. Depois de quase 8 horas a malhar, bater com os costados no chão duro da nossa “tenda, doce tenda” foi prémio mais que merecido.



Dormir em festivais (com discotecas ao lado a funcionar até às 7h e muita maluco por ali à solta) não é fácil mas deu para carregar baterias e às 10h já estávamos de pé a caminho da famosa praia do Meco onde avistámos muito pouco nudista mas muito pessoal do festival que invadiu completamente o areal. Deu para umas bujecas, umas sandocas para recompor, algum passeios e às 6h lá estávamos abancados no acampamento dos índios para o nosso almoço/reforço/preparação para mais uma bateria de concertos.





Foto de família já com o Damião (a personagem que o meu puto encarna nestas andanças)

Impecável, a recolha dos lixos


Ontem salgados... hoje grão e amanhã... o quê? Feijão?


O Noiserv é muito bom cachopinho, muito talentoso, mas muito paradinho para um sítio daqueles. Enxotou-nos assim para o palco EDP onde curtimos os espanhóis L. A. que não vão mudar a história da música mas pelo menos não chatearam. Foi engraçado.




O B Fachada esteve bemzoca no seu estilo indolente e provocador. O rapaz é muito bom e é com toda a certeza o mais qualificado talento tuga para inscrever o seu nome na notável galeria de cantautores nacionais onde brilham de Palmas e Godinhos. Passou-se bem.



Seguiu-se o grande Tigerman e eu tenho de confessar que para mim, é o Elvis no céu e este homem na terra. Ele é uma enciclopédia andante de rock’n’roll e sabe-a toda. Toda! Virtuoso na guitarra, instigador na bateria que esgalha com os pés, subversivo nas vozes e nas bocas e completamente dominador na forma que se relaciona com o público. This dude really knows how to rock a crowd! Incomodado pelo barulho que interferia vindo de outros palcos, deu à mesa a ordem por que todos esparávamos: “Mete essa merda no máximo. Se queimar… queimou!”. E prontos… meteu-nos no bolso. É claro que a seguir, quando pediu para o ajudarmos a levantar a maior nuvem de pó do festival ao som de uma cavalgada psicótica, ninguém ficou indiferente, nem eu que estava à rasquinha do meu joelho (acho que da gota…). A mochada, o pontapé, o empurrão e a confusão foi tão grande que acho que a nuvem bateu a do vulcão da Islândia. Sempre esperei que me cancelassem o voo. No final, entregou o ouro ao bandido: “Muito obrigado. Acreditem que vocês hoje fizeram um homem muito feliz!”. Ficámos pagos. Ele faz-nos sempre felizes a nós.


Damião numa pose muito cool, aqui depois de ter andado na mochada e servido de carpete para 300


Dali foi correr para o palco principal para a muita aguardada actuação dos Portished que cumpriu na íntegra. Competência extrema, um grande som e uma senhora Beth Gibbons cuja voz arrepia até as pedras da calçada. Vê-la cantar a “Wandering star”, sentadinha, de perna trocada, com os cabelos ruivos a serem embalados pelo vento passou a ser a visão mais aproximada de um anjo perdido que alguma vez tive na vida. Cantar assim, como se não houvesse amanhã, como se cada palavra fosse uma peça preciosa e única de um puzzle indecifrável, é desígnio que só está ao alcance de alguns raros eleitos. Comprei o disco quando saiu, na Flock, em 94. 17 anos depois cumpriu-se a profecia. Só por isso, já valeu a pena.




Os Arcade Fire eram “a” banda que eu queria mesmo ver e foi um êxtase total. Tudo perfeito como no céu. A encenação, a disposição em palco, as projecções, a atitude, as vozes, a execução instrumental, o alinhamento… tudo perfeito! Ver estas 8 personagens actuarem em palco é como assistir a uma doce orgia em que toda a gente sabe precisamente aquilo que tem de fazer para ter e dar o máximo prazer aos outros. É uma autêntica locomotiva que avança desgovernada em nossa direcção. Um festim. Impossível controlar o olhar, tantos são os pontos que chamam a nossa atenção. Não há, definitivamente, banda no mundo como esta. Se os discos são maiores que a vida, épicos de proporções bíblicas… os concertos são a consagração que jamais se poderá esquecer. Foi único para nós e certamente para eles também: “Please, Portugal, please… teach other countries how to make great crowds”. Podes ter muitas que contem em uníssono cada verso… mas com este fervor… não acredito que tenhas muitas mais… Mágico!




A farda de serviço não deixava dúvidas. A festa tinha sido rijinha...

Damião sonhou que tinha tomado duche mas depois acordou

E crescia... crescia... crescia...

O Super Twingo também queria banhinho mas...


O último dia foi passado entre a lagoa e a praia, já com cansaço dos dois últimos dias a deixar fortes mazelas no físico, mas mesmo assim com muita vontade de fazer uma ponta final em grande.




Junto à magnífica lagoa do Meco molhámos nossas gargantas e com caracóis nossa fome matámos


Disseste feijão? Cá está o gajo!

Almôndegas enlatadas com ervilhas?

Só descem com um tintinho!

Olaré!


Espreitámos os X-Wife que estiveram em bom plano, vimos os Junip no palco pequeno sentadinhos debaixo de um pinheiro e não pudemos perder a actuação do mítico Ian Brown. Para mim, que sempre venerei os Stone Roses, que amo de paixão os seus dois únicos discos, que tinha o bilhete comprado em 90 ou 91 estiveram para vir a Portugal e cancelaram o concerto à última da hora… ver este homem, só vê-lo cantar e dançar… é uma coisa do outro mundo. É certo que está abrasadíssimo, que o tempo não foi macio com ele, mas continua a dominar e de que maneira. O maior!





Dali fui meter o visto ao Slash, outra lenda viva que admiro desde sempre, e gostei muito do que vi, apesar de só ter conseguido ver de bem longe… que meter o pé na frente era então impossível. Mas ainda bem que foi assim porque desta forma pude apreciar como era imensa a multidão de fãs que lotava por completo o recinto. Slash é maestro numa virtuosa máquina de rock onde pontuam os melhores e mais rodados músicos da cena. Resultado: perfeito! Ali não falta nada, nem os grandes êxitos dos Guns executados com mestria para deleite de todos. Imaginem o que é ouvir Night train, Sweet child O’mine ou Paradise City num sítio daqueles…


Os Strokes chegaram e fizeram como na música “Take it ou leave it”! Baixaram o trem das luzes por cima das cabeças, adornaram o palco com neons fluorescentes a criar vórtice, chegaram e dominaram por completo. Parecia que estávamos numa espelunca qualquer em Nova Iorque. Tiveram uma actuação virtuosa e irrepreensível. Não falhou ali uma nota. Espectacular. Eu temi que pudessem cair na pretensão de enveredarem pelo domínio do seu último mas não tão conseguido disco. Felizmente não o fizeram e não faltaram as grande malhas como “Last night”, “Reptilia”, “Hard to explain” ou “NYC cops” entre tantas, tantas outras. Não há banda mais cool. Eu adoro aquele diálogo constante entre as duas guitarras, o baixo certinho e grave, a batida e aquela pose blasé do Casablancas, como se fosse uma estrela residente num bar de alterne de terceira linha. Isto são putas batidas, sabidas e finíssimas. They sure know how to rock. Encores? Nem vê-los. Chegar, ver e vencer. Perante… e segundo as palavras do próprio: “one of the best crowds we ever had”. Não é lindo?





Damião na sua última aparição, aqui curtindo a bom valer quando a 30 metros de altitude

Pontos fortes: A localização do festival na lindíssima zona do Meco, a decoração do espaço, a qualidade das bandas (soberba!), a pontualidade dos concertos (ao minuto!).


Pontos fracos: o pó (tanto, tanto, tanto…), a falta de arruamentos e iluminação no campismo, a total inexistência de recolha de lixo que se acumulava em pilhas, a falta de caixotes de lixo no campismo, a falta de mais zonas de chuveiros sobretudo junto à tenda.


E para terminar… dois agradecimentos (tinha de ser!):


O primeiro para a minha Cristina que me passou a guia de marcha e aguentou o barco e as duas crias sozinha para que eu cumprisse este sonho. Eu sei que não é fácil ficar por nossa conta, sobretudo durante tantos dias e é por isso que dou ainda mais valor. Um obrigado mesmo do fundo do coração.


O outro vai para os meus três companheiros: Ramos, Bento e Sabi Júnior que ajudaram a que tudo fosse ainda mais especial. Que grande parceirada… o que a gente se riu e divertiu e que bem passámos o tempo. 5 estrelas! Do melhor! Jamais esquecerei esta jornada e como dizia o tal amigo… “Nunca deixem acabar isto!”.


Abração!