quarta-feira, 10 de setembro de 2014

8 do 9. O dia de Marvão. O dia do concelho. O meu dia




O 8 de Setembro é o dia grande do meu concelho e claro que tinha que estar presente. Como munícipe, atendendo à caça que hoje em dia há a tudo o que não seja central, era uma obrigação, em muito reforçada pelo facto de ser feriado por isso, sublimada pelo cargo que já ali desempenhei naquela casa.


Fui como eu gosto de ser. Outsider, desalinhado de tudo, vi e vendo as coisas sempre pelo meu prisma. Não sou assim tão livre quanto isso porque durmo com a censura, com quem partilho a cama e a vida, e por mais que me explique que cada um é como cada qual… não dá. Mas quem me lê/conhece sabe que eu não sou de mentiras, rodriguinhos, salamaleques. Para mim, o que é, é. A verdade acima de tudo. Quem não deve, não teme e sempre que posso, corto a direito. Nisso sou da cepa do general sem medo. Quando lhe perguntaram o que fazia ao velhinho Esteves se ganhasse as eleições, tiveram um “obviamente demito-o” como resposta. Infelizmente pagou com a vida por isso mas também, as eleições estavam mais que cozinhadas e nunca as poderia ganhar, enquanto que por aqui, sempre foi tudo jogado às claras e nunca houve promessas de empregos em “situações estranhas” ligadas à autarquia. Ou…








Os Discursos

O do Alcaide que habitualmente abre as hostilidades (?) foi na linha do que já nos tem habituado nestes últimos anos e diga-se de passagem que tem sido mais que suficiente para as absolutamente esmagadoras maiorias que tem vindo a obter. Em Roma, sê romano, por isso… quem dá o que tem e não lhe pedem que a mais do que isso seja obrigado… siga para bingo! Ou então façam como diz o bom do Passos: se não gostam, “que emigrem, emigrem.”


Infelizmente, por mais uma vez (acho que todas! Não! Pera aí! Ele nunca foi, foi ao 25 de Abril porque dizem as más línguas que é contra. Mas ao feriado municipal, não sei se já foi a alguma), o presidente da assembleia municipal não nos deu a alegria da sua comparência, o que por si só já é bastante revelador da enorme preocupação que tem vindo a revelar pela vida do concelho. Mais estranho isto se torna porque tem sido uma presença sempre constante em tudo o que acontece no burgo. Desde que foi eleito há quem diga que já foi visto por aqui quase que uma dezena de vezes (muito mais que o abominável homem das neves). Mas é a velha história… Chega para ganhar? Siga!



Confesso que sei que sou um pouco suspeito e talvez seja pouco credível, mas na minha modesta opinião, foi o deputado da assembleia que é enfermeiro e falou em representação do mais alto na hierarquia que fez o melhor discurso do dia. Leu, não vacilou, não se enganou, não perdeu ideias que abalaram com o vento, não foi derrotista, não enalteceu mais o trabalho das instituições que se dedicam ao apoio social como motor de desenvolvimento em detrimento da indústria ou outras mais construtivas, falou do concelho e da grandeza do dia. Citou Pessoa em qualquer coisa como “um copo de vinho com pouco vinho é meio copo de vinho, mas qualquer coisa com pouca dignidade é coisa sem dignidade alguma”. Porque será que ficou bem? O homem era da oposição? Porquê a citação? Não percebi. De todas as formas foi uma alocução irrepreensível. Não tivessem as folhas do discurso sido escritas em páginas de verso de gráficos desaproveitadas e teria sido perfeito. Esteticamente não foi a melhor opção mas de qualquer das formas, há-de ter sido bem visto pelos ambientalistas, à pala do aproveitamento e reciclagem. Duvido é que houvesse por lá algum ecologista encartado.



As medalhas de mérito

As medalhas de mérito para as quais tanto trabalhei (estudando regulamentos de outros concelhos e adaptando-os; aprendendo com quem faz bem, para conseguir fazer ainda melhor) para que dessem dignidade ao dia e enobrecessem a cerimónia que as antecedeu, transfiguraram-se. O regulamento definia 3 tipos de medalha diferentes que se destinavam a figuras cuja distinção estava perfeitamente tipificada: ouro, prata e bronze; e pela diferente natureza do material delas quase que se percebia logo tudo. Agora são de mérito e ponto.


Em primeiro lugar distinguiu-se o maestro Christoph Poppen, grande responsável pelo 1º Festival Internacional de Música de Marvão que longe e bem alto levou o nome da vila. A atribuição não poderia ter sido mais merecida. Humilde, de trato muito fácil, sempre simpático, tem uma forma de estar desarmante que nos deixa pequeninos por nos deixar tão à vontade. De cada vez que o contato, sinto tanto aquilo em que acredito que até me arrepio: quanto maior é o homem, mais simples se torna. Acho que por não ter nada a perder. Apaixonou-se por Marvão, por aqui comprou uma casinha e decidiu, num feliz momento de inspiração divina, unir o mundo erudito das grandes orquestras por onde se move com este lugar onde, segundo ele, é mais fácil sentir a presença de Deus na terra. Já é um marvanense também. Há dias disse-lho e deu-me 3 beijos. Creio que serem 3 é uma forma de afeto reforçada usada de onde é. Agradeceu num português perfeito e completamente percetível. Como germânico que é, não brinca em serviço e está já a preparar a edição de 2014. Disse que de todas as distinções que tem tido ao longo da vida (presumo que muitas) esta é uma das mais importantes. Temos casamento.

Não percebi porque é que foi mencionado que a decisão da atribuição tinha sido sugerida pelo senhor presidente. É que no meu tempo era uma decisão do município e ponto. Se não pode ir mais a eleições à cabeça, não percebo o porquê desta contagem de pontos. Porquê esta busca incessante de ser o faroleiro, o timoneiro, sempre o homem da frente?!?!? Será trauma? Quererá uma estátua na Escusa de onde não é, mas vive?



O segundo homenageado foi o meu querido amigo João Sequeira Carlos, que recentemente nos deixou. Há homens que deixam vazios que não são preenchíveis. Com eles vai um legado, uma vida de trabalho, um amor à terra como nunca conheci. O neto, ilustre neto doutor (aqui), como ele sempre fazia questão de referir, (que recebeu o galardão acompanhado da neta, também ela doutora) recordou essa paixão pelo Porto da Espada e por Marvão num pequeno discurso de agradecimento que mostrou bem que o nível da família não se perdeu e antes passa de geração em geração. Disse que os pais do homenageado (seus bisavós) sempre tudo fizeram para que o filho João seguisse a vida por Lisboa mas, o vínculo umbilical com Marvão era de tal forma forte que o puxava sempre para o ventre.
Belos tempos passámos no seu lagar e foi com ele, por sugestão do seu querido sobrinho e meu querido amigo  Dr. Sequeira Carlos, ilustre Presidente da Assembleia, que criámos juntos as Comidas d’Azeite. Foi ele que me ensinou como se fazia uma tiborna e lembro-me sempre bem da enorme alegria que sentia quando via o recinto das festas do Porto da Espada cheio de convivas bem alegres e em saudável convívio no almoço convívio de abertura desta semana gastronómica.
“Amigo Pedro: quando é que volta lá acima? Olhe que fazem cá falta homens como o senhor.”
“Amigo João, por agora fiquei vacinado. O casamento correu mal e deu divórcio ruim. Mas nunca poderei dizer que não voltarei a casar, que não voltarei a tentar ser feliz como eu quero. À política… nunca poderei dizer que desta água não beberei. O futuro a Deus pertence. Nós somos pedras num xadrez onde ele é que manda. Faça-se em nós a sua vontade. Maneiras que… se estiver no meu caminho, saberei ser homem e responder à altura. Se não… tenho tanto onde ser feliz e graças a Deus, sou tão feliz…”
Lembrei esses tempos de convivência com um homem de uma geração que já não se fabrica, que admirava muito e bateu saudades, muito por me ter lembrado do seu fim.



Homenageou-se também Vítor Caldeira que deve ser a figura mais elogiável e meritória, até porque tudo quanto leio sobre ele é do melhor que se possa imaginar. Foi reeleito presidente do Tribunal de Contas Europeu pela terceira vez, e tornou-se o primeiro presidente da instituição a cumprir um terceiro mandato, o que é prova por demais evidente das suas capacidades. Mas não só não é de Marvão, como não estava presente. Factos que no meu entender, desmontam qualquer tentativa de o “puxar” para Marvão, tirar partido de uma situação que não é nossa. Nasceu em Campo Maior. Tem ligações ao concelho por via do matrimónio mas nunca se envolveu na vida do concelho. Em tempos consultei nas finanças um livro onde era referenciado e há pouco tempo, apercebendo-me que estava em Marvão, desci para cumprimentá-lo. Apresentei-me, disse quem era e onde trabalhava (somos vizinhos) e foi simpático. Só. Quase mudo, muito tímido, não sei se consegui mais que um sorriso. Nós, os comuns mortais, temos cada ousadia... A razão desta medalha está para além do meu conhecimento. A seguir, poderia ser atribuída uma ao Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a superfície lunar. Daqui também se vê a lua. Teria era de ser póstuma. He passed away 2 years ago. 


Mais uma tocata da banda seguida de um beberete aberto a toda a população onde os convivas se misturam entre os que tomam um drink e um canapé para celebrar o dia de festa; e aqueles que parece que fazem ali a última refeição antes de morrer, fação muitas vezes reforçada por malta turista das excursões que de passo se apercebe de um beberete e dali à festa rija é um passinho. Só falta o acordeão para ser o mega piquenicão do Continente. Ah… falta isso e o Tony Carreira.


Segui para a Igreja de Nossa Senhora da Estrela para assistir à missa da padroeira do concelho. Assim que cheguei à Santa Casa, falei com quem de direito e tive o desgosto de não poder ir almoçar com a minha tia, embora compreendendo a impossibilidade de cair no erro de se abrirem exceções. Mas a culpa foi minha. Já estive neste almoço noutro anos (onde levava sempre o meu filho Manuel Gira, aka Manél Bodes que faz anos nesse dia) e como as mesas eram tão corridas e havia sempre tanta gente que me encostei e pensei sempre que caberia mais um. Afinal, as mesas passaram a redondas, as marcações são limitadas e exclusivas a sócios. Assunto a tratar no próximo dia útil onde marcarei já (e se for preciso pagarei já) a inscrição de 2015.

A igreja estava repleta de gente vinda de todos os pontos do concelho e de fora. Lotação esgotada de prever. O homem de serviço era o próprio bispo Antonino, apoiado por diversos sacerdotes ligados ao concelho e na nave não cabia mesmo mais ninguém. Tivemos de nos sentar nos claustros, sempre reservados aos utentes, onde a visibilidade era reduzida. Curioso ter de ver dali, mas há sempre uma primeira vez. A partir dali já é sempre para a frente. Mas em 2015 também haverá ajustes a fazer: terei de vir para a apanhar antes, terei de…



 

Mas desta vez assistimos juntos e isso foi o que importou.



Incrível como uma senhora que era tão católica, tão cumpridora de todos os compromissos, sempre pontual aos domingos e aos terços, com o arranjo do “seu altar”, que não falhava a tudo quanto eram religioso e agora está ali… por estar. De vez em quando olhava para mim. Sorria. Fazia uma expressão com a cara como se não estivesse a compreender. Balbuciava qualquer coisa intraduzível. Sorria. E isso era o que importava.

E isso foi o que importou.


Manhã pesada com muita coisa para digerir. A minha preta sem chumbo e um american cigarette “olhando o mundo de lentes de contato da esplanada do café lounge em Marvão.” (Onde é que eu já vi este título?) 

Enfim, coisas de rico...


5 comentários:

Helena Barreta disse...

Não sou de Marvão nem sequer alentejana, mas tenho por essa vila um grande encantamento, foi aí "onde se ouve o silêncio" e "se veêm as águias pelas costas" que o meu pai me levou ao altar. Fico verdadeiramente rendida aos seus relatos e às fotografias, não me canso de ver Marvão por todos os ângulos.

Um abraço

Garraio disse...

Pensava que não ia voltar a escrever uma única palavra num blogue, apesar de passar por aqui clandestinamente, de vez em quando.

Aqueles que te conhecemos, como eu, sabemos que este texto não é genial. É absolutamente brutal. Só o Groucho Marx é que está no teu patamar. Abraço. Garraio

Teresap disse...

Caro Senhor,
Em primeiro lugar desejo dar-lhe os parabéns pelo blog, pelas informações que nos transmite, cheias de emoção e de sentimento de enraízamento. Gostaria de o contactar através de mail. Poderá enviar-mo? Fico-lhe muito grata.
Teresa Perdigão
teresaperdigao@hotmail.com

Teresap disse...

Caro Senhor,
Em primeiro lugar desejo dar-lhe os parabéns pelo blog, pelas informações que nos transmite, cheias de emoção e de sentimento de enraízamento. Gostaria de o contactar através de mail. Poderá enviar-mo? Fico-lhe muito grata.
Teresa Perdigão
teresaperdigao@hotmail.com

Pedro Sobreiro disse...

Bem me disseram para cá vir ver os comentários. Cara Helena, a menina é da "casa". Tem cá garrafa e assento reservado. Nem sequer precisa de bater à porta para entrar.

Amigo Garraio, eu sei que tu sabes a importância que o teu comentário tem em mim. A admiração mútua é velha e nós, desalinhados não por defeito mas feitio, temos de nos preservar mutuamente neste mundo cinzento, quadrado e pré formatado. Como se fossemos um lince da malcata. O abraço que me mandas vou-to dar assim que nos virmos depois disto.

Teresap, obrigado pelas felicitações mas vê-se logo que é nova nesta taberna. O correio sentimental oficial está na coluna direita.
da página principal do blogue. Agradeço é que não me trate por senhor. O senhor está no céu. Menino, por favor. (a margem de erro fica assim muito maior.)

Obrigado a todos e obrigado por terem vindo.