sábado, 31 de outubro de 2015

O milagre

(porque eles também acontecem de verdade. 3 dias depois do desaparecimento. Depois de muita chuva, muito frio, muita incerteza.)


3 dias também, depois da publicação em tempo real, plena de emoção, no meu mural do facebook, a gravação do momento tal qual foi publicado, desta vez, na minha casa própria.

Como eu sonhava com este momento, amigos: O SIZZLE VOLTOU!!!!! 3 dias depois de ter desaparecido nos canchos após ter sido abalroado por uma carrinha de caixa aberta, chegou-se até casa.

O meu vizinho Zé António, bateu na janela da sala para me dizer que junto à Pizzaria dos seus filhos, no ninho de empresas, tinha aparecido um cão parecido com o meu. Saí em sobressalto e avisei a Cris (Fernanda Sobreiro) para não dizer nada à Leonor, que ainda há pouco, à tarde, tinha estado a chorar agarrada a mim quando cheguei. 

De pijama e de chinelos de quarto, fui a correr de noite até junto da Praça de Touros. Quando lá cheguei, esbaforido, vi algumas pessoas na rua e um dálmata.
- Oh... não é o meu... 

frown emoticon

- Não! Disseram as senhoras que já nem me lembro bem quem eram. É um mais pequeno, castanho, que está ali escondido detrás da casota e que começa a rosnar assim que vê alguém. Olhó! É aquele!


Assim que o vi... não consigo descrever a alegria. Reconheci o vulto de imediato, depois de tantas vezes ter caminhado para ele e com ele. "SIZZLE!", chamei.

Ao ouvir a chamada, correu para mim como um louco, agarrei-o no colo e lambeu-me todo! Deitámos-nos os dois no chão e a comoção ficou no ar.

Trouxe-o ao colo até casa, sempre a correr, enquanto agradecia a Deus e rezava em voz alta, na noite.
Cheguei ao cimo da rua e gritei: LEONOR!!!! Sairam as 3 para a rua a chorar e a agarrarem-se a ele e a mim. Foi uma cena de filme, daquelas de comoverem até as cadeiras do cinema. 

Seguiram-se telefonemas para os sempre incansáveis vizinhos Rosa e Mário, para os meus sogros, mãe e muitos outros que não atenderam. Falei com o Jorge Rosado, o Nuno Pires, o António Bonacho, o meu querido amigo e chefe Nuno Brito que se despediu de mim hoje a dizer que "Deus é grande. Nunca te vai deixar mal".

Que grande verdade e que impossível que já não esperava. Com a falta dele, tinha ido parte de mim. Tanta angústia nas últimas noites chuvosas, nos dias de água, nas manhãs de incerteza, se estaria morto, se estaria ferido, se estaria a sofrer.

Deus move-se em caminhos insondáveis. Há apenas que acreditar que é possível. Apenas.
Como me acontece isto, de passar pelo pesadelo e olhar para ele, lindo, sadio, robusto, como se tivesse estado a dormir à lareira neste tempo todo.

EU DOU GRAÇAS A DEUS, à força que tudo comanda, por me ter posto à prova mais uma vez, e me ter dado tudo de volta de novo.

Nesta casa, graças a Deus, vivem dois sobreviventes, que pisaram o limiar e estiveram quase do outro lado por causa de acidentes que aconteceram a metros um do outro. Na mesma reta.

Aprendi ainda menino, na igreja da Beirã, de Nossa Senhora do Carmo, uma passagem bíblica que me marcou para sempre. "Senhor, eu não sou digna que entreis na minha morada, mas diz uma só palavra e sei que serei salva."

A força de acreditar. Acreditar. Mais uma vez. Quando se quer vencer, é na cabeça que começa a vitória. 

Amanhã, quando a Leonor sair para apanhar o autocarro para as aulas, vou levá-lo a passear. Como já nunca esperei fazer.

Mas eu sabia, eu sabia, eu sabia que estava apenas assustado, que não tinha sido pisado ou atropelado para ficar ferido de morte, como muitos me disseram.

Um grande abraço de agradecimento extensivo a todos e todas os que se preocuparam por mim, por ele, por nós, muito em especial, porque me tocaram de maneira especial, ao ponto de me lembrar deles agora: o meu amigo Francisco Roldão (pela simplicidade e sentimento do comentário profundo), a sempre amiga professora Margarida Mangerona(ele está bem!!!! E nós também!!!!), ao meu companheiro, oh captain, my captain Nuno Alexandre de Brito (pedindo desculpa pelos tantos apelos ao balcão, por tanta vez a mesma história) e à minha querida colega e amiga Susana Teixeira, pela força que me deu quando me via a murchar e desvanecer, pelo tanto que me quis levantar o astral: "ah... isso de andar à chuva não faz mal nenhum. O meu cão adora andar sempre debaixo de água e o frio também não lhe mete medo! Adora a neve. Nunca quer casota quando neva. Ele ainda aparece!". Nem imaginas o abraço que te vou dar amanhã, miúda...

Um agradecimento também sentido ao prof. Domingos Bucho e à sua esposa Isabel Bucho, pelo comentário que fez hoje quando andava a passear o seu Popov sob o meu olhar cheio de inveja e pena por já não ter o meu. "Hoje ao almoço estivemos a falar sobre o que lhes aconteceu e... nem digo nada..." Bem haja pela solidariedade. 

Um muito obrigado ao mano Broki por me ajudar a expiar a culpa e à Guarda Nacional Republicana, por estarem sempre de vigília e atentos. Agradecimento personalizado ao meu querido Adelino Miguens que hoje de manhã ao balcão, quando me viu tão em baixo quanto eu estava, me animou ao dizer: "ele ainda aparece! Houve um que desapareceu nos Barretos durante 14 dias e sabes onde é que ele apareceu, sabes? Em Castelo de Vide!! O teu ainda aparece!"

Para fechar, um abração pela disponibilidade e vontade de ajudar do meu Rui Pousadas, e dos meninos Bruno Fonseca e ''Tania Gaio.

DEUS É GRANDE! DEUS NÃO DORME!

Um abraço a todos os que se preocuparam. Que tenham uns boa noite. A minha tem tudo para ser. Obrigado