quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Carta a Toni (Sir António Costa, prime-minister)



Hoje larguei a jorna quando pouco passava das 16 horas. Depois das 7 horas de trabalho diário, 35h numa semana, contas fechadas, assuntos organizados e arrumados, estava com o dia concluído. O sol brilhava e aquela nuvem espessa, fria, de nevoeiro que tinha envolvido Marvão durante todo o dia, tinha-se dissipado. O sol e a paisagem convidavam.

Apoquentado pela inatividade física destes últimos 15 dias, que me começam a atormentar a alma e a comprometer os movimentos, pensei, que fazer? 
É isso! Vou correr!

Se assim o pensei, melhor o fiz. A pequena estava com a avó Zira, a do meio, ainda trabalhava no Turismo; e a mais alta ainda estudava em Portalegre. A barra estava livre, só para mim!

Enverguei a indumentária, selecionei o novo dos “21 Pilots” para me ir fazendo companhia, e fiz-me à estrada. Atirei-me à volta do Valongo, pela Ranginha, que é, de longe, a minha favorita. Pela extensão e dificuldade. Foram 11,32 km em 1 hora e 32 m.


O que os meus olhos viram… a tarde… o pôr do sol… as paisagens  para o lado do Pé da Serra e Castelo Branco…

E eu só pensava… a quem é que tenho de agradecer isto? A Deus, claro está, é mais do que sabido e conhecido. Mas na terra… quem é que tornou isto possível? E foi então que se foi desenhando na minha cabeça… enquanto corria…


A carta a Toni

Meu caríssimo e querido António Costa, primeiro-ministro de Portugal,

Perdoa-me a informalidade, mas tu pareces ser um gajo tão fixe, bonacheirão, sempre sorridente e bem disposto, que me sinto à vontade para me esticar contigo.

De verdade que acredito que não leves a mal esta minha alarvidade. Depois, o nosso Marcelo, inaugurou uma forma de estar na política que se acaba por estender aos outros órgãos e membros, quer queiram, quer não. Quem entra na Musgueira ou na Buraca, com um à vontade que dá para se meter pela casa das pessoas adentro, como se vivesse lá, acaba por contagiar.

Escrevo-te porque hoje me aconteceu uma coisa tão boa, que me apeteceu agradecer-te. Saí do serviço, depois de cumprir as horas que o governo liderado por ti, aprovou. Ainda tive tempo para ir fazer o que gosto tanto e por motivos diversos, andava estranhamente a adiar: correr. Coisa pouca, dirão alguns; uma excentricidade, dirão outros; mas uma vitamina poderosa sem a qual falha o meu equilíbrio… físico e mental, é o que é.



Como espero sinceramente que chegues a debruçar os olhos sobre estas linhas, passo a apresentar-me. Eu sou Pedro, o Sobreiro, tenho 43 anos mas quando me olho para o espelho vejo sempre o puto com 7. Não sei se isto é defeito, ou doença. Não sei se há mais malta assim, mas eu sofro disso. Sou natural de Marvão, essa vila magnífica entre o Alentejo, com que não se parece nada (tem rio e montes de água), e a Beira Baixa, mesmo aqui ao lado, que se vê bem perto.

Estudei para ser jornalista, estou encartado para tal, mas trabalho nas finanças, aqui na terra. Olha, foi o preço a pagar por querer regressar para aqui, mas não me importo nada. Mesmo. De verdade. Até gosto muito do que faço. Nas horas vagas, quando tudo dorme, exerço a escrita, aqui. Relato a vida, percebes? Isto é tipo "O Diário de Adrian Mole, na crise da adolescência" que eu li e me marcou muito. O meu blogue, que já tem 10 anos (não é de ontem!), e cerca de 525 000 visitas, é o meu livro.. "O Diário do Drocas (aka. Tio Sabi) na intensidade excêntrica da meia idade. A malta até gosta como eu conto as merdas e vem cá ver. Na boa. Sem compromisso.

Sou casado, tenho duas filhas, um cão e acho que sou feliz. Sou mesmo! Não considero que seja mal remunerado mas meti-me a fazer uma casa (sonho de vida) com dinheiro que não tinha, pedi ao banco para me emprestar e… não estás a ver bem. Assim que lá cai… chupam-me logo 1/3. Isto porque as taxas de juro estão baixas. Agora imagina tu…

Há, vai fazer 6 anos, dei um trambolhão de uma vespa e ia-me finando, rapaz. Contra um muro, imagina. Uma cena… Fiquei logo KO. Tinha estado a jantar com amigos, vinha com um grão na asa (não astronómico, como algumas meninas dessa casa grande onde legislas, e ainda assim se safam com a proteção dos governantes, mas algum seria) e safei-me à rasca. Valeram-me os bons médicos, os grandes hospitais e Deus, força em que muito acredito, sobretudo depois deste tropeção.

Tenho 1 metro e 80. Bem, é 79, mas eu queria tanto ter 80, que digo sempre assim: 1,80. Ninguém me vai medir agora, não é? E eu não mostro o cartão a ninguém. Peso 80 quilos e sou atlético. Nado com regularidade, também, e sinto-me bem. Não sou um homem particularmente bonito, mas também não me considero feio. Epá… tenho um nariz muita grande e sou careca, ou em vias de o ser; maneiras que não vivo mal neste escafandro que tenho. Tenho um olho azul, e um verde. Mas sou do Benfica! Grande benfiquista. O meu sogro quase que me obrigou, mas eu já era antes de o conhecer. Ou à filha dele. Minha mulher.

Não to digo para me estares a agradecer, ou para pensares que te estou a fazer algum favor, mas eu votei em ti. Votei no PS porque queria que o país mudasse, porque o discurso de desgraçadinho daquele com pouco cabelo, como eu, que tinha a mania que era cantor; e do pequenino narigudo, como eu, que quis ser vice do que manda; já me estava cá a enjoar. Os gajos eram uns tarecos do catano. O pequenelho bateu logo asa, para aquela empresa para onde o teu ex-colega Coelhone foi ganhar trocos. O outro ainda por cá anda, convencido que ainda vai lá mas… não será fácil. Há um príncipe no norte que lhe vai tomar a corte.

Olha, isto tudo para te dizer que achei aquela tua jogada da Geringonça, de juntares os meninos todos do recreio, do contra, que poderiam alinhar na tua equipa, para ir contra o que tinha mais votos, foi uma cena malaica e genial. Parecia um filme. Parabéns.

Vejo todos os dias as notícias, ao almoço e ao jantar. Sempre na SIC, porque acho que é a melhor. Vejo sempre o Eixo do Mal e o Governo Sombra, e por vezes, a Quadratura do Círculo, onde tu exercitaste a tua retórica, sempre com brilhantismo e bravura. Mas esse, às vezes, dá-me sono e deixo-me dormir. Já não sou novo. 43 já são alguns.

Vejo as notícias mas deixei de comprar o jornal do teu mano, o Expresso, nem foi tanto pelo dinheiro. Também importou… (isto depois da Troika, conta tudo), mas foi porque aquele saco de plástico cheio de coisas que eu queria ler, mas não conseguia porque não tinha tempo, me dava uma ansiedade brutal. Estou mais tranquilo, assim. Mais burro mas mais descansado.

Quero eu com isto avançar que não serei o gajo mais informado para estar aqui a debater contigo as tuas políticas, mas acho que tens estado sempre muito bem. Epá… uma argolada ou outra, como esta da concertação social, em que achavas que a malta tua amiga ia votar como tu, mas a história da Taxa Social Única não te correu como querias, não foi? Deixa lá… Cuidado com os comunas! Eu tenho uma amiga que é, e adoro um veterinário da minha terra que também é… gajo brilhante, que escreve como ninguém, mas é alpalhoeiro e fala muito alto. No entanto, é grande benfiquista e tudo se lhe desculpa. Mas os comunas são como os lellos. Quando os “atacam”, fecham-se sobre si e … mordem. Conta com os teus. Olha, aquele jovem, o Galamba, tem um aspeto desenxovalhado e fantástico. Parece ser porreiro. Desvia-te é do Sócrates. Esse gajo, pá… não acrescenta nada. Vai por mim.

Mas olha, eu acho que quase tudo o que fazes é bem. Tu trabalhas, tu és esperto, tu és gajo para marcar. Curti quando foste lá à China para os gajos virem para cá em força com os telemóveis Huawey. Sabes que é o meu? É uma máquina. Foi-me receitado pela chinesa minha amiga da Hiper Mega Casa China da Citroen de Portalegre, Luana, que agora tem um restaurante. Ainda não fui lá. Mas tenho muita vontade.  

Olha, a razão desta missiva e o que eu te agradeço mesmo, é a hora a que saio do serviço. Quano é que isto não vale? Com os outros dois estarolas, tinha que gramar até às 6h da tarde. Às 6h… Fechava a Câmara às 4h, a Conservatória às 5h e os desgraçadinhos dos impostos, agarrados às mangas de alpaca até às 18h. Era de noite, escuro como o breú, quando descia a encosta de Marvão. Uma pena. Até podia ter tido um acidente. Bom… sou capaz de estar a exagerar… mas era mau.

Eina, eu hoje fui sempre a dar-te beijinhos no ar. A cada paisagem e coisa boa que via. Quando via vaquinhas… gritava “COOOOOOOSTA!!!!!!”… Quando via ovelhinhas, que até se assustavam: “É O MÁÁÁÁÁÀÁÁÁÀÁÁÁÁÁIORE!!!!!!”

Tão bom… tão bom…

Olha, eu sou assim um bocadinho excêntrico. Intenso, como me chama um amigo meu. Maluco, me chamarão outros, e quem sou eu para dizer que estão errados de todo.

Mas uma coisa te digo e agora desculpa o vernáculo e a baixeza: Até podes mandar fazer a maior m***a, tipo mandares entortar a pata direita do cavalo de D. José, (que é a esquerda, AHAHAHAHAH, apanhei-te! Boa?), ou outra cena qualquer má… mas aqui o Drocas, também conhecido mundialmente (tenho seguidoras ali em Valência de Alcântara, Olá Goyi!!!) por Tio Sabi vai sempre votar em ti, enquanto mantenhas este maravilhoso horário de trabalho.

Rapaz… eu contento-me com pouco.

Quando passares por aqui, apita. O mayor é um bronco do catano (fui vice dele. Foge-te! Deixou saudades nenhumas!) e não interessa, mas eu conheço aqui cenas e malta muito fixe para te apresentar. Vem num estilo casual.

Curto-te bués.


P.S.: Tchau! ;)

EU
(A internet tem cenas demais, não tem?)

4 comentários:

Garraio disse...

Eu cá sempre soube que tu, desde pequenino, és PS!

ANTONIO BRANCO disse...

Bom dia
Gostei da prosa.

Quadratim disse...

Há na sua crónica, Pedro, uma contradição: Escreve assim e gosta do que faz nas Finanças?! A primeira reação que me veio à ideia foi: "43 anos... isto passa-lhe!" Mas isto das ideias não é como o amor - e a primeira, aquela minha primeira, foi um disparate. Porque isso de gostar do que faz, não lhe passa, não. Não a si, que sabe escrever - logo, sabe pensar. E já reparou, Caro Pedro, quão raro é isso de saber pensar e escrever e fazer ironia e gostar do que faz e de sair para correr e voltar com vontade de escrever uma ao primeiro-ministro sem ideia nenhuma de lha meter no correio? É raro, Pedro! Tão infelizmente raro que se torna urgente, emergente, indispensável, inadiável. Mesmo quando se tem 43 anos e uma vida inteira de tempo para olhar para a caneta e confidenciar-lhe. "que se lixe o resto!".
O Pedro, que hoje é jornalista e não é, tem de ser jornalista e ponto. Ao serão e de madrugada, à secretária e na estrada, a curtir e a mourejar. Porque é isso que sabe fazer, porque é preciso no mundo (cada vez mais restrito) dos que o sabem fazer, porque sabe também fazer muitas outras coisas mas só as sabe fazer porque quem sabe pensar e escrever como você saberá sempre fazer mil outras coisas - o que vale por dizer que gostará de fazer qualquer delas.
Escreva, Pedro. Se não o toma como conselho de um homem de cabelos brancos, tome-o como pedido de um curioso sempre ávido de ler boa escrita.
Sabe, Pedro?, quando eu era jovem tinha o sonho de ser músico e fiz-me baterista (diz-lhe alguma coisa?), mas a vida fez de mim advogado - e tive sucesso, reconhecimento, imenso prazer na barra... Mas devia ter sido músico. E hoje queria voltar ao sonho de viver na plenitude da felicidade a única vida que tenho, mas ambicionar o sonho já não é sonhar - é devaneio. E a vida única que tenho é mesmo só uma.
Escreva, Pedro. Escreva mais. Porque é preciso - a quem espera pelas suas palavras e ao íntimo da sua realização plena.
Parabéns pelo texto e obrigado por partilhá-lo. Fique com um abraço.

Pedro Sobreiro disse...

Meu caro Quadratim, bem haja. Porra! Muito bem haja. Apenas vi a sua missiva hoje, dia 28 de Novembro de 2017, quando decidi regressar a esta crónica. Dou com o seu comentário e fico... sem palavras.
Porque isso também me acontece, por vezes.

Sabe que a vida empurrou-me para aqui, onde estou. Ou, me deu a graça de estar onde estou. Acho que é mais a segunda.

Sou feliz assim e, já tenho uma vida tão montada, que me deu tento trabalho a edificar, que não equaciono sair atrás de moínhos de vento gigantes Quixotescos.

Deixo-me estar, como agora: à lareira, com o mundo em cima das pernas; as filhas ligadas à rede, no sofá ao lado (cada qual com sua janela), e a esposa ao fundo, a fazer os seus trabalhos manuais.

Continuo enquanto escriba do que me rodeia por vício, por tentação, por egoísmo.

Nada mais quero do que, por vezes, ter alegrias inesperadas como a que me deu agora.

Sempre obrigado.

Um abraço?

Um abraço.