segunda-feira, 26 de junho de 2017

Assim, de repente... Luís a Presidente!


- Pai! Ajuda-me lá a abrir a caixa do correio!

- Ó Alice… até parece impossível, filha! Tu és tão desenrascada, e queres sempre ser tu a fazer tudo… Como é que não consegues, e me pedes uma coisa dessas?

(Já chateada) – Ó PAI!!! ESTA NÃO DÁ! Com a velhinha eu conseguia, mas esta… rodo, rodo e aquilo não dá nada!

- Ó Alice… é com jeitinho. Anda cá que eu ensino-te. Mas tu é que fazes. Para veres como é fácil… Vês?!?

- Olha tanta carta, pai! Da Meo, uma revista para ti dos impostos, publicidade das compras e este… OLHA! Este é o pai do Artur! O que é que ele quer?

- Quer ser presidente da nossa Câmara. O homem que manda mais, aqui no nosso concelho. É isso que ele quer.

Fiquei durante momentos a fitar a imagem do panfleto. Não em choque, que esse já o tinha tido, na tarde do dia antes, quando a Velhaca, Dona Estrela do Adro, me tinha atirado aquilo para as mãos, com um “olha, o teu amigo, lá da tua terra, deixou aqui isto para ti”.

Olhei e pensei: afinal é verdade. Sempre é ele que vai em primeiro.
A minha cabeça recuou de imediato à minha Beirã natal, àquela que hà-de sempre ser a minha terra, e a minha referência.
Quem andou comigo naquela escola primária, quem foi meu colega, certamente nunca pensou que isto seria possível. E só é possível porque a política é mesmo uma atividade muito ardilosa, onde a meritocracia (sistema no qual só aprovam os melhores, a nata da nata) não funciona.

É importante que escreva e fique bem claro desde já, que escrevo este texto porque… o tenho mesmo de escrever. Como o faço na minha capelinha virtual, e divulgarei na rede de todos nós, como é hábito, é natural que caia sobre mim, o coro dos mal formados, arrogantes, pessimistas, que se pensam juízes de tudo, e de todos, e que acham que estão credenciados para opinar, sobre quem nunca lhes deitou palha. Mas eu sei que esse é o preço a pagar, por sermos públicos, como eu sou; por comunicarmos de peito feito e aberto, como eu faço.

É bom que se diga que não tenho absolutamente nada contra o Luís. Somos amigos, q. b., e temos uma relação cordata, de pessoas da mesma terra, que nunca se deram mal. E era difícil dar-se mal com o Luís. Porque o Luís… passava. Como passou.

A minha escola, aquele reduto ínfimo, aquele casulo de personalidades, teve cromos do arco da velha. Já naquela altura, com quase todos entre os 6 e os 12. Havia malta com muitíssimo nível, que ainda hoje dá cartas na vida. Uns estão melhor, outros mais perto, uns foram enrolados pela vida e deixaram-se ir; outros definiram muito bem, por onde queriam ir, e singraram; outros foram atrás de um sonho, mas triunfaram só em metade (licenciatura sim, emprego na área, não), tiveram de regressar e voltar a dar as cartas, como eu, mas, de outra forma, conseguiram a felicidade que queriam.

E havia o Luís. Que seria a última aposta para presidente de câmara. Ele sabe-o.

Por exemplo, a coisa mais fácil para mim, seria ser o filho do João Sobreiro.
Cômodo.
Quem é aquele?
É o filho do Sobreiro.
Quem? O filho da Alzira.
Mas nunca fui. Fui sempre eu. O Pedro. O Pedrocas.

O Luís… há-de ser sempre, para nós todos, de lá, o filho da Dona Estrelinha do Supermercado/Café, ou do Sr. António, do carro de praça.

Falem com a malta da minha idade, da Beirã, e verão o que eles dizem.

Entrou para a Câmara com um cargo relacionado com a sua formação superior, e foi ficando. Como Yes man do Sr. Presidente, ocupou o meu lugar de vice quando saí, e agora, prepara-se para ascender a 1º. Ele sabe-o, que este 1º, é um presente envenenado. Sabe que ficará na frente da fotografia, mas que por trás dele, estará o que mexe os cordelinhos, para ele se mexer. E detrás desse, estará aquela que sim tudo domina. É o preço a pagar e desconfio que ele leva isso na boinha. Trabalhar nas obras, de sol a sol, deve ser bem pior.

Olho para a fotografia, e não consigo evitar que um sorriso me tome conta da cara. Não sei se triste, não sei se irónico, não sei se de pesar, não sei. Mas uma legenda fica sempre por debaixo da nuca: “agora já acredito em tudo!”

Não consigo evitar deixar de pensar no Brasil, no candidato Tiririca (pior do que está não fica!), e no macaco Tião (o candidato do povão). Não sei porquê, mas é.



Diz a nossa lei que um presidente não pode ficar mais de 3 mandatos. E ainda bem, digo eu. Porque se assim não fosse, a forma como o senhor Frutuoso tem conseguido surfar as opções de voto, neste meu concelho, fariam do homem um Fidel Castro, que só sairia quando fosse desta para melhor. Mas a sua forma de contornar a legislação é, para além de bastante óbvia, assaz primária: mete o segundo… para ser ele a mandar. Não é preciso ir tirar um curso a londres, ou Nova Iorque. Tá na cara.

A operação tem, para si, um risco mínimo; e sob a sua forma de pensar, sempre ganhadora e invencível, estará garantida. O Luís jamais será capaz de protagonizar um episódio de rutura com quem lá o meteu (na posição a seu lado) de mão beijada, como fez o Nuno Mocinha, com o Rondão de Almeida, em Elvas.
Dizendo ao seu eleitorado, que no fundo, é nele que votam… veremos no que vai dar.

As coisas vão estar muito divididas e, até para mim, que tenho a mania que percebo um bocadinho disto, estou às escuras. Será que o vereador que sempre se encostou, mas agora quis dar o seu grito do Ipiranga, falhado, terá força para conseguir reunir á sua volta, um apoio que lhe dê garantias para o futuro? Tem jogado ao seu nível, e falado numa candidatura independente, que não o é. Para ser sincero… nem sei muito bem sobre isso, porque não me interessa. Há coisas que…

Será que o PS resgatado do passado, encabeçado por uma vereadora de há 12 anos atrás, consegue apagar o erro de casting das últimas eleições (um flop tremendo nas urnas)? Será que os marvanenses aceitam e compreendem a sua ausência durante estes anos todos, e o ressurgimento apenas agora nesta altura?

Será que o movimento independente de cidadãos “Marvão para Todos”, no qual tenho a honra de pertencer (embora escreva sempre em nome próprio, por mim, e não por nós todos. É importante saber separar as águas), conseguirá ser a novidade e afirmar-se, não pelos meios, mas pelas pessoas, sempre as pessoas que o compõe?

Olho para esta imagem, sentado, e gosto de ficar a olhar para ela. Palavra! Penso sempre:
- Caraças… como isto da vida é. Que cena… Quem é que diria? Quem diria…
Vejo o tratamento de imagem em Photoshop, um primor, um arranjo, uma clareza que… quem conhece o real, sabe bem que é trabalhado.

Dei por mim diversas vezes a perguntar ao panfleto, onde não se está a rir, não está sério, está. Apenas está. Penso como se lhe estivesse a perguntar a ele:
- E esta Luís?!? Por esta não estavas tu à espera, ãh?

A fotografia ganha realidade e ele, dá uma gargalhada daquelas das dele, em que se ri tanto que mal consegue falar.
Escreveram-lhe um texto do panfleto assaz notável. Disseram muito sobre… nada.


- “conhecem-me pelo meu nome próprio”, é muito bom. A sério?

- Chama “os novos empresários” e bem. Ele também é um deles.

- “fundamental garantir condições para concretizar as iniciativas dos nosso jovens, para que continuem a trabalhar e a viver na sua terra”, é uma frase linda extraída de quase todos os manifestos do género. Sério? E como? Isso é que era lindo de se saber.

- “A economia social é, e continuará a ser, uma das alavancas do nosso desenvolvimento. Vamos reforçar o apoio social da autarquia, em conjunto com as instituições sociais, aumentando os apoios aos mais idosos e a quem mais necessita”. Tão óbvio, lindo e elementar, que é de ir às lágrimas.

- Depois... uma chamada de atenção ao turismo, à candidatura das fortalezas abaluartadas da raia, e ao património mundial. Fica sempre bem e… não se pode apontar que não foi dito.

- Continuidade do trabalho… certo!, inovar em caminhos que garantam o futuro… com certeza! Cultura, património e natureza… é que não podiam faltar!

- Gestão financeira rigorosa, à lupa!, e clareza dos processos… ehhhh… isso aí… E porque é que a Judite não se tira de cá? Bom… avancemos.

- Ouvir mais perto os marvanenses, tralari, tralaró e… tá feita: Luís a presidente!

Caraças! Se na Beirã inteira se tivesse perguntado, ao homem mais esperto e vivido (que talvez era o Senhor Cardoso, com aquela casa cheia de livros, onde nos ensinava a fumar e dizer asneiras), quem é que ele achava que viria a ser o miúdo da Beirã, que se viria a candidatar a presidente da Câmara de Marvão… ele nunca poderia dizer o Luís. Porque não o conhecia, e tampouco o convidava a entrar no seu espaço.

Eu fui, durante toda a minha infância, à missa. Pela mão da mãe, acompanhado das tias, ali me fui fazendo homem, a ouvir aqueles ensinamentos, sábios, mesmo que pensasse que aquilo não me dizia nada.
Nunca lá vi o Luís. Nunca ia.

Eu fui escuteiro do Agrupamento 659, que foi fundado com um pedido que fiz aos meus pais, quando assisti a uma missa do gênero, em Armação de Pêra. Os chefes eram: o meu pai, a minha mãe, a minha tia Cali, a minha madrinha Fatinha, e o chefe António, que era quem sabia mais daquilo (já tinha sido escuta nas minas da Panasqueira). Todos os miúdos da Beirã foram escuteiros. O Luís não foi. E também nunca o vi na missa. Agora vai sempre. Isso é das regras emblemáticas da cartilha do maior: vai sempre à missa, menino. As pessoas gostam muito. E do beijinho? Missa e beijinho… isso é que é!

Agora está nos bombeiros, mete-se em tudo… para onde é mandado. Em toda a vida antes disto da câmara, nunca se lhe foi conhecida uma única influência na vida comunitária. Trabalhava com os pais, no café, ou na vida agrícola destes, casa e ponto. Nem convívio, nem… nada! Agora… isto!

Pois eu tinha de escrever sobre este assunto. Já fiz o dever cívico. Sem rancores, sem pudores, limites ou outras merdas. Eu sou um cidadão consciente, de um estado de direito, com a minha folha criminal limpa, que paga os seus impostos, e se orgulha da liberdade que foi ganha com a opressão e a morte de muitos. Por eles, pela sua alma vai este meu texto.

Eu sou feliz a ser assim. Eu devo-me isso, a mim e a quem me gosta de ler. Basta que seja um, que já valeu a pena. Não fica só na minha cabeça. Sai. E fica cá fora. Mas eu tenho a alegria de saber que é muito mais que só um. Os contadores virtuais da página dão-me alento, e instigam-me.

Eu gostava muito era de entrevistar o Luís. Se ainda tivesse “O Altaneiro”, daria umas belas centrais. Mas tinha de ter cuidado com as fugas de informação para o vice, e a editora, que era a diretora da Anta, que o pagava.

Não tendo isso… irei muito de gostar de ouvir nos debates.

Espero muito sinceramente que o Luís não fique magoado ou zangado comigo. Porque afinal, como sempre, tudo o que eu digo são verdades. Que podem ser discutidas, debatidas, o que forem… Mas não podem ser negadas.

Desta vez, das autárquicas 2017, tem acontecido desde que tenho escrito sobre política, que alguma cabeças cá do burgo, algumas das quais até se tinham feito passar por minhas amigas (diz-me a minha Cristina que: quando estavas no hospital, ligavam para cá muitas vezes para saberem das tua situação), me passaram a ignorar. Ora isto dá-me uma graça interior tremenda. Se fossem amigas, e eu tivesse fito algo errado, esperava que viessem ter comigo, e me pedissem um esclarecimento, que poderia despistar más influências externas, e clarificar as coisas. Se houvesse um erro, teria de me desculpar, porque errar… humano est. Mas nem isso! Pura e simplesmente, passaram a passar ao lado.


Pois eu digo a esses cocós, que do menino Drocas, nem que se pintem de amarelo. Já lhes vi o cú. E quando vejo o rabo a uma pessoa… ui, ui. Já é muita difícil dar a volta. Eu amo todos os meus amigos como irmãos, que só não são de sangue, mas de resto têm tudo. O Sabi tem muitos amigos, graças a Deus e a ele. Os amigos sabem que têm tudo de mim. Tudo o que eu possa dar, é vosso. Agora esses impostores e essas impostoras, saberão que Pedro vem de tão duro como a rocha, como do cruel, que arrancou o coração a Inês.

3 comentários:

Liesbeth Steur disse...

Pedro, o meu português não é bastante bom para perceber tudo que escreves. Mas o blog é um desafio para estudar mais! Acho que percebo a essência! Obrigada! Beijinho, Liesbeth

Pedro Sobreiro disse...

Minha querida Liesbeth, obrigado. Este meu texto, que escrevi porque tinha mesmo de o fazer, pela minha consciência; pelo meu passado (na câmara, e na Beirã); pelos capitães de Abril, que me deram a liberdade; tem causado enorme frisson. Inúmeras reações, pressões, zangas, birras, até mesmo com pessoas que pareciam mais insuspeitas.
E como eu lido bem com isso....
Eu nunca disse que queria agradar a toda a gente. Cristo que foi quem foi,e tinha a cunha do pai (Deus), aos 33 anos, ja estava cravado no barrote (Cruz)
O que eu quero verdadeiramente, é que ninguém me fique indiferente. Isso é que não!

Um abraço

Pedro Sobreiro disse...

Minha querida Liesbeth, obrigado. Este meu texto, que escrevi porque tinha mesmo de o fazer, pela minha consciência; pelo meu passado (na câmara, e na Beirã); pelos capitães de Abril, que me deram a liberdade; tem causado enorme frisson. Inúmeras reações, pressões, zangas, birras, até mesmo com pessoas que pareciam mais insuspeitas.
E como eu lido bem com isso....
Eu nunca disse que queria agradar a toda a gente. Cristo que foi quem foi,e tinha a cunha do pai (Deus), aos 33 anos, ja estava cravado no barrote (Cruz)
O que eu quero verdadeiramente, é que ninguém me fique indiferente. Isso é que não!

Um abraço