terça-feira, 1 de outubro de 2024

Até um dia, Fernandinho!


Hoje, na cronologia da minha vida, marco um dia triste. 

Hoje é um dia muito infeliz, porque partiu, morreu, faleceu, acabou, um Homem Bom. 

O nosso Fernando Andrade já não é mais desta nossa realidade, desta dimensão. 


Foi arrebatado por uma doença lenta, tenebrosa e incapacitante. A diabetes, essa incapacidade do seu pâncreas produzir a insulina que lhe era necessária para bem viver, potenciada por uma série de insuficiências que lhe foram sido acrescentadas pela sua permanência em hospitais e locais onde se luta e preza pela saúde, mas são viveiros de enfermidades, foram letais.


Quando no meu crescimento/adolescência subi da Beirã para Santo António, não tive oportunidade de o ter conhecido gaiatão porque devido à década de idade que me levava, passámos por gerações que nunca se chegaram a cruzar.


Encontramo-nos sim, depois na saudosa Real Tertúlia do Camarão de Marvão, onde já homens, desfrutámos muito um do outro.


Quando eu era zagalo (jovem), o Fernando Andrade já era uma lenda... das touradas à vara larga, e por conseguinte, das festas e de todos os aglomerados festivos locais. Homenzarrão sadio, sem medo, sempre brincalhão e bem disposto, tratava-me também a mim, ainda hoje, por "pronto-a-vestir", por saber bem o que gosto de andar não vaidoso, mas arranjado.


Conheci-o quando trabalhava na Porcave, antes da Câmara de Marvão, e era frequente na mercearia das minhas tias onde ia levar as encomendas, e com quem sempre brincava e era mimado. O que elas gostavam dele...


Em boa verdade, acho que nunca o vi zangado fosse com o que fosse.


Homem forte, grande, truculento e que inspirava força, de tão afamado que era enquanto forcado por gosto, que suscitou o desejo do Grupo de Forcados de Portalegre que o convidou, recebeu, e aperfilhou como se sempre tivesse sido dele.


Como me recordo da sua alegria quando contava os seus momentos de glória de jaqueta envergada... 🥹


Certa vez, ele, eu e mais 3 amigos, há bem mais de uma década atrás..., que isto do tempo é um ladrão que nos engana com facilidade, enfiámo-nos num Twingo (que por acaso não era o meu, que já vendi); e fomos estrear-nos na célebre "Ruta da Canhas" de Valência de Alcântara, onde não mais voltámos, porque isso nunca se propiciou.


Naquele Rally, onde cada participante pagava uma jóia, e passava o dia a experimentar as canhas (imperiais), e o petisco nos espaços participantes, num percurso que circulava pela localidade , conhecendo um por um, atribuindo-lhe a nota que classifica em cada um deles, a qualidade, o asseio, e tapa servida, sempre com a preocupação de fazer a gestão da longitude do dia se aguentar com firmeza e clarividência, até regressar a Portugal. Ali, vivemos uma jornada inesquecível de Amizade, e Fiesta! 💃


Começado ao final da manhã, tudo terminou com música na Praça do Ayuntamiento, com um ambiente bem de cachondeo e animação geral. Naquela catarse eufórica, o bom do Fernando ripou-me da capa de toureio que tinha levado consigo sem eu conseguir saber muito bem porquê, e começou a sacar passes de muleta que a cada um, fazia ecoar num bruáááá imenso, oooooooléééééééééééééés de arrepiar, que faziam estremecer!!!!


Saiu em ombros, claro!!!!!!! 😱😍🤩🥰😘


A vida é feita de momentos, e esses devemos sempre recordar nestes períodos difíceis, como quando ele deu ouvidos à loucura de um vereador da cultura e educação "fora da caixa" que se lembrou de no dia da criança, dar aos mais pequenos aquilo que eles mais pediam e sonhavam, e em pleno Centro de Lazer da Postagem ajudou mesmo a fazer a tão desejada praça de touros, longe de tudo o que é PAN, contenções e normas a cumprir.


O touro? EU, o próprio, vestido com um traje de luzes que o bom do Fernando emprestou, e tendo-o a ele como peão de brega. 


Para os putos? 


O máximo! 😍


De tal forma que quando à entrada de cada nova turma/meia hora, depois das duas as três voltas à praça da carripana dos cornos que fazia de touro, de reconhecimento ao redondel, quando marrava com estrondo nas grades para lhes meter respeito e medo... comentavam boquiabertos, uns para os outros, apontando para mossas que já estavam feitas de outras utilizações, de tombos diversos que tinham dado: iiiiiiiiiiiióóóóóóóóóóóó!!!!!!!  😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱😱Olha aqui onde o cabrão marrou!!!!!!!



A volta à arena, na merecidíssim corrida de homenagem que lhe fizeram atrás ...


O nosso Fernandinho já deixou a escuridão onde se habituou a viver nos últimos tempos.

Oxalá agora esteja entre o esplendor da luz perpétua.


Parte cedo. 

Muito cedo. 

61?!?

Não é idade... 😰


À Rosa, sua mulher, aos dois belos filhos, ao mano Arlindo, meu Amigo, que tanto o estimava, a todos os irmãos, irmãs, às cunhadas, cunhados, sobrinhas e sobrinhos, envio um grande abraço de pesar, com muita solidariedade.

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