domingo, 30 de março de 2025

Adolescência (crua e dura)




Claro que também eu tive de correr a ver o fenómeno "Adolescência" da Netflix, uma mini-série de 4 horas, digerida à medida do calendário da vida (impossível ser de penálti, portanto...), mas absorvida com absoluto deleite a cada segundo. 

Um assassinato juvenil que nos mergulha na crueza da adolescência deste novo milénio, tão diferente da nossa, mas com tantas semelhanças comuns à natureza humana, é a razão deste marco televisivo notável marcado sobretudo por ser filmada em plano-sequência, isto é, por uma câmara que não tira o foco da sequência que está a enquadrar, e a segue sempre sem cortes, resultando em algo profundamente surpreendente; bem como pela qualidade suprema dos atores, que vai do criador Stephen Graham, que conhecemos de outros filmes (Snatch, This is England), ao impressionante jovem estrante Owen Cooper, numa prestação que... fica connosco.

E sim. Também concordo que é um marco, e algo que extravasa tudo o convencional. 👌Corram! 🏃📺

Sinopse: Quando um puto de 13 anos é acusado de matar uma colega de turma, a sua família, a terapeuta e o detetive que investiga o caso procuram responder a duas questões: o que terá realmente acontecido e qual o motivo? Unanimemente aplaudida pela crítica mundial, esta produção faz-nos interrogar em que "novo" mundo hoje vivemos, aquele em que as nossas crianças estão a crescer e que as vai moldar para o futuro.





domingo, 2 de março de 2025

Bodas de prata de um mangas de alpaca

Luca Bartolomeo de Pacioli (c. 1447 – 19.06.1517) 


 25 anos

😍👍💪🎂🎉🎈🎊🙏🍾🥂

No dia 24 de Fevereiro, cumpriram-se 25 anos desde a data em que entrei para a Direção Geral das Contribuições e Impostos.

¼ de século…

Aprovado e selecionado no até então apregoado como maior concurso para a função pública em Portugal (e não tenho conhecimento que tivesse acontecido um outro tão grande desde então) ao qual se propuseram, creio eu se a memória não me atraiçoa, mais de 80 mil aspirantes que se dispuseram à prova de admissão (uma espécie de Prova Geral de Acesso que em vez de dar acesso à Universidade, habilitava a uma carreira laboral que se presumia auspiciosa, segura, e bem remunerada), fiquei classificado na posição 2.053 que ainda assim, não me garantia a entrada na primeira fase, mas antes me deixava durante mais uns meses a penar, sonhando se conseguiria “entrar” como os colegas melhores classificados na dita afronta que assentaram logo praça.



Foi num dia frio e solarengo do raiar do início do ano do novo milénio, no ido ano de dois mil, quando me encontrava a desempenhar as funções de chefe de vendas da Opel, em Castelo Branco, que recebi a chamada que me trouxe de volta, vinda de uma Cristina ainda a derreter felicidade. No instante seguinte liguei a quem me deu a mão quando nada tinha, agradeci com humildade por tudo, e confirmei que iria mesmo rumar a outras paragens. As minhas…

Nessa tarde, no caminho para casa, parei em Nisa, no Largo Heliodoro Salgado. Sabia bem onde eram localizadas as finanças, porque nesta localidade que ficava a meio do caminho ate à cidade
albicastrense, parei muitas vezes para tomar café, para espertar e afastar o cansaço, muitas vezes no café do saudoso António José Correia, que ainda haveria de ser meu chefe lá, e me deu o grato prazer de me deixar ser seu amigo. Ali chegado, subi a escadaria e, aberta a porta à esquerda, dei com uma sala ampla, e um balcão em “L” invertido que nos separava de diversas secretárias, habitualmente ocupadas por Homens e Mulheres que haveriam de comigo coabitar durante dois anos (2000-2002), e passariam a fazer parte de mim para sempre, por mais tempo que vivamos, e mesmo que estejamos muito tempo sem nos vermos.

Foi então assim que graças a Deus, há 25 anos atrás, assinei o contrato administrativo de provimento que me ligou para sempre aos quadros da função pública.

Não foi o emprego com que sempre sonhei, verdade; não foi o trabalho para o qual estudei (eu queria era escrever... e por isso tirei jornalismo, mas tem sabido ser o meu lugar de sonho à medida que o tempo passa, e estou mesmo certo que sou muito feliz ali.
☺️

Nesse dia, era o dia dos compadres.

Todos foram sorrindo, se apresentando, dando as boas vindas, desejando boa sorte e tudo se foi abrindo à minha passagem até ao gabinete do chefe. Lá chegado, as portas entreabriram-se e detrás dos cortinados de renda que tapavam os vidros saiu uma figura de baixa estatura, blazer azul, camisa branca e gravata, porte composto e cabelo grisalho de risco ao lado. Creio que fumava para dar um ar blasé, até porque nesse então era comum toda a gente fumar em todo o lado.


O Chefe à frente deste grupo de grandes amigos que lá fiz, sempre com o seu grande estilo


Trocámos uma conversa circunstancial, de apresentação, a medir terreno mutuamente.

Teve a cortesia de me ir apresentar aos serviços públicos, mas a dada altura, talvez até quebrando o gelo, atirou um: Ó Pedro Alexandre (tratando-me pelos meus dois nomes próprios, como sempre fazia), não quer tomar nada?

Eu… (com um ar “esfinzado”…), larguei um “ehh…”

(Ao que respondeu com…) Venha daí! (enquanto se encaminhava para “A Colmeia”, (café/pequena casa de pasto) situada em frente ao serviço, habitualmente frequentada pelo pessoal da casa.

Lá chegados, eu (cheio de reservas, de pé atrás) pedi… uma garrafa de água.

Ao meu pedido, o chefe comentou com um “muito bem! Está a ouvir? Faça sempre isso!”

Já ele, disse que queria, tão clássico como o “dry Martini” do James Bond: um copo de vinho branco natural traçado com gasosa fresca. (e tinha se ser esta a ordem!!! Se fosse o vinho a ser fresco, e a gasosa natural… a bebida não tinha nada a ver!!!)

A páginas tantas, já com mais colegas de companhia que entretanto foram saindo, disparou um:

Ó Pedro Alexandre, sabe quem foi Frei Luca Pacioli?

- Meu caro chefe, lamento mas não faço a mais menor ideia.

Frei Luca Pacioli, (disse ele começando a brilhar!) foi um frade franciscano do séc. XV, que foi um célebre matemático italiano, e hoje é considerado o “Pai da Contabilidade”, por ter sido o inventor das partidas dobradas, o princípio básico da contabilidade, que diz que quem deve, tem a haver.

Muita conversa, animação, muita conversa e algumas “datas” depois, o Chefe voltou à carga, julgo eu que querendo impressionar um colega que o conhecia de ginjeira.

Ó Marquês… (um colega da casa, um pouco mais velho que eu, mas que ainda hoje me trata por puto), sabe quem foi Frei Luca Pacioli?

- Hã?!? Eu sei lá! (virando-se para o lado, não dando o mínimo crédito à disputa).

Virando-se… E você, Pedro Alexandre, sabe quem foi?

(Enchendo o peito de ar, mesmo assim, não conseguindo esconder a vaidade) Ó chefe... Por favor… (ar “impossível disfarçar o ar convencido”) Frei Luca Pacioli foi... (tudo aquilo que me tinha ensinado há minutos) um frade franciscano e célebre matemático italiano do séc. XV, que é hoje considerado o “Pai da Contabilidade”, por ter sido o inventor das “partidas dobradas”: um sistema fundamental nesse processo que diz que quem deve, tem a haver.

O Chefe, virando-se boquiaberto para o lado, disse espantado para o nosso colega: Está a ouvir?

Este individuo tem uma cultura extraordinária!

E nessa conta me teve até ao final dos seus dias, o meu querido Amigo, uma verdadeira jóia de pessoa, do melhor que alguma vez conheci.

Neste aniversário, não me posso, nem quero por forma alguma esquecer dele e de todas as pessoas maravilhosas com quem trabalhei nesta casa à qual muito me orgulho de pertencer.
~
Reservo uma palavra especial para os contribuintes que atendi, com quem trabalho e trabalharei que na realidade, para além do Estado que me paga, são os meus reais patrões, porque é na pele de “servidor público” (numa expressão tão feliz da língua inglesa, que “choca” com o aburguesamento do português “funcionário público”), que me sinto bem.

A Deus peço saúde e que me continue a guiar pela vida, levando-me sempre pelos caminhos certos, mesmo que às vezes, eu não consiga compreender a razão de ir por ali.

Mais 25 naquela labuta do ativo não peço certamente, e é com essa certeza que a maior parte já passou, que peço ao Senhor da Vida, tranquilidade, experiência e sapiência, para conseguir honrar o árduo e exigente trabalho que tantos criticam mas que tão necessário é, para que o País funcione.

Festa de anos frente à mercearia das minhas saudosas tias por esse então 28(?)
Dia inesquecível! Ainda hoje...

O chefe com o meu Companheiro de vida desde esse então: o estagiário Rui Miguel Caixado Pescada (antes de o ser, já o era!) Ribeirinho Pinheiro. Uma Paixão!

Trail de Marvão 2025

Para quem ama Marvão, a prática desportiva e a Amizade, o dia do Trail Marvão é sempre apoteótico!

Partida! Lagarta! Fugida!!!

Manhã/tarde linda de sol e coisas maravilhosas da vida, poder desfrutar dias assim é um regalo!

Pelas 9h, abençoados pelo nosso incansável Padre Marcelino saíram os duros do Trail, para a mais longa das distâncias (20,30 Km) plenos de dureza e paisagens de cortar a respiração.

Do GDA, o estratega Pedro Vaz; o Presidente Luís Vitorino; o Vice Luís Costa; o nosso Padre Marcelino; e o acólito João Gonçalves; nos instantes antes da partida

Deslocados de autobus municipal até à ponte quinhentista da Portagem, os também firmes e hirtos, mas já não tão afoitos participantes do mini-trail e caminhada, saíram para enfrentar os 10,30 Km, ou a alto trote (os da corrida) ou a marcha rápida, pelas 10h e 20m.

Ora eu, que tenho a honra e o orgulho imenso de continuar a ser o Carro-Vassoura desta fase, fui da Portagem até aos Barros Cardoso / Ponte Velha, atrás das Amigas e Amigos meus vizinhos da APPACDM DE PORTALEGRE, de uma fantástica Responsável e um seu apoiante. Foi uma delícia, ópá, ver como aquela rapaziada se divertia e era feliz! Coisa linda.

egados a essa igreja a meio do percurso, estes meus Amigos, que me impressionaram imenso pela sua destreza, e força de vontade, decidiram terminar a sua colaboração, o que era mais que natural, e regressaram de carrinha.

Nesse momento, o meu querido mano Joao Carlos Anselmo, e a sua filhinha Ritinha, que não nos apanharam na Portagem por escassos minutos, decidiram juntar-se a mim, para fazer a metade do percurso restante, com o compromisso de ali deixarem a viatura, para eu lhes dar boleia no regresso final.

Com a Ritinha e o João... e o rio Sever a correr lá me baixo...


Isto com o compromisso de não haver partes em que teríamos de molhar os pés, porque a pequena, de 8 anos, não estava para aí virada.
🫣
Mas houve mesmo essas fases!
😬
E o papá, o pobre, lá teve de amparar a pequena... e de nada valeu eu querer ajudar porque nada o demovia.
Mas se não queria água, no restante percurso, a jovem caminheira impressionou, fosse a descer escarpas enlameadas (onde este que vos escreve bateu 3 bate-cús de estalo), ou a galgar trilhos que mais pareciam paredes de trekking.
😳😲👍👌💪👏👏👏👏👏👏👏🙏
De tal forma foi impressionante a prestação da pequena grande Ritinha e papá, que apesar de não estarem inscritos, se juntaram à iniciativa por sua conta e risco, que não vejo outra forma melhor para a felicitar que lhe oferecendo a minha medalha de participação em 2025.
❤️

Aos grandes ideólogos desta maravilha do nosso Trail (o mago estratega Pedro Vaz; o sempre em alta José Domingos Felizardo, e o ultra- campeão Nuno Mariquito (nesta edição, 2° classificado da Geral, 2° classificado escalão de Séniores, 1° classificado concelho de Marvão, 2°classificado por Equipas); aos autarcas que tão bem o acarinham (Luis Vitorino e Luís Costa); ao Prof. Nuno Costa; ao Grupo Desportivo Arenense, na pessoa do Presidente Silvestre Andrade que o acalenta e motiva; à UJA personificada no GRANDE Guilherme Máximo, ao fantástico Elisio Diogo que serviu as refeições de forma
👌👍
, a todas e todos os que contribuíram para mais esta façanha de sucesso
⭐⭐⭐⭐⭐
, sobretudo OS PARTICIPANTES... o meus mais sinceros parabéns!
VIVA O TRAIL DE MARVÃO! VIVA MARVÃO! VIVA A GENTE! VIVAAAAAAA!!!!


sábado, 22 de fevereiro de 2025

Os Compadres em Marvão

 A minha Amiga Mila Lena, publicou no seu mural do Facebook, este texto delicioso:


O DIA DOS COMPADRES EM MARVÃO – Memórias e tradições.


Já se perdeu praticamente toda a essência destes dias no concelho de Marvão, que comemorava com fervor e muita alegria, quer o dia dos compadres, quer o dia das comadres, com partidas de carnaval, muita sátira e, claro está, no fim do dia, uma grande jantarada na qual reinava sempre a boa disposição.


E o primeiro destes dias era o Dia dos Compadres, que eram gozados pelas comadres (mulheres), com partidas e brincadeiras de carnaval e se nesse dia chovesse todas diziam que os compadres eram mijões.


Digna de registo, uma brincadeira original na Relva da Asseiceira, que era o “Afogar os Compadres”, que consistia no seguinte: no dia dos compadres, as mulheres, raparigas e crianças da Relva, juntamente com a Srª Júlia do Zé Afonso (mulher mais velha) faziam um boneco de trapos, que prendiam a uma vara que a Srª Júlia punha à janela mais alta da sua casa, de maneira a que os homens e os rapazes não lhe chegassem para o tirar. Junto ao boneco que satirizava os compadres, eram postos uns versos feitos pela mesma senhora, que descreviam a sina do pobre compadre:


“Todos passam e me vêem


E eu a todos os vejo ir


Senhores leiam a minha sina


Mas por favor não se deixem rir.”


Ao final da tarde dirigiam-se todas as pessoas da Relva (homens e mulheres) a pé para o Rio Sever, no sítio do Moinho da Negra, para afogar os compadres. Como os homens tentavam sempre roubar o boneco às mulheres para não serem gozados, a Srª Júlia ia mais cedo para o Rio, onde enchia o boneco de pedras, para que, quando o deitassem à água ele não “viesse ao de cima”.


Lá chegados era deitado à água o boneco que imediatamente se afogava, tendo-se assim cumprido o desejo das comadres. Lá ficavam os compadres revoltados porque as senhoras comadres tinham conseguido alcançar o seu objetivo.


Em Marvão, é ainda tradição fazer-se o Jantar dos Compadres, ao qual assistem só homens, e se há muitos anos atrás era mais vocacionado para os homens do concelho de Marvão e para aqueles que trabalhavam nos serviços públicos da Vila, na atualidade podem participar todos quantos assim o desejarem, independentemente se serem, ou não, naturais de Marvão. A ementa é sempre a mesma: miolada de porco e feijão branco “com a cabeça do animal”, acompanhado sempre com bom vinho de produtores do concelho. Cada participante deve trazer de casa pratos e talheres. Para animar, e como não pode deixar de ser, arranja-se sempre um tocador de concertina.


(nota: as fotografias são do arquivo fotográfico pessoal da MilaMena e reportam o dia dos compadres em Marvão em 1982)


Com diversas ilustrações, entre as quais contavam estas,  que eu não conhecia, e comentei...

O meu querido e tão saudoso Pai, João Sobreiro (aqui com 37 aninhos s, apenas), abraçado ao seu enorme Amigo Calcinha, da Alfândega; com o seu colega e quase irmão Lourenço Costa, na frente; e o Sr. António Lourenço (creio eu...), rindo das conversas, como não?!?

Antes deles, de óculos, estava o Sr. Cardoso, outra figura da Beirã, lembrou-me o amigo António Andrade.


Outra trempe de luxo: João Sobreiro, já na fase do café; João Forte da Broca, Beirã, no bagacinho; e o tão jovem Padre Fernando Farinha, saboreando o seu belo cigarrinho, dentro de casa! 🫣😁, no Café da Casa do Povo, onde os posters da Coca-Cola encobriam as humidades...