Há dias enchi-me de coragem e fui a Évora falar com a Directora da ASAE acerca da Feira de Artesanato e Gastronomia, na tentativa de encontrar algumas respostas que tranquilizassem o meu sobressaltado sector hoteleiro concelhio. Contra todas as expectativas mais pessimistas, acabei por encontrar uma profissional altamente dedicada e simpática e prestável e coerente em tudo aquilo que dizia. Mas confirmei uma das ideias que já levava meio cozinhadas na minha cabeça: grande parte deste medo e desta ansiedade com que vive a malta dos restaurantes e dos cafés é instigada por algumas associações que se dizem criadas para os protegerem e vestem a pele de cordeiro para legitimarem a sua actuação.
Tal e qual como os sindicatos e as funerárias, precisam da desgraça alheia para sobreviver. Que seria dos sindicalistas se não houvesse falências, desemprego, contendas laborais e maus patrões? Que seria da rapaziada das funerárias se a malta se lembrasse de um dia para o outro esquecer-se de morrer? Estavam amolados… eles que gostam tanto de vir à porta espreitar, se calhar para ver a rua mas eu imagino logo que é para dizerem para os seus botões: “já passou meia manhã e nada! Já enterrava mais um!”.
Pois bem, aquilo lá em Évora escapou e eu vim por aí fora o mais rápido que pude para atender a outro compromisso previamente marcados. No caminho, deu-me para ouvir os discos pedidos da Rádio Portalegre. O meu pai deitava-se sempre a ouvir os discos pedidos da Rádio Monsanto. Delirava com aquilo. E eu, quando comecei a trabalhar na Rádio São Mamede, a vender publicidade onde nem sequer era ouvida, achava que os discos pedidos eram tipo o Olimpo das rádios locais. A vizinha que ligava a pedir para a prima, a avó para os netinhos, a mãezinha para o filhinho que estava na tropa, a namorada para o Zéquinha e até o clássico “para todos os doentinhos” nunca falhava.
“Qual é a frase?”. “Móveis do fim do mundo em Elvas…ai…tem que me ajudar…”.
“Isso! Cá vai então o Graciano Saga com o tema “Vem devagar emigrante” para o Françoise que conduz aí por essa Europa abaixo!” Mítico!
Gosto daquilo e pronto. Mas não estava à espera desta: então não é que há um “artista” que liga para lá para pedir “A mula da Cooperativa” do Max? Mas quem é que se dá ao trabalho de ligar para pedir uma coisa destas? E o melhor ainda estava para vir… “É para dedicar a quem?”, diz o radialista de serviço. “Não é para dedicar a ninguém. É só para ouvir!”.
Se fosse eu a conduzir a emissão tinha-lhe respondido: “então se é só para ouvir, vá á loja comprar o cd ou a cassete que o homem da discoteca também precisa de viver”.
Olha que coisa!
Mas nesse dia voltei a apanhar os discos pedidos, na segunda fase, já antes da hora de jantar. Liga um sujeito de Évora, com uma classe indisfarçável no discurso e pede uma música qualquer da Nossa Senhora da Boa Viajem ao recentemente falecido José Petronilho, animador da Rádio Portalegre que se apagou em poucos meses. O ouvinte pediu desculpa pela sua opção. Admitiu que poderia haver pessoas que não o iriam compreender mas confessou, que na sua maneira de pensar, era algo que devia fazer até porque havia uma ligação de respeito e amizade que foi sendo alimentada pelas ondas hertzianas ao longo dos anos com quem já não está, e esta era a homenagem que lhe parecia mais justa.
Até me arrepiei com a arrebatadora dignidade daquele gesto que pode para muitos ser piroso, mas que eu acho que compreendi.
Capazes do melhor e do pior…
Tal e qual como os sindicatos e as funerárias, precisam da desgraça alheia para sobreviver. Que seria dos sindicalistas se não houvesse falências, desemprego, contendas laborais e maus patrões? Que seria da rapaziada das funerárias se a malta se lembrasse de um dia para o outro esquecer-se de morrer? Estavam amolados… eles que gostam tanto de vir à porta espreitar, se calhar para ver a rua mas eu imagino logo que é para dizerem para os seus botões: “já passou meia manhã e nada! Já enterrava mais um!”.
Pois bem, aquilo lá em Évora escapou e eu vim por aí fora o mais rápido que pude para atender a outro compromisso previamente marcados. No caminho, deu-me para ouvir os discos pedidos da Rádio Portalegre. O meu pai deitava-se sempre a ouvir os discos pedidos da Rádio Monsanto. Delirava com aquilo. E eu, quando comecei a trabalhar na Rádio São Mamede, a vender publicidade onde nem sequer era ouvida, achava que os discos pedidos eram tipo o Olimpo das rádios locais. A vizinha que ligava a pedir para a prima, a avó para os netinhos, a mãezinha para o filhinho que estava na tropa, a namorada para o Zéquinha e até o clássico “para todos os doentinhos” nunca falhava.
“Qual é a frase?”. “Móveis do fim do mundo em Elvas…ai…tem que me ajudar…”.
“Isso! Cá vai então o Graciano Saga com o tema “Vem devagar emigrante” para o Françoise que conduz aí por essa Europa abaixo!” Mítico!
Gosto daquilo e pronto. Mas não estava à espera desta: então não é que há um “artista” que liga para lá para pedir “A mula da Cooperativa” do Max? Mas quem é que se dá ao trabalho de ligar para pedir uma coisa destas? E o melhor ainda estava para vir… “É para dedicar a quem?”, diz o radialista de serviço. “Não é para dedicar a ninguém. É só para ouvir!”.
Se fosse eu a conduzir a emissão tinha-lhe respondido: “então se é só para ouvir, vá á loja comprar o cd ou a cassete que o homem da discoteca também precisa de viver”.
Olha que coisa!
Mas nesse dia voltei a apanhar os discos pedidos, na segunda fase, já antes da hora de jantar. Liga um sujeito de Évora, com uma classe indisfarçável no discurso e pede uma música qualquer da Nossa Senhora da Boa Viajem ao recentemente falecido José Petronilho, animador da Rádio Portalegre que se apagou em poucos meses. O ouvinte pediu desculpa pela sua opção. Admitiu que poderia haver pessoas que não o iriam compreender mas confessou, que na sua maneira de pensar, era algo que devia fazer até porque havia uma ligação de respeito e amizade que foi sendo alimentada pelas ondas hertzianas ao longo dos anos com quem já não está, e esta era a homenagem que lhe parecia mais justa.
Até me arrepiei com a arrebatadora dignidade daquele gesto que pode para muitos ser piroso, mas que eu acho que compreendi.
Capazes do melhor e do pior…
1 comentário:
Queria dedicar esta musica do genial Graciano Saga ao meu amigo Bitchi que trabalha aqui comigo!!!
Belos tempos....
Beijinhos e abraços apertadinhos..
GGGRRRAAAAUUUUU
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