quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

-

Será que vale a pena viver tanto tempo para chegar a isto?

Será possível que esta senhora que faleceu há quase uma década e apodreceu no chão frio da sua casa, não tenha tido mesmo ninguém que se preocupasse com ela ao ponto de a procurar e não descansar enquanto não a encontrasse?

Será que naquela sua casinha não tinha fotografias de pessoas sorridentes de quem ela gostava e ao lado das quais aparecia também ela sorridente, de cabelo arranjado, mala e sapatos novos a condizer, em dias festivos, em dias que ela recordava com saudade quando limpava o pó, ou quando um rosto lhe chamava a atenção enquanto via televisão, sentadinha no seu sofá.

Nem uma vizinha mais persistente. Nem uma amiga. Nem o dono de um estabelecimento qualquer lá da vizinhança. Ninguém.

E o cãozito, coitadinho, o pobre… a sua única companhia. Imagino o que não terá ladrado para chamar a atenção de alguém que ajudasse a dona. Imagino o que não terá sofrido, a fome e o frio que não terá passado…

E imagino o quadro… o corpo inerte em decomposição… os dias e as noites a assomarem-se da janela… as estações do ano a sucederem-se… as festividades… tudo isso a acontecer e ela... ou o que restava dela, ali à espera que alguém aparecesse e restitui-se alguma dignidade à sua finitude.

É tudo tão triste...

Já vai sendo tempo do homem parar, se sentar e pensar em que sentido caminha. Há coisas que são uma verdadeira afronta ao nosso intelecto.


PS: Numa aldeia isto jamais aconteceria...

2 comentários:

gi disse...

Com o turbilhão de noticias que todos os dias nos fustigam á hora de jantar, esta foi sem margem de duvida a que mais me tocou. Como pode o ser humano ser tão despresivel!!!! Alguem que morre e só decorridos 9 anos o mundo da pela sua morte, e demasiado brutal.
Tal é o tamanho da solidão, a inoperância das diversas entidades... de que serve vier mais se não o fazemos da melhor forma?

Helena Barreta disse...

É mesmo muito triste. A solidão e o desprezo pelo outro nas grandes cidades é arrepiante.

Também me pergunto onde estão os familiares que se conformam com o súbito desaparecimento de alguém e nada fazem.

Bom fim de semana

Um abraço