domingo, 19 de fevereiro de 2012

Brincando ao Carnaval



Escrevo num domingo gordo quente, solarengo, a convidar a brincar ao Carnaval. As filhas saíram as duas vestidas, acompanhadas pela família e eu fiquei em casa, só, porque assim me apetecia, porque era aqui que me sentia bem. Tivessem-me dito no ano passado que assim haveria de ser e eu não acreditaria, de todo. Mas a vida escreve-se por vezes de uma forma e em linhas que nós nunca pensámos possíveis. Dá voltas incríveis e a força do acaso é imensurável.


Eu aprendi a dar imensa força ao Carnaval porque a tem, de facto. É a única altura do ano em que tudo é possível, em que tudo é permitido, em que tudo pode ser posto à prova. No meu grupo de carnaval consegui reunir um grupo de extraordinários amigos que com base na boa disposição e na amizade conseguiram realizar feitos que ficaram não só na nossa memória mas também na dos nossos filhotes e na de muitos que assistiram. As cenas eram todas muitíssimo bem representadas, ficando ao critério de cada um a exploração da sua imagem e o seu contributo para o grupo que ficava a ganhar com esta multiplicidade. Num ano recriámos os circos ambulantes que percorriam antigamente as terreolas e assim fundámos o “Circo Cardinas” que ficou para a história e do qual chegámos a criar um dvd que ainda hoje é revisto pelos mais pequenos que adoram recordar a nossa actuação onde não faltam os equilibristas e os palhacitos e os mágicos. Tudo feito como deve de ser, com muita piada mas também com muito bom gosto e amor à causa.


Num dos anos criámos uma comunidade cigana onde não faltava nada. Arranjámos uma carroça que era puxada por um burro que disso não tinha nada e teimava sempre por ir para locais contrários aqueles que lhe indicávamos. Tínhamos um Joaquin Cortés que era perito a bailar o flamenco, um Quaresma craque no futebol, uns Gipsy kings para o bamboleo, um pai ciganão que não se coibia que fazer negócio nos estupefacientes, enfim… tínhamos uma trupe daquela à antiga que não deixava ninguém indiferente por onde passava. Chegámos até a ter um encontro imediato com o grande Joselito Maia em pessoa, nome grande da etnia que ficou tão tocado pela nossa prestação que nos convidou de imediato a beber uma bebida paga por si. O que ele não sabia era que um dos nossos, mais afoito, se prontificou a roubar-lhe o carro que tinha deixado à porta do café, tendo inclusivamente levado a sua acompanhante que estava sentada no banco da frente! Tudo terminou com uma enorme panela de feijoada cozinhada pela mãe ciganorra (a minha Cris)e distribuída por todos os presentes de forma gratuita que se puderam deliciar com o repasto. Histórias, tantas histórias que ficam para todo o sempre, histórias que jamais esqueceremos, histórias que ficam para a “nossa” história do Carnaval.


Os carnavais também encerravam sempre com um “enterro da sardinha” feito por nós. O padre, o já célebre Jacinto Leite Capelo Rego, personificado por este vosso escriba, fazia sempre uma homília que era seguida por muitos fiéis que se deslocavam a Santo António propositadamente para o ouvir. Nas suas rimas descrevia como tinha sido o carnaval que tinha acabado de sucumbir e fazendo uma análise ao que se tinha passado, traçava as novas pontes para o futuro sempre com grande fervor religioso e devoção.


Um carnaval que podia não ser o melhor do mundo mas era o nosso, o feito por nós e por isso, o que tinha um sabor especial. Se quiserem saber mais e ver algumas fotos das edições passadas, cliquem do lado direito no blogue na etiqueta “Carnaval” (ao lado, em cima) e fiquem com alguma ideia ou recordem.


Agora, se me dão licença, tenho de me ir vestir que tenho um jantar de carnaval do meu grupo e tenho ali um fatinho de bobo por estrear de outros anos que me deve de ficar mesmo bem.


Até já, sim?

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Espero que o jantar tenha corrido bem e que se tenha divertido com os seus amigos.

Faço votos para que regresse quanto antes ao seu grupo de Carnaval e com a boa disposição que lhe é inata. As melhoras.

Um abraço