terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Para onde vai o cinema?



No rescaldo dessa noite de glamour e vedetismo que é sempre a noite dos Óscares, para todos os cinéfilos como eu importa saber antes de mais, não quais foram os vencedores da academia, mas sim qual é o verdadeiro sentido da sétima arte, qual é a direcção que vai seguir.


Não conheço nenhum dos filmes a concurso, nem qual foi a performance de nenhum dos actores nomeados. Assim tem sido ao longo dos anos e a novidade até aqui não é nenhuma. Costuma ser sempre habitualmente assim.


Vivendo longe das salas e dos locais onde habitualmente brilham as películas, limito-me a sonhar. Tem sido sempre assim desde criança e continua a ser. A última e muito porventura a única vez que entrei numa sala de cinema neste último ano foi aqui há dias quando cumprindo uma promessa de pai, levei a minha pequena Leonor a Castelo Branco para no fórum poder assistir ao último filme dos marretas dobrado em português. O sonho e a ilusão eram os dela mas aqui parra nós que ninguém nos ouve, eu não ia propriamente contrariado. Sempre adorei os marretas desde pequenino e acho absolutamente incrível que ao fim de tantos anos ainda tenham a audácia e a inteligência de fazerem isto: sentarem lado a lado um pai e uma filha que são fãs do que vão ver.


Os Marretas são ícones do mundo da animação e do espectáculo. Cada pessoa terá certamente os seus favoritos, aqueles de que gosta mesmo muito e eu não sou excepção à regra. Contei-lhe que naquele tempo não tínhamos televisão por cabo nem Meo, contei-lhe que os canais de televisão portugueses eram apenas dois e muito fraquinhos e que muitas vezes a nossa sorte era morarmos perto da fronteira e assim podermos absorver de Espanha coisas absolutamente fabulosas como a icónica “Bola de Cristal”, um célebre programa para as crianças onde brilhava a célebre Alaska y Dinarama e onde passavam programas e figuras que ficaram para sempre na nossa memoria como a família Monster, os teleduendes e um sem fim de personagens memoráveis. A minha paixão pelos marretas também vem daí, mas eu não era aquele tipo que caía de costas pelo sapo Cocas. Eu sempre preferi as personagens alternativas, aquelas que não eram as preferidas dos demais como por exemplo o “Conde de Contarrr” ou o baterista “Animal”. Os marretas eram um mundo e com uma família tão grande e disléxica, o mais fácil era encontrar e seguir aquele ou aquela que valia realmente a pena. Havia muito por onde escolher.


O filme é muito bem conseguido porque pisca o olho aos dois tipos de fãs: aqueles que como eu vão em busca de um tesouro de infância e aos outros como a minha filha que vão ver apenas os marretas, uns bonecos animados engraçados. E funciona!


Gajos do meu tipo (pais e fãs) vi eu no elenco onde brilhou o grande Dave Grohl que se celebrizou enquanto baterista dos Nirvana e é hoje o frontman dos muito célebres Foo Fighters ou o célebre Jack Black que para além de músico é também um cómico e um actor com um humor sarcástico brutal que brilhou por exemplo na “School of Rock”.


A pergunta que formulo no título do post e do texto faz sentido porque sei que o filme já estava em exibição há alguns dias e a sessão era de tarde, num dia de semana, que não ajuda nada mas ainda assim, éramos as duas únicas almas na sala que mais parecia privada e assim teria ficado até ao final não tivéssemos tido a companhia de um pai e uma filha que eram parecidos com a nossa dupla mas ali era tudo muito mais evidente porque acho que aquele paizinho deixava transparecer que ali o fã era só um (ele!) quando se começou a rir à gargalhada com a pequena já a dormir mais de metade da película no seu colo.


Das duas uma: ou a indústria cinematográfica se consegue adaptar aos tempos que vivemos e consegue uma forma de distribuição caseira onde pode faltar tudo resto mas se tem o conforto do lar, ou então tem os dias contados. É inconcebível ser de outra forma. Para vermos este filme tivemos de fazer uma deslocação enorme ainda por cima paga na A23, tivemos de almoçar fora, tivemos de comprar os bilhetes mais umas pipocas e um copo de souvenir que ainda hoje é o seu de eleição por onde bebe tudo (incluindo água), tivemos de estar dispostos a perder um dia, tivemos…


O cinema começou e tornou-se tão popular porque era fácil, porque era acessível, porque fazia sentido. Hoje em dia, com as enormes tecnologias domésticas que existem, não era necessário tudo isto, tudo podia ser pensado à escala do mundo que temos. Para quê passar os filmes apenas desta forma e não democratizar e tornar mais rápido o circuito de distribuição? Porque não criar um videoclube na televisão por cabo onde não de demore tanto tempo a ver os filmes que realmente se querem e se pague pelo serviço para que se cortem as piratarias? Porque não reaproximar o cinema das pessoas?


Se assim não for, se não se andar o caminho que há que andar, se não se encurtarem os prazos de estreia e se não se trabalhar para chegar a todos mesmo que se perca qualidade de exibição, o cinema deixa de fazer sentido pelo menos nas zonas longe das grandes cidades e o mais certo é morrer de vez.


Oxalá que não mas há tanto para fazer…



2 comentários:

Helena Barreta disse...

Não é só no interior do país que, durante a semana, as salas de cinema estão vazias. Bem pertinente a sua dúvida.

Um abraço

caisasousa disse...

Tão bom ler-te. Também nós fomos ver os Marretas, no dia de anos do meu mai velho. Uma segunda-feira (dia premium do cinema de outros tempos)e aqui a senhora até os reservou com medo de não ter lugar. Eramos nós e mais duas famílias...Mas fica a herança: turutururu nananana, turururu, nana nana! beijos