É claro que eu, como toda a gente, me preocupo com o dinheiro. Sempre me preocupei mas agora que somos todo o dia bombardeados com notícias sobre a crise, sobre a falta de trabalho, sobre o problema em que se encontra a Europa, ainda pior!
Graça a Deus, e já agora, a nós próprios que nos fartámos de estudar e pedalar para chegarmos onde estamos, podemos perfeitamente viver contando apenas connosco. Saber gerir a “coisa”, o “barco”, e tendo duas filhas catraias a nosso cargo, não é tarefa fácil mas com muito boa gestão e com os pés sempre assentes na terra, tudo se organiza e se leva da melhor maneira. É certo que nunca fomos de grandezas nem tampouco de gastar aquilo que não tínhamos, por isso tem sido tudo tão fácil.
O patrão Estado, que é o nosso (dos dois!), tem-se portado sempre bem e nunca tem deixado que falte o “mais que tudo” à mesa, mas é importante que estejamos atentos porque o cerco tem-se vindo a apertar e está cada vez mais fechado. Primeiro acabaram com os dois vencimentos extra que tanto jeito davam e nunca caíram da carteira. Agora falam de ir cortando o pessoal nalguns institutos públicos (sendo certo que nalguns havia mesmo muita gente a mais), falam de aumentar a idade de reforma, falam de muita coisa sendo certo que as notícias são para pior e deste lado não se pode mesmo esperar que venha nada de bom.
O melhor é irmo-nos preparando para tudo e estando nós aquartelados e com a despensa de mantimentos cheia, nada nos assusta ou mete medo.
É por isso que sempre que podemos devemos cortar em tudo aquilo que é supérfluo ou passível de poder vir a ser considerado excedentário. Foi o que aconteceu aqui em casa há dias quando reuniu o Conselho Interno de Economia composto por mim e pela minha esposa com a assistência das duas pequenas: uma que tem a mania que quer ser grande e pensa que somos ricos e a outra, coitadinha, que de tão pequenita e alheia a estas questões de adultos que não têm nada de interessante e só aborrecem, se fartava de olhar em volta a ver se arranjava uma coisa mais engraçada para se entreter. Desse dia constava da ordem de trabalhos, uma análise dos gastos diários e sobretudo um estudo mais profundo sobre de que forma é que a fatura de televisão se poderia encolher. Realmente, pagar quase 100 euros de meo era um pouco excedentário e não fazia muito sentido. Assim sendo e concordando com o exposto, eu próprio dei o corpo às balas e ofereci de bandeja o corte da chamada “televisão dos ricos”, ou seja, a Sport tv. Eu nunca fui um daqueles loucos por ver desporto e sou sincero: tirando os jogos do meu Benfica que seguia sempre com enorme atenção, tudo o resto que passava naquele canal me passava ao lado. Não passava manhãs, nem tardes e muito menos noites a visionar o “dito cujo” pelo que não foi uma daquelas medidas que me custasse mesmo muito. De resto, há sempre a possibilidade de me deslocar a um café para ver o jogo com companheiros, ir à casa de um amigo que tenha o canal, ou mesmo juntar-me ao meu sogro cujo fervor clubístico nunca permitiria um corte deste natureza. Perde-se o conforto caseiro mas não se perde mesmo tudo e até se ganha aquele espírito que havia antigamente quando se seguiam os relatos pela rádio no café da terra. Do mal o menos!
O corte na fatura da televisão ainda passou pela redução do número de canais mas aí sou-vos sincero se disser que ainda estou para descobrir quais foram os canais que desapareceram porque ainda estou para tentar saber quais foram. Tirando os generalistas que acompanho sempre, não temos assim em casa especial predileção por nenhum à exceção da minha Leonor que certamente fugiria de casa se deixasse de poder ver o Disney Channel que consome até à exaustão e que tem sempre a gravar mesmo quando está a ver. Se há canal intocável aqui em casa, esse é certamente o único.
Isto também levou-me a pensar um pouco mais profundamente e refletir um pouco na natureza da pessoa humana. Eu explico: quando era criança e me deslocava a Idanha para visitar os meus avós maternos, visitávamos sempre a casa da avó velhinha (bisavó) e ainda hoje me consigo lembrar como era. Recordo-me que era uma casa pequenina onde tudo tinha o seu lugar com primor e higiene mas mais parecia uma casa de bonecas: não faltava nada mas era ali evidente que ao aproximar-se do fim da vida, a pessoa tinha a tendência para se ir despojando de tudo aquilo que lhe fosse acessório, de tudo aquilo que não lhe fizesse realmente falta.
A minha casa (e nem sequer falo do sótão!) está hoje repleta de cds, filmes, livros, revistas… enfim, coisas das quais eu sinto imensa falta mas que não fazem falta nenhuma. Vistos uma vez, ouvidos uma vez, lidos uma vez, são guardados porque é uma forma de os mantermos, de fintarmos assim a nossa finitude. Vejamos o caso dos filmes, por exemplo. Todos os dvd que guardo são filmes que de uma forma ou outra mais me marcaram. Tenho os todos os Lynch, os Tarantino, os Burton, mas também alguns que me marcaram pelos atores, pela história, enfim… filmes da minha vida que já foram todos vistos mas que me confortam desde a prateleira porque basta-me olhar para eles para os relembrar e ao recordá-los, reviver também algum momento da minha vida em que os vi. Podia perfeitamente passar sem eles mas vê-los ali fisicamente faz-me sentir bem, mais seguro. Estranho, não é? O mesmo digo dos discos, dos livros, dos objetos porque por mais significado e valor emocional que tenham não passam apenas disso, de serem coisas que só têm valor pelo valor que lhe atribuímos. Ainda assim, cá ficam e cá permanecendo, acabam também por fazer parte de mim. Estranho mesmo!
1 comentário:
Aprendi com os meus pais que não devemos viver acima das nossas possibilidades, ganhando 100 não se pode gastar 200. Ainda bem que lhes dei ouvidos.
Mas sim, há que fazer ajustes e cortes naquilo que é supérfluo.
Um abraço
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