quinta-feira, 26 de abril de 2012

O "nosso" São Marcos

 





As festas da minha terra, em honra de S. Marcos que ontem tiverem aquele que era habitualmente o seu dia grande são o espelho mais que evidente do estado em que se encontra o nosso país relativamente a muitos aspetos. Tudo depende do ponto que lhe pegarmos mas é assunto para nos entreter muitíssimo e bem vistas as coisas, “dá pano para mangas”. O “S. Marcos”, pura e simplesmente passou. Passou quase sem que tivéssemos notado.

É certo que nunca foi assim uma festa grandiosa, daquelas de “encher o olho”, mas pelo menos tinha outra dignidade. É certo que aqui temos de estabelecer uma linha divisória entre a festividade em si e a sua componente religiosa porque nesse aspeto, desde que as pessoas queiram e mantenham a sua devoção, tudo pode permanecer inalterado.

À festa faltaram as pessoas, meus amigos, as populações e quando assim é, o natural é que as coisas vão inexoravelmente caminhando para o seu fim mas é assim e contra isto não há nada que possa servir de arma de arremesso ou motivo contra.

Eu ainda me lembro de grandes festas do S. Marcos em que vinha muita animação, muitos amigos chegados de todos os pontos do país, muita gente. Vinham os carrinhos de choque com uma pista enorme que levava dias a montar, diversos carrosséis para os mais pequenitos, inúmeras barraquinhas de tiro, divertimentos diversos e nunca faltava o belo do algodão doce e a fartura. Era uma festa com tudo, como devia de ser, com princípio, meio e fim. Agora é uma festa que só serve para quem se lembra recordar como foi no passado.

Neste ano, apenas assisti ao grande festival taurino organizado pela Casa do Povo a favor da construção do lar de idosos e que como era uma homenagem póstuma ao Amigo Lourenço Mourato, grande impulsionador e divulgador da festa brava recentemente falecido, teve um cartaz absolutamente único que reuniu as dinastias Moura e Bastinhas, Tito Semedo e ainda Luis Procuna que deu um ar da sua graça no toureio a pé. Foi uma oportunidade verdadeiramente única de homenagear um grande homem e creio que a grande afluência da assistência que acorreu em grande massa se deveu também a isso.

A outra única ocasião que me levou sair de casa foi o espetáculo noturno de “Estrelas da nossa terra” no qual as crianças da nossa escola atuaram, cantando e dançando, cobrando um valor simbólico de entrada para ajudarem os finalistas que tiveram todo o trabalho de encenação e organização. Coisa de nível feita com a prata da casa que também encheu a sala do Grupo Desportivo Arenense com pais e familiares desejosos de verem os seus pequenos brilharem. Foi a oportunidade que tive de ver a minha Leonor cantar o  “Fon, Fon, Fon” dos Deolinda quando em casa nem sequer nos deixava assistir aos ensaios. Esteve muito bem como aliás estiveram todos os miúdos que não se limitaram a fazerem as poses e a mexerem os lábios, mas que deram o corpo ao manifesto e cantaram mesmo. Bem ou mal, mais ou menos desafinados, mas presentes de carne e osso, ao vivo para o que desse e viesse! Gostei de ver e como eu, creio que toda a plateia que aplaudiu de facto, convicção e gostou.

Foi um S. Marcos pequenino, dos”300” como é a nossa imagem de comunidade atual, mas um S. Marcos resistente, um S. Marcos que ainda persiste, apesar de tudo. Até quando já não sei e isso se calhar era uma conversa que nos podia levar longe sobre o futuro destas localidades pequenas no interior perto da fronteira.

Ontem à noite, bem perto da meia-noite, quando já na cama, ainda ouvi os foguetes que cruzavam os céus, encerrando os festejos e relembrei os grandes fogos de artifício e as grandes noites de outrora que já não voltam nem se repetem. Tempos de mudança em que assistimos ao fim da linha, ao fim de um mundo que também é o nosso e do qual também fazemos parte.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Façamos votos que as "Estrelas da vossa terra" queiram continuar a organizar e a participar na festa.

Parabéns à Leonor e a todas as "Estrelas".

Bom fim de semana, um abraço