quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Da saúde… enfim, o folhetim

Foto tirada há minutos, a cavalo na sua prateleira.
Está de volta! :)
Folhetim que para ser compreendido,

deve ser lido a começar pelo fim. 

A reclamação


Movido pelos comentários de todos vocês, e muito em particular pelo meu amigo e antigo colega de Rádio São Mamede, Ilídio Pinto Cardoso, cuja abordagem do assunto me foi contada pela minha Cristina à hora de almoço enquanto bebíamos café… lá concedi e esbocei uma reclamação que me dei ao trabalho de ir a Castelo de Vide escrever no livro amarelo. Como cheguei faltavam já 10 minutos para as 19 h, o espaço para a redacção era diminuto e as senhoras da receção não tinham culpa de nada, tive de abreviar e mesmo assim terminei quando já passavam 10 minutos das 19h. Outra vez, as minhas desculpas para elas e para o Dr. Vitoriano que, coitado, me deve ter visto com um ar tão compenetrado e sorumbático que deve ter estranhado. Realmente, o Pedro é mais alegre mas doutor… a missão era séria. J Te invitaré a una cerveja para encerrarmos la question. Amigos como dantes. Vale?

E dizia assim na íntegra, antes das amputações que fui obrigado a fazer no momento:

Pedro Alexandre Ereio Lopes Sobreiro, cidadão português nº 1------3 com o número de identificação fiscal 2------5 vem reclamar da seguinte situação:

Ontem, dia 19 de Agosto de 2014, pelas 18.45h deu entrada no Centro de Saúde de Castelo de Vide, o mais próximo da sua residência em Santo António das Areias - Marvão, para que a sua filha Alice Lança Sobreiro de 4 anos de idade pudesse ser consultada. A criança tinha temperaturas muito altas, que se manifestavam desde a noite anterior, e a garganta muito inflamada com pontos brancos, apesar da medicação que lhe estava a ser administrada desde os primeiros sintomas. Não tendo melhoras e supondo que necessitaria de um fármaco mais potente (antibiótico), deslocou-se ao sítio que pensava certo para obter o receituário credenciado que lhe permitisse a aquisição de um apropriado numa farmácia.

O médico de serviço em Castelo de Vide, Dr. Rui Alves segundo a informação do pessoal administrativo de serviço, negou-se liminarmente a ver a criança, apesar da tenra idade desta, por ainda ter dois ou três pacientes na sala para consultar.

Tal intransigência obrigou à deslocação ao Hospital Distrital de Portalegre, o que nos obrigou a percorrer mais de 50 quilómetros e a obter o receituário apenas por volta das 9 horas da noite. Chegámos a casa depois das 22h, quando tudo poderia ter sido muito mais célere. Nem o facto de termos entrado ainda bem durante a hora de serviço, com o centro com a porta aberta, fez com que fossemos atendidos.

Reclamo superiormente no primeiro dia em que tive oportunidade para que haja sanções disciplinares e para que esta situação não se repita.

Eu sei que há e conheço muitos médicos altamente profissionais e extremamente competentes, dos quais sou ou passei a ficar amigo pessoal durante a vida. O meu médico de família é o Dr. José Silva, oriundo de Espanha, um homem e um profissional exemplar. O seu colega Dr. Vitoriano é outro profissional de exceção vindo do país vizinho. Sei que não são os únicos médicos de categoria a trabalhar entre nós. Mas são médicos como este que não quis atender a minha filha que revoltam as populações e as colocam contra a classe médica.

A última reclamação que foi feita pela minha esposa há anos atrás, não surtiu qualquer efeito, o que gera um sentimento de impunidade na classe; e um outro de revolta na plebe, de onde sou e onde me incluo, com muito orgulho. Não tenho grandes posses mas tenho a riqueza da escolaridade, sou recto e honesto.

Faço esta reclamação para que os justos não paguem pelos pecadores.
Faço esta reclamação em nome daqueles que têm voz mas não sabem falar.

Tenho dito.

E obviamente aguardo resposta.

Respeitosamente, sem mais,

a sentir-se determinado.

Ontem por volta da meia-noite


Amigos e Amigas: muito obrigado pela força de todos. Quando comentei a situação no Hospital de Portalegre, só me apetecia desabafar. Agora, já em casa, depois de muito bem atendido por uma médica de meia idade (um pouco mais que a minha, só um pouquinho…), sinto-me reconfortado. Sinto-me bem.

A jornada terminou já bem depois das 8 e meia e ainda teve uma nuance maravilhosa. Depois do antibiótico e do Ben-u-ron da praxe para a garganta muito inflamada, (sendo os supositórios, por vontade dela, só prá reserva e em ultimíssimo caso), perguntei à senhora do guichet quanto havia a pagar (não fosse o diabo tecê-las) e qual era a farmácia de serviço na cidade, capital de distrito.

- Alegrete.

- ALEGRETE?!?!? (por Deus! Estarei bom da pinha?). A senhora disse…

- Alegrete. Ouviu bem.

Ainda olhei à volta para ver se havia alguma câmara para os apanhados mas aquilo foi mesmo de verdade.

Parei a realidade e fiquei um minuto a pensar em câmara lenta. Em Castelo de Vide fazem-me aquilo, aqui fazem-me isto… começo já aos gritos e sou internado no hospital dos malucos ou meto já uma pastilha debaixo da língua?

Ligámos a amigos que são muito amigos da dona de uma farmácia amiga de há muitos anos e fomos à vila desenrascar-nos. E que bem desenrascados fomos. Como é bom ter amigos e poder contar com eles quando fazem falta. Obrigado Dona Cinda. Obrigado Nandinha e Nani.

A Alice já dorme. Em paz, medicada e longe disto tudo.

Tudo está bem quando acaba bem.
 

 a sentir-se reconhecido.

Ontem, quando faltavam 10 m. para as 19h, ou quando se deu o caso.


O dia de trabalho estava a minutos de terminar e um telefonema de casa deitou por terra o descanso que previa. Afinal a Alice estava pior da febre que a atormentou toda a noite e até levou a um duche frio durante a madrugada para a temperatura baixar. Pontos brancos na garganta remeteram de imediato para Castelo de Vide e o Centro de Saúde mais próximo. 

Là chegados, a funcionária torceu logo o nariz. Ainda havia 3 ou 4 pacientes por atender e faltavam 15 minutos para as 19 horas. "Vou ver, mas...", como que encolhendo os ombros. Eu sei e a mãe sabe que a culpa não era sua nem dos seus colegas.

Ainda assim aguardámos alguns minutos até que pouco tempo depois chegou o veredicto de sua eminência chamada (doutor?) Rui Alves que nos mandou encostar à box. Nem por ser uma criança, nem por ser antes das 7h, nem por ser um diagnóstico fácil de fazer e uma prescrição ainda mais óbvia se moveu. Um NÃO e está feito. É mais fácil assim.
A Cris ainda pensou em reclamar, porque tínhamos entrado durante o horário de abertura mas bastou recordar-se da última que fez e não deu em nada para se demover.

É esta, alguma da classe médica que temos, que se julga dona e senhora de tudo, que faz o povo revoltar-se. Por uns minutos...

Eu podia ter-lhe feito uma espera, uma decoração no carro ou noutro sítio qualquer onde libertá-se o meu desagrado. Mas eu não sou dessa estirpe. Apenas grito aqui e sinto-me mais aliviado com isso.

O que assusta neste país cada vez mais bomba-relógio é que os médicos pecadores pelos quais pagam os justos são cada vez mais; e os portugueses capazes da minha reação são cada vez menos.

 — a sentir-se embasbacado com o país que temos.

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