domingo, 19 de agosto de 2018

Grandiosa corrida de toiros em S. A. Areias de homenagem a Fernando Andrade - 14 de Agosto de 2018



Homenagens, cá para o vosso Tio Sabi, é para serem feitas em vida, quando o homenageado ainda se encontra entre nós. Póstumas, depois de um gajo ter batido asa, é quase como tocar os sinos a rebate para que acudam, depois de o fogo ter devastado tudo.


Por haver mais gente a pensar como eu, é que esta grandiosa corrida de toiros no dia 14 de Agosto, na Praça de Santo António das Areias, promovida pelo agente Nuno Narciso, registou aquela que foi segundo o speaker de serviço, o Homem destas lides, o jornalista Hugo Teixeira, uma das maiores afluências de que há memória.



Mais que merecida, digo, eu. Os touros, as touradas e a forcadagem, acabaram por ser o trampolim para o Fernando se afirmar e mostrar ao mundo, aquilo que verdadeiramente é: um ser humano bom, com tudo o que isso quer dizer. E é assim, não por que tenha sido, ou assumido uma posição qualquer de destaque, seja onde for, mas porque é genuinamente bom, com toda a carga positiva que isso trás atrás.

Conheço-o há tantos anos, quantos me lembro de mim. Acho que desde sempre.
O Fernando, quando éramos mais putos (embora me leve uns 7 ou 8 anos, creio eu, capazes de fazer dele um Homem, quando eu não passava de um puto charila), era assim um grandalhão, um calmeirão cá de Santo António. Mas tinha tanto de grande, quanto de bom. Nunca fez, nem nunca o vi querer mal a ninguém.

Para explicar tudo a quem possa não saber nada disto, ou para recordar a quem já sabe, a história do Fernando com as vacas, para mim, começou bem lá atrás. Quem conta um conto, acrescenta, ou retira um ponto, de acordo com a visão que tenha das coisas, e é importante que eu aqui, na minha tabanca internáutica, confesse que relato sempre as cenas à minha maneira.

O Fernando, de grande, gostando de festas e bichezas, dedicou-se às touradas à vara larga. Bem, o mano aquele, deve ter pegado umas centenas largas de cornos! Não deveria de haver seguramente, nos seus tempos áureos, festas e romarias com garraiadas nas redondezas onde o homem não estivesse presente. Diz que o seu pai também era assim. Disto já não me lembro bem, porque me recordo do senhor assim doente… quase invisual por causa dos diabetes.

O Fernando era tão superstar que o Grupo de Forcados Amadores de Portalegre, o perfilhou. Isto já não sei bem se foi por iniciativa deles, ou do Fernando, ou de alguém que serviu de mediador. Mas a verdade é que pelo amor à camisola, subiu à 1º divisão e andou por lá imenso tempo, que deixou não sei bem, se por motivos de saúde ou outros.

A verdade é que o Fernando tem passado menos bem nos últimos anos, muito devido à forma como a diabetes o tem atacado, e afetado a sua capacidade de visão. A diabetes que parece que é banal e trivial, é uma doença verdadeiramente terrível, e, como tem assolado diversas pessoas da minha família que me são muito próximas, queridas, e que amo muito, sei do que falo. Das doenças que não são ruins ao ponto de nos tirarem o bem mais precioso que é a vida, é das piores. Diz a net que a Diabetes é uma doença crónica, onde a quantidade de glicose no sangue é muito elevada porque o pâncreas não produz qualquer insulina ou não produz insulina suficiente, para ajudar a glicose a entrar nas células do corpo - ou a insulina que é produzida não funciona adequadamente (conhecido como resistência à insulina), a filha da puta!, mas a diabetes, e atenção que há muitos tipos de!, é verdadeiramente limitadora e terrível: tudo o que se come, o que não se come; o que se bebe; ou inclusive, tudo o que se pensa, influi nos níveis e pode influenciar o ecossistema que é o nosso organismo. Os diabetes, como o povo tradicionalmente se refere a ela, ou eles, afetam… tudo! Pés, pernas e outras partes do corpo que tantas vezes são amputadas devido a degradações provocadas por esta doença, e a visão também, são dos seus alvos preferenciais. Ao Fernando, caiu-lhe esta rifa de desgraça, que ele não merecia, de todo.
  




Olé torero!

Esta tourada de homenagem foi uma ideia grandiosa pois, que faz sempre todo o sentido. Se há um homem que se dedicou afincadamente a uma atividade, não há coisa mais bonita que os seus colegas o homenagearem, juntando-se para lhe prestar tributo. Fiquei foi sem saber bem se aqueles 20 euros que se pagaram por poder entrar, reverteram de alguma forma para o homenageado, porque faria todo o sentido que assim fosse.
- “És parvo?!?!?!? Tu sabes o dinheirão que custa fazer uma cena destas?!?!? Só em cavaleiros, touros e…”, diziam-me.
- “Epá, eu sei, mas faria todo o sentido, não achas? Não digo que seja todo, mas uma percentagem, um pouco que ajudasse a melhorar a situação económica do Homem que esteve na base tudo isto… faria todo o sentido. Pelo menos cá pró dROCAS…
Não deve tomar banho em dinheiro como o tipo Patinhas, e… era merecido! “

A tourada esteve impecável, foi muito bonita, animada e teve de tudo, para um leigo na matéria. Não percebo muito mas curto imenso ver aquilo tudo, devo confessar, e acho belo o bailado dos cavalos à frente do bízaro, toda a performance dos cavaleiros enfiados em fatos todos floreados e rococó; bem como as grandes demonstrações de bravura dos forcados, que se agigantam por vezes de corpos tão franzinos para dominarem a massa bruta preta.



Grande Bonacho, a brilhar a cada toque!
Até dava vontade de ficar a ouvir os seus repenicados















Todos os grupos foram dedicar pegas ao Fernando, e tão feliz que ele deve ter ficado. Tão reconhecido, tão amado, como quando deu a volta à praça, aos ombros dos seus colegas e amigos. Que merecido foi.


Naquela noite, o que causou algum transtorno e celeuma, foi a procissão das velas que antecedeu o espetáculo taurino. Pois… leram bem. Mas ainda assim, vou repetir: a procissão das velas que antecedeu o espetáculo taurino. Esse foi um… pormenor (se é que se pode chamar assim ao que ali se passou) que foi menos feliz. Na verdade, não percebi.
Atenção que eu sou cristão, mas sou um cristão-novo, como já tive oportunidade de explicar aqui no blogue, e não me vou repetir para não cair no erro de me tornar pesado. Sou cristão mas… ia dizer, cada macaco no seu galho, o que não fica nada bem porque o assunto é sério, mas vocês já perceberam a ideia. Eu sei que o pessoal das touradas é todo super-religioso, cheios de capelinhas, santuários, rezas e superstições, o que não é, de todo, de estranhar, porque quando um gajo tem de entrar na arena com os tintins bem apertadinhos em maillots coloridos, e vê chifres movidos por comboios de força e carne a fazerem razias aos ditos cujos, tem que se agarrar a qualquer coisa, não é?!?!? Um homem não é de ferro. Aqui, antes fosse!  
Dizia eu que, de modo politicamente correto, cada o seu a seu dono. Ali, acho que o processo religioso não era oportuno, e a forma como tudo decorreu, só veio reforçar esse sentir.









A noite começou como se fosse uma procissão das velinhas, qual mini-Fátima em plena praça de touros de Santo António das Areias, com as bancadas adornadas pelas luzes acesas, e… pelos flashes dos telemóveis, que a tecnologia é muito boa quando conseguimos colocá-la ao nosso serviço. A música era… a certa, como se pode comprovar pelos vídeos, mas com tempos que… deixaram muito a desejar. É que em vez de terminar quando deveria, seguia em repeat por tempo indeterminado, dando a sensação que estava ao desgoverno. Um pouco como o sistema sonoro que não conseguiu fazer chegar às bancadas, as orações e as palavras do nosso Padre Marcelino.
Ora eu acredito que este Padre Marcelino foi uma figura fantástica que nos caiu aqui em Marvão, cujo dinamismo e espírito muito têm dinamizado o nosso tecido religioso. A ideia, caso foi sua, ou tivesse ela sido de quem fosse, seria certamente a melhor. Mas… infelizmente, não passou disso. O que foi pena e algo confrangedor, foi ver tudo aquilo. Não sei qual o intuito, mas sinceramente preferia que não tivesse acontecido. Quando mais não fosse, porque aquele espaço é onde se maltratam animais, e… parece-me a mim, que perante Cristo, todos os animais têm a sua dignidade, que deve ser respeitada. Por mais bruto e selvagem que se seja, não deve ser nada agradável ser espetado com farpas nas costas que devem doer como o raio. Se eles os do PAN e os ativistas anti-touradas tivessem sabido disto, deveria de ser lindo, deveria…


Embora ache, mas isso sou eu a achar, não liguem! que as pessoas que na sua liberdade optaram por não acreditar em acreditar, não têm legitimidade para criticar o que ali aconteceu. Não é do seu ramo, não é da sua índole, não é do seu foro, e assim, acho que devem “viver, e deixar viver”, dando margem à tolerância intelectual. Para mim, é assim.

Do Fernando não quero terminar sem contar duas histórias fantásticas, pelo menos para mim, que tenho e guardo com carinho dele:


1 – Certa vez, estava eu a viver a minha adolescência pós-casamento prematuro aos 24, surgiu a oportunidade, ou o convite para ir à célebre “Ruta de las Cañas”, a Valência de Alcântara”, Espanha. Se bem me recordo, creio que o meu amigo António Garraio, um dos portugueses mais espanhóis que conheço, esteve envolvido no processo, que consistia num rally das tascas muito popular naquela localidade extremenha. Tudo consistia em visitar os diversos estabelecimentos da terra, num percurso pré-definido, provar e avaliar a qualidade da imperial servida (a tal caña), bem como o petisco que era servido de acompanhamento que, nesse país, nisto, muito mais desenvolvido que o nosso, nunca se serve um copo sem que se tenha o cuidado de meter um petisco, para “matar o bicho”, e “fazer a cama”. Pagava-se um x à cabeça, e depois era bar aberto em qualquer um. Até derreter!
Essa “Ruta de las Cañas”, muito popular entre uma certa juventude do sítio, situada entre os 25 e os 35, que habitualmente estudava nas universidades de fora, era um espaço fantástico para se fazerem amizades, e tantos que eu lá fiz que nunca mais me lembrei deles, assim que me passou,        
Ora a mim, creio que muito pela posição de relevo que eu detinha aqui na vice-presidência da Câmara, deram-me logo o papel de júri. Ou seja, eu era um dos 6, 7, ou 10, já não me alembra bem, que deveriam votar, escrevendo a giz, numa tábua que me tinham entregue, a classificação do espaço visitado, atendendo a todos os itens a avaliar, que iam desde a frescura do néctar, à higiene, simpatia do pessoal, e qualidade do petisco, entre outros. Ora, se isto foi bem à primeira, à segunda, ou até mesmo à terceira, a partir dali resvalou de tal forma que eu tive de tomar a decisão de me libertar dessa responsabilidade, e decidido fazer a “Ruta Freeestyle”, ou estilo Kamikase, mandando logo a tábua pontual às urtigas! Dali para a frente, foi só curtir! E há imagens que ficaram gravadas na minha memória, entre muito boa disposição e gargalhada: a de quando elegeram uma jovem para ser a santinha/rainha do evento, por ser a mais bebida, que entrou com um véu santificado na cabeça no bar do “El Clavo”, num andor levada por 6 colegas escolhidos aleatoriamente, estando ela completamente fora; das imperiais que jorravam das bocas nesse último bar, em série, em filas, ao ponto de encherem o balcão, bem como da forma como se esfumaram naquelas muito mais que 100 bocas; e da prestação única do Fernando Andrade!

Sabendo ele de afición que se vive por aquelas bandas, e sendo ele um Homem dos Touros, levou uma capa de toureio que desfraldou na Plaza del Município, enquanto fazia golpes de toureio, como se estivesse a hipnotizar um bicharro de mais de 600 quilos fictício, de forma que ia levando à loucura em olés gritados a plenos pulmões, as muitas passarinhas loucas de desejo que ali se encontravam. Fiquei com a sensação que caso ele quisesse, e tivesse vagar, poderia ter ido com elas todas para a cama naquela noite, sozinhas, ou mesmo em grupo, que estavam tão derretidas que estavam capazes de aguentar tudo. O Fernando, fazia a cena dele, brincar com a capa, e ria-se. Nós, galifões, queríamos ficar bem vistos por sermos amigos dele, claro!

2. A outra memória que guardo, também foi desse género, dos momentos altos da minha loucura teenager tardia que, graças a Deus, me passou de um momento para outro, ou melhor, de uma noite para a outra, no fim 30 de Julho de 2011. Para festejar quando ganhei a vice-presidência da câmara, em 2009, decidi dar para os meus 10 ou 12 amigos mais chegados, um petisco de camarão cozido, frito, e grelhado; no snack-bar “O Adro”, do nosso saudoso amigo Sérgio Bernardo. A “Real Tertúlia do Camarão de Marvão”, assim e ali fundada, durou diversos anos, a reunir uma vez por mês, sempre às quintas-feiras, que era um dia que ninguém desconfiava. Acabou quando eu quase acabei, e desde 2011, nunca mais se fez nada, mas houve alturas, em que o puto meu irmão Miguel Sobreiro, fundou uma sucursal no Algarve, que chegou a reunir, lá e cá. Nessas alturas, sede era coisa que não convinha passar, e a edição de cá de Marvão, depois de um magnífico almoço no “Bar da Olga” do Prado, e de uma visita ao Castelo para os algarvios saberem que isto do PORTUGALO é muito mais que praias, fomos todos cair numa tourada que houve na Praça de Santo António das Areias. Medo!

Ali, embuído do espírito Tertuliano, cheio de orgulho e alegria, o dROCAS Sabis agigantou-se: quis pegar um touro! Bem… eles dizem que era uma vaquinha… ou melhor, um bezerro. L
Mas então, se assim era, pergunto eu, porque motivo fugiam dele?!?!? AHAHAHA….

Bom, até posso conceder que não era muito grande mas o cabrão, era esguio e marrava torto que se fartava.
Eu encaminhei-me para ele, e disse: “ EH! Eh! TOURO LIND… OU BEZERRO LINDO, OU LÁ AQUILO QUE TU ÉS: MARRA AQUI NO SABI!!! (baixinho: devagarinho para não magoar… L )
O Andrade esteve sempre atrás de mim, a dar-me força: vai lá Fabiano! Não tenhas medo que eu estou aqui!

A pena de naquela altura ainda não haverem smartphones, e ninguém se ter dignado a filmar… Teria sido lindo! Bom, a verdade é que depois de me ter enchido de coragem, de o ter agarrado À PRIMEIRA!!!, e o ter bem seguro, tive de o largar bem, não é?
Agarrado aos cornos, a querer-me deslargar, a precisar de ajudas… e só me lembro do malino do Andrade, nas minhas costas, dizer para os outros que lá estavam: deixem-no aí! Ele que se desenrasque sozinho!, enquanto se ria…

AHAHAHAHAHAH! Muito bom!!!!!

Pois nesta noite de 14 de Agosto, ao terminar, houve tempo para uma massa frita para os miúdos e… para ir ver dançar flamenco!


Junto ao cruzamento, montaram a barraca da Câmara, para uns jovens não sei “dáonde” virem fazer uma demonstração de flamenco.
“Fiasco!”, diria eu à cabeça, pensando que depois da tourada, a malta quer é ir para casa, apesar de no dia a seguir ser feriado, e está-se pouco a marimbar para as danças.
Maluco!, e nada mais errado!
Mais uma aprendizagem nova de eventos culturais: desde que esteja bom tempo, ou abrigado; se conseguires arranjar um espetáculo complementar relacionado com aquele que as pessoas se deslocaram a ver, por exemplo: toiros-flamenco, e houver cerveja fresca/imperial, será um sucesso. Uns bacanos a bailhar lá ao fundo, e muitas fresquinhas, era o que estáva a dar-

Pois meu Andrade, este texto vai por ti, meu velho! Se alguém a fizer chegar até ti, e a conseguires ler ou te chegar aos ouvidos, eu agradeço!

Do teu amigo “Óóóóó-lha o Migjigy” (como ele me chamava. Abreviatura de Mick Jagger?!?!?!?!?), o irmão do “Pronto a Vestir” (a alcunha do meu mano Miguel).



Sem comentários: