segunda-feira, 26 de agosto de 2019

No 7º céu das 7 Quintas



Vocês já sabem que não gosto de falar do que não sei. Por princípio, é sempre assim. É certo que por vezes sou um bocado expansivo, destemperado, concedo, até talvez um pouco destrambelhado, mas nunca falo (escrevendo) do que não conheço.

Posto isto, tenho de dizer que fomos às “7 Quintas”. Quem tem facebook já sabe. Quem não tem, pode saber agora.

O mano (emigrado em terras dos Al Gharbs) estava cá, a Mãe convidou toda a família para jantar, e nós, fomos.

Já tenho acompanhado à distância, o que por lá se foi passando. Certa vez, num passeio de bicicleta à volta de Marvão, parei-me junto à placa de financiamento, colocada bem à entrada do empreendimento, e por lá vi que rondava algo como os 2 mlhões de euros, tendo a boa da Europa financiado cerca de 80 %, para recuperar uma série de casinhas de campo nas redondezas, e o lagar junto à Fonte da Celorica, que sempre conheci decrépito, abandonado, sem atividade; para ali instalar um restaurante de referência da parte norte do concelho.

De facto, enquanto circulava pela vila, e tomava café, por exemplo; fui acompanhando como um pequeno exército de profissionais dos ramos elétrico, de refrigeração, de trabalhos de maçonaria, e carpintaria, se ia cruzando, por lá. Mas nunca fiz ideia do que ali estaria de facto.

O que eu sim fui vendo à distância, e até apreciando, confesso, foi a notável campanha publicitária que se foi corporizando na página oficial do projeto, e na aplicação do facebook, que a cada publicação, abria ainda mais o apetite, e a vontade de ver e conhecer.



O povo, que é sábio, diz que os olhos são os que comem primeiro, e neste caso, não só se confirma, como não poderia ter melhor auspicio.

Tendo tido conhecimento da enorme procura, sobretudo de comensais chegados do lado de lá da raia, liguei com antecedência para marcar mesa. Procurei o número na net, e do lado de lá, atendeu-me uma voz masculina, muito simpática e agradável, que quebrou o gelo quando lhe disse o nome em que poderia ficar marcada.

- “Não estás a ver quem é que te está a falar deste lado, não?”, perguntou.

- ?

- (risos baixos)

- Eh… Conheço? (voz, e a delicadeza sobretudo, não me eram nada familiares)

- (mais risos) Quem está sempre ligado a isto…?

- (Incrédulo!) Paulo?!?!?!?

- Ehehe… Podes vir à vontade que eu guardo-te cá a mesa…
Mas estás a estranhar porque…

O Paulo Mena, filho de um dos manos Mena, um irmão do Brito, do Dr. Mena Antunes, que foi atleta de corridas do Benfica; é um individuo e uma figura que não se adequava, de todo, ao tom do meu interlocutor nesse então. Um par de anos mais velho que eu, já dentro da casa dos 50, é dono de uma pose e uma postura que não deixam ninguém indiferente. Homenzarrão que aparenta metro e oitentas e muitos, com uma gramagem, que aparenta passar dos 90, e rondar mesmo os 100, tem também mantido uma forma de lidar com os demais ao longo dos anos, que fala por si. Esse ar de lutador de Wrestling não se coadunava com quem estava do lado de lá da linha.
Mas era.

- Então?

- Epá, nada. É uma surpresa!, confessei.


Depois a conversa fluiu para caminhos que nos levaram, pelas muitas pressões que sofreu até ter conseguido levar este barco a bom porto, pelas dificuldades que se lhe atravessaram no caminho, pelo sítio onde trabalho e o relacionamento que tivemos entretanto, mas… tudo está bem, quando acaba bem.

Nessa tarde, por volta das 19.30h subimos a encosta, com vontade de chegar com calma e ir apreciando tudo com tempo. Os acessos, o estacionamento, as entradas, as salas, as mesas, o sítio onde iriamos ficar, e tudo à volta (que pode ser apreciado nas publicações que fazem na intenet)…


Claro que a mesa pensada, na esplanada visível da estrada, seria o local mais aprazível, apesar da temperatura que refrescava com o entardecer. Ali sentados, todos nos deslumbrámos com o que se desenhava à nossa frente: o cair da noite, não no lado mais bonito de Marvão, mas naquele que me diz mais, e é mais “meu”.

Entradas diversas de grande categoria e qualidade, e uma carta que depois de apreciada, revelava muito do que se vai ali passar: uma listagem não muito extensa, mas recheada com pratos muito típicos, nossos, com preços muito em conta, que independentemente de ainda não se saber muito bem se será estratégia de entrada no mercado, ou ser será política a seguir, irá certamente marcar posição no panorama da restauração municipal, para que quem venha por aqui a comer, saiba que do lado de cá do concelho, também se trabalha muito bem a este nível. É certo que existem por aqui referências indiscutíveis de belíssima gastronomia, como o restaurante “Pau de Canela”, o já extinto “Sabores de Marvão”, a inovadora “Mó” ou até outros especializados na dita cozinha tradicional de Marvão como a Casa “Saúl”, ou o café “Costa”, na Ramila; mas toda a gente sabe que o leque forte da gastronomia de Marvão é do lado sul, da Portagem, com os clássicos “O Sever” e a “Churrasqueira do Sever”, a “Casa Mil-Homens”, o “Calha”, e os mais recentes, “J.J. Videira”, “O Tachinho”, “A Tapada do Poejo”, o “Café do Prado – Petiscos da Olga”, “ A Adega” do Porto da Espada, entre outros que eu adoro-os a todos e se me esqueci de algum não foi por intenção e peço desculpa.

O que eu digo é que estas “7 Quintas” vão fazer mossa.

E já estão a fazer! Entre o staff comentava-se entre dentes, o enorme sucesso que o bacalao ha tenido ente nuestros hermanos, que se han quedado de chuparse los dedos. Diz que esgotaram-se sei lá quantas doses, ó valha-me Deus!

Pois a minha rapaziada foi para espetadas, bitoques (a pequenada ainda está a aprender a comer…), e eu rolei de cabeça para o coelhinho com castanhas e arroz com passas… absolutamente maravilhoso (cuja dose rondava os 10 paus e dava perfeitamente para duas pessoas comerem. Como só eu quis, e apesar de não gostar de comer muito à noite, barbeei-o todo, o brrruto!)

A minha mãe reclamou com algum desgosto, senti eu, “pois, só lá em casa é que não comias coelho.”

- O teu mãe… (pensei mas não disse, para não ser indelicado.)

Este… estava magistral!



Os cozinheiros são a filha do Jeremias Marques, o agricultor e produtor que é o meu homem da lenha; e o seu companheiro. Não sei se é ela, se são os dois, mas curiosamente, encontrámo-los fortuitamente no parque de estacionamento quando saíamos, após o Paulo ter tido a delicadeza de nos mostrar os espaços lá dentro, e inclusivamente ajudado a minha mãe a descer as escadas, dando-lhe a mão. As pessoas… com mudam… ou então sou eu que sou ainda mais aparvalhado do que penso!
Pois já que falava com os pequenos, parabenizei-os pela excelsa refeição e sobretudo o coelho que estava… demais!

- Onde é que aprendeste? (perguntei eu à pequena, na esperança de me dar uma resposta que tivesse a ver com a sua estadia no estrangeiro, depois do estudo, ou emigrada…)

- Aprendi com a minha avó!, disse ela, com ar infantil, de netinha que se comportou muito bem, porque caso ela o tivesse provado, teria adorado.

Olhem, o que eu vos digo, é que aconselho o restaurante, e a julgar o resto por esta parte, tudo deve ser maravilhosos e 5 estrelas.

O Paulo disse-me muitas vezes que isto fazia falta a ele que lhe corresse bem, mas que fazia falta a Marvão, e a todos nós.
Eu respondi-lhe que o ter podido jantar, com aquela qualidade, naquele local que toda a vida conheci abandonado, era um bálsamo para o meu orgulho marvanense, e me deixava de peito cheio, como se tivesse muitas ações no investimento!







É de facto deste Marvão que todos precisamos: cuidado, requintado, virado para o futuro, a dar cartas largas e passos de gigante no panorama da oferta turística. Até eu, quando passo por lá de manhã antes de ir trabalhar, paro na Celorica para encher um garrafão de água fresquinha que brota da nascente interna da serra de Ibn Maruan, olho para lá, e regozijo.

Boa sorte, companheiro. Toda a sorte do mundo. É todo um prazer poder ter-te assim.

E um prazer ter podido ter uma noite assim.
  
Convocados pela matriarca Alzira Sobreiro, (a parte possível) do núcleo duro dos Sobreiros, em 2019, somos isto. ♥️ Felizes. Muito felizes... (por estarmos juntos!)

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