terça-feira, 17 de junho de 2008

Remando num imenso azul

Todos os anos me convidam para estar presente na actividade da “Canoagem Adaptada” dos Jogos do Norte Alentejano e todos os anos risco tudo na agenda só para poder estar presente.

Na primeira vez nem sabia bem ao que ia mas depois de ter vivido essa experiência inesquecível, prometi a mim mesmo que nunca mais haveria de falhar.

Para quem não saiba, os Jogos do Norte Alentejano são uma iniciativa da Associação de Municípios do Norte Alentejano (um órgão que congrega todos as autarquias do distrito para a defesa de interesses comuns) que consiste numa espécie de Jogos Olímpicos distritais. Com uma clara vertente lúdica que por vezes faz lembrar outros jogos, os “Sem Fronteiras”, têm o enorme mérito de incitar à prática das diversas modalidades desportivas que neles são integradas, promovendo assim um estilo de vida saudável.

Contando os apuramentos concelhios e as finais distritais, são mais do milhar, os atletas que de Março a Julho se envolvem nas mais diversas provas, muitas vezes pelo puro prazer de participar. Da Malha ao Futsal, da Sueca à Natação, do Tiro ao Ténis de Mesa, da Milha ao BTT e muitas mais, são tantas as modalidades por onde escolher quando a vontade é, mais do que competir, a de estar lá e se deixar envolver.

Os Jogos do Norte Alentejano Adaptados pretendem, como a designação indica, dar oportunidade às pessoas com deficiência de também elas poderem praticar desporto.

As extraordinárias condições da nossa Barragem da Apartadura, mais bonita do que nunca sobretudo quando assim cheia, nestes fabulosos dias azuis de Junho; chama até nós os participantes da “Canoagem Adaptada” que aproveitam ao máximo esta oportunidade de ouro de se poderem recrear com a água, a natureza e o ar livre.

Para compreender um pouco a extensão e a profundidade do que ali se passa não é preciso pensar ou falar mas tão somente olhar, ver e desfrutar. Tocam-nos os pequenos gestos, os sorrisos tímidos, os medos vencidos, os olhares de triunfo e paz no regresso, as gargalhadas e os abraços de alegria e cumplicidade.

E eu penso em como somos sortudos por podermos estar ali e na pena de não poder ter ali muitas mais pessoas para que pudessem também ver como é.

No fundo, são tal e qual como nós. Não são extraterrestres, nem coisas raras como muitas vezes os pintam os estereótipos idiotas. São pessoas iguaizinhas a nós, diferentes nalguns aspectos mas tão semelhantes em quase tudo o resto, a merecerem tantas vezes de cada um de nós, uma outra tolerância, um solidariedade menos piedosa mas mais sincera e sobretudo mais honesta.


Ao recordar esta manhã feliz, faço também a minha vénia aos homens e mulheres que trabalham diariamente com estas crianças e estes jovens, ajudando-os a seguirem as suas vidas com dignidade e alegria. Um trato e uma postura inexcedíveis que eles reconhecem e sabem agradecer mas que tantas vezes não são perceptíveis por todos os outros que vivem mergulhados na voragem dos nossos tempos.













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