sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Crónica dos Bons Malandros


Discordo por completo de quem apregoa aos sete ventos que Portugal está cada vez pior. Qual quê?

Estou farto de fatalistas, de arautos da desgraça, das manchetes escabrosas dos jornais e noticiários, e assim permito-me discordar de quase tudo e quase todos os outros.

E isto porque acredito que ainda existem áreas nas quais o nosso país está claramente na linha da frente da Europa e do mundo, e o exemplo mais evidente está na criminalidade.

Para quem adora o Faroeste e os filmes de cowboys, isto está a ficar engraçado!

Os bandidos portugueses estão cada vez melhores, mais dedicados e profissionais, pá! Deixem-se de merdas! Depois de décadas em que os malfeitores tugas dignos desse nome se contavam pelos dedos de uma mão e parecia que não havia vida para além dos Irmãos Cavaco, vivemos agora um verdadeiro boom de criminosos dispostos a tudo para ingressar no Wall of Fame de Pinheiro da Cruz.

Seja dos bairros de lata das periferias das grandes urbes ou das zonas mais inóspitas e isoladas do interior, há uma nova vaga de pessoal cheio de sangue na guelra disposto a singrar neste difícil e exigente mundo.

Os bandidos portugueses não brincam em serviço e apesar de não haver formação académica específica para a área, não é por isso que deixam de se esforçar e tentar aprender por eles próprios a fazer como se faz, bem e depressa.

E a opinião pública anda de tal maneira desorientada com os pibs e a inflação e as manobras multimédia dos nossos governantes que é incapaz de apreciar todo este novo mundo de oportunidades que surge diariamente.

A Selecção fez um jogo do catano e foi encavada pelos dinamarqueses nos últimos minutos, depois de terem estado o jogo inteiro a fazerem-se de mortos?

A prestação dos olímpicos lusos ainda está por digerir?

A prestação da casa subiu e tornou-se incomportável?

A locadora veio buscar a viatura da família e levou também o periquito?

Não há dinheiro para comprar os bifes do pojadouro que estão nesta semana em promoção no Pingo Doce?

Tudo isso pode infelizmente ser verdade, mas há coisas em que nós portugueses, estamos a melhorar e a perspectiva tem se ser essa: ver as coisas pelo lado positivo e aprender com os que sabem.

Tem a sensação que consegue visualizar todas as notícias do telejornal antes sequer de darem as oito? Eu também e é por isso que sabemos que estamos certos.

Esta então do assalto de ontem à casa do nosso Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, é de bradar aos céus. Numa atitude de antologia a fazer lembrar a cena da cabeça do cavalo morto na cama do mafioso no filme da trilogia dos Padrinhos, mesmo os mais reaccionários têm de concordar que o nível está a subir e o grau está quase insuperável. Ainda por cima são indivíduos cultos e sabem o que andam a fazer. Como estão fartos de ser incomodados por aqueles que não os deixam trabalhar, deram numa de entrar na casa do responsável pelo Ministério Público só para dizer que estão atentos. Cultos e cavalheiros porque como queriam só marcar o território, esvoltearam as gavetas, deram um giro e vieram-se embora sem estragar nem trazer nada para casa.

Os ladrões portugueses têm compaixão e são uma espécie de Robin dos Bosques dos tempos modernos só que esquecem-se de dar a quem mais precisa e ficam como o bolo todo porque muitos deles ainda estão meio crus.

Reparem que esta história do carjacking dá-se maioritariamente com carros de alta cilindrada, não porque sejam mais valiosos mas porque não cabe na cabeça de ninguém ir gamar um Fiat Uno em plenos semáforos duma avenida qualquer e isto porque muito provavelmente o bacano que está ao volante está tão apertado quanto o que perpetua o acto.

Mas há mais… em quantidade e variedade!

Só em Portugal é que lembra um gajo entrar na esquadra da PSP em plena luz do dia, cumprimentar o agente da portaria, entrar por ali a dentro e aviar meia dúzia de barrenos no sujeito que está a fazer queixa dele. Melhor que isto, é deixar-se apanhar, ser presente ao juiz e sair em condicional ainda a tempo de chegar a casa e ligar a televisão para ver no jornal na tarde o estado lastimoso em que se encontra o gajo a quem fez a folha e as imagens de si próprio a sair sorridente do tribunal, com um saco do Mini Preço debaixo do braço. Presumo que já devia ter ido às compras nessa manhã. Não é de classe?

Há dias, passei-me com a história de um indivíduo que enganou meio norte com as suas artimanhas. Uma coisa do arco-da-velha! O gajo limitava-se pura e simplesmente a limpar quem lhe aparecia pela frente com recurso exclusivo à sua “banha da cobra”. Numa peça televisiva de meia dúzia de minutos, entrevistaram para aí uns 5 marmelos que foram enrolados por ele. Alugou um restaurante, nunca pagou a renda e nem sequer chegou a apresentar o sócio que iria salvar tudo; vendeu a um gajo dum estabelecimento uma máquina de Totoloto que este nunca chegou a ver, bem como aos 600 contos que deu de adianto e… a cereja no cimo do bolo, ainda teve tempo de abancar numa esplanada para propor a um que por ali estava se queria entrar num negócio de pássaros exóticos e saiu assobiando com o fundo de maneio garantido por este, para lhe trazer meia dúzia de papagaios e umas araras. Ehehehe! Brutal! Anda prái o Ministério da Cultura a dar bolsas a bailarinos… Isto sim é que era! Caraças!

Isto para já não falar do gang que decidiu roubar o Multibanco de um Tribunal. Estamos claramente perante artistas dignos da Liga do Campeões, gajos para quem limpar multibancos de centros comerciais ou da via pública é um tédio. Como são exigentes, estão-se borrifando para as medidas de segurança e não se coíbem a entrar na própria casa da queixa para trazerem a caixinha do guito. E só não roubaram o Rolex do Juiz porque nesse dia meteu baixa senão também tinha ido de roleta. Classe e estilo!

Noutro dia vi um cavalheiro ali de Cascais, todo distinto, chateadíssimo a dizer que quando todos dormiam lá em casa, alguém entrou e lhe limpou jóias, quadros, peças de ourivesaria e um monte de dinheiro sem ninguém dar por nada. E eu a pensar: “é preciso descaramento! Quer dizer, os malfeitores querem ser simpáticos, exercem educadamente o seu mister sem incomodar quem está e ainda por cima ouvem ralhetes. O que é que o gajo queria? Que o fossem lá acordar para lhes fazer chá com mel para a tosse? Ele há cada um…”.

Passemos agora para o episódio da carrinha da Prossegur, abalroada em plena via rápida: um claríssimo exemplo de como temos actualmente mestres que não se envergonham de estar ao lado de qualquer outro criminoso oriundo de um outro país da UE. A época dos carteiristas do metro do meu tempo de faculdade acabou. Cientes da sua capacidade e do seu estatuto global, os malfeitores lusos já só têm o céu como limite. Rápidos, seguros e metódicos, fizeram o servicinho ao pormenor e bateram asa sem chatear ninguém a não ser o desgraçado que ia lá dentro a ouvir a RFM e levou com uma bazucada pela culatra. Mas a coisa foi propositadamente feita para salvaguardar a vida humana. Quantos se podem de gabar disto hoje em dia?


E depois… ainda há malta que se revolta por se estar a fazer o apanágio da banditagem mas depois vão a correr ao videoclube para sacar o Ocean’s Eleven, o Ocean’s Twelve, ou o Ocean’s Thirteen e ficam a rezar no sofá para que os polícias não apanhem o Brad Pitt ou o George Clooney. Vá lá pessoal… temos de ser coerentes!

Imaginem que acabavam os criminosos… Como é que depois o Moita Flores passava os dias na Câmara de Santarém, cabisbaixo a olhar para as paredes? Deixem o homem trabalhar que ele gosta disso com fartura…

Como sei que o tempo da tecnoexclusão já lá vai e que há-de certamente haver visitantes deste blogue que actuam nesta área florescente da nossa economia, só espero que se algum dia passarem cá por casa não levem nada e se precisarem do Astra, peçam que eu deixo-vos onde quiserem. Não levem vocês o carrinho porque depois riscam-me as portas e sujam-me os estofos. E já agora, vejam lá se descobrem quem é que foi o filha da puta que me ficou com o swatch preto há uns Verões atrás. Também, já deve ter avariado…

1 comentário:

Clarimundo Lança disse...

"Os bandidos portugueses não brincam em serviço e apesar de não haver formação académica específica para a área"
Desculpa amigo Pedro mas não concordo neste aspecto, olha lá aquele ciganito de apenas 13 anitos, que foi barbaramente ceifado da vida, com um balázio, enquanto fazia a aula prática numa sucateira, com o seu pai e tio.
Pelo que se sabe o dito rapaz até era sobredotado, já estava quase a apresentar a tese do mestrado, assim não....