quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Johnny B Goode!


Eu tenho um amigo, um colega, um colaborador que me chama excêntrico e eu acho o máximo. O Vereador excêntrico...

Há dias disse-lhe que numa destas noites, acordei a pensar que no Al Mossassa deste ano vou decorar a parte alta de Marvão com muitas palmeiras alugadas. Só as palmeiras podem dar o ar exótico que há tanto procuro para este evento islâmico. E disse-me ele: “estás a brincar?!?!?”. E eu respondi: “claro que não! Nunca falei tão a sério”. E ele arrematou: “estão a ver? É excêntrico!”.

Pensando bem, é muito melhor tratarem-nos por excêntricos do que chamarem-nos malucos.
O excêntrico é o topo de gama dos malucos.

De todos os que têm a coragem de pensar pela sua cabeça e desafiar, na sua busca pela felicidade, aquilo que nos é tanta vezes irracionalmente imposto pela dita sociedade, o excêntrico destaca-se sempre pela lucidez no arrojo das suas propostas.

Para além disso, há nos saudáveis devaneios de um excêntrico, uma nobreza que não é extensível aos restantes.

Se realmente for caso disso… eu gosto de ser excêntrico.

As primeiras excêntricas que eu conheci foram as primas Rosadas. Nunca percebi porque é que lhes chamavam primas mas de tanto insistirem, acabei por assumir o parentesco nem que fosse pelo fascínio das suas figuras. As primas Rosadas eram três irmãs que viviam na minha Beirã natal quando eu era bem puto, numa casa nas traseiras da estação. Só as via quando iam à missa ao domingo. Vinham as primas Rosadas e lá ia eu dar o beijinho da praxe.

Nesse então, já deviam ter para aí uns trezentos anos cada uma mas vestiam-se sempre como se fossem ao último baile de gala antes do mundo acabar. Sempre com três camadas de maquilhagem, vestidos bem floridos de cores garridas, leques também às flores na proporção de um para cada uma, chapéus da melhor linhagem Ascot e sempre as três de braço dado… eram um fenómeno único naquela terra. Finíssimas! De uma linhagem que se via que era outra loiça… mas pareciam saídas do “Por favor não me mordam o pescoço” do Polanski, ou de um vídeo dos primeiros do Prince e eu adorava as figuras. Depois acho que uma faleceu e as outras pouco tempo mais duraram, o que acabou por adensar a sua aura mística.

Se eu pensar que o seu legado de excentricidade vive em mim, fico feliz.

Mas bem, perguntam vocês: “o que é que as primas Rosadas têm a ver com o Chuck Berry?”. E eu respondo: “Tudo!”.

Andava eu numas pesquisas na net acerca de uma das minhas próximas excentricidades, quando dei com uns vídeos que tenho de partilhar com vocês, pequenada, porque eu rebento se guardar isto só para mim.

Eu acho que a internet é uma das maiores, se não a maior invenção do homem. A internet fez o mundo pequeno. A internet faz-nos interagir em tempo real com um canguru do outro lado do planeta via Messenger. A internet aproxima as pessoas. A internet faz-nos encontrar os amigos, estar sempre próximos via mail. A internet suporta televisão, vídeo, imagens… A internet dá-nos a cultura, toda a música, todo o cinema com só um clique. A internet democratizou o conhecimento. Se McLuhan disse que “o conhecimento moderno não é o memorizado mas aquele a que podemos aceder”, com a internet todos nós podemos ser sábios.

Coisas que ela nos dá…

Voltando, andava eu há procura de um vídeo quando começaram a cair réplicas e réplicas e caminhos e uma coisa que não tem fim.

A saber…

O Chuck Berry é considerado um dos pais do “Rock’n’Roll”, estilo musical nascido nos inevitáveis Estados Unidos nos finais dos anos 50, de um cruzamento divino entre os blues, o rithm’n’blues e o country. Curiosamente, o homem ainda é vivo provando que Deus é grande e não dorme. A expressão faz alusão ao próprio acto sexual: duro como uma pedra (rock), rolando em busca do prazer (roll).

Dois hinos disputam entre si a génese do Rock’n’Roll: o “Johnny B Goode” do pai Berry e o “Rock Around the Clock” do Bill Halley and the Comets, que surgiu pela primeira vez no filme “Blackboard Jungle” em que o Glenn Ford faz de professor “à rasca” para dominar uma turma bem durinha.

E não pensem que eu li estas merdas agora. Sei isto tudo da minha cabecinha. São muitos anos no batente, bébés…

O “Johnny B Goode” deve ter dois títulos que jamais algum outro tema roubará: o riff de guitarra mais famoso do mundo e o ser a música que mais versões conheceu. Quem é que tem coragem de ter uma banda e nunca ter tentado tocar isto?

A letra conta: (a tradução é bem livre, ok? Nada de purismos…)

No Louisiana profundo, perto de Nova Orleães
Lá para os lados dos bosques e prados verdejantes
Existia uma cabana de madeira e chão de terra
Onde vivia um rapaz do campo chamado “Johnny B Good” (Joãozinho sê Bonzinho)
Que nunca aprendeu a ler ou a escrever
Mas que tocava a guitarra de olhos fechados
-
Vai vai, vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
Joãozinho porta-te bem! (Johnny B Goode)
-
Ele costumava trazer a guitarra no saco de uma arma
Ou sentar-se debaixo de uma árvore junto à linha do comboio
Oh, um engenheiro podia vê-lo sentado na sombra
Dedilhando com o ritmo que os maquinistas faziam
As pessoas que passavam, paravam e diziam:
“Meu Deus, este rapazinho sabe tocar!”
-
Vai vai, vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
Joãozinho porta-te bem!
-
A sua mãe disse-lhe: “um dia vais ser um homem,
E vais ser o líder de uma grande banda,
Muita gente chegará de muito longe,
Para te ouvir tocar até que o sol se ponha,
Talvez um dia o teu nome brilhe num neón,
Dizendo “Johnny Be Good” ao vivo nesta noite.

Vai vai, vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
vai Joãozinho, vai
Joãozinho porta-te bem!

E foi esta simplicidade, esta historia do rapazinho pobre que chegou a estrela, esta versão rock do “American Way of Life” que conquistou músicos de todo o mundo e de todas a gerações.

Pasmei-me com o vídeo original (que eu nunca tinha visto!) e as suas diferentes versões e, por favor, não se aborreçam… vejam isto que vale mesmo a pena. Afinal… deu trabalho a fazer…

Esta é a versão original. Agora imaginem os States nestes anos em que os negros ainda se montavam na parte de trás dos autocarros e tinham de comer nas mesinhas do canto dos restaurantes. Aparece um gajo destes, a fazer uma cena completamente nova, com este “à vontade”. Imaginem a irreverência, a excitação, o poder desta merda. A música é uma coisa muito séria, pá. Que feeling… E diz o Rei Richards: “tudo o que sei, veio deste gajo…”. É de meter qualquer um de joelhos.
-


Aqui ao vivo com o “Boss” Springsteen. Atentem bem na cara de alegria do Bruce… Parece que está a pensar: “eu nem acredito que isto me está a acontecer”. O ídolo de milhões a admirar cada movimento do seu próprio ídolo… É que não lhe tira os olhos de cima... com aquela carinha de puto... "It was great", diz-lhe ele no final... E a "E Street Band" completa, com todinhos... o Steven Van Zandt (Dante nos Sopranos), o Max Weinberg do Conan O'brian... o Clarence Clemons no sax... Caraças, pá! Que turma... Ah! Reparem no passo clássico do “andar de pato” (duck walk). Não, não foi o Angus Young dos AC/DC que inventou… A patente é do velhinho este…



Esta é a versão com um Lennon já muito passado. Nos primeiros tempos dos Beatles, quando tocaram na Alemanha, em Hamburgo, ainda na formação inicial com Stu Sutcliffe, riparam montes de vezes estes temas clássicos. Covers de Buddy Holly (tragicamente falecido na queda do aeroplano onde também morreram Ritchie Valens e Big Bopper), Jerry Lee Lewis, Little Richard e afins eram o prato do dia. Compreende-se a veneração. Não percebo é o que é que a maluca da Yoko Ono ali está a fazer a tocar tambor. Mais valia estar a enrolar mais um… Ah! E agora, olhando para eles, já perceberam porque é que eu uso as patilhas assim... Obrigadinho!



Aqui a versão sónica, única e inimitável do GRANDE Jimmy Hendrix que personificou como ninguém, a magia e o virtuosismo do Johnny B Good. Tudo o que este homem tocava, virava ouro. Génio absoluto! Porra, pá! Ele há homens que nunca haviam de morrer! Uma autêntica locomotiva desgovernada. E sim... é com os dentes que ele toca no final. Aqui não há truques. Sem mãos!



Não podia faltar a versão de outro génio que nunca renegou as suas raízes, mesmo na fase pimba de Las Vegas, onde as drogas eram os cereais do pequeno-almoço. Nesta versão, até se esquece de uma estrofe mas que se amole! Versão up-tempo, speedada, mas muito bem esgalhada. Os coros partem-me todo. Dava o cú e 5 tostões para poder ter assistido a uma actuação deste homem. Eléctrico!



Para os mais novos, também os Green Day, que lançaram um monstruoso e genial disco neste ano, fizeram a sua própria versão. O “Johnny B Good” dá para tudo, até para hino punk!



E a lista, meus amigos, caso quisesse, poderia ter centenas, milhares de nomes, tal é a notoriedade deste tem e deste homem que teve uma vida conturbada, sempre à pala com a justiça.

Espero que tenham gostado do programa desta noite.

Agora, o que eu gostava mesmo era de ter uma aparelhagem gigantesca como aquelas que aparecem nos vídeos do Puff Daddy, ligava-a na rua, metia o”Johnny B Good” no máximo e obrigava os vizinhos todos a darem um salto da cama (já passa da 1 da manhã). Fazíamos uma festa!

Era uma bela homenagem!

Beijinhos!

Do vosso,

Tio Sabi

PS: Este é daqueles posts em que as minhas tias (quase na casa dos 80 mas ainda super-jovens)me dizem assim: “ai filho, não percebemos nada…”. Deixem lá meninas… eu também gosto de fazer estes… Ah! Este sempre tem a parte das primas Rosadas. Lembram-se?

2 comentários:

nuno mota disse...

Se ser excêntrico é, além de outras virtudes que possuis, conhecer a musica e os seus " meandros " como tu, além de todas as outras virtudes que te conheço, então viva a excentricidade !!! E que bom seria que o mundo todo, mas todo, fosse como tu e fizesse da excentricidade um " modus vivendis " !!! Abraços e não te esqueças que estou com vontade de . pelo menos, beber una copa contigo !!!

zira disse...

THANKS FOR ALL...