domingo, 20 de junho de 2010

Páscoa em Agosto, Carnaval em Maio

"Caríssimos deputados, a minha proposta de apoio ao carteirismo é coisa séria e merece a vossa superior e particular atenção porque me parece ser da maior justeza que apoiemos uma tradição tão nossa e secular... que a mim pela boca ninguém me leva preso..."

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Enfim, podia ter-lhes dado para pior.

Que por estes dias, o Partido Socialista não passa de uma barcaça desgovernada destinada a ir ao fundo em alto mar já todos nós sabíamos.

Não esperava eu era por um rasgo de génio deste calibre.

Parece que duas deputadas da dita falange engendraram agora um ardiloso mecanismo para acabar com as “pontes”, essa tradição tão portuga que liga os feriados aos fins-de-semana quando há apenas um ou mesmo dois diazinhos pelo meio. As senhoras estas não querem cá mini-férias e “nacionais espertismos” e propondo colar os feriados aos fins-de-semana pretendem salvar a economia portuguesa colocando de novo o nosso país no rumo certo do desenvolvimento.

Não se comemora o dia no dia? Não há problema! Poupa-se, que é o que interessa!

Há cérebros que deveriam ser criopreservados para a posteridade. De certeza que não há máquinas capazes de os estudar actualmente. Hão-de ser inventadas um dia...

Vejo na televisão o deputado Ricardo Rodrigues, carteirista encartado e larápio de serviço do PS (o meu segundo favorito no hemiciclo logo a seguir ao inenarrável Bernardino Soares), a defender a justeza da medida com uma argumentação sólida e bem urdida: “Por exemplo, se o 25 de Abril é o dia da liberdade, não há problema nenhum se o recordarmos a 26”. Brilhante!

Logo a seguir, num outro canal, vejo um jovem entrevistado com uma clarividência fora do normal para a rapaziada da idade, a dizer que discorda completamente da medida precisamente pelo mesmo motivo que eu: “não concordo nada porque se é no dia, é no dia. Se eu faço anos a 12, não os comemoro a 13. Deve ser quando é!”.

Voilá! Nada mais certo! Eu quero lá saber das "pontes"! O que interessa é a data! Se se cumpre um ano, 365 dias de uma data histórica, faz todo o sentido que se existe um feriado para a recordar aconteça nesse dia e não noutro. Elementar, não concordam?

Há coisas que fazem toda a diferença. Quando eu era puto, era comum ver os homens jogarem às cartas à bebida na taberna. Quem perdia, pagava. Nós, que fazíamos tudo para sermos depressa grandes como eles, fazíamos igual e quando eles não estavam, jogávamos também. A bebida paga por quem perdia ia sendo consumida durante a partida seguinte. Na altura era mais Sumóis e Coca-colas mas era assim que se fazia. Havia então um certo individuo que, não lhe apetecendo consumir de imediato, acumulava a verba no balcão e quando chegava à quantia necessária, levava um sumo de litro para casa. Olha porra! Não era a mesma coisa! Que chulice! Aquilo indignava-me mas eu… de bico caladinho que o gajo fazia dois de mim e podia leva a mal, coisa que eu obviamente não queria.

A história esta das meninas do PS é da mesma cepa desta. “Ah, não dá jeito no dia, passamos para um que dê mais!”. É o maior absurdo que eu já ouvi na minha vida mas enfim, parece que o PSD e o CDS têm a mesma opinião. Algo está podre no reino da Dinamarca. Mas esta gentuça não tem mais com que se preocupar?!?!?!?!?!?!

Mais interessante ainda é o requinte selectivo da manobra. Mudam uns mas noutros não dá. É melhor ficarem como estão. Esses têm mesmo que ser nessa data.

“Ai sim? Pergunto eu. Engraçado… Então se é para uns porque é que não é para todos? É que deveria ter muita graça um gajo fazer o jantar de Natal no dia 21 ou comemorar o ano novo no dia 3 de Janeiro. Foda-se que há cá com cada palerma!”.

Mas bem, se estão todos de acordo, à excepção dos comunistas e dos bloquistas, nada mais me resta que alinhar e entrar “à jarda”. Este país é realmente um lugar muito estranho…

Como diria o meu caro gaulês: “Por Toutatis! Estes portugas estão loucos!”.

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