terça-feira, 3 de maio de 2011

I did a run today


E 289 dias depois… voltei a correr... passados seis meses da última cirurgia, conforme conselho médico.

Ontem sonhei com isto. De verdade. Sonhei que queria correr mas as pernas pesavam toneladas, o caminho era tortuoso e eu sofria porque não conseguia dar passo.

Hoje, depois de chegar do serviço… a tarde convidava e eu calcei as sapatilhas.

Quando cheguei ao portão deu-me um flash e em minutos revisitei o sofrimento físico dos últimos meses. A tarde em que chorei sozinho porque as dores não deixavam seguir em frente. O calvário de testes, exames, tratamentos e medicamentos. A dura notícia da inevitabilidade da operação. O esforço por resistir. A angústia da primeira cirurgia. As noites de convalescença longe de todos. A triste dependência quando acamado. O drama da segunda cirurgia. Os meses preso à cama. A insegurança do regresso à normalidade. A perseverança na recuperação. O esforço e o querer… e este dia onde voltei a estar só eu e a estrada à minha frente.

E voltar depois de tanto tempo… foi uma sensação indescritível.

Há qualquer coisa no correr que não se explica. É preciso haver uma estranha dedicação para perceber esta magia de nos deslocarmos assim por nós próprios e irmos até onde a vontade e o fôlego nos deixam. “Correr para onde?”, perguntam alguns. “Apenas correr”, respondo eu.

Um tímido sol primaveril banhava a paisagem de dourado. A brisa suave embalava tudo à minha volta e assim fui, desbravando aquele entorno, deixando-me envolver pelos odores e pelas perspectivas, maravilhado como se fosse a primeira vez.

E depois… sentir o castigo do corpo, o prazer do esforço, o suor a correr pela fronte… coisas que não se têm quando se está confinado ao azul da piscina, ao silêncio da água.

Se eu tinha saudades…

E é nestes momentos que me lembro do tal anúncio da Nike que descrevia na perfeição o cerne da questão da corrida: homens e mulheres a correrem numa cidade cinzenta à chuva, pelas ruas e avenidas, pelos jardins e pelas praças e uma pergunta desafiadora no final: “You did a run today… or you didn’t”? (Fizeste uma corrida hoje… ou não?). E é isso: ou se fez, ou não se fez e parece impossível como é que uma coisa que grátis, maravilhosamente libertadora e fantástica para a saúde, é desprezada pela grande parte da população. Uma pena… é o que é. Nem sabem o que perdem…

Foram só 6 kms e meio… em 36 minutos e 26 segundos… calminho… coisa pouca para o nível que tinha quando parei mas quase uma maratona para quem chegou a pensar tantas vezes se voltaria um dia a ter o prazer de sair assim correndo sem rota ou destino pré-definido. E o mais importante de tudo: sem dores e com uma vontade enorme de lhe dar mais e mais e mais.

É tão fácil ser-se feliz… e correndo chega-se muito mais depressa.

Vamos a isso?

PS: Júnior, agora que lhe tomaste o gosto… estou à tua espera… Quando te apanhares nos meus trilhos até te passas! E em plena Rocha à beira-mar. Ohhh… magnifique! Vai treinando...


5 comentários:

Helena Barreta disse...

Bem vindo de volta.

Também corro, todos os dias, entre 6 a 7Km e é de facto uma sensação maravilhosa, adoro sentir a liberdade de ser eu a comandar, ver o dia a despertar, quando corro pela manhã, ou o sol a despedir-se, quando corro ao final da tarde.

O exercício físico é viciante e ficamos agarradinhos à corrida num instante é o que por hábito digo a quem nunca experimentou. Vale mesmo a pena. E a sensação, tão boa, quando chegamos ao fim e nos superámos mais um bocadinho?

Boas corridas

Um abraço

Pedro Sobreiro (Tio Sabi) disse...

A Helena também corre? Agradável surpresa! Quando por cá passar traga as sapatilhas para fazermos um jogging juntos. Combinado?

John The Revelator disse...

És um duro meu! Welcome back, a estrada tinha saudades tuas.
Claro que vou continuar a correr meu, agora está no sangue. Mas hoje foi futsal, sabes que o mano gosta mais com uma redondinha nos pés.

Abraço

Helena Barreta disse...

Pedro, está combinado. Quero muito descobrir trilhos novos.

Quando aí estou tenho por hábito fazer duas corridas diárias, uma, logo pela fresca que serve também para ir comprar o pão à Portagem, a da tarde é a doer. Também já fiz, Escusa/Castelo de Vide/Escusa, mas não gostei, a estrada é apertada, sem passeio e os camiões são muitos.

Um abraço

Pescada disse...

Ó Bitchi, temos de combinar uma corridinha!
Além do BTT estou rendido ás virtudes de uma voltinha pelo entardecer!
Sensação maravilhosa, só superada, depois do banho retemperador, por uma fresquinha!
Isto bem combinado, era um percurso Rocha-Alvor-Rocha com o junior, seguido de um grelhadinho debaixo da ponte velha!
Isso é que era letra!
Abraço!