terça-feira, 10 de maio de 2011

Portugal, West coast of Europe



Não me considero assim um daqueles tugas marialvas que metem Portugal à frente de tudo o resto, mas sou um português consciente do nosso valor e tenho orgulho sincero em ter nascido neste país. E é por isso que me custa, de uma maneira inexplicável, quando vejo os jornalistazinhos a correr atrás dos membros da troika que vieram sanear as nossas contas, à espera que balbuciem qualquer coisa de inteligível.

Uns a disparar perguntas em suplício e eles a sorrir com desdém, fugindo dos carros para as casas e das casas para os carros, olhando de soslaio nos entretantos como se fossemos de uma classe inferior.

E eu pergunto-me: mas o que é que estes gajos (sobretudo aquele careca altarrão com ar sinistro e cara de vilão da Star Trek) têm a mais que nós? Como é que conseguem decifrar num ou dois meses aquilo que faz falta ao país para se endireitar, e nós não? Será que são mais inteligentes? Mais evoluídos? Porque é que este plano de salvação lhes sai a eles de uma assentada e a nós nem por isso?

Encontrando a minha resposta para esta pergunta, acabo por descobrir a verdadeira razão para todo este descalabro financeiro que nos deixou atolados numa dívida mais infinita e eternamente imersos num défice de pesadelo: eles conseguem porque eles não nos conhecem de lado nenhum e cortam a direito. Eles conseguem porque não cedem a lobbies, grupos ou pressões. Eles conseguem porque fazem o que têm a fazer. É este o único e derradeiro motivo porque Portugal está como está: porque não tem políticos, sejam da esquerda ou da direita, do centro ou dos extremos, que consigam este distanciamento que lhes permita fazer aquilo que tem de ser feito e não aquilo que A, B ou C quer que eles façam.

E é uma pena que assim seja.

Atentem bem (e assim só de cabeça, porque nunca é demais falar nisto):

- Portugal tem uma situação geográfica no mundo absolutamente estratégica: na ponta ocidental da Europa, mirando as Américas, dispondo ainda de valiosas ilhas no coração do Atlântico;

- Temos uma costa deslumbrante com um potencial turístico e económico sem igual que nos garante não só um sem-fim de praias fabulosas como também o acesso a uma zona de pescas de excelência;

- Temos o melhor clima da Europa, com sol durante todo o ano e temperaturas que permitem aos mais encalorados andar de t-shirt na rua o ano inteiro;

- Temos solos magníficos onde é possível produzir tudo aquilo que a terra dá;

- Temos rios que abastecem todo o país, temos barragens, temos água com fartura;

- Temos uma extraordinária rede viária de Norte a Sul do país que nos permite deslocar com comodidade e rapidez;

- Somos dos países mais antigos da Europa. Temos tanta história como os outros todos juntos ou quase;

- Temos genuinidade, temos cultura e tradições. Temos uma gastronomia riquíssima. Sabemos fazer quase tudo bem;

- Somos bons de bola, sabemos cantar o fado, somos desenrascados e espertalhões. Temos montanhas de telemóveis para falarmos uns com os outros.

- Temos a bravura de muitos povos a correr-nos nas veias. Nós desbravámos o mundo. Chegámos a cortá-lo ao meio como se fosse um melão e demos a parte das pevides aos espanhóis;

- Somos gajos porreiros e onde quer que a gente vá no mundo encontramos sempre um português de bigode a sorrir mesmo que seja uma mulher transmontana;

- Quando vamos trabalhar para fora, respeitamos a cultura que nos acolhe e somos humildes e competentes. Quem nos recebe gosta de nós. Até os franciús!

E então…

Se temos tanta coisa boa… porque raio isto não avança?

Isto não avança, no meu entender, porque os políticos não estão à altura do resto do cabaz. Os nossos políticos pensam primeiro neles e em agradar a quem os elege do que em fazer o que faz falta ao país. Os nossos políticos têm vistas curtas e as mãos largas. Os nossos políticos abusam dos pequeninos que financiam esta farsa toda e vivem uma existência faustosa “a cavalo” neles. Os nossos políticos não são estadistas, são caciques. Os nossos políticos, SALVO RARÍSSIMAS EXCEPÇÕES que as admito mas se devem contar pelos dedos de uma mão (o Alberto João Jardim, o Isaltino Morais, a Fátima Felgueiras, o Avelino Ferreira Torres e mais um ou dois), conjugam mais o verbo mamar do que dar.

E assim sendo, enquanto tivermos esta “tampa” que não nos permita respirar, não iremos muito mais longe.

Afinal parece que o FMI acha que nem sequer é preciso virar as coisas do avesso para isto se endireitar nos carris. Para já, não nos limpam aquele balão de oxigénio que nos dá para ir corar a uma praínha qualquer; nem nos tiram o incentivo às prendas para os filhotes no Natal, nem nos vão desempregar a todos, nem nos deixam na penúria. Eu, que tenho duas pequenitas lá em casa que vão certamente ter uma vida mais complicada que a minha e são a minha grande preocupação, faço votos sinceros que o FMI e o BCE e Troika aquela toda fiquem o tempo que for preciso para MORALIZAREM O SISTEMA, e meterem tudo a bailar pela mesma batuta desde o cima até cá a baixo (que a arraia miúda já está farta de levar porrada). Oxalá acabem com as distribuições de lucros e de prémios milionários, com os empregos para os boys, com as parcerias fictícias e as corrupções e as jogadas de bastidores e as injustiças e essa merda toda até que nos dê gosto a todos outra vez de viver neste país.

É que Portugal é bom demais para continuar numa tão má.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

É mesmo isto, palavra por palavra. Temo é que depois do FMI dar por terminado o seu trabalho, os nossos governantes, ou melhor, os que se governam, continuem a sacar tachos e ordenados milionários e que a bandalheira se instale novamente.

Um abraço