As festas da minha terra, em
honra de S. Marcos que ontem tiverem aquele que era habitualmente o seu dia
grande são o espelho mais que evidente do estado em que se encontra o nosso
país relativamente a muitos aspetos. Tudo depende do ponto que lhe pegarmos mas
é assunto para nos entreter muitíssimo e bem vistas as coisas, “dá pano para
mangas”. O “S. Marcos”, pura e simplesmente passou. Passou quase sem que tivéssemos
notado.
É certo que nunca foi assim uma
festa grandiosa, daquelas de “encher o olho”, mas pelo menos tinha outra
dignidade. É certo que aqui temos de estabelecer uma linha divisória entre a
festividade em si e a sua componente religiosa porque nesse aspeto, desde que
as pessoas queiram e mantenham a sua devoção, tudo pode permanecer inalterado.
À festa faltaram as pessoas, meus
amigos, as populações e quando assim é, o natural é que as coisas vão
inexoravelmente caminhando para o seu fim mas é assim e contra isto não há nada
que possa servir de arma de arremesso ou motivo contra.
Eu ainda me lembro de grandes
festas do S. Marcos em que vinha muita animação, muitos amigos chegados de
todos os pontos do país, muita gente. Vinham os carrinhos de choque com uma
pista enorme que levava dias a montar, diversos carrosséis para os mais
pequenitos, inúmeras barraquinhas de tiro, divertimentos diversos e nunca
faltava o belo do algodão doce e a fartura. Era uma festa com tudo, como devia
de ser, com princípio, meio e fim. Agora é uma festa que só serve para quem se
lembra recordar como foi no passado.
Neste ano, apenas assisti ao grande
festival taurino organizado pela Casa do Povo a favor da construção do lar de
idosos e que como era uma homenagem póstuma ao Amigo Lourenço Mourato, grande impulsionador
e divulgador da festa brava recentemente falecido, teve um cartaz absolutamente
único que reuniu as dinastias Moura e Bastinhas, Tito Semedo e ainda Luis
Procuna que deu um ar da sua graça no toureio a pé. Foi uma oportunidade
verdadeiramente única de homenagear um grande homem e creio que a grande
afluência da assistência que acorreu em grande massa se deveu também a isso.
A outra única ocasião que me
levou sair de casa foi o espetáculo noturno de “Estrelas da nossa terra” no
qual as crianças da nossa escola atuaram, cantando e dançando, cobrando um
valor simbólico de entrada para ajudarem os finalistas que tiveram todo o
trabalho de encenação e organização. Coisa de nível feita com a prata da casa
que também encheu a sala do Grupo Desportivo Arenense com pais e familiares
desejosos de verem os seus pequenos brilharem. Foi a oportunidade que tive de
ver a minha Leonor cantar o “Fon, Fon,
Fon” dos Deolinda quando em casa nem sequer nos deixava assistir aos ensaios.
Esteve muito bem como aliás estiveram todos os miúdos que não se limitaram a
fazerem as poses e a mexerem os lábios, mas que deram o corpo ao manifesto e
cantaram mesmo. Bem ou mal, mais ou menos desafinados, mas presentes de carne e
osso, ao vivo para o que desse e viesse! Gostei de ver e como eu, creio que
toda a plateia que aplaudiu de facto, convicção e gostou.
Foi um S. Marcos pequenino, dos”300”
como é a nossa imagem de comunidade atual, mas um S. Marcos resistente, um S.
Marcos que ainda persiste, apesar de tudo. Até quando já não sei e isso se
calhar era uma conversa que nos podia levar longe sobre o futuro destas
localidades pequenas no interior perto da fronteira.
Ontem à noite, bem perto da
meia-noite, quando já na cama, ainda ouvi os foguetes que cruzavam os céus,
encerrando os festejos e relembrei os grandes fogos de artifício e as grandes
noites de outrora que já não voltam nem se repetem. Tempos de mudança em que
assistimos ao fim da linha, ao fim de um mundo que também é o nosso e do qual
também fazemos parte.
1 comentário:
Façamos votos que as "Estrelas da vossa terra" queiram continuar a organizar e a participar na festa.
Parabéns à Leonor e a todas as "Estrelas".
Bom fim de semana, um abraço
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