terça-feira, 11 de março de 2014

Aquilo que nós não fizemos (e o que fizemos, naquela noite...)



A música foi-me dada a conhecer pelas manhãs da Comercial com a melhor apresentação que poderia ter tido. Disseram que o voltar “para os braços da minha mãe” do Abrunhosa está para os portugueses que emigraram, como esta música está para os que cá ficaram. Melhor introdução era impossível.

Arrebatou-me à primeira vez. De um poder lírico brutal, tem uma melodia que fica, com palavras que martelam mesmo depois de se deixarem de ouvir. Ficam aos gritos na cabeça. Todas encaixadas no seu sítio, como se fossem um quebra-cabeça.

«Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz, não me fazem ver que a luta é pelo meu país. Eu não quero pagar depois de tudo o que dei, não me fazem ver que fui eu que errei»

Tenho uma relação muito próxima com o Tiago Bettencourt. Só que ele não sabe. Acompanho-o desde os Toranja, segui-o com os Mantha e acompanho-o sempre a solo. Tem-me falado imensas vezes ao ouvido e ao coração. Fá-lo pelos phones, mas tem-lo feito com muita frequência. Consegue dizer as coisas como mais ninguém na sua geração. Canta o hino do engate do Variações com muito mais sentimento que o génio que o criou. O Tiago é especial e disse-lho numa das últimas vezes que estive em Lisboa para uma consulta de rotina em São José. Há coisa de escassos meses cruzei-me com ele no Vasco da Gama e abordei-o. Cheguei-me junto e disse-lhe: “Tiago, tenho seguido o teu percurso e quero felicitar-te por este trabalho a solo acústico que está portentoso. Fazes falta à música portuguesa.” Ele sorriu e ficou assim sem jeito, por não dever ser muito habitual este tipo de aproximação dos fãs. Como o seu público é mais maduro, não deve ser alvo de gritos e histerias mas fotos e exposição facebookiana devem ser do mais usual. Se ele ficou sem jeito, a minha filha Leonor que assistiu a tudo, ainda agora não deve conseguir explicar bem o que se passou realmente.

Em breves minutos, recordei-o da outra vez que tínhamos estado juntos, em Marvão depois de um concerto fantástico dos Toranja. Lembrei-lhe dos copos que tínhamos bebido juntos no bar do Manel Ventura e da conversa animada que meteu noite dentro. Ele disse que sim, que tinha uma vaga ideia do sítio que era lindo demais. Que se recorda de uma noite muito agradável.


Ainda bem, disse-lhe eu. Ainda bem que não era só eu a ter essa sensação. E despedi-me dele, pedindo-lhe que continuasse sempre a dar voz à nossa geração. Ele cumpriu. Como fez agora. Obrigado, Tiago.   



Eu sabia que elas existiam. E sabia nos discos rígidos onde estavam. Procurei, procurei e descobri que foi há 10 anos. Há 10 anos! Em 2004. Tempos incríveis e memórias fantásticas. Um grupo de peso, com o Janeca que há tempos partiu desta vida de vez. Fica a saudade. O fotógrafo de serviço explica o ar bem disposto dos modelos. A máquina digital era uma novidade e o fotógrafo circunstancial estava etilicamente assim para o bem disposto. Por mais que lhe dissesse que tinha o dedo à frente do flash, o bom do Zé Pop insistia no ângulo. Daí estarmos todos a rir tanto. A teimosia dele era o isco perfeito. Lembro-me disso perfeitamente. Como me lembrava das fotos. Como me lembro daquele tempo. Que já não volta mais.















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