segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

As 5 fotos para 5 dias, finalmente em exposição na taberna

Dando voltas aos meus baús de textos e posts, dei com este tão engraçado que se ia perdendo (embora o que fica na net, fique para sempre), na espuma dos dias do facebook. Um post tão bonito, publicado em 5 dias diferentes, nem sequer teve uma exposição aqui na taberna virtual… Tá mal!! Ora vamos lá corrigir isto porque este é que é o sítio.

A minha amiga Isabel Bucho, casada com o meu amigo Domingos, o professor, que levou Elvas a Património da Humanidade e em Marvão acharam que… talvez fosse melhor ser com outro, que nunca foi; com idade para ser minha mãe, mãe de meus amigos da minha idade, é uma mãe moderna, como a minha. Escreve na net, publica a forma poética como vê o mundo, divulga imagens do seu Marvão de paixão como o vê, como sendo seu, apesar de ter vindo da cidade. Há tempos lançou-me um desafio que tinha recebido e cumprido. Desafiou-me então para publicar 5 imagens, em 5 dias.

Eu cumpri mas… em sede própria. Tinha sido um repto lançado através do facebook e por lá dei azo à minha verve fotográfica. Maravilhado por ter descoberto nos smarphones, a câmara fotográfica que sempre quis ter no bolso, passo os dias a fotografar tudo, como se quisesse cristalizar o momento e guardá-lo para sempre. Quero sempre tornar o instante imune ao tempo, à dor e à própria morte.

O facebook tem ganho muito espaço ao meu blogue porque o smartphone é um fotógrafo que dorme no bolso e é muito mais rápido. Nem necessita de computador, Mas a minha taberna, é a minha taberna e há coisas, como esta, que só aqui brilham e merecem ter o destaque para todó sempre.

A voragem com que os dias se consomem não me tinha ainda permitido abrir uma exposição fotográfica desse tempo na parede mais bonita da minha taberna virtual. Até hoje.

Ao desafio, respondi:
Minha caríssima Isabel. Se há coisa a que não resisto, é a um desafio. Pode ser amistoso e trivial, como foi o seu, mas para mim, é um "põe-te à prova", a que não resisto. Posso encostar, mas a cabeça fervilha num "deixa lá ver se sou capaz..." E gosto disso. Muito. Estreichado no sofá, a ouvir a lareira e a viver na net no telemóvel, com a princesa mais velha a estudar no meu, emprestado, aqui ao lado; comecei a pensar em vasculhar o meu arquivo no google photos, essa ferramenta prodigiosa de tão útil que tem quase a nossa vida toda lá dentro; e em menos de 15 minutos, selecionei não 5, nas 20 (!!!) fotografias que agora irei ajeitar e dar um tratamento gráfico, com tempo. E só recuei até Setembro.
Sempre fui um homem de palavras, porque me saem de enxurrada, em conversa ou numa folha em branco; mas a imagem sempre despertou em mim um fascínio tremendo. Eu, jornalista, sou da opinião que uma boa imagem vale sempre mais que 1000 palavras.
Sou muito público, (quem quiser sabe tanto sobre mim...) e por ano, desde que inventaram este prodígio chamado smartphone, tiro milhares de fotografias. Dantes arquivava-as em discos rígidos, que mantenho e guardo com zelo, mas desde que a Google criou este armazém virtual de baixa/média resolução gratuito, vivo siderado.
Bom, e como a conversa já vai longa, e tenho que arrepiar caminho, vou direto à Foto 1 para o desafio da amiga Isabel. (Sempre com uma legenda antes, para contextualizar.)

Dia: 8 de Dezembro
Título: O Altar



Aqui me encosto todos os dias de manhã antes de entrar ao serviço, ficando mesmo na muralha em frente; e à noite, quando recolho. Aqui, falo em silêncio com quem creio que me ouve. Aqui agradeço por mais um dia. Aqui peço paz, tranquilidade e proteção. Aqui, humilde, me prostro e entrego. Aqui me reencontro.

E sim, nós que cá estamos, também damos valor a Marvão. Tanto valor. Não é verdade, amiga?

Dia 9 de Dezembro
Foto 2
As (minhas) donas


Deixamos as paisagens, que sempre durarão mais que nós, e centro-me nas pessoas. Na minha rainha, Fernanda Sobreiro, e princesa mais velha, Leonor. As pessoas são o que de mais importante há no mundo, para mim. E dessas, estas. A mulher mais importante da minha vida, e uma das que amo mais que nesta.

A minha Fernanda Cristina, é uma pessoa muito recatada. Vê esta minha atitude de eterno papparazzi, de colecionador de instantes, sempre com o obturador a tiracolo; não como uma extensão da minha veia de fotógrafo, de jornalista, de colecionador de instantes, como forma de contornar a finitude; mas como uma devassa do que é seu, do que é nosso, do que é íntimo e privado; logo, algo incompreensível. Eu, embora dê muitas vezes liberdade à minha rebeldia e espírito aventureiro, sou muitas vezes limitado por essa clausura caseira. E, das centenas que saco por semana, (seguramente. Que passam...) publico apenas una ínfima parte (verdade...) das que o meu smartphone regista.

Esta foi um desses casos não publicado.

Tendo-as apanhado a rir na casa de banho de baixo, afoitei-me e captei o instante, antes sequer delas repararem. A minha mão surge apenas ao canto inferior direito. De raspão. Sem querer ser travado.

O momento ficou lindo e único. Já tem dias, mas só por si e pelo seu desafio, viu a luz do ciber espaco. Bem haja por isso.

Certamente verei um cartão amarelo mas eu, membro adotado do grupo "KEKÁSABEDISSE" (para ler bem alto e sem paragens, para captar o sentido, alô Manel Coelho!), estou disposto a aceitar os embargos.

A minha esperança verdadeira, é que as minhas filhas tenham um dia prazer quando perceberem que, quando o pai já esteja velhote, ou já cá não esteja; foi feliz a viver e a registar o momento. Como eu gosto de ver as que o meu pai, João Sobreiro, me tirou. Isso para mim, basta-me. Acredite.

Estes momentos sim, são eternos. Este, já ninguém nos o tira.

Dia 10 de Dezembro
Foto 3
No topo do mundo


No terceiro dia do passeio pelas 5 imagens em outros tantos, o regresso ao morro que molda a minha paisagem e desenha o meu horizonte, a sul. Hoje, divulgo um instante captado neste, durante o meu momento do ritual "cigarro pós almoço". Sentado no meu ponto da muralha, ali encostado à guarita que um relâmpago quis derrubar durante uma trovoada medonha, quando ainda morava lá em cima, onde me sinto como o Di Caprio no Titanic do Cameron: "KING OF THE WOOOOOOORLD". Ali, tudo o que os meus olhos contemplam é meu. Ali sinto-me rei e senhor, dono de tudo, não sendo dono de nada. Fosse eu tão importante como o bom do Pessoa e ali, quando faltasse, poderiam mandar erguer uma estátua, não na Brasileira de perna cruzada, mas encostado à sentinela de pedra, a esfumaçar. Admirando o infinito que Saramago descreveu como chegando à terra toda.

Ali, pequenino, contemplando o que é grande e imenso, sinto-me mais uma rocha da escarpa, uma daquelas que ampara um dos pinheiros que, apesar do difícil que isso é, insistirem em crescer direitos, de pé, em direção ao céu.

Eu nasci ali. Eu sou dali. Eu sou Marvão.

Dia 11 de Dezembro
Foto 4
As pequenas


Eu, homem de palavras, mas no entanto, apaixonado pela imagem que já se confessou um predador incansável delas, idealizei, perante o seu desafio, revelar as minhas diferentes abordagens a estas. Pensei em mostrar a forma como vejo o mundo que me rodeia (paisagem panorâmica, foto 1); (algumas d)as pessoas que me preenchem a vida e enchem o coração (Cristina e a Leonor, foto 2); a paixão pela minha terra, a que me viu nascer (Marvão, foto 3) e tinha, como lhe disse no início, umas dezenas de fotografias selecionadas para escolher e lhe revelar melhor algumas das minhas facetas. Mas neste ponto em que recuperei o meu computador, alugado até então pela herdeira para o estudo, pensei que tinha de mergulhar num dos meus dois discos rígidos guardados a sete chaves no meu lugarinho da prateleira e encontrar aquelA foto, a preferida dos milhares (verdade!) que já tirei às minhas filhas, para fechar este desafio com chave de ouro.
Seria amanhã que a sairia.

Mas na minha busca, fui à pasta que tinha a etiqueta “A MINHA FOTO PREFERIDA DAS PEQUENAS” e não achei a que queria, mas a outra que detinha esse título antes da que buscava. O seu achado, nas minhas pastas que por vezes estão tão bem guardadinhas que nem eu consigo encontrar nelas o que procuro, desmobilizou o alinhamento que tinha na cabeça e fê-las sobrepor-se a tudo o resto.

As minhas filhas são, de todos os bens que possuo (e materiais não são assim tantos, acredite), o mais precioso. São o fruto do meu amor pela mulher mais importante da minha vida (que abomina esta publicidade, garanto), a minha força e a minha maior razão de ser.
Que melhor maneira para fechar este passeio pelas minhas imagens?

Esta foto foi tirada nas traseiras da minha casa, creio que numa altura em que estava de convalescença de uma das minhas duas operações às costas e recordo-me perfeitamente de a ter tirado. Tendo conseguido que ficassem as duas mesmo em pose e a mão de semear, quis que tivessem naturalidade e um ar descomprimido. Tirei diversas, dezenas. Até ao momento em que me lembrei de dar um roncanito à procura de um sorriso, houve uma gargalhada e fez-se luz! Ficou com este ar assombroso que ainda hoje, passados estes anos todos, a faz estar sempre na parede da minha sala de estar.
A que fui feliz e ficou bem?

Dia 12  de Dezembro
Foto 5
Filhas no Natal



E para fechar, minha cara Isabel Bucho, era esta.

Tirada na tarde da noite de Natal em 2012, há já 3 anos atrás (agora 4), quando as duas brincavam descomprometidas e expectantes no quintal da nossa casinha.
Tirei uma sequência delas, sete ou oito seguidas com a máquina da Leonor (que a minha não era má mas “morreu” de tanto uso) e de todas, em que corriam às gargalhadas, com a Alice às cavalitas da Leonor, saiu esta, que é… um portento.

Apenas a melhor foto que tenho das minhas filhas. A melhor entre milhares.

Se morasse numa casa daquelas modernaças, tinha-a a cobrir a parede toda da sala de estar. Como não moro, e a minha é convencional e tradicional, tenho-a colada no monitor do meu computador nas finanças e de cada vez que olho para ela, sinto-me bem. Sinto-me feliz. Sinto que o meu lugar na terra, que ainda está a ser construído, todos os dias, faz sentido. É uma foto que irradia luz e me enche de alegria.

Esta foto sou eu. Eu, que continuo. Eu, que não acabo quando acabar. Eu que viverei sempre delas e nelas.
O amor não pode caber numa imagem?
Uma imagem não pode valer mais que 1000 palavras?

Pode sim.

E a prova está aqui.

Para si, um grande abraço e bem haja pelo desafio. Se não tivesse sido o apelo de uma pessoa amiga, que conheço pouco mas considero bastante, que utiliza muitas vezes esta ferramenta poderosíssima que é o facebook, não para divulgar o trivial, o banal e os lugares comuns como tanta gente; mas que antes divulga fotos que nos trazem algo mais aos nossos dias e partilha pensamentos poéticos que revelam que nessa alma há sempre um mundo… diferente; que é uma utilizadora que considero da minha divisão; provavelmente nunca revelaria estas fotos que nunca antes revelei.

Vivi feliz ao fazê-lo.


Obrigado.

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