Música de fundo do texto... (para ir tocando enquanto se lê)
Por
muitos anos que viva, este dia 4 de Abril, aquele a que chegaste a este mundo, há—de ser
sempre teu, em memória, em saudade. Imensa, infinita, muito maior que enorme...
sufocante.
Cumpririas
73. Uma idade tão jovem, tão aceitável, tão dentro da esperança média de vida.
Uma idade excelente para uma suecada com os teus amigos, como tanto gostavas;
para jogadores uma matraquilhada, como adoravas; para leres o jornal, como
sempre fazias; para as palavras cruzadas, onde eras craque. Isto para não falar
nas altas guitarradas, e fadistagens, nas noites boémias, onde sempre
brilhavas. O Sobreiro, o dos tiques, o dos bigodes, o sempre bem disposto.
Hoje
seria um belíssimo dia para te prestar homenagem, para irmos jantar fora, onde
tu comerias um bife com ovo estrelado a cavalo, numa caçarola de barro, como
fazias tanta vez.
Serei
mau filho, reconheço, porque nunca alinhei por completo contigo, como soube
fazer o nosso Miguel. Pensei sempre pela minha cabeça, fui sempre do contra, e
isso muitas vezes significa era ir contra aquilo, que me dizias que deveria
fazer. Escolhi o Benfica, quando o mais fácil era ser lagarto contigo. O Miguel
não só é Sporting, como fez os filhos sócios. Percebes o que digo?
Não
sei se é por isso, mas a tua morte ainda é difícil de aceitar, para mim. Foi
uma tragédia total, porque nessa altura, há 24 anos atrás, não havia por aqui
bombeiros que te tivessem podido socorrer na indisposição matinal. Não haviam
desfibrilhadores, não havia VMER, não havia ajuda.
Mas
tu próprio não te quiseste ajudar a ti mesmo, Pai. Como não quiseste ir à um
médico que te tivesse podido ajudar, nos sucessivos episódios ameaçadores, como
uma vez na Póvoa e Meadas, quando tínhamos ido passear o fim de semana a
Idanha—a—Nova.
E
isso porque, creio eu, não queiras abandonar de todo, o teu tabagismo frenético
(2, poderiam chegar a ser 3 maços/dia?), e o teu hábito do copo. Um médico
poderia melhorar, mas deitaria por terra, o teu estilo de vida bon—vivant, que
era a tua forma elegante de te afastares das agruras, que te deixaram no
desemprego, a ti, e à tua companheira; quando os filhos mais precisavam de ti.
Tu
sabias estar. Um nível... que sei que nunca terei. Adaptação imediata ao
público onde estavas integrado (fosse num sarau cultural, ou num serão brejeiro
de taberna); piada fácil, trato envolvente, jeito único.
Deitado
na cama cedo, quando assim calhava, sempre a leres (um Konsalik, ou um qualquer
livro sobre guerra), e a ouvires os discos pedidos da Rádio Clube de Monsanto.
Ainda
não consigo aceitar a tua partida, creio que por isto. Porque o motor berrou, e
tu nada fizeste para o estimar, quando tanto te aconselhavam. Desculpo—te mais
porque nunca pensaste que pudesse ter sido assim, de vez.
Qual Beatle, que adoravas, veneravas, e tanto tocaste, de fato e gravata preta. Sem bigode. A caligrafia do titular: perfeita, como era a tua. |
A
minha vida nunca mais foi a mesma, e só eu sei o tanto que passei, e à tanta
ajuda que tive de pedir, para me conseguir reorganizar. A mãe Alzira
Sobreiro... tinha a minha idade agora, então. Desempregada, com dois filhos a
seu cargo, teve de ser uma Super Mulher, para conseguir trazer tudo ao bom
porto, onde graças a Deus estamos.
Vejo
as tuas netas (as meninas, da minha parte), e os teus netos (os mancebos
algarvios do Miguel), e sinto, para além de uma alegria e uma gratidão enorme,
um aura de desgosto latente, por saber que nunca os conhecerás, e eles nunca
poderão desfrutar de ti.
A
vida sem o João Sobreiro, nunca mais foi a mesma. A minha, também. Sem o Homem
que mais me influenciou, tento, fazendo os meus exames de consciência, e as
minhas análises, manter—me fiel ao que aprendi de ti. Ao final de cada dia,
espero, pela análise do teu prisma, concluir que procedi bem.
Serei
sempre o teu Pedro. (E continuo a procurar as cartas que me escreveste, quando
estava na faculdade em Lisboa, e me trancada na casa de banho a ler, para poder
chorar de saudades, à vontade.) Sei que estão guardadas. Tão bem, que não as
consigo encontrar... Mesmo à Pedro, não é? Fica em paz, meu Cometa Negro que
ainda hoje, embargas a voz aos amigos, quando querem falar de ti.
Meu
ídolo, meu modelo, Fica bem, e pede por nós. Até um dia… (que ambos queremos longínquo, meu João Sobreiro)
<3
Sempre
jammin'... Aqui, no ultramar.
Numa imagem de marca: guitarra ao colo, cigarro na orelha...
Até sempre, pai!
|
Sem comentários:
Enviar um comentário