segunda-feira, 4 de julho de 2022

A triste sina do Esparrela

48 anos, cumpridos a 5 de Março...
Menos um ano que eu...

 

À sua memória…

 

- Ohhhhh… sabes quem morreu?!?!?, perguntou-me de manhã, quando pegou no telemóvel, e passou pelas inevitáveis redes sociais…

 

Aqueles segundos que se seguem a uma pergunta destas… parecem horas, e angústia da dúvida tolda-nos o pensamento por completo. A tentativa absurda, e desorientada de encontrar uma nome… não se coaduna, de todo!, com a admiração da pergunta. Se fosse alguém que estivesse doente, afinal, o pasmo não poderia ser tanto pelo que… fiquei ali assim… em suspenso, à espera da bomba.

 

- O Pedro! O Pedro da papelaria Tavares…

 

E eu… em silêncio… pensei… O ESPARRRELA?!?!?!?!? Mas… eu, ainda antes de ter tempo de perguntar se foi de uma causa súbita, um acidente, ainda ganhando consciência da atrocidade da notícia, ouvi…

 

- Diz que estava muito doente…

 

Pronto. E caiu-me a ficha!

 

Mas… como doente?!?!?! Se ainda há dias, há meses, no Trail de Marvão 2022, apenas a 20 de Fevereiro, ele esteve ali no mercado de Santo António, comigo, a beber umas, completamente feliz, saudável e risonho, como ele era, afinal, agradecido pela vida e pela vida que levava?

 

O Pedro era um super-atleta, porra!!!!! O Pedro corria que se desunhava e estava sempre em todas, como porta estandarte do ACP (Atletismo Clube de Portalegre), como todos aqueles seus amigos de amarelo e negro, que eram uma segunda família, ou às vezes, mesmo a primeira de convívio e amizade, e vida saudável e alegria…





 

Dois ou três telefonemas depois, mais uns quantos dedos de conversa com lagóias cá da minha praça e… afinal… este desfecho era mesmo o único esperado, desde que um cancro no pâncreas fora anunciado como o carrasco implacável, que tinha deixado à vista pouco ou nenhum tempo de navegação, com margem de margem de erro praticamente nula, como são todos estres, afinal,.

 

Idas e vindas de Lisboa, chegadas de helicóptero com meia cidade à espera, a ver…

 

Um cancro no pâncreas, por Deus! Que modo de vida, que terrível mapa de ADN, que falhanço genético podem levar a um tão trágico desfecho assim, quando se é ainda tão jovem?

 

 

O Pedro chegou-me por um dos amigos que mais gosto, pela mão do meu Pescada. Conhecia-o de vista do Liceu, da Maluka, das noites de Portalegre, mas como nunca nos tínhamos cruzado por as linhas de vida jamais se terem tocado, por nunca termos sido da mesma turma, nunca termos tido amigos comuns, nunca termos chegado ao prazer do convívio.

 

Quando nos ligámos, acho que ainda estava bem antes desta fase de atleta que ocupava grande parte da sua vida, nestes últimos anos. Passear pelo seu facebook, presumindo que hoje em dia essa é a nossa pegada digital, é encontrar muito desporto, muitos amigos, muito convívio, muitas minis, muitos sorrisos, muita família e amor à família.

Como ele amava os amigos e a família…






Chega a ser impressionante mas… quando quase todos os utilizadores da rede social mais conhecida, e por todos mais utilizada, correm para meter a boca no trombone assim que lhes surge a mais pequena contrariedade, muito em busca de coros de comiseração que lhes contrarie a solidão e lhe sirva de conforto, o Pedro… não tem uma única publicação sobre a doença, fosse onde a revelasse, a dureza de lidar com ela ou com os tratamentos, ou se revoltasse contra ela, a vida, a sina, um Deus, ou o seu deus.

 

O Pedro teve de deixar, por ter recebido esta tremenda guia de marcha antes do tempo, uma jovem viúva, a Marília… e uma filhota de 17 anos, a Inês, a quem ainda no outro dia ofertou, pelo 17º aniversário, uma acelera toda XPTO, numa prova de amor que me deixou mesmo tocado.



"Amo estes sorrisinhos" escrevia ele. <3 <3 <3 
O melhor do mundo
Felicidade partilhada com os meus amores
Amo-vos muito

A sua vida era muito de entrega e partilha, de felicidade por ter junto a si quem amava, fossem a mulher e a filha, a mãe e o padrasto que ainda há dias parabenizava de forma ternurenta pelo octagésimo e picos aniversário, fossem os sempre tantos, saudáveis e atléticos amigos…


Com o Lourenço Rafael e a mãe Maria Teresa Tavares
 

Teve estofo e coragem para ter mudado de vida, perante um negócio que outrora já fora o maior do género na cidade, com mais que um espaço aberto, mas que agora definhava dia após dia, numa rua do comércio fantasmagórica, que se ajoelha perante as grandes superfícies que tudo engolem; e teve de adaptar-se a um negócio diferente, ao qual se ajustou para viver, mas não conseguiu superar a sentença de um fim anunciado, de um emissor que passa a algoz quando o transmite.

 

Não irei ao seu funeral por impossibilidade de agenda mas… de verdade que o que lamento na realidade é deixar de o ter cá, é nunca mais podermos fazer aquele almoço, ou aquele jantar como nosso amigo Pescada, que sempre enchia e alegrava as nossas conversas quando tínhamos o prazer de nos encontrarmos.

 

O que se faz, e deve fazer, é em vida. Os funerais, no meu modesto entender, da porta do cemitério para dentro, deveriam de ser exclusivos à família, pela intimidade do momento, pela força e importância.

 

A ele, vou recordá-lo sempre a rir para mim, a tratar-me por Sabi (que é o meu nome artístico em Portalegre, pelo qual muitos me conhecem, sem saber sequer que sou Pedro), sempre disposto a um convívio, a uma boa onda, a uma gargalhada ou uma corrida.

 

À família, que deve estar absolutamente destroçada, e aos todos amigos que ficaram sem ele, envio um forte abraço de pesar, de solidariedade e de força!

 

Ele, o pobre, vai ser mais um que fará parte dos meus pedidos, de uma outra forma, mas para que esteja em paz.

 

Até sempre, Pedro! Foi muito bom ter-te conhecido, e poder ter-te como amigo!


Até sempre, Amigão! <3

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