48 anos, cumpridos a 5 de Março... Menos um ano que eu... |
À sua memória…
- Ohhhhh… sabes quem morreu?!?!?, perguntou-me
de manhã, quando pegou no telemóvel, e passou pelas inevitáveis redes sociais…
Aqueles segundos que se seguem a uma
pergunta destas… parecem horas, e angústia da dúvida tolda-nos o pensamento por
completo. A tentativa absurda, e desorientada de encontrar uma nome… não se
coaduna, de todo!, com a admiração da pergunta. Se fosse alguém que estivesse
doente, afinal, o pasmo não poderia ser tanto pelo que… fiquei ali assim… em
suspenso, à espera da bomba.
- O Pedro! O Pedro da papelaria
Tavares…
E eu… em silêncio… pensei… O
ESPARRRELA?!?!?!?!? Mas… eu, ainda antes de ter tempo de perguntar se foi de
uma causa súbita, um acidente, ainda ganhando consciência da atrocidade da
notícia, ouvi…
- Diz que estava muito doente…
Pronto. E caiu-me a ficha!
Mas… como doente?!?!?! Se ainda há
dias, há meses, no Trail de Marvão 2022, apenas a 20 de Fevereiro, ele esteve
ali no mercado de Santo António, comigo, a beber umas, completamente feliz, saudável
e risonho, como ele era, afinal, agradecido pela vida e pela vida que levava?
O Pedro era um super-atleta,
porra!!!!! O Pedro corria que se desunhava e estava sempre em todas, como porta
estandarte do ACP (Atletismo Clube de Portalegre), como todos aqueles seus amigos
de amarelo e negro, que eram uma segunda família, ou às vezes, mesmo a primeira
de convívio e amizade, e vida saudável e alegria…
Dois ou três telefonemas depois, mais
uns quantos dedos de conversa com lagóias cá da minha praça e… afinal… este
desfecho era mesmo o único esperado, desde que um cancro no pâncreas fora anunciado
como o carrasco implacável, que tinha deixado à vista pouco ou nenhum tempo de navegação,
com margem de margem de erro praticamente nula, como são todos estres, afinal,.
Idas e vindas de Lisboa, chegadas de
helicóptero com meia cidade à espera, a ver…
Um cancro no pâncreas, por Deus! Que
modo de vida, que terrível mapa de ADN, que falhanço genético podem levar a um
tão trágico desfecho assim, quando se é ainda tão jovem?
…
O Pedro chegou-me por um dos amigos que
mais gosto, pela mão do meu Pescada. Conhecia-o de vista do Liceu, da Maluka,
das noites de Portalegre, mas como nunca nos tínhamos cruzado por as linhas de
vida jamais se terem tocado, por nunca termos sido da mesma turma, nunca termos
tido amigos comuns, nunca termos chegado ao prazer do convívio.
Quando nos ligámos, acho que ainda
estava bem antes desta fase de atleta que ocupava grande
parte da sua vida, nestes últimos anos. Passear pelo seu facebook, presumindo
que hoje em dia essa é a nossa pegada digital, é encontrar muito desporto,
muitos amigos, muito convívio, muitas minis, muitos sorrisos, muita família e
amor à família.
Como ele amava os amigos e a família…
Chega a ser impressionante mas… quando
quase todos os utilizadores da rede social mais conhecida, e por todos mais
utilizada, correm para meter a boca no trombone assim que lhes surge a mais
pequena contrariedade, muito em busca de coros de comiseração que lhes
contrarie a solidão e lhe sirva de conforto, o Pedro… não tem uma única
publicação sobre a doença, fosse onde a revelasse, a dureza de lidar com ela ou
com os tratamentos, ou se revoltasse contra ela, a vida, a sina, um Deus, ou o
seu deus.
O Pedro teve de deixar, por ter
recebido esta tremenda guia de marcha antes do tempo, uma jovem viúva, a
Marília… e uma filhota de 17 anos, a Inês, a quem ainda no outro dia ofertou,
pelo 17º aniversário, uma acelera toda XPTO, numa prova de amor que me deixou
mesmo tocado.
"Amo estes sorrisinhos" escrevia ele. <3 <3 <3 O melhor do mundo Felicidade partilhada com os meus amores Amo-vos muito |
A sua vida era muito de entrega e
partilha, de felicidade por ter junto a si quem amava, fossem a mulher e a
filha, a mãe e o padrasto que ainda há dias parabenizava de forma ternurenta
pelo octagésimo e picos aniversário, fossem os sempre tantos, saudáveis e
atléticos amigos…
Com o Lourenço Rafael e a mãe Maria Teresa Tavares |
Teve estofo e coragem para ter mudado
de vida, perante um negócio que outrora já fora o maior do género na cidade,
com mais que um espaço aberto, mas que agora definhava dia após dia, numa rua
do comércio fantasmagórica, que se ajoelha perante as grandes superfícies que
tudo engolem; e teve de adaptar-se a um negócio diferente, ao qual se ajustou
para viver, mas não conseguiu superar a sentença de um fim anunciado, de um
emissor que passa a algoz quando o transmite.
Não irei ao seu funeral por
impossibilidade de agenda mas… de verdade que o que lamento na realidade é
deixar de o ter cá, é nunca mais podermos fazer aquele almoço, ou aquele jantar
como nosso amigo Pescada, que sempre enchia e alegrava as nossas conversas
quando tínhamos o prazer de nos encontrarmos.
O que se faz, e deve fazer, é em vida.
Os funerais, no meu modesto entender, da porta do cemitério para dentro, deveriam
de ser exclusivos à família, pela intimidade do momento, pela força e
importância.
A ele, vou recordá-lo sempre a rir para
mim, a tratar-me por Sabi (que é o meu nome artístico em Portalegre, pelo qual
muitos me conhecem, sem saber sequer que sou Pedro), sempre disposto a um
convívio, a uma boa onda, a uma gargalhada ou uma corrida.
À família, que deve estar absolutamente
destroçada, e aos todos amigos que ficaram sem ele, envio um forte abraço de
pesar, de solidariedade e de força!
Ele, o pobre, vai ser mais um que fará
parte dos meus pedidos, de uma outra forma, mas para que esteja em paz.
Até sempre, Pedro! Foi muito bom
ter-te conhecido, e poder ter-te como amigo!
Até sempre, Amigão! <3 |
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