quarta-feira, 11 de junho de 2008

Caos e desordem


Isto está a ficar caótico, ó rapaziada.

Eu sempre temi que pudéssemos um dia chegar à situação da Argentina, com o pessoal todo a bater em tachos e panelas no meio da rua.

Estamos lá perto…

Nos dias que correm, assistir a um noticiário televisivo é como praticar um autêntico desporto radical.

O Estado, o nosso Estado, essa casa grande, esse pai da malta que é o nosso edifício elementar está a revelar-se uma cabana de madeira à beira rio e estamos muito próximos de cenários dignos do terceiro mundo.

Assistimos a um verdadeiro colapso global dos mecanismos reguladores de mercado e por acréscimo, à ruptura anunciada de quase todos os sectores produtores e da própria sociedade.

Tudo isto porque um grupo específico no qual assenta (vimos agora) praticamente toda a distribuição alimentar decidiu parar em bloco e convidar compulsivamente a juntarem-se à sua causa todos os menos informados. Verdadeiras milícias de camionistas tomaram de assalto as grandes artérias rodoviárias e os centros nevrálgicos de distribuição e atrofiam hoje toda e qualquer hipótese de escoamento.

Nas bombas de fornecimento de combustível, nos mercados abastecedores, nas superfícies comerciais, nos aeroportos começam a escassear os bens essenciais à vida e à deslocação de pessoas e bens e Portugal parece hoje o corpo de um moribundo a quem taparam a boca e sucumbirá em momentos.

Sem combustíveis, sem alimentos, com barricadas.

Terrível o cenário, imprevisíveis as consequências.
Casa onde não há pão, todos ralham e ninguêm tem razão.

Esta nação que congrega uma população, que partilha um território, uma língua, uma cultura e uma história é hoje regulada por um Estado que está longe de ser de direito. Quando cidadãos são privados da sua própria liberdade de movimentação e de negócio, ameaçados pela pressão de grupos organizados que executam as mais elementares técnicas mafiosas, entramos num período do “salve-se quem puder”.

O Presidente da República assobia para o lado e brinca aos soldadinhos no 10 de Junho. O Primeiro-Ministro, que sempre se quis fazer passar por um homem de fibra e de decisões firmes, asfixia no seu silêncio e prova que afinal só sabia brincar aos duros quando assustava aos mais fracos. Saiu um cobarde em vez até de um rato.

Absolutamente lamentável e inimaginável, digo eu. Há muito tempo que quem lê jornais sabe que se porventura não tivesse sido a Europa a deitar-nos a mão já tínhamos falido nas mãos do nosso próprio insucesso. Agora podemos provar o mais amargo fel ao vermos que somos um país de brincar.

Agora, para além da corrupção generalizada em quase todos os sectores; para além dos lobbies e das promiscuidades entre governantes e os senhores do dinheiro; para além da cristalização de uma justiça inoperante; para além de um sistema educativo orientado apenas para o seu umbigo e não para o futuro; para além de um sistema de saúde obsoleto onde só se safa quem tem posses; para além das obras faraónicas e da falibilidade das forças de segurança e da inoperância das forças armadas; sabemos também que vivemos num conto de fadas sem rei nem roque, onde cada um faz o que quer e não há quem proteja os cidadãos.

Triste, triste o nosso fim. Oxalá alguém nos salve depressa da terrível sina que para nós criámos.
Valha-nos ao menos uma selecção que nem parece daqui saída. Já estamos nos Quartos-de-Final.

2 comentários:

Bonito disse...

Que grande desânimo!

A coisa está difícil mas também não exageres. A Espanha é um grande país, com as finanças equilibradas, e a balbúrdia tem sido semelhante!


Grande Abraço
Bonito Dias

John The Revelator disse...

Digo-te, mais 4 ou 5 dias de bloqueio e o pessoal andava à porrada por um pacote de arroz!

Aqui no Algarve, numa semana em que muita gente de Lisboa vêm passar férias (pelos 2 feriados), a coisa não esteve fácil! Filas intermináveis nos postos de abastecimento, e prateleiras quase vazias nos supermercados.

Surpresa para mim foi a facilidade com que se pára um país. Deu para perceber que se o povo quiser muda
isto à força, sem muito esforço! E já estivemos mais longe.

Abraço