segunda-feira, 29 de setembro de 2008

9ª Meia Maratona de Portugal - À conquista de Lisboa


Foi uma grande aventura, foi o que foi.

Ainda maior do que esperava. Sério!

A mobilização das tropas começou às 5 da manhã, para estarmos às 6h em Alpalhão e antes das 9h no Parque das Nações, a tempo de apanhar o último autocarro para a Ponte Vasco da Gama.

Para quem passou o sábado todo a olhar para o Código do IRS e se deslocou à noite a Badajoz para assistir aos eventos culturais da versão espanhola da festa da fundação, dormir apenas 3 horas antes de um desafio desta envergadura… não foi pêra doce.

Mas a equipa ajudava e de que maneira!

Tantos meses a treinar, a sonhar com esta prova de fogo que era impossível não sentir um nervoso miudinho. Será que na derradeira chance, saberia estar à altura? E se me desse a dor de burro? Ou uma súbita caganeira em plena prova? Ou um ataque de cãibras? Ou um episódio de falta de ar? Ou outra coisa qualquer que me deixasse ficar mal?

Chegados a Lisbon city dentro do horário estabelecido e depois de devidamente equipados (cortesia do nosso amigo Felino), lá rumámos à Gare do Oriente, onde milhares de pessoas se enfilavam a caminho dos autobuses da Carris que faziam o favor de encaminhar a populaça para o quilómetro 7 da ponte, de onde partimos. Já ali dava para avistar alguns interessantes exemplares da fauna cómico-citadina, como um palhaço trajado a rigor que encabeçava a parada.

Minutos depois e lá íamos nós, todos enlatados, até à linha inicial. Os participantes distinguiam-se à partida pela cor dos dorsais: os rosas para a mini-maratona de 8 quilómetros e os azuis para a prova rainha. Ali havia de tudo desde gajos com muita pinta de atleta, velhinhos rijos, a mães e filhos… enfim, mesmo de tudo um pouco.

Lá chegados, já um magote de malta aguardava engaiolado dentro das baias pelo tiro de partida. Andámos, andámos e a certo ponto, uma barreira separava os participantes da mini dos da meia. É claro que dos cerca de 18 mil participantes, a grande maioria enfiou pela via da esquerda. Assim que entrámos pela direita, muito mais estreita, era impossível um gajo não se achar assim importante, sobretudo quando via os parceiros do outro lado da grade a olhar para nós como se fossemos autênticos olímpicos, tipos que são capazes de fazer aquilo que lhes está ao alcance só em sonhos. Isto faz um bem ao ego…

Nota muito positiva para os mijatórios em forma de máquina gigante de espremer limões. Estes engraçados artefactos, colocados ao ar livre, serviam para os homens verterem águas e era muito engraçado vê-los ali muito acanhadinhos, a enfiarem o canário na gaiola. Modernices!

Na semi-pole-position onde nos colocaram, ouvíamos o speaker a animar a malta pelos altifalantes e a pedir palminhas e adeus para o helicóptero, para o pessoal ver lá em casa. Foi tempo para o aquecimentozinho da ordem e para colocar no sapatinho o chip que dava o tempo com certeza.

10 e meia e lá vão eles a dar à sola, equipados a rigor com a t-shirt da nossa terra, integrados na equipa “Unidos da Paródia” mas havia-os por lá bem piores.

A manhã estava magnífica, de encomenda, com uma temperatura fantástica e um solinho de fim-de-Verão espectacular.

Nos primeiros quilómetros, o nosso comandante imprimiu um ritmo bem esgalhado que nos permitiu ultrapassar muito, muito condutor de fim-de-semana. À saída da ponte, o primeiro abastecimento com águas e bebidas energéticas. Os da mini seguiram em frente e o pessoal da dureza cortou à esquerda, para uma recta de muitos quilómetros que não mais acabava e para cá era sempre a subir. Livra!

Durante o percurso, bandas musicais interpretavam êxitos modernos e a malta curtia enquanto se dava ao manifesto. Respirava-se ali um ar puro e a boa onde era incrível, com todo o mundo a esforçar-se e a querer dar mais.

Eu tenho de confessar que tinha um outro objectivo mais exigente do que chegar ao fim e esse era fazer um tempo abaixo das 2 horas. Tinha ideia de acompanhar sempre com o meu pessoal e lá para o quilómetro 14 ou 15, se o ritmo fosse bom, arrancava para bater o relógio.

Mas como ao quilómetro 10, o pelotão tirou o pé do acelerador, eu decidi aproveitar o balanço e meter a render a frescura que ainda sentia.

E dei-lhe bem, caraças! Depois do meio da prova, quando virei para Lisboa outra vez, fartei-me de ultrapassar pessoal e tantos, tantos artistas daqueles todos XPTO, com equipamentos todos pipis e cheios de barras energéticas e alta tecnologia. Tanto gajo que passei, tantos de perna rija, que corriam em grupos, com camisolas de mil e uma outras maratonas e eu ali em 5ª velocidade e prego a fundo na minha estreia. Foi muito bom!

Ao entrar de novo no Parque das Nações, reencontrei o pessoal da meia que vinha por ali palmilhando a pé e descemos para junto do rio.

Perto do quilómetro 18, quando necessitava um ímpeto suplementar, entram-me os Metallica com o novo “Death Magnetic” no ipod e a injecção de adrenalina foi tal que meti o som no máximo e quase rebentei com os tímpanos. Uma força tamanha que só me apetecia arrancar os semáforos à dentada!

E foi ali, então e mais uma vez, que percebi que isto de correr é uma paixão porque quando se corre, não se corre contra ninguém a não ser nós próprios. Na corrida não há bicicletas, nem outros equipamentos ou acessórios. Na corrida, és tu e o teu corpo e tudo a mexer dentro de ti, com os pulmões a insuflarem ar e o coração a bombar em todas as artérias, municiando oxigénio a cada músculo. Quando corres enfrentas os teus próprios demónios, os teus medos e ansiedades e vences pela persistência as tuas hesitações e desconfianças. Ali estás só contigo mesmo e provas a ti próprio que és capaz.

Na camisola que a organização ofereceu, para além dos logos, estavam estampados muitos verbos como sorrir e conviver e no final dizia em letras garrafais: eu consigo!

A questão é mesmo essa. Se algum dia tatuar algo no meu corpo, a palavra “acreditar” não pode faltar.

Quem é que me havia de dizer há 12 meses atrás, há 16 quilos atrás, há muitas, muitas horas de treino de dia e de noite, ao calor e ao frio, ao sol e à chuva atrás, que haveria um dia de vencer uma empreitada assim?

Andava eu nestas conjecturas quando um dos participantes da frente cai com uma suposta paragem cardíaca. Sim, a coisa não é para brincar. Espero que tenha conseguido recuperar.

Depois de túneis e altos e baixos, a entrada para a recta final, caminho da meta instalada em frente do Pavilhão de Portugal.

Tempo para desfrutar de cada minuto e do momento de glória que se antevia.

É! Assim que avistei a palavra "chegada”, saltou uma emoção cá de dentro e foi com a vista assim meio turva que passei a linha final. Naqueles instantes, muita coisa passou por mim. Prova superada!

Depois, estragam-nos com mimos. Ele é saquinhos com águas de todos os tipos e barras de tudo e mais alguma coisa e até geladinhos, daqueles de gelo e frutas, nos ofereciam a cada um. Uma maravilha!

Os bravos companheiros do meu pelotão foram dando à costa logo após, um a um com curtas distâncias de escassos minutos e todos nós de parabéns, por estarmos abaixo das 2 horas. Um luxo, diria eu!

Depois, ah… Depois foi tempo de banhinho e grande convívio na incontornável Portugália onde malhámos umas granadas amarelinhas e faustoso manjar.

Bom demais!

Eu que queria tanto, tanto isto, só tenho a agradecer a estes 3 bons amigos, a companhia e o apoio. É tudo tão mais bonito quando é partilhado e feito com quem gostamos. Bem hajam mesmo!

Terminada esta já ando a sonhar com a próxima: a da Ponte 25 de Abril, em Março de 2009. Os votos que faço é que para além deste núcleo duro, se possam juntar mais amigos, mesmo que seja para andar e conviver que isto é coisa linda de se ver, pá!

E que linda que fica Lisboa, espraiada ao longo do rio, vista assim de perto.

Este foi sem sombra de dúvida, e sei bem o que digo, um dos maiores feitos da minha vida. Um dos triunfos mais saborosos e que mais alegria me deram.

É! Foi um dia mesmo muito memorável!



Dados estatísticos:


Sobreiro, Pedro Alexandre Ereio Lopes

Dorsal: 3011
Categoria: Veterano I
Tempo na viragem: 54 minutos e 18 segundos
Tempo do chip: 1 hora, 48 minutos, 37 segundos
Tempo da meta: 1 hora, 51 minutos, 6 segundos

Classificação na Geral: 1242


Levando o nome de Marvão bem longe...

Esperando o autobus




"O meu é maior que o teu!"



Mais que as mães...

A companhia já em movimento

Eu e os meus amigos ingleses que iam trajados a rigor e a ler o Financial Times

Já no final da ponte

Recta a perder de vista...

Som na caixa! O que faz falta é animar a malta!

Garra e valor

A luz no fim do túnel afinal sempre existe


Terra à vista!

Para a posteridade e um dia mostrar aos netos.

A equipa maravilha: Felino, Dias, Sobreiro, Barradas

2 comentários:

Bonito disse...

Grande e saborosa jornada, de facto.

Destaco o excelente acolhimento que o Rui no fez!

Obrigado.


Grande Abraço
Bonito

Robson Lima disse...

1242º? Vendo as fotos achei que estivesse ficado mais próximo da linha de chegada, rsrsrs.
Mas sempre haverá outra competição. Quem lê isto jugará que tenho ótima forma, kkk.