quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Benfiquismos (O Baptismo da Era de Jesus)

Cantem todos: "Sou... sou... sou... sou.. Benfiiiiiiiiica!"
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O meu sogro é o maior benfiquista que eu conheço.

Não quer isto dizer que eu não seja. Toda a gente que me conhece sabe que sou um benfiquista ferrenho, que vibra de emoção sempre que o gloriosos joga. Uma vez, quando ainda morava em Marvão, cheguei a partir um vidro de uma mesa com um soco de raiva e nem sequer foi por um golo sofrido. Acho que foi por um falhanço do Nuno Gomes (de quem é que havia de ser…).
Mas por muito benfiquista que seja (e é aqui que eu quero chegar), não chego aos calcanhares do meu sogro.

Mas e isto porquê?, perguntam vocês. Isto porque o meu sogro sabe tudo e domina tudo do Benfica. Conhece as modalidades amadores em que participamos, sabe em que posição vamos no diferentes campeonatos, sabe golos e resultados mesmo de épocas anteriores de memória, lembra-se dos jogos que jogámos em datas importantes da sua vida (quantas vezes já o ouvi eu dizer: “no dia em que nasceu “tal”, ganhámos “não sei quantos” ao “não sei quê” e ainda por cima jogávamos fora de casa)… Enfim… este é o campeonato deste homem.

O meu sogro, quando vem ver jogos à minha casa e se senta no meu confortável sofá preto da sala de estar numa posição em que mal chega com os pés ao chão, sempre que há um cruzamento para a área, seja do Benfica, seja adversária… estica-se todo para ver se chega à bola. Às vezes até faz o jeito de cabeça como se tivesse a salvar o clube para canto. E ainda bem que isto é escrito e não é contado porque se ele estivesse a ouvir, às tantas dizia que era mentira e eu posso provar quando quiserem que é mesmo verdade, verdadinha, verdadeira.

E agora desde que inventaram o canal do Benfica então, é uma coisa que não tem explicação. Devora os jogos dos júniores, devora as entrevistas, devora os programas de informação, devora as reportagens e acho que alguns destes programas até pápa as repetições. É uma coisa que não tem explicação. Até os treinos dos infantis eu acho que ele vê. E depois surpreende-nos (a mim e ao meu cunhado) com perguntas do género: “Viste a roubalheira ontem naquele jogo de andebol?”. E eu respondo sempre “xiiiiiiii” para ver se ganho tempo de reacção e espero que ele conte o que se passou antes de responder errado. É que eu acho que ele faz estas perguntas só para nós testar, mas também… agora que já casámos com as filhas e já lhe demos netas… o mais que nos pode fazer é dizer mal de nós no café e toda a gente que o conhece sabe que ele é incapaz de fazer isso seja de quem for e muito menos dos seus guarda-costas de estimação.

Maneira que depois de muitos anos de sofrimento, o homem agora, como devem calcular, anda radiante com o reinado do Jesus "Nosso-Senhor". De tal maneira que meteu na cabeça que tínhamos de ir ver o jogo contra o Milan para a Taça do Grande Eusébio. E disse que tratava de tudo!

É claro que fez questão de arranjar uma companhia de que gostasse (genros e o afilhado Barradinhas) e depois foi um mãos largas… Tratou de comprar os bilhetes via internet, disponibilizou a sua viatura, bem… foi demais.

Quando ganhámos ao Manchester na Luz há uns anos para a Liga dos Campeões, depois de estarmos a perder 1 a Zero, com golos do Soneca e daquele pretinho com cabelo amarelo que veio do Beira-Mar e eu agora não me lembro mas… (acertaram… o meu sogro sabe de certeza) fomos para a Portugália original da Praça do Chile comemorar. A proeza foi memorável, a noite inesquecível e a festa foi de nível, passada entre sapateiras recheadas, camarões e canecas geladinhas. Só nos esquecemos foi que tínhamos de regressar de carro. Assim, combinámos, num pacto de cavalheiros, que ninguém podia dormir para que os condutores que estiveram de prevenção ao álcool, não adormecessem. Pois ainda não tínhamos passado a Ponte Vasco da Gama e já o meu sogro ressonava a plenos pulmões, dormindo como uma criança. De tal maneira que até nos envergonhamos de o acordar. Esta é a sua disponibilidade habitual pelo que quando a esmola é grande, como desta vez, o santo desconfia.

E o homem foi mesmo inexcedível. Não se calava com o jogo do Milan e a minha sogra uma vez até lhe disse: “Já estás pior que eles”, quando a gente sabe de ginjeira que nestas coisas, ele nos ganha aos pontos.

E que feliz que ele estava e eu adoro ver quando uma pessoa fica verdadeiramente feliz assim com pouco, como uma viagem e um jogo de futebol.

E há pessoas que nos dizem: “Vão daqui vocês feitos parvos e o mais certo é chegarem lá e mamarem obra e vêem aí com as orelhas baixas o caminho todo”.

Como é óbvio, estes anormais não sabem que quando a gente entra em solo sagrado já temos o dia mais que ganho.

Saímos sempre cedo e antes de chegarmos ao primeiro destino já nos fartámos de conversar, de rir e de dizer mal de algumas pessoas que a gente tem a certeza que ou têm inveja de nós ou também dizem mal da gente pelo que estamos perdoados.

Chegados a Setúbal, verificámos de imediato se as minis religiosamente armazenadas no frio da minha geleira ainda estavam dentro da validade. Como a tara perdida é, na minha modesta opinião, uma das invenções do século, fomos bebericando o precioso néctar de cevada enquanto admirávamos o estuário do Sado, numa manhã/tarde linda de Agosto, com Tróia ao fundo no horizonte, os ferry boats transportando turistas e viaturas ao longo do Rio e um estúpido que pescava junto ao Cais os peixes que o Luís me explicou que comem cocós (cheirava mal ali!).

Arriavados (perdoem-me o francesismo, mas pareceu-me francamente bem encaixado…) ao Restaurante do Clube Naval, que serve por 10 euros o mais excelso rodízio de peixe da região, sentimo-nos imediatamente em casa. Como íamos fardados a rigor, todos de camisola vermelha envergada, cedo os benfiquistas que já batiam com as orelhas na gamela nos começaram a fazer sinais de fixe e a sorrir como se nos quisessem desejar boa sorte. O senhor detrás do balcão com ar de dono disse-me que nos queria oferecer um xarope para benfiquistas no final e sorriu com um ar que eu não percebi e me pareceu sinistro. Por segundos ainda imaginei que fosse um lagarto encoberto mas não… afinal era de verdade e o xarope era um licor de canela poderosíssimo que nos fez deitar fumo pelas orelhas. Foi bom!

Os peixinhos, que pudemos apreciar antes de serem magistralmente cremados na grelha eram de mais de 9 qualidades e aquilo parecia um festim medieval. É comer até não poder mais e a estratégia da casa favorece assim maduros de calibre. À terceira sardinha, o meu sogro já impava e revirava os olhos a dizer que estava cheio e satisfeito. O meu cunhado durou pouco mais (sempre escapaste ao carapau, bandido!) e eu e o Barradinhas cortámos 3 orelhas e um rabo cada um. Demos-lhe a bom dar, ao ponto do meu colega de mesa já me confidenciar ao fim que estava a ficar agoniado com as quantidades impressionantes de peixinho fresco que nos aspirámos pela goela. Tempo para uma das deixas clássicas do meu sogro: “Porra que estes gajos têm um comer enganoso… parece que comem muito mas comem muito mais!”. A ponta final que fizemos de choco frito, com 3 servidas seguidas, pareceu uma final ao sprint do Tour de France em plenos Champs Elisées. Categórico!

“Já não comeram mais nada em todo o dia”, disparam agora os mais incautos. Negativo, respondemos nós em coro. Dali fomos direitinhos a terras de Lisboa e aterrámos em plena Zona de Benfica, idos por Odivelas para fugir à segunda circular. Assim que pusemos os pés no chão, as pernas começam a fugir-nos sem controlo e só pararam quando chegaram ao pé das roulotes. Ah… o cheiro do courato acabadinho de fritar, ou grelhar, ou assar ou lá o que for.

Como ainda estávamos algo empanturrados, metemo-nos só nas imperiais para desenjoar. Toda a gente que lê jornais sabe que a cerveja, para além de fins diuréticos, também ajuda a digestão.

Ainda tivemos tempo para conviver com o nosso ilustre Presidente da Assembleia Municipal, o Grande Doutor (com todas as letras) e precioso amigo Carlos Sequeira, outro grande benfiquista. Por acaso até é sócio há mais tempo que o meu sogro mas isso não muda nada do que já escrevi. O meu sogro é mais!

O estádio é uma visão e assim cheio como um ovo, é de entrar em delírio. O Barradas fez um cartaz com uma quadra do nosso poeta Máximo alusiva ao clube e à SIC e eu gritei ao gajo da Câmara. Diz que aparecemos no televisão e eu senti que vivi dos momentos mais importantes da minha curta mas intensa vida.

Quanto ao jogo, na televisão pode-se ver com mais detalhe mas ali é outra loiça. Vê-se tudo… adivinham-se as conversas… imaginam-se os lances… sente-se o estádio… vibra-se com a magia.

A diferença, para mim, explica-se de forma muito simples: uma coisa é ver um filme pornográfico. Outra é participar da acção…

E eu adorei. E eu fui tão feliz também… Jogámos bem… tivemos sorte… ganhámos a taça. A quarta taça nesta pré-temporada e apesar de não valerem nada, para mim o campeonato já podia acabar… (o que eu imagino para não me enervar com o jogo como Marítimo já no próximo domingo).

Saímos extasiados. Comemos o lanche ao chegar ao carro e não viemos para casa sem outra paragem obrigatória: as bifanas de Vendas Novas. Magníficas!

Na viagem, o meu sogro fez questão de trazer o carro?!?!?!? E viemos por aí fora ouvindo o Oceano Pacífico e pensando que não é preciso muito para poder sorrir. Apenas ter algum dinheiro no bolso, vontade e amigos.

O meu sogro, para quem não sabe (pode haver gente de fora a ler isto…), é o João Manuel Lança e eu gosto muito dele.

Dos outros companheiros também, óbvio, mas este texto é para o meu sogro em especial.

Vai por si, ó chefe!

A bomba-relógio

Parecem os Irmãos Dalton. O verso está digno de um Óscar... ai perdão, de um Nobel


Alguém disse templo gastronómico?

Sim

Também

Pode atestar!

Ah! Eu vi logo que havia mão de mestre!

Foi ali que o Sócrates andou a brincar aos terroristas? A mandar prédios abaixo?

Lindo, lindo!

Olé!

Choque frrite é du milhó qui há


A poção mágica benfiquista... Fortinha, a gaja!


Sempre lindo que cada vez que se avista de novo

Se eu mandasse, de cada vez que um Papa passasse por aqui, tinha de beijar o chão

O magnífico courato! A extraordinária barbela (sempre clássica e com pintelho!)

Eu gostava de mandar ampliar uma foto destas na Fábrica Real de Imagens e meter numa parede do meu quarto mas... não sei porquê, acho que a minha mulher não ia achar piada



É isto, pá... Eu sempre disse que o mal é as roulotes serem sítios tão mal frequentados...

Os copos são mesmo daquele tamanho, não é realidade virtual. Uma sede...

Esta vai direitinha para de cima da televisão lá de casa, numa moldura que eu tenho de Fátima

Por falar em Fátima... só lá e aqui é que há enchentes destas

Para mim, as portas do céu devem de ser assim. Depois a águia ganha vida, abraça-nos e a gente entra.

Cliquem para ampliar e vejam-me a cara de alegria deste homem. Chega a ser comovente, pá!

Ohhhhhhhhhh... Tão lindo!

Ali no meio da mochada também havia eu de gostar de estar

Vejam-me só a saúde destas cachopas. Vê-se logo que são Benfica

Somos muitos, não somos?

O line-up inicial

O pontapé de saída pelo mítico Eusébio. Uma lenda viva, este homem.



Não é todos os dias que se fotografa o Ronaldinho a falhar um penálti

Jesus salva! Jesus disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Quem crê em mim jamais verá o Glorioso fazer jogos de merda!".

Mais uma que já cá canta!


Tivemos direito a canhões de papelinhos e tudo!

Aaaaahhhhhhhhhh

Piquenicão à portuga! Só faltou o frango com esparguete e o palhinhas de 5 litros! Mas a tortilha estava de estalo, os pães com chóriço também e as minis? Geladas!
Bem hajam, ó rapaziada! Quando é que disseram que é o próximo!

5 comentários:

Paula disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bonito disse...

Bem ilustrada, mais uma maravilhosa viajem ao reino da águia!

Conheço, por aqui em Portalegre, um grupo de amigos que comprava, a meias, aqueles “pack’s” que tinham todos os jogos do Sporting para a liga dos campeões e, depois, dividiam os jogos entre eles.

Fica mais barato mas… nunca vão juntos ver os jogos! São do Sporting, mas não é isso que interessa.

Assim, nunca terão o elevado prazer de passar um dia destes!

De facto, a quem me diz que “vais daqui a Lisboa e arriscas-te a trazer uma derrota”, costumo responder que quando o jogo começa já o dia está ganho!

E desta vez não foi excepção!

Os ingredientes são:

1- Um grupo de grandes amigos;
2- Uma viajem tranquila (sem pressas…);
3- Um excelente almoço (peixinho fresco de preferência);
4- A bifana e a cervejinha,
5- E uma grande “fé” no Benfica!

A próxima será quando se juntarem outra vez estes ingredientes. É claro que a “fé” é muito importante e, neste aspecto, Jesus terá que continuar a olhar por nós!

Ámen!

Pedro disse...

Vizinhança, epá devias ter dado um toque ao vizinho, o Naval é mesmo aqui ao lado do Posto e eu até estava de serviço e tinha lá passado a dar um abraço, aiiiii, eheheheh.
Abraços

PSD/São Lourenço disse...

Pois é! Isto é tudo muito bonito, e está tudo muito bem, mas...
O Jesus (o J.C. original, e não este que tinha a cabeleira branca e agora exibe uma trunfa aloirada...) é que andou por cá há 2000 anos a pregar a Paz e o Amor (não se me consta que percebesse de 4-3-3 ou de 4-4-2 c/ losango; mas se fosse preciso também dava uma "perninha", uma vez que estava abençoado pelo Pai), e acabou pregado na cruz. Este sucedâneo, assim com ares de novo mago do pontapé na bola nacional, ainda nos vai dar muitas alegrias!!!
PS (de post-scriptum, e não de Partido Socialista, vade retro Satanás, cruzes canhoto, t'arrenego) atenção ao pronome "nos"... è que eu esqueci-me de avisar de início que sou do SCP!!!!!!!

Bonito disse...

digo: viagem!!!

(neste caso... o corrector também não ajuda...)