sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Nas terras do Católico

Sos del rey Católico. Magnífica e perfeitamente encaixada na paisagem
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O último fim-de-semana foi passado em Sos del Rey Católico, vila que também faz parte da Rede de Vilas Medievais a que aderimos recentemente (saiba mais aqui) e foi seleccionada para a primeira reunião entre autarcas dos municípios que as integram e para a apresentação oficial à comunicação social.

Se há uma coisa que eu aprendi na Câmara é que a este nível, as coisas demoram sempre muito mais tempo do que aquele que nós pensamos. A gente quando está de fora é só “Eu chego, eu faço, eu digo, eu aconteço” mas depois… esbarramos com burocracias, com faltas de vontades, com múltiplos entraves com os quais não contávamos e nos atrasam as intenções.

Veja-se o caso do relvado sintético, uma verdadeira novela mexicana que felizmente terminou ontem (eu nem acredito), com a aprovação final da candidatura, depois de quase 3 anos de trabalho e inúmeras mudanças de figurino por parte do nosso governo.

No que diz respeito à Rede de Vilas Medievais, que também conheceu o “preto-no-branco” há relativamente bem pouco tempo, muito houve que pedalar desde essa reunião em Olivença, numa manhã fria de Inverno, há quase 2 anos.

Assim que soube da ideia, fiquei logo com a”pulga de trás da orelha” e não descansei enquanto não me “montei nesse comboio”. Guillermo explicou e o projecto pareceu-me brilhante. Já existiam um conjunto de vilas medievais espanholas (todas elas com características desse período e com menos de 5.000 habitantes) decididas a unirem-se em termos de promoção turística e procuravam agora parceiros portugueses. Estávamos nós, Estremoz, Campo Maior e Castelo de Vide. Na altura, havendo intenção de haver continuidade também para França, propus uma linha de continuidade em território português até Lisboa. Nasceram assim as hipóteses de Belver (Gavião) e de Óbidos (numa cartada de luxo…). Perto de Lisboa, perto do aeroporto… abrindo mais uma porta de entrada no circuito. O nosso amigo espanhol ficou encantado mas infelizmente e apesar de todos os esforços, os outros parceiros foram-se desinteressando e deixaram cair o sonho. Dos 6 portugueses, apenas nós e o Gavião não baixámos os braços e ainda bem. A candidatura foi aprovada, estão aí a achegar 100.000 euros para promoção e ¼ deles será exclusivo para a Al Mossassa que ganha assim um importante balão de oxigénio nesta última edição sob minha tutela.

Para já, a possibilidade de patrocínio da rede por parte de uma grande construtora de automóveis fica ainda adiada mas quem sabe… no futuro...

Porém, há já muitas vantagens a enaltecer e para além das mencionadas, só o facto de levar Marvão tão longe e poder incluir a minha terra neste cartaz de luxo já é uma enorme vitória.

E eu, de cada vez que vou representar o Município ao mais alto nível, sinto-me investido de uma força qualquer que não sei explicar, como se as boas vontades de todos se apoderassem de mim. È um orgulho enorme e só me apetece meter toda a comunidade a que pertenço na mala do carro e levá-la comigo.

Não podendo, esforço-me por fazer a melhor figura possível nunca deixando de ser eu próprio e dando, como sempre, o melhor de mim.

Foram 3 dias duríssimos com 900 quilómetros para cada lado e ainda por cima partindo com apenas 1 hora de sono (depois do concerto do Senhor Cohen) e com 500 quilómetros de ida e volta a Lisboa por minha conta. Essa manhã de sexta-feira, com o sol a dar-me de frente, parecia que estava no Twilight Zone… Vá lá que depois de chegado e de um duche gelado tudo se recompôs. O corpo humano é uma grande máquina…

Foram 3 dias ao mais alto nível vividos com competência, profissionalismo, mas também com cultura, com gastronomia, com vivência e divertimento que não somos nenhuns bichos e toda a gente sabe que também nos divertimos nestas coisas, como é óbvio. Mentir é feio e eu não estou para isso.

Não sei se os meus companheiros desses dias por aqui passarão, mas ainda assim faço questão de deixar alguns agradecimentos.

Em primeiro lugar, aos anfitriões e aos nossos parceiros que nos trataram de uma forma… ternurenta. É a palavra que melhor me ocorre. Sempre atenciosos, afáveis, simpáticos, cordatos, preocupados com o nosso bem-estar, foram, de facto, incansáveis. Do melhor, mesmo!

Depois queria agradecer aos meus dois companheiros de viagem:

Ao meu amigo e motorista Manuel Filipe pelo seu extraordinário profissionalismo (este homem dura… dura… dura… sempre agarrado à roda… sem pestanejar… ele já nasceu a conduzir!) e pela sua tão bem conhecida boa disposição.

E ao meu amigo Ricardo, responsável pelo projecto no Município do Gavião que foi uma agradabilíssima surpresa. Sempre animado, sempre conversador, sempre disposto a andar para a frente… Uma máquina e um grande recurso a preservar!

Foi muito bom, foi fenomenal e passou num instante, o que é sintomático.

Queria ainda agradecer a hospitalidade do hotel "El Peirón" que tem muito mais do que as 3 estrelas da fachada. Um bom gosto incrível em tudo, muita simpatia e muito saber receber. Oxalá este negócio de família floresça porque têm tudo para vencer. Classe e humildade que encantam e deveriam de ser uma lição para muita gente que eu conheço no negócio... e mais não digo. Podem visitar as instalações aqui.

Chegámos exaustos, chegámos com saudades, mas ainda com vontade de rir e de nos sentarmos na esplanada do Xalipas a matar saudades da cerveja portuguesa, sinal de que gostámos de estar juntos.

No balanço final de tudo o que vivi, digo aquilo que tanto defendo e em que tanto acredito: gente boa há em toda a parte. É preciso é saber encontrá-la!

Grande abraço! Bem hajam!

Ruas sinuosoas, estreitas... labirínticas

O Ayuntamiento local

De conto de fadas...




Na reunião com os alcaldes responsáveis pelos ayuntamientos parceiros

Um pôr-do-sol único visto da varanda do Parador (Pousada) local

Há 9 anos que a autarquia local organiza um festival de música que já é uma referência em termos nacionais. Muitos dos espectáculos são trasmitidos pela TVE e ali não faltam artistas de renome. A edição deste ano contou com o Bunbury dos "Heroes del Silêncio", o Manolo Garcia dos "Último de la Fila" e a Amaia dos "La Oreja de Van Gogh". Mas esteve também a Luz Casal, o projecto paralelo de alguns membros dos REM e a cantora country Lucinda Williams. (Saiba tudo clicando aqui)
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O espaço onde decorre o festival foi literalmente "inventado" num pequeno átrio situado no coração da vila. Uma estrutura complexa e gigantesca de andaimes possibilitou os cerca de 500 lugares sentados. Para tal teve de se cortar uma rua e tapar por completo a fachada de diversas habitações. Notável! E o maluco sou eu...



Os arcos do pátio de uma habitação servem de palco, acolhedor e intimista

Nessa noite tivemos a sorte de poder assistir ao concerto de Joan Manuel Serrat, uma espécie de Jorge Palma em versão espanhola, mais sóbrio mas não tão genial, no meu modesto entender. A assistência estava estarrecida a assistir à actuação de alguém que é considerado "um mito vivo da música espanhola". Bilhetes a 80 euros cada, que isto de ter as estrelas tão perto custa dinheiro. É outro andamento...

Pequeno almoço servido na garagem do nosso amigo consejal Javier Machín, uma figura encantadora. Sócio e amante do Saraçoça que brindou com champanhe a descida do Sevilha. Quem faz uma confissão destas tem de ser boa pessoa. Migas com carne de porco com ovo a cavalo, acompanhadas por tinto da região. Saber viver é uma arte...


E comentei com o alcalde: "Isto não há dúvida que é brilhante. Só é pena é não dar para levar mais gente...". E ele respondeu-me "Sabes... se o proprrietário da casa que fica do outro lado da rua me deixasse meter um pilar no meio do telhado, eu fazia mais uma fiada de cadeiras e sempre entravam mais uns 100...". Vendo a minha cara de parvo, apressou-se a dizer que "claro que se isso acontecesse, eu lhe garantia uns bilhetes grátis...". Ai eu...

A Casa-Palácio da Família Sada, onde a 10 de Março de 1452 nasceu o Rei Fernando II de Aragão. Hoje funciona como Posto de Turismo

Tinha uma pinta fantástica, o tipo este. Também... naquela altura em que não existiam máquinas fotográficas, quem é que se arriscava a fazer um boneco menos feliz? De resto, deveria ser um ser humano incrível. Foi um dos grandes impulsionadores da criação da Inquisição e o responsável, juntamente com a sua extremada esposa Isabelinha, pelo édito de expulsão dos Judeus em 1492. O papa espanhol Alexandre VI, emocionadíssimo com o gesto, deu-lhes o título de Reis Católicos. Os judeus que passaram pela Portagem fugidos desta gente só nos contaram coisas boas do casal...
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Facsimile do testamento da Sabelinha, a Católica. Inexplicavelmente, não me deixou nadinha. Ele há coisas...

Com esta fiquei eu de boca aberta: trata-se da capela interior do Palácio dos Sada, a capela de San Martín de Tours que funciona como Centro de Interpetação. Simples, barato e altamente funcional. Depois de devidamente sentados (a capacidade deve dar para 100 almas), um sistema de video som e luz explica o fresco que foi recentemente recuperado. Depois, desce uma cortina electrónica que serve de ecrã e em 10 minutos conta-se, em traços largos, a história de Sos do Rey Católico. Que linda que havia de ficar uma coisa destas na Torre de Menagem do Castelo de Marvão. Se eu mandasse de verdade, chegava cá e dizia: "Quero uma coisa destas!".


Estes são os Lurte que faziam a animação da feira medieval que ali decorria nesse fim-de-semana. Muito bons tecnicamente, com grande impacto visual mas ficam muito longe, logo são muito caros, logo não vai dar para trabalhar em conjunto. Mas que são bons... são. (E o site está aqui)

Um momento de descontracção. Ao fundo estou eu, todo contente. Do meu lado esquerdo está Ignácio Alegre, Alcalde de Sos. Do lado direito, Guillermo Echenique González, o homem que me apresentou a rede e um dos responsáveis pela nossa integração. Recentemente teve a honra de ser convidado para ser o Secretário Geral dos Assuntos Exteriores do Governo Basco, uma espécie de ministro dos negócios estrangeiros lá do sítio, cargo que desempenha há semanas. Ele é realmente um diplomata notável e um ser humano extraordinário como tive oportunidade de lhe transmitir pessoalmente. Certamente que será mais do que merecedor desta honra. Ao seu lado está Fernando González Olveira, o actual cérebro da rede que também adorei conhecer pessoalmente.
Só uma nota acerca do Guillermo, para que notem a coragem desta gente. Como membro do Governo Basco tem direito a duas escoltas permanentes, noite e dia. A sua esposa, que também é deputada, tem direito às suas duas. O que significa que estando em solo basco, as lindíssimas filhas gémeas do casal têm a companhia permanante de 4 pessoas encarregues de zelar pela sua segurança. E ainda assim... sorriem despreocupados. Chega a ser tocante...

A notável rede de paradores espanhola

Aqui o rapaz Fernando com a mamã, quando ainda se portava bem (0 filho)

De tarde, a inevitável passagem por Pamplona, cidade mítica de Navarra que todos conhecemos pela sua aficción e ancestrais largadas. Na imagem, o seu padroeiro, San Fermín, que tivemos a sorte de apanhar na sua guarita

Quantas vezes vi eu pela televisão a rapaziada a fugir esgalgada para esta porta que dá para a Praça de Touros, todos vestidinhos de branco, com a cintinha vermelha e cara de medo, correndo à frente dos maduros? A origem do "Encierro" (é assim que chama) remonta à Época Medieval. Os touros para a lide eram conduzidos pelas ruas ao amanhecer, desde extramuros até à Praça que servia de curral. Muitos dos habitantes de Pamplona habituaram-se a correr à frente dos animais (aposto que a ideia partiu de alguns que ainda não se tinham deitado e ainda estavam em "vinha d'alho"). A prática foi proibida pelas autoridades mas eles cada vez eram mais (logo, o vinho cada vez melhor!). Fazendo justiça à máxima "se não os consegues vencer... junta-te a eles", este exercício passou a ser permitido e foi transformado em tradição. Hoje, o "Encierro" é considerado o momento alto dos San Fermines e realiza-se de 7 a 14 de Julho, sempre pelas 8 da manhã.

Ernest Hemingway, escritor americano, prémio Nobel da literatura, um amigo da cidade, das gentes e das suas tradições é uma figura omnipresente. Aqui a estátua que perpetua a sua memória.

Pela cidade estão colocados estrategicamente diversos painéis informativos que traçam a "Rota Hemingway", os sítios por onde costumava passar e que marcou com a sua presença. Muitos são bares e botequins e com isto digo tudo. Gostavas pouco, gostavas...

A porta de entrada da 3ª maior praça de touros do mundo em termos de assistência, depois de uma no México e de Las Ventas, em Madrid. 19 mil e tal lugares sentados. É obra!

Nós também fizemos o percurso do "Encierro" (cerca de 1 Km) só que foi ao contrário e claro... sem touros!

Entrei numa lojinha de souvenirs e fiquei banzado com isto! Se é a cabeça de touro que eu sempre sonhei para a tourada do Dia da Criança... Perfeita! Parecia de verdade! Ainda avancei para o balcão, decidido a arrematá-la... mas o meu companheiro do lado foi mais realista: "vais comprar isso para quê? Para o ano não estás lá... Quem é que vai andar com ela?"...

Eu suspirei, respirei fundo para que não me faltasse o ar (sim, sou asmático) e saí porta fora porque, de repente, a sala ficou apertada demais para mim...

Ahhh. É bom...

A terra em que os touros vêem quem passa à varanda. E podem ser azuis e ter um par de tomates enorme que ninguém se zanga. Se fosse em Portugal, vinham logo os gajos que proibiram as tipas em topless no ecrã do Magalhães no corso carnavalesco... Ai eu...

"Bar Txoko. Hemingway foi cliente antes e depois das corridas de touros (vejam bem o nível! Antes e depois...). Aqui saboreava o seu cognac preferido".
Eu, para conhaques não dou muito, mas uns tintinhos em copos de papo alto com umas tapazinhas à maneira já ninguém me tira! Olé!

Vejam-me estas! Vjam-me isto e digam-me se não é arte! Pão integral, pimentos, chouriço frito e ovos de codorniz! Que coisa... É de fazer crescer água na boquita!


O Ayuntamiento que vigia a praça onde se iniciam os festejos. Neste ano, a metros dali, perdeu a vida um inglês, o pobre, em plena largada

Hasta Siempre!
Que bien fue todo!

Cruzamento para Tordesilhas. Aqui dividimos nós o mundo ao meio.
Nos dias de hoje... dá para acreditar?

2 comentários:

nuno mota disse...

ao ler e apreciar o texto e as fotografias dei comigo a pensar que um dia, quando largares as "lides politicas" as coisas continuar-se-ão a fazer ( será ?? ) mas às escondidas, como era e é vulgar fazer-se e como estavamos acostumados antes da tua chegada e isso se´rá também para nós seguramente uma enorme perda, pois por norma ninguem nos mostrava as coisas tãso por dentro como tu o fazes, ou por desinteresse em partilhar ( e partilhar é tão belo !!! ) ou possivelmente o que ainda me doi mais, talvez para encobrir algumas coisas que não se faziam ou deveriam fazer e que por vezes transformava por completo o conteudo e a razão de ser da viagem e do motivo da deslocação. Faço-me entender ??? Será que quando deixares a politica ( que pena, será que as pessoas do nosso concelho andam CEGAS ??? ) continuaremos a ter quem partilhe connosco, como autarca, as viagens e os trabalhos em prol do desenvolvimento do nosso concelho???
Já te sinto a falta, companheiro !!!
Um abraço do tamanho do mundo e mais uma vez, obrigado por existires !!!!

Jaime Miranda disse...

Muito bem "cantado". Subscrevo as palavras do Nuno. Acho que todos os marvaneneses te devem dois reconhecimentos - o primeiro pelo extraordinário empenho em fazer um bom trabalho; o segundo por tornares acessível e transparente o exercício das tuas funções, partilhando sucessos e angústias numa atitude generosa e livre. Abraços.